17 de junho de 2010

Maniqueísmo arminiano


Um conhecido, recentemente afirmou ter mais dificuldade, de todos os pontos do calvinismo, com a "graça irresistível". Para ele, soava um tanto estranho que o homem não pudesse resistir à graça de Deus.

Eu o ouvi atentamente, e, alguns minutos depois perguntei:

- Quando a vontade de Deus se choca com a do homem, qual prevalece?

Pude ver no seu olhar a angústia em responder. Por um lado, ele não queria negar a onipotência e soberania de Deus. Por outro, ele não queria diminuir a liberdade humana.

Essa é a cruel tensão com a qual precisam lidar aqueles que não acreditam na graça irresistível. Enquanto a Escritura demonstra a soberania absoluta de Deus - ensinando, por exemplo, em Dn.4.35, que não há quem sequer possa deter a mão do Senhor e Lhe dizer: "que fazes?" - o desejo interno de preservar alguma liberdade, algum poder nas mãos do homem ainda seduz tais pessoas.

O grande problema é que afirmar a possibilidade de resistência por parte do homem, é pressupor - pelo menos no que diz respeito à salvação - a igualdade de poder entre Deus e o homem. Ou pior: se o homem pode "barrar" a vontade salvadora de Deus, no fim das contas ele possui maior poder que o Altíssimo.

Ninguém conscientemente afirma isso. Mas não acreditar que a ação salvadora de Deus é irresistível por parte do homem, é negar a divindade de Deus.

* * *

Allen Porto é blogueiro do BJC (clique aqui pra saber o que é isso), e escreve às quintas no 5C.

10 de junho de 2010

Salvos da idiotice

*escrevendo com dor de ouvido e cabeça, mas pressionado pela consciência de que o meu mês de folga já passou.

* * *

Tirando as brincadeirinhas sobre a “Graça irresistível” como uma linda mulher com este nome, a noção de que a iniciativa salvadora de Deus não pode encontrar resistência final do homem é coisa séria, tanto para calvinistas, quanto para arminianos, e ainda para os confusos.
Obviamente, se você é reformado, entenderá a graça irresistível como um desdobramento lógico natural do sistema calvinista de pensamento:

Se
1. o homem é depravado e incapaz de ir a Deus
e
2. Deus escolheu salvar indivíduos segundo a Sua graça,
3. enviando Jesus para morrer no lugar dos eleitos, recebendo sobre Si a culpa deles, e colocando sobre eles a Sua justiça,

Então
4. Deus cumprirá a Sua vontade salvadora, agindo de modo tal que o homem será salvo, sem ter a sua vontade violentada, mas conduzido pela graça Divina, receberá prontamente a salvação.

O termo “graça irresistível” pode causar alguma confusão aqui. Em um sentido, a graça sempre é resistida pelo pecador – é exatamente este o ponto da Depravação Total: o homem não quer as coisas de Deus. Paulo diz em Rm.3, citando o Sl.14, que não há quem queira, ou quem busque a Deus. Isso é um tipo de resistência à graça Divina.
Falar em uma graça irresistível, portanto, não é proclamar a inexistência da postura avessa do homem em relação ao Pai. Na verdade, é afirmar que finalmente a graça de Deus será triunfante - romperá a resistência humana e cumprirá o Seu propósito salvífico. Em outras palavras, a graça irresistível não pode ser absolutamente resistida, embora encontre relativa oposição.
Afirmei, acima, que a vontade do humana não é violentada por Deus, e agora escrevo que a graça de Deus rompe a resistência do homem. Existe aí alguma contradição?
Há uma diferença entre triunfar e violentar, que precisa ser esclarecida. Se afirmamos que Deus violenta vontade do pecador na salvação, estamos dizendo que o Pai salva o homem contra a vontade deste.
Na Escritura, porém, a ação de Deus é tal que sempre o pecador recebe arrependimento e fé, de modo que clama pela salvação. O triunfo da graça está no fato de que ela não combate a vontade humana, mas a transforma – o pecador amante do pecado passa a ser o regenerado em busca de Deus.
Isso fica claro em textos como Ez.36, que falam sobre a cardio-cirurgia operada por Deus: o coração de pedra vai pro lixo, enquanto o coração de carne passa a bater. Assim o homem passa a agir naturalmente como quem tem coração de carne, e não de pedra. Fp.2.13 também demonstra o ponto: é Deus quem opera em nós tanto o querer quanto o realizar – a nossa vontade está submetida à de Deus.
Pra não estender demais o assunto, que pode ser desenvolvido em posts subsequentes, fica a dica: a graça irresistível foi a ação de Deus, salvando-nos de nós mesmos e de nossa resistência idiota.

