28 de janeiro de 2010

2 estórias


A sala de espera do hospital carregava um silêncio mortal. Tudo contribuía para a ansiedade, até mesmo aquela revista ingênua, esquecida sobre a poltrona no canto do espaço.

Médicos e enfermeiras caminhando de uma sala para outra, o som contínuo do ar condicionado, um velhinho batendo o sapato no chão - gerando um terrível cronômetro -, e o olhar da recepcionista no balcão próximo: nada era imperceptível, e tudo aumentava a agonia de quem espera um resultado.

Finalmente o médico apareceu:

- Senhor João?

Levantando-se rápido, aproximou-se do doutor, sem nenhuma palavra.

- Como lhe falei, havia uma grande possibilidade de ser câncer. Agora confirmamos o diagnóstico, o senhor realmente tem esta doença. Permita-me lhe falar sobre as opções de tratamento...

Enquanto o médico tentava indicar possibilidades de lidar com o problema, o chão se abria sob seus pés. Subitamente seus pensamentos deixaram a sala, e o desespero o dominou. Câncer! Câncer! Não havia a quem recorrer, e nem como alimentar esperanças, pois para ele tudo era desgraça.

Não conseguiu lembrar das últimas palavras do médico, e nem de como chegou em casa. Mas a sua visão da realidade a partir de então era apenas tristeza, sofrimento, e desespero.

Nem percebeu, mas já estava morto antes que o câncer se espalhasse.

Naquele mesmo dia, na sala ao lado, Rui ouvia algo parecido. O câncer estava confirmado. Dor semelhante à de João tomou conta dele, e lágrimas escorreram sobre o seu rosto. Por alguns instantes lutou com o sentimento de abandono, e com as perguntas que surgiam em sua cabeça: "Por que eu?", "O que será de mim?", "Como sequer vou pagar o tratamento?"...

Mas então lembrou quem era: filho de Deus. E lembrou quem Deus é: soberano, amoroso, gracioso, onipotente, e fiel. Isso o livrou de ceder ao desespero.

A partir de então, todas as vezes que era tomado de maior dor, e quando era intensamente tentado a se desesperar, meditava nos atributos de Deus, para entender a realidade que o envolve, e daí ser fortalecido pela Palavra.

Ele não se entregou à morte. E, ainda que o câncer o tenha levado para Deus, não foi com desespero e murmurações, mas com a sobriedade de quem reconhece haver um plano soberano para tudo.

* * *
Allen Porto é blogueiro do A Bíblia, o Jornal e a Caneta, e escreve às quintas-feiras no 5Calvinistas.

25 de janeiro de 2010

Salmo 23: uma meditação rápida

"O Senhor é o meu pastor, nada me faltará" Sl 23:1

Não sei se há alguma outra frase da Bíblia  tão conhecida como esta exclamação do salmista Davi. As crianças nas primeiras classes da escola dominical aprendem a decorar essa passagem, pintando ovelhinhas verdes nos livros de atividades. Os velhos de cabelos brancos, depois de uma vida experimentando a verdade dessa declaração, repetem com gosto essas palavras, aprendidas quando criança e jamais esquecidas. Quanto consolo ela nos traz!

Aprendemos a colocar a ênfase na palavra pastor. A palavra Senhor é quase que negligenciada quando lemos ou repetimos o salmo. Porém, ela está lá, no começo, para nos lembrar que o pastoreio do Senhor é exercido sob o signo de seu senhorio. O próprio Davi disse "sabei que o Senhor é Deus: foi ele, e não nós, que nos fez povo seu e ovelhas do seu pasto" (Sl 100:3). Deus como pastor, nos lembra que somos ovelhas, feitura de suas mãos e que existimos para Sua glória. Por isso, nunca esqueçamos que "Ele é o nosso Deus, e nós povo do seu pasto e ovelhas da sua mão. Se hoje ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações" (Sl 95:7-8).

Contudo, o Senhor é nosso pastor! Ele cuida de nós, dando alimento, proteção e cuidando de nossas necessidades. Ele nos guia, vai adiante de nós, nos adverte quando nos desviamos, nos corrige quando insistimos em nos afastar, desgarrando do rebanho. E como é bom poder orar "desgarrei-me como a ovelha perdida; busca o teu servo" (Sl 119:176), sabendo que Ele virá nos buscar, nos colocará em Seus ombros e fará uma festa por ter nos achado.

Tendo um Senhor todo poderoso como pastor, podemos ter certeza que nada nos faltará. Não quer isto dizer que o Pastor está à serviço de nossas ambições vis ou de nossas paixões materiais. Tal idéia é absurda e não cabe nesta confissão. Mas ela nos dá a certeza que nosso pastor suprirá a nossas necessidades, necessidades reais, de modo que sendo diariamente protegidos, guiados, alimentados e descansados possamos dizer:

“Assim nós, teu povo e ovelhas de teu pasto, te louvaremos eternamente: de geração em geração cantaremos os teus louvores” (Sl 79:13).

Clóvis Gonçalves é blogueiro do Cinco Solas e escreve no 5 Calvinistas às segundas-feiras

22 de janeiro de 2010

Quem é Deus?

Quem é Deus? E o que é a realidade, o que é tudo que existe?
Alguém já disse, e eu concordo, que, se não existe Deus, este assunto é insignificante. Mas se Deus há, então tudo que se refere a Ele é da maior importância. E a verdade é que a resposta à segunda pergunta depende muito do que se responde à primeira.
Pois bem, nós, reformados, afirmamos que há um Deus e queremos saber quem Ele é. O curioso é que temos sido acusados recentemente de criarmos um Deus à nossa imagem. Não atino como isto se possa dar, pela maneira como O pensamos, mas isso é uma reciclagem da velha acusação de interpretar a Bíblia pelo calvinismo e não o contrário. Não vale muito a pena ficar a rebater tal acusação. O melhor mesmo é irmos às Escrituras e buscarmos responder à questão sobre quem é Deus com base nelas. Pois, sim, ainda cremos e creremos sempre que as Escrituras são a Revelação que Deus faz de Si mesmo!
As Escrituras, pela graça de Deus, são pródigas em revelar Seus atributos. E o estudo destes é algo que deveria ser feito por todo aquele que se chama cristão. Impossível não se maravilhar com o caráter de nosso Deus! Impossível não louvá-lO por Suas qualidades. Impossível não se prostrar perante Ele e impossível não Lhe dar glórias!
Sim, muito haveria que se dizer sobre quem Deus é. Uma resposta exaustiva não é possível, pois Ele é o Insondável. E mesmo Sua Revelação nos fala apenas daquilo que precisamos saber. E, também, queremos uma resposta mais breve. Uma que seja apenas suficiente para nos indicar o caminho da resposta à segunda pergunta. Assim sendo, creio não haver caminho melhor que aquele que passa pelo nome que Deus dá a Si mesmo e que passa também pelo nome em que Ele é o próprio revelar-Se!

O nome que Deus dá a Si mesmo
Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros (Ex 3.14).
Talvez a associação mais imediata que fazemos ao lermos Deus dizer EU SOU é em relação a Sua eternidade e outros atributos diretamente relacionados a ela. “Deus é” significa, em certo sentido, que Ele foi, é e será. Ou talvez seja melhor dito que Ele sempre foi, é e sempre será! Uma aproximação em termos de tempo, sem dúvida, pois a eternidade é atemporal. Transcende o tempo. Deus é eterno!
E este “sempre ser” também sugere imediatamente imutabilidade. Se é, eternamente, é sempre o mesmo. Pois mudar significa deixar de ser. Deus não muda, é imutável! Daí inferimos imediatamente Sua fidelidade. Pois se é e não muda, eternamente, as promessas feitas desde a eternidade serão cumpridas sem sombra de dúvida! Deus é fiel!
Assim, em um curto e rápido olhar, percebemos a riqueza desta revelação. Três atributos apreendemos e mais outros tantos podem ser inferidos. Mas há um sentido em especial, o sentido ontológico, que nos cumpre olhar com um pouco mais vagar: Deus, e só Deus, é! Apenas em Deus o ser é propriamente. Ou, dizendo de um outro modo, apenas Deus propriamente é. Sei bem que esta linguagem metafísica é estranha a muitos, dado o espírito positivo (empírico) de nosso tempo. Mas esforcemo-nos em apreender o sentido destas palavras. E, talvez, o melhor meio para isso é pelo contraste com o que somos. E o que somos? O que é homem?
“O homem é como um sopro; os seus dias, como a sombra que passa” (Sl 144.4). Ontem nós fomos e hoje somos. Mas amanhã passaremos. Sim, somos limitados. No tempo (contra a eternidade) e no espaço (contra a onipresença). Mas para além disso, o homem só pode ser, ele apenas é, enquanto Deus o sustem. Ele não pode suster-se por si. Não importa quão grande ele se sinta ou quão seguro esteja de seu poder e força. Ele não pode ir além de sua contingência. Agora ele é, mas, no momento seguinte, como saber?
Deus, ao contrário, é ilimitado em tudo que é. Não apenas eterno e onipresente, mas também onisciente e onipotente. Mas, acima de tudo isso, Ele é porque é. Ele não pode não ser, pois o não ser é o nada. Mas Deus, o Deus EU SOU, Ele é, necessariamente!
Tudo que é, é. Porém apenas em Deus o ser encontra seu perfeito significado. Deus é o Ser, e todo ser dEle depende, dEle recebe o seu próprio ser. Apenas Deus propriamente é. Apenas Deus é, absolutamente! Tudo o mais é relativo a Ele. Eis aí um significado do EU SOU fundamental para todo pensamento humano: Deus é Absoluto!
Deus é o Absoluto!