* * *

Allen Porto sumiu por mais de um mês e agora voltou a escrever. É blogueiro do A Bíblia, o Jornal e a Caneta, e escreve às quintas no 5C.

7 de junho de 2010

Guardados!

“Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste…”  Jo 17:11

A eterna segurança dos salvos é uma doutrina firmemente estabelecida na Bíblia, sendo a oração do Senhor mais um fundamento na qual está assentada. Considero, porém, este argumento o principal de todos, bastando para nos dar toda confiança necessária a uma vida de alegria e gratidão a Deus.

É reconhecido que Deus responde orações, apesar de que a revelação demonstre e nossa experiência ateste que nem sempre Deus nos atende. Isto porque não sabemos pedir como convém, porque pedirmos sem fé ou, ainda, porque pedimos para gastar em nossas próprias paixões. Mas nenhuma dessas situações se aplica a Jesus, que tendo comunhão íntima com o Pai, conhecia-lhe a vontade e sabia de Seu poder, além de nada desejar para proveito próprio. Por isso, podia dizer “eu bem sei que sempre me ouves, mas eu disse isto por causa da multidão que está em redor, para que creiam que tu me enviaste” (Jo 11:42).

Seria absurdo pensar que Deus não ouvisse nem respondesse uma oração feita por Seu Filho amado. Se Deus deixou de atender uma só oração de Jesus, que esperança teremos que Ele respondesse às nossas, eivadas que são de imperfeições? Mas não precisamos nos estender neste ponto, consideremos apenas mais o seguinte fato: Jesus introduz sua intercessão pelos crentes pedindo “glorifica a teu Filho” (Jo 17:1). Afirmando “eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer” (Jo 17:4) podia pedir, com certeza de ser atendido, “agora glorifica-me tu, ó Pai” (Jo 17:5). Assim como o Pai havia sido glorificado pelo que Jesus fez, o Filho seria glorificado pelo que o Pai faria, em resposta à Sua oração.

Por quem Jesus orou?

A cláusula que destacamos indica que os objetos da intercessão do Senhor são “aqueles que me deste”. Quem são estes? Não se trata de toda a humanidade, pois Jesus declarara anteriormente, na mesma oração, “não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste” (Jo 17:9). A referência é “aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mos deste” (Jo 17:9). Portanto, aqueles por quem Jesus pede “não são do mundo” (Jo 17:14, 16) e embora estejam nele.

Se não devemos ampliar os que o Pai deu a Cristo para abarcar toda a humanidade, tampouco devemos restringir a ponto de considerar somente os doze apóstolos. Ao dizer “estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse” (Jo 17:12), a referência é evidentemente aos primeiros discípulos. Porém, Jesus amplia os beneficiários de Sua oração ao orar “e não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim” (Jo 17:20). Isto certamente inclui todos aqueles que em qualquer tempo e em todo lugar crêem no Senhor Jesus Cristo. Se você crê nEle como eu creio, então ambos fomos contemplatados nessa oração.

O que ele pediu?

Seguros de que a oração do Senhor foi ouvida e está sendo atendida pelo Pai, e sabendo que foi feita em nosso favor, vale dizer, aos eleitos e chamados à fé, consideremos o conteúdo dessa oração, o que certamente aumentará nossa confiança e gratidão a Deus.

Já vimos que o núcleo da oração do Senhor por nós foi “Pai santo, guarda em teu nome”. O nome de alguém é mais do que apenas a forma de chamá-lo. Expressa a personalidade, a essência do seu ser. No caso de Deus, o Nome sintetiza a essência do Seu ser, todas as Suas perfeições e principalmente a Sua fidelidade. Com este pedido, Jesus estava empenhando todo o caráter de Deus no cuidado dos crentes. Deus não pode deixar de guardar um dos que pertencem a Jesus sem negar-se a Si mesmo.