O nome em que Deus é o próprio revelar-Se
No princípio era o LOGOS, e o LOGOS estava com Deus, e o LOGOS era Deus (Jo 1.1).
Alegra-me o fato de Deus ter-se revelado como o EU SOU numa era pré-filosófica. Pois o fato precede a metafísica e toda a profundidade do pensamento racional sobre o ser. Que os homens, mesmo sem conhecer o Deus Vivo dos hebreus, tenham apreendido esta profundidade e os cristãos mais tarde a tenham identificado não me sugerem qualquer acaso!
Mas quanto ao Logos, ao contrário, não em relação ao acaso, mas ao uso racional do termo, não me parece qualquer despropósito que João o tivesse incorporado conscientemente ao vocabulário cristão devido justamente a este uso. Isto é, no primeiro caso o significado do nome independe de qualquer filosofia. Mas, no segundo, a filosofia está mesmo a enriquecer o termo pelo qual Deus inspira o apóstolo a dizer ser Seu nome.
Nossas Bíblias traduzem o termo Logos por Palavra ou Verbo, havendo a identificação com Cristo. Estão a enfatizar o princípio racional Criador pela própria ação de criar: “Disse Deus: Haja luz; e houve luz” (Gn 1.3). Jesus é o Verbo, a Palavra criadora de Deus. Na verdade, aqui já se encontra todo o significado que o termo encerra: o Deus Criador! Porém, aquele que crê faz bem saber da ligação filosófica entre os termos “logos” e “arché”.
De forma bem resumida, os primeiros filósofos procuravam a arché, um princípio pelo qual tudo vem a ser, sendo, além da própria constituição do que é, tanto origem quanto aquilo que mantém todo ser. Este princípio é também racional, um logos, um princípio de ordem e de beleza. A associação deste conteúdo filosófico com o Deus Criador não é óbvia? E não é mesmo enriquecedora do termo?
Assim é que o LOGOS é o princípio que a tudo sustem por Sua Palavra, dando ordem e beleza a tudo que é, sendo mesmo a origem a partir do que tudo deve seu próprio ser. E note que, sendo o princípio pelo qual Sua voz a tudo dá significado, é também por este mesmo princípio, Sua Palavra, que Ele se dá a conhecer, que Ele Se revela! Seu nome é o próprio revelar-Se!
Enfim, o EU SOU, o Ser, o Absoluto, é o próprio LOGOS, o Deus Criador: a Origem!
Deus é a Origem!

A realidade
Temos respondida a primeira pergunta. Mas, e a realidade? O que é ela?
Não, é claro que não tenho a pretensão, neste pequeno espaço, de dar qualquer resposta, breve ou longa, simplista ou exaustiva. Não é sobre a resposta em si que pretendo falar, mas do caminho para ela. Pois o homem passou um longo tempo iludido por sua razão e acreditando que dela poderia inferir todas as respostas que deseja. Muitos ainda a mantém uma rainha, sem perceber quão irracionais são em sua racionalidade. Mas outros tantos já perceberam sua loucura. E se desesperam de poder obter qualquer resposta. Saem afirmando aos quatro ventos a impossibilidade de se afirmar. Não possuem absolutos, nem mesmo a razão. Desesperaram da verdade, desesperaram de conhecer! Neste contexto, vemos não só a relevância, mas também a atualidade do Cristianismo e da Revelação.
A razão sozinha, feita ela própria um absoluto, não pode encontrar um fundamento sobre o qual conhecer, pois ela não é este absoluto. Ela é apenas uma faculdade do homem. E este é contingente. É limitado no tempo e no espaço e incapaz de se colocar como a medida de todas as coisas. Como a razão deste homem poderá se colocar como absoluta? Como poderá medir tudo o mais por ela mesma? Apenas a ingenuidade pode manter a razão em seu trono.
Então está certo o homem em se desesperar! Está? Eis aí Deus a Se revelar! Ele se mostra o Absoluto sobre o qual construir, um fundamento, o único, do pensar. Ele se apresenta como a Origem de todas as coisas, sendo possível por Ele e nEle encontrar o significado de tudo que há! Basta ouvir o que Ele diz e saberemos não apenas quem Ele é, mas o que somos e o que toda realidade é. Apenas a rebeldia pode insistir no desespero!

Conclusão
Oh, nações, oh, povos! Atentem para o que estão fazendo, dizendo e pensando! Oh, pecadores! Oh, cada um de nós! Busquemos o Senhor enquanto se pode encontrá-lO (Is 55.6)! Ele Se revela e Se dá a conhecer para que vivamos com Ele eternamente. Sim, Ele assim o faz! Ouçamos o que Ele diz!
E louvemos a Deus como Ele é: “o Absoluto, o Criador, a Origem, o Logos, o Eterno, o Imutável, o Ser, a Razão de ser de tudo o que há, que houve ou há de ser, Aquele que não apenas pode, mas que efetivamente dá a tudo sua significação e Aquele em quem, enfim, a razão é, efetivamente, possível!”.
SOLI DEO GLORIA!

21 de janeiro de 2010

Mar, terra, e o equilíbrio dos atributos


"Nem tanto ao mar, nem tanto à terra" - diz o ditado. No que diz respeito aos atributos de Deus, a máxima se torna um guia interessante. Digo isto porque, em tempos de crise e tragédias como a do Haiti, há exageros em dois extremos: alguns que vêem Deus só como amor, e outros que O observam apenas como justiça.

O desequilíbrio na maneira como percebemos o Senhor pode atrapalhar consideravelmente a maneira como nos relacionamos com ele, e como observamos a realidade em geral.

Essa ênfase errônea em apenas um atributo revela a desconsideração da Escritura em sua totalidade. Não digo que há uma intenção malévola de perverter o ensinamento escriturístico, mas, se não há maldade, pelo menos há ingenuidade, ou ignorância - e os resultados práticos disto podem ser tão ruins quanto o da maldade deliberada.

Tomemos, por exemplo, o atributo da cognoscibilidade de Deus. Basicamente, ensina que Deus pode ser conhecido. A idéia de conhecimento relacionado ao ser de Deus é desprezível para alguns em nosso tempo: por um lado, há os que negam a Divindade, e, por isso, consideram que algo inexistente não pode ser conhecido. Mas há cristãos caminhando nesse mesmo sentido. Eles não negam a existência de Deus, mas rejeitam tudo relacionado ao uso do intelecto na religião, e assim preferem dizer que Deus é "experimentado", mais do que conhecido.

Para muitos desses, o termo "conhecimento" em si já traz uma carga não-cristã, uma importação da filosofia grega, ou expressa a ocidentalização da fé. A fim de justificar seu pensamento, porém, recorrem muito mais à filosofia existencialista ou alguma corrente de pensadores ocidentais, do que ao texto bíblico. E assim refutam a sua própria perspectiva.

A Escritura, por outro lado, trabalha num equilíbrio recheado de beleza. Deus é "experimentado" no sentido de se viver uma relação pessoal com Ele, mas esse relacionamento se perfaz nos termos da Escritura, que exige o intelecto humano em sua expressão religiosa. A cognoscibilidade de Deus se mostra, em parte, na apresentação bíblica dos Seus atributos.

Deus pode ser conhecido? Deixemos que Ele responda:

...mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o SENHOR e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o SENHOR. [Jr.9.24]


A busca de uma visão completa, porém, não permite ficarmos presos exclusivamente à cognoscibilidade de Deus. Enfatizarmos apenas este atributo, pode gerar o erro de estendermos o seu limite além do permitido. Não é porque Deus pode ser conhecido, que Ele pode ser exaustivamente conhecido e compreendido.

Por isso, a cognoscibilidade precisa ser pensada em paralelo com a incompreensibilidade de Deus. A fim de não nos orgulharmos e pensarmos que podemos "dominar" a matéria divina, somos lembrados constantemente que Deus está bastante além da nossa finita capacidade de compreendê-lo. Ele tem grandeza e pensamentos insondáveis [Sl.145.3; Rm.11.33-36]. Para usar o linguajar do Francis Schaeffer, podemos ter conhecimento verdadeiro sobre Deus, mas não conhecimento exaustivo.

Este equilíbrio, na prática, gera segurança e humildade. Torna-nos seres humildes, diante da grandeza do Senhor, O incompreensível. Mostra a nossa limitação e fraqueza. Livra-nos de considerarmos nosso intelecto além do que ele merece. Ao mesmo tempo, dá-nos segurança, por nos fazer confiar que, mesmo com nossa limitação, Deus ainda Se revela, e pode ser conhecido por nós. Novamente, como diria o Schaeffer: "Ele está lá, e não está em silêncio"*.

*Este é o título de um dos livros do autor: "He is there and He is no silent", traduzido no Brasil como "O Deus que Se revela".

Allen Porto é blogueiro do A Bíblia, o Jornal e a Caneta, e escreve às quintas-feiras no 5C.

19 de janeiro de 2010

Como ajudar o Haiti


Quer ajudar a população do Haiti e não sabe como? A Visão Mundial é uma organização missionária cristã interdenominacional e está recebendo doações para os haitianos. Depósitos podem ser feitos em duas contas, uma do Bradesco e outra no Banco do Brasil:

Visão Mundial
CNPJ: 18.732.628/0001-47

Bradesco
Ag 3206-9
CC 461666-9
ou
Banco do Brasil
Agência 0007-8
CC 16423-2

A Junta de Missões Mundiais da Convenção Batista Brasileira também está recebendo doações. Informações sobre como doar pelo telefone (21) 2122-1901 ou clicando aqui.

Quem quiser, também pode fazer a sua doação pelo Banco do Brasil. Os dados necessários para a doação estão abaixo:

Favorecido: Embaixada da República do Haiti
Agência: 1606-3
Conta corrente: 91.000-7
Caso seja necessário, informe o CNPJ da Embaixada: 04.170.237/0001-71

Envolva-se, não deixe de ajudar.

18 de janeiro de 2010

Deus é amor

Deus é a soma de Seus atributos. Negar ou diminuir a importância de qualquer de suas perfeições é fazê-lo menos Deus do que Ele realmente é. De igual modo, dar proeminência a um atributo, destacando-o dos demais, é apresentar uma idéia deformada da divindade. Qualquer proposição que comece com "o principal atributo de Deus é..." é enganoso e tende a desembocar numa heresia qualquer. Os atributos de Deus estão em plena harmonia, um não faz sombra a outro.

Estas considerações são necessárias quando alguém se propõe a falar do amor de Deus. Pois é fato que alguns, ante os requisitos de Sua santidade e justiça, podem querer suplantá-los com uma dose extra do amor divino. Por outro lado, os convictos de Sua soberania na salvação correm o risco de atenuar a dimensão do amor divino. Devemos afirmar, contudo, que Deus não é nem mais e nem menos amoroso que santo e justo! Ele é tanto amor, como espírito e luz.

O amor de Deus significa que Ele se doa aos outros - na linguagem teológica se diz que o amor de Deus é sua auto-comunicação aos homens. Nele estão incluídos complacência, deleite, desejo de posse e comunhão com seus amados. Porque ama, Deus entrega-se para e pelos objetos do seu amor.

As características do amor de Deus

O amor é uma daquelas palavras difíceis de definir e, por isso mesmo, geralmente mal compreendida. Se isso é verdade em se tratando do amor entre os homens, quanto mais então quando se trata do amor de Deus. É comum a idéia do amor de Deus como indulgência ou fraqueza. Para muitos, um Deus de amor é igual a um avô assistindo as travessuras de seus netos, maneando a cabeça enquanto diz "essas crianças...". Claro que não é assim que a Bíblia revela o Deus de amor.

Deus ama eterna e livremente. O amor de Deus não depende de nós, não é despertado por nós, mas flui livre e puro das profundezas do ser divino. Quando não havia nenhuma criatura para amar, as pessoas da Trindade amavam-se mutuamente. Jesus orou ao Pai dizendo "porque tu me amaste antes da fundação do mundo" (Jo 17:24) e fazia questão de "que o mundo saiba que eu amo o Pai" (Jo 14:31). Além disso, o seu amor pelas criaturas precede qualquer feito realizado por elas que justificasse serem amadas. "Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados" (1Jo 4:10). Já no Antigo Testamento Deus dizia "com amor eterno te amei; também com amável misericórdia te atraí" (Jr 31:3).

Deus ama de forma imutável. O amor de Deus não sofre variação, não aumenta nem diminui, não aparece nem desaparece. Não há nada que alguém possa fazer para Deus amá-lo mais, e nada que um filho Seu faça O levará a amá-lo menos. O amor de Deus não está sujeito ao tempo ou ao espaço, mas vem da eternidade para o coração dos filhos de Deus. O amor de Deus é absolutamente digno de confiança, mesmo na morte podemos desfrutar do cuidado amoroso do Pai. De Jesus é dito que "como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim" (Jo 13:1).

Deus ama infinitamente. Seu Deus infinito e sendo Deus amor, decorre que Seu amor é infinito. João diz que "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito" (Jo 3:16). Paulo declara que "Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores" (Rm 5:10). A linguagem humana falha em tentar expressar a dimensão do amor de Deus, pelo que os autores inspirados recorrem a expressões como "de tal maneira", "Deus prova" e "seu muito amor com que nos amou" (Ef 2:4).

Deus ama de forma onipotente. Não existe força no céu, na terra ou no inferno capaz de quebrar o amor de Deus por nós. A Carta aos Romanos nos dá a certeza de que "nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor" (Rm 8:38-39). O poder de Deus está a serviço de Seu amor e nada pode tirar dEle aqueles a quem ama.

O amor de Deus está intimamente relacionado com Sua misericórdia e graça. O amor de Deus se manifesta em misericórdia quando Ele não nos dá o que merecemos. É pelo amor de Deus que alguns não são condenados. E se manifesta em graça quando nos dá aquilo que não merecemos, pois é pelo amor de Deus que somos salvos. Portanto, o sermos livrados do inferno e o sermos conduzidos à glória, devem-se ao fato de que Deus é amor.

O amor de Deus é consistente com a eleição

Tendo feito a afirmação de que somos salvos pelo amor de Deus, ouvimos a objeção de que as doutrinas da graça, conforme entendidas pelos calvinistas, são inconsistentes com o amor de Deus. Porém, a verdade ensinada nas Escrituras prova ser esta objeção destituída de fundamento.

A Bíblia diz "eu amei a Jacó, mas rejeitei a Esaú" (Ml 1:2,3). Paulo menciona que essas palavras foram proferidas antes do nascimento dos gêmeos, exatamente para que "o propósito de Deus conforme a eleição prevalecesse" (Rm 9:11-13). Deus não teve afeição por Jacó porque este tinha alguma atração, Ele teve afeição porque amou (Dt 7:7-10). Deus o amou porque o amou e o escolheu porque o amou, não dá para ir além disso.

Noutra carta os crentes são chamados de "eleitos de Deus, santos e amados" (Cl 3:12). Não deve restar dúvidas de que é Deus quem elege, a referência bíblica é aos "eleitos de Deus" (Tt 1:1), como quando a Escritura diz "sabendo, amados irmãos, que a vossa eleição é de Deus" (1Ts 1:4). Sendo o agente da eleição o mesmo Deus de amor, não há nenhuma inconsistência entre amor e eleição, pelo contrário, esta decorre daquele. Por isso Paulo dizia "devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação" (1Ts 2:13). O mesmo pode ser dito sobre a predestinação, pois as Escrituras registram que Deus "em amor nos predestinou para ele" (Ef 1:4-5). Deus não elege e predestina apesar do Seu amor, Ele elege e predestina por causa do Seu amor.

Porque Deus é amor, devemos amar

O amor é uma qualidade que Deus comunica a nós. Nós O amamos e amamos o próximo porque Ele nos amou primeiro. Aliás, somente quando observamos a atividade de amar é que descobrimos como amar. Pois não descobrimos Deus através de nossas experiência com o amor, descobrimos o amor através de nossa experiência com o amor. Só somos capazes de amar verdadeiramente quando nosso amor é reflexo do amor de Deus em nós. E a prova de que o conhecemos é quando amamos seguindo Seu exemplo.