Este ponto é ainda mais acentuado pela expressão “Pai santo” usada por Jesus. A santidade de Deus expressa sua singularidade e sua suprema separação de toda a Criação, no sentido de ninguém se iguala ou se compara a Ele. Portanto, mesmo que qualque outro ser do Universo viesse a se descuidar de algo sob sua proteção, isso jamais aconteceria com o Deus Inigualável. Portanto, se há alguém capaz de guardar a todos os que pertencem a Jesus, esse alguém é o Pai e uma vez que Ele jure por Seu nome, ninguém em todo o Universo o impedirá de fazer isso isso.

O que está incluído neste cuidado, descobrimos observando o que mais Jesus pede. Pede que enquanto os crentes estiverem neste mundo “que os livres do mal” (Jo 17:15). Mal, aqui, é melhor traduzido como Maligno, o Diabo. Isto significa que não importa o que Satanás venha engendrar ou tentar realizar contra os eleitos, “fiel é o Senhor, que vos… guardará do maligno” (2Ts 3:3) e portanto “o maligno não lhe toca” (1Jo 5:18).

O cuidado do Senhor não se restringe, porém, a este mundo, pois Jesus pede que os crentes sejam guardados “para que vejam a minha glória” (Jo 17:24), ou seja, até que sejam introduzidos na presença do Senhor, para que “onde eu estiver, também eles estejam comigo” (Jo 17:24). Este é o desejo de Jesus para cada um dos que o Pai lhe deu e os quais Ele adquiriu na cruz. Contudo, como disse um notável puritano, Deus não levará para o céu ninguém que não tenha santificado na terra. De fato, para que um crente alcance a glória, duas coisas são necessárias no mundo: “segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12:14).

Jesus não iria pedir ao Pai que ignorasse isso, então incluiu unidade e santidade em sua oração. Especificamente, ele roga “santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17:17). Tal santificação ocorre pela ação do Espírito Santo, ao aplicar a Palavra transformadora à vida de cada crente, em edificação mútua na igreja. E essa comunhão é objeto de petição específica de Jesus, “para que todos sejam um” (Jo 17:21) e “para que eles sejam perfeitos em unidade” (Jo 17:23). Assim, a oração de Jesus por nós é completa, tornando certa a nossa introdução na glória por assegurar tudo o que precisamos nesta vida para chegar até lá.

O que nos resta?

O oração do Senhor deve nos encher de alegria, mas de forma alguma serve para levar à inércia espiritual. Ser guardados do maligno não significa que não precisamos vigiar, pois o estar alerta é o meio que Deus usa para nos preservar em segurança. A unidade como promessa não exclui a unidade como dever, pela prática do perdão e mútua exortação. E a santificação é uma obra de cooperação entre o crente e o Espírito, ainda que imperfeita no que nos cabe é certa pela obra dAquele que é é fiel em nós.

Sendo assim, enquanto louvamos a Deus pela Sua infalível proteção, nos entreguemos, não apenas aos Seus cuidados, mas ao Seu serviço, andando nas boas obras que Ele preparou para que andássemos nelas, até que se cumpra o desejo do coração de Jesus.

Soli Deo Gloria

Clóvis Gonçalves é blogueiro do Cinco Solas e escreve no 5 Calvinistas às segundas-feiras.

1 de junho de 2010

Que é a salvação?

A palavra “salvação” pode assumir diversas conotações. No futebol, por exemplo, ela pode se referir àquele gol aos quarenta e nove do segundo tempo, que “salvou” o time da derrota, quando o técnico resolveu colocar o talismã do time, ou seja, o “salvador” (sabe aquele um que sempre entra pra resolver a parada?); também pode se referir à mão “salvadora” do goleiro que defendeu o pênalti, ou até mesmo à mão “salvadora” do Maradona contra a Inglaterra na Copa de 86. Mas não é somente ao futebol que ela se encaixa. Também pode se referir à moeda no bolso da camisa que “salvou” um indivíduo de morrer com um tiro no peito; ao kit de primeiros-socorros que “salvou” o acidentado de morrer de hemorragia; ao cinto-de-segurança que salvou o motorista e o carona de perderem a vida num acidente de trânsito; etc, etc, etc…

Mas quando o assunto é teologia, a palavra “salvação” assume um outro significado. Qual significado é esse? Bem, nesse mês de junho os 5 Calvinistas estarão tratando sobre esse tema. Acompanhe-nos para saber o que pensamos sobre o assunto.

Até lá!