Clóvis Gonçalves é blogueiro do Cinco Solas e escreve no 5 Calvinistas às segundas-feiras (quase todas).

14 de janeiro de 2010

Sobre revelações e atributos


Certa vez tive umas aulas de história da revelação com um liberal. A primeira crítica que ele fez ao pensamento conservador, logo no início das aulas, dizia respeito à Escritura e à possibilidade do conhecimento de Deus. Para ele, era ridículo se estudar as categorias tradicionais de "Revelação geral e especial", ou ainda "os atributos de Deus".

Com o devido desconto pela amargura daquele professor, o conteúdo de suas afirmações revela o desprezo pela perspectiva do cristianismo clássico, bem como a rejeição da Escritura como Palavra de Deus (proposicional) e assim, o abandono da análise bíblica de quem Deus revela ser.

Aquele professor, contudo, não rejeitava absolutamente o conhecimento de Deus. Afirmava que era possível um encontro com Jesus - a verdadeira Palavra. Esse encontro, que ele chamava de "abalo existencial" tornaria Deus conhecido ao homem.

O estranho desse pensamento é que o encontro não possui conteúdo. O abalo existencial não revela algo sobre Jesus, apenas produz um impacto emocional, ou algo parecido.
Ainda assim, a estrutura humana se revela. Mesmo aceitando as proposições do professor que nega a revelação proposicional, e admitindo um "abalo existencial" como encontro com Jesus, passamos a pensar em Deus em termos de categorias - bom, mal, belo, feio, confrontador, confortador, etc., etc.

O "encontro sem conteúdo" faria o homem categorizar suas impressões sobre Deus, utilizando atributos. "Jesus se encontrou comigo. Ele é bom"; "Fui profundamente impactado por Deus, Ele é poderoso"; "O encontro com Deus gerou grande abalo existencial, Ele é majestoso".

E assim voltamos ao que a Escritura apresenta. Em vez de especularmos sobre um encontro sem conteúdo, a Bíblia revela as perfeições de Deus de maneira inequívoca. Se dependêssemos de nossas sensações para atribuirmos qualidades ao Senhor, correríamos o risco de Lhe conferirmos atributos ruins quando sentíssemos algo negativo. Mas a Escritura revela quem Deus é.

Do início ao fim percebemos os relatos sobre o caráter do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Há versículos declarando explicitamente um atributo, e outros indicam situações nas quais a qualidade é apresentada na prática, mas todos demonstram que Deus pode ser conhecido, e que a observação dos Seus atributos é o caminho escolhido por Ele mesmo.

Os 5 calvinistas pretendem passar um tempinho pensando sobre os atributos de Deus. O Calvinismo acredita na Revelação proposicional, e crê que Deus pode ser conhecido - tendo os Seus atributos papel especial neste processo.

O melhor "abalo existencial" é aquele que vem das proposições da [Sagrada] Escritura, aliado à ação do [Santo] Espírito, que revela o [Amoroso] Filho, e o [Glorioso] Pai.

13 de janeiro de 2010

Onde está Deus quando a terra treme?

Peço perdão pelo tamanho do texto. Mas, quando lidamos com as catástrofes, é preciso pensar e refletir sobre muitas coisas. Por isso, peço a paciência dos leitores. A série "Bíblia e Predestinação" volta na semana que vem (ou no sábado). Hoje é preciso meditar sobre um outro assunto.
Onde estavas tu,
quando eu lançava os fundamentos da terra?
Dize-mo, se tens entendimento.
Quem lhe pôs as medidas,
se é que o sabes?
Ou quem estendeu sobre ela o cordel?
Sobre que estão fundadas as suas bases
Ou quem lhe assentou a pedra angular.
quando as estrelas da alva, juntas,
alegremente cantavam,
e rejubilavam todos os filhos de Deus? (Jó 38:4-8)

O dia hoje começou com o anúncio de mais uma tragédia. Um terremoto de 7 graus na escala Richter assolou o Haiti. Até o momento a estimativa é que mais de 100 mil pessoas tenham morrido, incluindo ao menos doze brasileiros, dentre eles uma das fundadoras da Pastoral da Criança, Zilda Arns. A tragédia se mostra ainda mais sinistra quando lembramos que o Haiti é um dos países mais pobres do mundo.

Esse tipo de desastre leva a uma pergunta: onde está Deus? Por que isso acontece?

Provavelmente um ateu encontraria aí a prova da não-existência de Deus. Para outros, o terremoto mostra um Deus impotente para evitar os desastres e socorrer a humanidade. Uma outra resposta seria a de que Deus é mau, por isso não impediu o desastre, mesmo tendo o poder para fazê-lo. Há ainda quem prefira deixar Deus fora dessa e culpar a Satanás pelo incidente.

No entanto, não é no intelecto humano que devemos buscar essa resposta, e sim na Bíblia.

Deus controla os fenômenos naturais
A primeira coisa que devemos entender é que o Senhor controla e governa todas as coisas, inclusive os fenômenos naturais do planeta Terra. A natureza não é uma força independente de Deus, cujo poder é tão grande a ponto de impedir ou desafiar os planos do Senhor. Secas e enchentes, terremotos ou maremotos, furacões e tempestades, tudo é controlado pelo poder divino.

Essa ideia é o centro da resposta que Deus dá quando Jó questiona a Sua justiça. O ser humano não conhece plenamente o universo criado por Deus e nem sabe explicar todas as leis que regulam o funcionamento da criação...como poderia então entender a forma como Deus dirige a vida das pessoas? Deus, no entanto, não apenas conhece, como Ele mesmo estabeleceu a Terra e tudo o que existe, fixando as leis que regem o mundo material. O Senhor é soberano sobre a terra, mas também sobre o mar (Jó 38:12-16), a morte (Jó 38:17), a luz e as trevas (Jó 38:19-20), os fenômenos climáticos (Jó 38:22-30), as estrelas e os céus (Jó 38:31-38) e os animais (Jó 38:39-39:30).

O terremoto no Haiti, assim como os deslizamentos de terra acontecidos no Ano Novo em Angra dos Reis e outros desastres naturais, todos eles estão debaixo do controle divino. Mais do que isso: eles foram decretados por Deus. Como disse Jesus:
Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai. E, quanto a vós outros, até os cabelos todos da cabeça estão contados. Não temais, pois! Bem mais valeis vós do que muitos pardais. (Mateus 10:29-31)
Um pardal só pode morrer se o Pai consentir. E é certo que um ser humano vale mais do que um bando inteiro de pássaros. Seria possível então que mais de cem mil pessoas morressem sem que houvesse nisso o consentimento do Pai?

Na verdade, a Bíblia vai além. Não apenas o terremoto, mas tudo o que acontece é fruto de um decreto ou determinação divina (já tratei mais dessa questão em outro post):
Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda. (Salmo 139:16)

Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes? (Daniel 4:35)

nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade... (Efésios 1:11)
Não é preciso dizer que Satanás causou esse ou qualquer outro desastre. Ainda que o diabo tenha sido o autor imediato, Deus é Aquele que controla todas as coisas, incluindo as ações de homens, anjos e até mesmo de seres inanimados, como a terra ou a água.

Deus tem direito de vida ou morte sobre os seres humanos
Se Deus tinha poder para impedir esse desastre, por que então Ele não o fez? Será que Deus foi mau por ter decretado que a terra tremeria no Haiti na noite do dia 12 de janeiro?

Certamente Deus não é mau. Ele tem um propósito em cada ato bom ou ruim que acontece no mundo. Não somos governados por um Ser arbitrário ou caprichoso, que mata ou salva pessoas injustamente. A razão pela qual Deus determina que esse tipo de desgraça aflija a humanidade é o pecado.

Doenças, envelhecimento, acidentes violentos, desastres naturais, a morte enfim...tudo isso é o justo castigo que Deus inflige aos seres humanos por causa dos nossos pecados. Como diz a Bíblia:
porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor. (Romanos 6:23)
Todos os seres humanos, sem exceção, incluindo loucos ou bebês de colo, são dignos de morte porque todos pecamos e nossa natureza já é marcada pelo erro desde que nascemos:
pois todos pecaram e carecem da glória de Deus...(Romanos 3:23)

como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. (Romanos 3:10-12)

Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram. (Romanos 5:12)

Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe. (Salmo 51:5)
Na verdade, o salário do pecado não é a morte física, mas sim a morte espiritual, aquilo que a Bíblia chama de lago de fogo:
Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros. Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o além entregaram os mortos que neles havia. E foram julgados, um por um, segundo as suas obras. Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo. (Apocalipse 20:12-15)
Sei que essa ideia não é agradável. Para muitos, Deus poderia ser mais brando e dar um castigo menor aos seres humanos por causa do pecado. Uma eternidade de tormentos é um cenário muito mais assustador do que os tremores no Haiti ou até mesmo campos de concentração nazistas.

Contudo, o pecado é uma ofensa dirigida ao nosso Criador, a um Ser Perfeito, que criou um mundo perfeito. Mais do que isso, é uma ingratidão contra Aquele que sustenta todas as coisas. Se vivemos, respiramos, se fazemos qualquer coisa, é porque o Senhor nos dá condições. Em todas as coisas, inclusive nas mais básicas, a humanidade depende de Deus:
O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas. Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais...(Atos 17:24-25)

Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas, (Hebreus 1:3)
Se um crime contra um desconhecido já é alvo de punição por parte de homens, imagine um crime cometido contra o Todo-Poderoso, de quem dependemos para absolutamente tudo?

Se esse argumento ainda não basta, precisamos sempre nos lembrar que Deus tem sobre nós o direito que um Criador tem sobre sua criação:
Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra? (Romanos 9:20-21)

Ai daquele que contende com o seu Criador! E não passa de um caco de barro entre outros cacos. Acaso, dirá o barro ao que lhe dá forma: Que fazes? Ou: A tua obra não tem alça. (Isaías 45:9)
O Senhor pode fazer com os seres humanos o que bem entender, assim como podemos fazer o mesmo com as coisas que nós inventamos. Mais do que isso: se o ser humano cria algo que se revela nocivo a ele, por acaso não destruímos essa invenção? Se um animal de estimação nos ataca, a maioria de nós não se livraria dele?

Deus, no entanto, é misericordioso. Embora Ele julgue, com justiça, os erros dos seres humanos, enquanto nós vivemos neste mundo ainda desfrutamos de uma condenação parcial por nossos erros. A fome, a depressão, a solidão...tudo isso ainda é mais leve do que a justa pena por nossos erros. Por isso o rei Davi podia dizer:
Não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui consoante as nossas iniqüidades...(Salmo 103:10)
Mas, uma hora todo ser humano se defronta com o juízo divino. E, como todos nós somos pecadores, qualquer um de nós pode perecer com uma enfermidade ou em um acidente ou catástrofe. Por isso, o Senhor pode dizer:
Vede agora que Eu Sou, Eu somente, e mais nenhum deus além de mim; eu mato e faço viver; eu firo e eu saro; e não há quem possa livrar alguém da minha mão... (Deuteronômio 32:39)
Quando os desastres acontecem, o Senhor está apenas sendo justo. É preciso que nós entendamos que o Juiz é Deus, e os réus somos nós, e não Ele.

Deus chama os seres humanos ao arrependimento
Contudo, a justiça não é o único propósito de Deus em desastres assim. Para os vivos, essas catástrofes são um chamado de Deus ao arrependimento. Isso foi o que Jesus Cristo ensinou quando Pilatos assassinou a galileus no templo e dezoito pessoas morreram em um acidente:
Naquela mesma ocasião, chegando alguns, falavam a Jesus a respeito dos galileus cujo sangue Pilatos misturara com os sacrifícios que os mesmos realizavam. Ele, porém, lhes disse: Pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem padecido estas coisas? Não eram, eu vo-lo afirmo; se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis. Ou cuidais que aqueles dezoito sobre os quais desabou a torre de Siloé e os matou eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? Não eram, eu vo-lo afirmo; mas, se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis. (Lucas 13:1-5)
A mensagem de Jesus é clara: se não nos arrependermos, então morreremos, cedo ou tarde, como os vitimados em desastres. Da morte física não podemos escapar, mas da condenação eterna sim, desde que haja arrependimento. Mas, o que é se arrepender?

Na Bíblia, arrependimento é mais do que a tristeza pelo erro cometido: é mudar de direção. A ideia é de alguém que para, dá meia volta e faz o inverso do que fazia antes. Mais do que isso: uma das palavras usadas é o grego metanoia, que significa "mudança de mente".

Na verdade é preciso mais que mudar a mente, é preciso mudar quem nós somos. Por isso, Jesus fala do novo nascimento:
Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. (João 3:5-6)
Na verdade, o arrependimento genuíno é uma graça dada pelo próprio Deus:
Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento? (Romanos 2:4)
Como saber se essa bondade chegou até você? Simples.

Certamente você já pôde refletir aqui sobre como o pecado prejudicou a humanidade e como ele é algo sério e abominável aos olhos de Deus. Se você sente tristeza por causa disso, reconhece que é culpado diante do Senhor e deseja viver uma nova vida, escapando assim da ira do Senhor, então Jesus o está levando a arrepender-se.

Apesar de tantas catástrofes, lembre-se de que a maior de todas elas foi sofrida por Jesus Cristo. Em vida, Ele viveu como pobre, provavelmente perdeu cedo a José e foi perseguido pelos religiosos de sua época. Ele não pecou, mas foi espancado, torturado, humilhado e abandonado por seus discípulos. Ele morreu na cruz, com pregos nas mãos e nos pés, onde ficou pendurado por seis horas.

Mas tudo isso tinha um propósito: salvar pessoas. Cristo sofre, no lugar dos filhos de Deus, a pena que nós merecemos pelo pecado:
Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. Dificilmente alguém morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer. Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados por seu sangue, seremos por ele salvos da ira. (Romanos 5:6-8)
Há saída para a morte. Há livramento para o pecado. Mas isso é algo que somente Deus pode fazer. Somente Cristo pode sofrer o nosso castigo e somente Deus pode mudar a nossa mente. E a forma pela qual Deus faz isso é pela fé:
Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor, e em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para a justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação. Porquanto a Escritura diz: Todo aquele que nele crê não será confundido. Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. (Romanos 10:9-13)

Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. (João 3:16)
Quando a terra treme, o morro desce ou o mar invade a terra, Jesus chama a humanidade para Si. Ele nos diz que algo ainda pior pode nos acontecer. Mas, em amor, Ele nos dá a saída. Nos mostra um caminho melhor. O caminho da cruz.

Deus chama a igreja a ajudar aos que sofrem
Andar com Jesus é viver uma nova vida, é mudar de mente, nascer de novo. E isso implica em uma nova atitude: a de amar o nosso próximo. Mesmo que o terremoto seja fruto da justiça de Deus, Ele espera que Seus filhos mostrem também a misericórdia do Senhor: ajudando a achar os desaparecidos, consolando os vivos, levando comida e remédios aos desabrigados, reconstruindo as casas destruídas, pregando o Evangelho. Como ordenou o Senhor:
Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas. (Mateus 7:12)
E, se a tragédia tiver levado filhos de Deus, que nos lembremos de que o Senhor age pelo sofrimento para nos aperfeiçoar:
E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. (Romanos 5:3-4)

Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. (2 Coríntios 12:9)
E, por mais que seja duro de acreditar, mas creiamos que, mesmo em meio ao mal, Deus age a nosso favor:
Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. (Romanos 8:28)
Que possamos então, chorar com os que choram...no Haiti, em Angra dos Reis, no Rio Grande do Sul, em nossa rua. Orar por eles. Ajudarmos com o que pudermos, inclusive abrindo a casa ou dando dinheiro. E mostrando aos que sofrem que há um Deus que pode nos livrar da morte.

Louvado seja o nosso Deus...que está sempre presente...mesmo quando a terra treme.

Helder Nozima é pastor presbiteriano, blogueiro do Reforma e Carisma e escreve às quartas-feiras no 5 Calvinistas.

7 de janeiro de 2010

O Calvinista

Também estou de folga por uns dias. Este post foi originalmente publicado em 03/12/2008, no BJC. Ao texto:

* * *

O calvinista é um ser folclórico. Como um currupira (ou curupira) da teologia, as pessoas inventam estórias, lendas, contos, mitos e fábulas sobre este indivíduo. Os menos desavisados afirmam que eles ensinam a “premonição”. Queriam dizer a predestinação, mas sua cultura bíblica é por demais limitada para citar este nome complicado.

Dizia eu que o predestinacionista é um indivíduo transmutado em mito. Escrevo estas linhas e na cabeça passam situações diversas que exemplificam o caso. Muitos processos perpassam este caminho do desenho da caricatura calvinista. Nem todos são percebidos, e suas variações são muitas, por isso me permito escrever o que anotei quando pensei sobre o assunto, sem a pretensão de esgotá-lo.

Há a desconsideração da identidade como pessoa (e como cristão). O reformado não é mais um ser humano ou um batista ou assembleiano (sim, existem deles na Assembléia de Deus - sou testemunha), ele é apenas O CALVINISTA. Que peso isto terá, depende de como as pessoas enxergarão as doutrinas da graça.

Há também a utilização do rótulo odioso como desqualificador do ser e da mensagem. Aliado ao ponto acima descrito, muitos observam a fala de um calvinista sobre qualquer assunto como algo perigoso, pois o emissor é reformado. O conteúdo é rejeitado a priori, não importando se é verdade ou não, pois vem de uma fonte rotulada como negativa.

A caricaturização do pensamento reformado é elemento comum. A criatividade humana ganha muito peso neste ponto. Calvino é retratado como um assassino malvado. Li apostilas que falam mal dos calvinistas por detestarem as “inocentes criancinhas” ensinando a sua depravação e maldade inerente.

O calvinismo é pintado como a figura de um Deus odioso e tirano forçando pessoas contra a sua vontade a entrarem no céu, enquanto outras que desejavam estar na presença do Pai são rejeitadas porque não foram escolhidas. Convenhamos, eles sabem usar cores fortes e dar uma impressão bem vívida nestas caricaturas. Os calvinistas parecem seres demoníacos e perversos diante de tais pessoas e de quem as ouve.

Nesta caricaturização há os que deliberadamente falsificam o conteúdo do calvinismo para se fazerem de bonzinhos. Estes não estão preocupados com a verdade, mas em ganharem o debate, por isto farão o que for necessário. Existem os que simplesmente desconhecem o assunto, e assim repetem o que ouviram de alguém, como papagaios treinados.

Item a ser acrescentado é a restrição do calvinismo à doutrina da predestinação. A predestinação faz parte do calvinismo, mas ela é um pequeno elemento do sistema maior, ou cosmovisão, como chamam alguns. Limitar o calvinismo à predestinação é colocar uma mordaça sobre ele, para que sua mensagem seja limitada ao lugar comum.

Ninguém precisa de estratégias malvadas para combater uma idéia (os comunistas e arminianos deviam se esforçar pra me ajudar neste ponto). Se se está defendendo a verdade, por que não apresentá-la com vigor, a fim de destruir a mentira? Se os calvinistas estão errados, por que não simplesmente conversar sobre o assunto apresentando a perspectiva oposta de maneira que destrua os seus argumentos?

Enquanto isso, os teólogos-currupiras, os unicórnios da fé permanecem por aí, nas florestas das igrejas, capturando as mentes das pessoas e lavando os seus cérebros.

Allen Porto é blogueiro do A Bíblia, o Jornal e a Caneta, e escreve no 5 calvinistas às quintas-feiras.

6 de janeiro de 2010

1 Timóteo 4:10 derruba a expiação limitada?

Amados,

Hoje o Pr. Ciro Sanches Zibordi publicou mais um post defendendo uma expiação universal e usando o texto de 1 Timóteo 4:10 em sua argumentação:
Ora, é para esse fim que labutamos e nos esforçamos sobremodo, porquanto temos posto a nossa esperança no Deus vivo, Salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis. (1 Timóteo 4:10)
De fato, é difícil rebater 1 Timóteo 4:10 e isso exige conhecimentos tanto do idioma grego como da cultura e do vocabulário teológicos neotestamentários. Por isso, posto aqui três links do Monergismo com comentários reformados que mostram como devemos interpretar o versículo. Você pode escolher entre William Hendriksen, John Gill e Gordon Haddon Clark.

Uma ótima leitura e louvo ao Senhor pela vida do Felipe Sabino e pelos comentários colocados no Monergismo.

Helder Nozima é pastor presbiteriano, blogueiro do Reforma e Carisma e escreve às quartas-feiras no  5 Calvinistas. 

Bíblia e Predestinação [7] - A missão de Jesus é a expiação limitada

Leia o post anterior da série clicando aqui.
Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos. (Marcos 10:45)
O versículo acima é considerado chave na interpretação do Evangelho de Marcos. Ali, Jesus define qual a Sua missão: dar a vida em resgate por muitas pessoas. Para os não-reformados, "todos" significa, tranqüilamente, muitas pessoas. Todavia, o bom intérprete da Bíblia precisa se perguntar por que Jesus disse "muitos" e não "todos". Para os reformados, portanto, é revelador o fato de que Jesus não diz "em resgate por todos", mas prefere um termo mais restrito.

Qual das duas interpretações devemos seguir? Uma olhada em outros textos pode ser esclarecedora.

A profecia de Isaías
Isaías é apontado por muitos como o profeta messiânico, aquele que mais falou a respeito de Jesus. Talvez a profecia mais clara sobre o ministério do Cristo esteja em Isaías 53, quando o profeta descreve o Messias como um Servo Sofredor, que entrega a Sua alma pelo pecado:
Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará nas suas mãos. Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si. Por isso, eu lhe darei muitos como a sua parte, e com os poderosos repartirá ele o despojo, porquanto derramou a sua alma na morte; foi contado com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu. (Isaías 53:10-12)
E aqui, mais uma vez o "muitos" aparece. Repare que parece haver uma insistência do profeta em mostrar que o trabalho do Servo Sofredor alcança a muitos, há uma relutância em dizer "todos". E, de fato, aqui os termos não podem ser apontados como sinônimos. Por quê?

1) Quando Jesus oferece a Sua alma, o que Ele enxerga é a Sua posteridade, ou seja, os Seus descendentes (Is 53:10). Aqui, fala-se, efetivamente, de pessoas salvas, os condenados não podem ser considerados como a posteridade de Cristo. Assim, o que Cristo tem em mente são apenas as pessoas que, realmente, são beneficiadas por Sua oferta;

2) A morte de Cristo é apontada como a prosperidade da vontade do SENHOR (Is 53:10). Em outras palavras, ela é o cumprimento perfeito do desejo de Deus, de outra forma, não faria sentido vê-la como prosperidade. Mais do que isso, o Servo Sofredor vê o fruto penoso de seu trabalho e fica satisfeito (Is 53:11);

3) Qual o trabalho do Servo que O satisfez e cumpre a vontade de Deus? Justificar a muitos. Veja bem, até os arminianos concordam que Cristo não justifica a todos, porque, se assim fosse, todos seriam salvos. Logo, fica claro que a vontade de Deus nunca foi a de que todos fossem salvos, mas sim muitos;

4) E como os "muitos" são justificados? A resposta do versículo 11 é "porque as iniqüidades deles levará sobre si". Segundo Isaías, o Messias leva as iniqüidades apenas dos muitos que são justificados.;

5) Os "muitos" são a parte que Deus dá ao Servo Sofredor (Is 53:12) e o Servo leva sobre Si o pecado de "muitos" (Is 53:12). É claríssimo no versículo 12 que, em toda a visão, que começa em Isaías 52:13 e termina em 53:12, o "muitos" não inclui toda a humanidade, e sim, apenas os que são justificados, tornados justos, salvos enfim.

Assim, uma leitura atenta da visão de Isaías mostra que todos os benefícios trazidos pelo sofrimento do Messias se aplicam apenas aos salvos, e não a todos os homens. Todas as vezes que Isaías diz "nós" ou "nossas", é a salvos que ele se refere, e não a todos. Desta maneira, podemos dizer que Jesus:

- Toma sobre si as enfermidades e dores dos salvos apenas (Is 53:4);
- É traspassado pelas transgressões e iniqüidades de salvos apenas (Is 53:5);
- Seu castigo traz paz apenas aos salvos, e não a todos (Is 53:5);
- Suas pisaduras saram os salvos somente (Is 53:5)
- Deus fez cair sobre Ele a iniqüidade dos salvos apenas (Is 53:6). O "todos" aí refere-se a "salvos", não a "todos os homens".
- Foi ferido por causa da transgressão do "meu povo" (Is 53:8), não de "todos os povos".

Talvez um não-calvinista se agarre ao "nós todos" de Isaías 53:6 para tentar provar que o texto se refere a todos os homens. Mas, não é possível. A profecia mostra que nós fomos sarados por suas pisaduras e que o castigo de Jesus nos dá a paz. Pergunto: para quem não crê em Cristo, as pisaduras de Jesus o salvam? O condenado ao inferno tem paz? Isaías seria confuso ou esquizofrênico se, no mesmo texto, uma hora ele falasse de salvos apenas e, em outra hora, de todos os homens, e depois voltasse a tratar exclusivamente de salvos.

Assim, quando olhamos para a profecia, fica claro que o "muitos" de Marcos 10:45 não pode, de modo algum, referir-se a "todos", senão Jesus estaria contradizendo o que o Espírito Santo disse por intermédio de Isaías.

A oração sacerdotal
Em Isaías 53:12, também é dito que Jesus intercedeu pelos transgressores. Inicialmente, pode-se até ter a ideia de que, ao menos orar, Jesus orou por todos os pecadores. Mas, quando se vê o cumprimento da profecia em João 17, vemos que nem intercessão Jesus faz pelos não-salvos:
É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus... (João 17:7)
Os não-reformados tentam provar que Jesus morreu por todos usando textos como João 3:16, onde se diz que "Deus amou o mundo". Mas aqui, lemos que Jesus não roga pelo "mundo", mas apenas "por aqueles que me deste". Fica claro, portanto, que não se pode ler a palavra "mundo" sempre da mesma maneira. Em João 3:16, podemos ler "mundo" como "criação" ou mesmo "humanidade", daí Jesus vem para salvar parte da humanidade. Porque Deus ama o mundo, não o destruirá por inteiro, parte dele será salvo. Mas, em João 17:9, "mundo" são todas aquelas pessoas que o Pai não deu a Jesus, ou seja, os não-salvos. Estes não recebem sequer a oração do Messias.

Isso fica claro ao lermos outros textos da oração sacerdotal:
Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu mos confiaste, e eles têm guardado a tua palavra. Agora, eles reconhecem que todas as coisas que me tens dado provêm de ti; porque eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste, e eles as receberam, e verdadeiramente conheceram que saí de ti, e creram que tu me enviaste. (João 17:6-8)

Pai santo, guarda-os em teu nome, que me deste, para que eles sejam um, assim como nós. Quando eu estava com eles, guardava-os no teu nome, que me deste, e protegi-os, e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura. (João 17:11-12)

E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade. Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra... (João 17:19-20)

Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim. (João 17:22-23)

Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo. (João 17:24)

Pai justo, o mundo não te conheceu; eu, porém, te conheci, e também estes compreenderam que tu me enviaste. Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles esteja. (João 17:25-26)
Pode parecer chocante para muitos, mas a oração é autoexplicativa. Jesus faz diferença entre o mundo e os que o Pai deu a Ele (salvos) em termos de oração, manifestação do nome de Cristo, transmissão da Palavra, guarda, proteção, santificação, companhia de Jesus e até mesmo amor.

Destaco ainda que, de modo explícito, Jesus diz no versículo 19 que se santifica a favor daqueles que recebeu do Pai. Jesus não se santifica pelo mundo.

Desta maneira, João 17 permanece como um baluarte suficiente e inquestionável da expiação limitada. O fato de ser uma oração de Jesus ao Pai e a abundância de distinções feitas por Ele na intercessão deveriam ser suficientes para que todo versículo que sugira uma expiação universal fosse reinterpretado para não conflitar com o próprio Cristo. Aliado a Isaías 53, tem-se duas amplas e significativas porções bíblicas (clássicas até) cujo ensino não pode ser reinterpretado em favor de 2 ou 3 versículos que, supostamente, ensinam que Jesus morreu por todos. O mais provável é que os não-reformados compreendam errado esses versículos do que os reformados errarem na interpretação de duas passagens tão claras, importantes e grandes (são textos, não versículos).

1 João 2:1-2
E isso é particularmente verdadeiro na interpretação de 1 João 2:1-2, um dos textos-prova mais fortes a favor de uma expiação universal:
Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; e ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro. (1 João 2:1-2)
Aparentemente, João ensina que o sacrifício de Jesus foi feito em favor de todos os homens. Não podemos, porém, esquecer aqui que estamos falando do mesmo apóstolo que escreveu a oração de Jesus em João 17. João contradiz a João?

É certo que não. A minha interpretação é a de que João aqui diz o seguinte: "Jesus é a propiciação pelo pecado de todos os que estão lendo essa carta, e não só dos nossos, mas o de todos os salvos espalhados pelo mundo inteiro".

É preciso considerar que a palavra "mundo" tem várias conotações nos escritos joaninos. Se em 1 João 2, se diz que Jesus é a propiciação pelos pecados do "mundo inteiro", no mesmo capítulo o apóstolo diz:
Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente. (1 João 2:15-17)
Popularmente, se entende que "mundo" aqui é apenas um sistema político-econômico-ideológico que se opõe a Deus. Mas, no versículo 17, João estabelece um contraste que só faz sentido se incluir também pessoas:
O mundo passa vs. aquele que faz a vontade de Deus permanece eternamente.
O mundo aqui inclui os não-salvos, no mesmo capítulo. Como é possível que Jesus seja a propiciação pelos pecados do mundo inteiro...e o mundo significar também uma humanidade condenada? A resposta é: o mundo em 1 Jo 2:1-2 é diferente do mundo de 1 Jo 2:15-17 e não inclui os condenados. Isso fica mais claro se você considerar que na perícope seguinte (1 Jo 2:18-26), o apóstolo trata dos anticristos.

Um outro contraste entre a igreja e o mundo quando fala de falsos profetas:
Filhinhos, vós sois de Deus e tendes vencido os falsos profetas, porque maior é o que está em vós do que aquele que está no mundo. Eles procedem do mundo; por esta razão, falam da parte do mundo, e o mundo os ouve. Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não nos ouve. Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro. (1 João 4:4-6)

João volta a estabelecer um contraste entre o mundo e os filhos de Deus no capítulo 5:
Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado; antes, Aquele que nasceu de Deus o guarda, e o Maligno não lhe toca. Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno. (1 João 5:18-19)
E aqui fica claro: há os que nasceram de Deus (salvos) e o mundo (condenados). Tanto aqui como no capítulo 4, o mundo é identificado com Satanás e os que pertencem a Deus estão se opondo ao mundo.

Temos, portanto, pelo menos quatro passagens em 1 João onde "mundo" refere-se a pessoas:

1 Jo 2:1-2 = contexto positivo, Jesus é a propiciação pelos pecados do mundo inteiro.
1 Jo 2:15-17 = contexto negativo, o mundo passa, os que fazem a vontade de Deus permanecem eternamente. Distinção e contraste entre igreja e mundo. Mundo é humanidade condenada.
1 Jo 4:4-6 = contexto negativo, o mundo ouve os falsos profetas e é influenciado pelo diabo, a igreja vence os falsos profetas e ouve os apóstolos. Distinção e contraste entre igreja e mundo. Mundo é humanidade condenada.
1 Jo 5:18-19 = contexto negativo, o mundo é do Maligno, os que são de Deus não são tocados pelo diabo. Distinção e contraste entre igreja e mundo. Mundo é humanidade condenada.

Considerando os contrastes repetidos que João faz entre os salvos e os condenados, é impossível que "mundo" em 1 João 2:1-2 se refira a todas as pessoas. Logo, a melhor saída é a minha interpretação, de que João se referia a salvos em todo o mundo (planeta Terra), por se harmonizar tanto com o restante da carta como com João 17 e Isaías 53.

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Helder Nozima é pastor presbiteriano, blogueiro do Reforma e Carisma e escreve às quartas-feiras no  5 Calvinistas.

5 de janeiro de 2010

"Lutas por fora, temores por dentro" - Uma relação de dor, cansaço e graça na vida do apóstolo Paulo

Mais uma postagem antiga, do Optica Reformata (clique aqui). Em breve, estarei de volta à ativa (se Deus quiser, o mais rápido possível!).


A imagem que muitas vezes nutrimos de um Paulo robusto, inabalável e totalmente destituído de conflitos emocionais cai por terra diante da sua Segunda Carta aos Coríntios. Em nenhuma das suas treze cartas as fraquezas do grande apóstolo são tão evidenciadas (e confessadas) quanto nessa. E ele sintetiza muito bem isso ao dizer que suas atribulações se traduziam em “lutas por fora” e “temores por dentro” (2Co 7.5).

No início da carta o apóstolo nos dá pistas de alguns dos graves perigos aos quais ele havia sido submetido – as “lutas por fora”. Somos informados que, na sua viagem de volta para a Ásia, Paulo e seus companheiros foram tomados por uma tribulação sobre-humana e desesperadora.
“Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a natureza da tribulação que nos sobreveio na Ásia, porquanto foi acima das nossas forças, a ponto de desesperarmos da própria vida” (2Co 1.8 – itálico meu).
A ideia no original grego para “acima das nossas forças” é a de alguém que está sendo pressionado acima da medida; além de sua capacidade. Comentando essa passagem, Calvino observa que “esta metáfora é tomada de uma pessoa que sucumbe sob a pressão de um fardo pesado ou de navios que afundam em razão de sua sobrecarga”[1] – uma metáfora bastante apropriada, diga-se de passagem, tendo em vista que Corinto era uma cidade portuária. Não sabemos ao certo a qual(is) evento(s) específico(s) Paulo está se referindo, mas é bastante provável que ele esteja aludindo à sua estadia em Éfeso, que foi bastante conturbada (At 19.23ss), apesar de Lucas não nos deixar essa impressão. No entanto, em passagens paralelas, Paulo nos informa, por exemplo, que lutou com “feras” em Éfeso[2] (1Co 15.32) e que “muitos adversários” se insurgiram para lhe fechar a “porta grande e oportuna” que Deus lhe havia aberto para a evangelização (1Co 16.9). Há fortes indícios de que esses “adversários” aos quais Paulo se refere tenham sido seus patrícios judeus. Relembrando aos presbíteros de Éfeso como havia sido a sua conduta e estadia naquela cidade, Paulo lhes lembra das provações que, “pelas ciladas dos judeus”, lhes sobrevieram (At 20.19). É provável que os judeus tenham sido os algozes de algumas das possíveis prisões que Paulo enfrentou durante seu trabalho em Éfeso, uma vez que ele inclui na sua lista de aflições as “muitas prisões” que havia enfrentado no seu ministério até àquele momento (2Co 11.23) [3]. Mas não foram somente essas as “lutas por fora” que o apóstolo aos gentios enfrentou. Respondendo àqueles que questionavam sua autoridade apostólica, Paulo apresenta-lhes suas credenciais, incluindo entre elas seus sofrimentos por amor ao evangelho:
“[...] em trabalhos muito mais; muito mais e prisões; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes. Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um; fui três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado; em naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do mar; em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigo entre falsos irmãos; em trabalhos e fadigas, em vigílias muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez” (2Co 11.23-27).
A tudo isso Paulo denomina de “coisas exteriores” (2Co 11.28). Paulo é tão enfático nessa questão que ele mesmo encarou todas aquelas tribulações como uma verdadeira “sentença de morte”, e brinda seu livramento delas como se fosse a sua própria ressurreição dentre os mortos, operada pelo Deus ressuscitador (2Co 1.9, 10). Calvino observa que, quando Paulo afirma que havia se desesperado da própria vida, ele “não está levando em conta o auxílio divino, e sim está nos dizendo que avaliava suas próprias condições, e não há dúvida de que toda força humana vacila ante o temor da morte”[4]. Paulo reconheceu a sua total incapacidade para superar toda aquela situação, e nada lhe restou senão a certeza de que iria sucumbir se Deus não lhe estendesse a mão. Ele chega à conclusão de que o propósito de tudo isso era para que ele não confiasse em si mesmo, e sim, em Deus (2Co 2.9), porque é na nossa fraqueza que o poder de Cristo é aperfeiçoado (cf. 2Co 12.9).

Essas “lutas por fora” eram acompanhadas de violentos “temores [phobias] por dentro”, que consumiam o sossego do apóstolo. Tudo indica que na sua viagem de volta para a província da Ásia, Paulo foi tomado de uma profunda depressão, e era exatamente a igreja corintiana que estava no cerne dela. A relação do apóstolo com essa igreja sempre foi muito difícil, porque ela era uma igreja muito problemática. Paulo havia enviado uma carta, “no meio de muitos sofrimentos e angústias de coração..., com muitas lágrimas” (2Co 2.4), por meio de Tito, seu colaborador. Essa carta está situada entre 1 e 2 Coríntios, e não foi preservada (não a temos). O objetivo de Paulo com essa carta “severa”, como muitos a chamam, era simplesmente para que os coríntios “conhecêsseis o amor que vos consagro em grande medida” (2 Co 2.4). Paulo esperava ansiosamente o relatório de Tito para saber que efeito a carta havia produzido sobre os coríntios, mas parece que Tito havia perdido o último barco rumo à Macedônia, sendo forçado a viajar por terra, desencontrando-se do apóstolo (cf. 2Co 2.12-13 e At 20.1-2). Isso serviu para aumentar ainda mais a apreensão de Paulo. “As coisas em Corinto iam tão mal, que Paulo estava ansioso com seus resultados, mais do que costumeiramente”[5]. O apóstolo mesmo nos diz que sua ansiedade era tanta que ele sequer conseguiu aproveitar a “porta” que o Senhor lhe tinha aberto para pregar o evangelho em Trôade (“não tive, contudo, tranqüilidade no meu espírito, porque não encontrei o meu irmão Tito”- 2Co 2.12, 13). Paulo nos fala que essa ansiedade foi causada pela sua extrema “preocupação com todas as igrejas”, que diariamente pesava sobre ele, “além das coisas exteriores” (2Co 11.28). Contudo, nada estava perdido. Da mesma forma como o “Deus que ressuscita os mortos” livrou o apóstolo das “sentenças de morte” (2Co 1.9 – as “lutas por fora”), esse mesmo Deus estava prestes a aliviar os “temores por dentro” do apóstolo que Ele mesmo comissionara, enviando-lhes Tito. A chegada de Tito foi tão confortadora para Paulo que ele chega a dizer que isso foi mais uma intervenção do “Deus que conforta os abatidos” (2Co 7.6). As notícias trazidas por Tito de Corinto reanimaram o apóstolo e fez com que ele recobrasse o seu ânimo ministerial. A mensagem contida na “carta severa” tinha surtido efeito na igreja corintiana. Paulo alegrou-se porque a carta havia entristecido os coríntios, mas não com uma “tristeza segundo o mundo”, que “produz morte”, e sim, com uma “tristeza segundo Deus”, que “produz arrependimento para a salvação” (2Co 7.10). A igreja de Corinto (ou pelo menos boa parte dela) havia, finalmente, aceitado a Paulo como um verdadeiro apóstolo de Cristo, ao contrário de muitos outros “falsos apóstolos” que se insurgiram contra ele e que estavam persuadindo a igreja corintiana a seguir suas práticas (2Co 11). Tito relatou a Paulo do “pranto”, da “saudade” e do “zelo” que os coríntios ainda nutriam por Paulo (2Co 7.7), e isso foi o suficiente para que grande parte dos “temores” do apóstolo se dissipasse.

O exemplo de Paulo é encorajador para o povo de Deus de todas as épocas. O mesmo Deus que assistiu o apóstolo nas suas fraquezas ainda é o mesmo, “ontem, hoje e eternamente” (cf. Hb 13.8). Infelizmente, às vezes encaramos os relatos bíblicos como abismos intransponíveis, com mais de dois mil anos de diâmetro, como se Deus não mais socorresse aqueles que Lhe pertencem. “Temores por fora e lutas por dentro” é a causa do desânimo de muitos pastores hoje em dia, desembocando por vezes até em desistência do ministério. Isso é agravado ainda mais quando os “oportunistas da fé”, muitos dos quais se autodenominam “apóstolos” e “profetas” hoje em dia, angariam sucesso, glória pessoal e prosperidade à custa de suas ovelhas, fazendo com que os números dos templos cheios (mesmo que para isso os bolsos das ovelhas se esvaziem) apontem o fracasso daqueles que teimam em permanecer fieis à Palavra e resistentes à sedução das estratégias de marketing como meio de alavancar seus ministérios. Para Paulo, tais pessoas não passam de “falsos apóstolos, obreiros fraudulentos”, que se transformam em ministros de Cristo, mas que não passam de verdadeiros emissários de Satanás (2Co 11.13-15). Urge que pastores íntegros e dedicados à Palavra levantem suas vozes do púlpito contra essas coisas, protegendo suas ovelhas dos lobos, ainda que para isso eles tenham que se utilizar de “palavras severas”. Certamente, isso trará consigo “lutas por fora e temores por dentro”. Entretanto, é preciso crer que a graça de Cristo triunfará sobre a dor que os “espinhos” da vida (e do ministério) causam aos servos bons e fieis (2Co 12.7-10).


Soli Deo Gloria!

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[1] Calvino, João. 2 Coríntios. Editora Fiel, 2008. Pág. 33.
[2] Não devemos entender “feras” no seu sentido literal, uma vez que a expressão que a antecede, “como homem”, significa “falar figuradamente”.
[3] Para mais detalhes, ver Bruce, F. F. Paulo, o apóstolo da graça – sua vida, cartas e teologia. Shedd Publicações, 2003. Pág. 289.
[4] Op. cit. Pág. 34.
[5] Calvino, João. Op. cit. Pág. 72.