Antes que alguém me tenha por louco, deixa eu explicar bem grosso modo o porquê do título deste post: minha avó está com câncer, mas ainda não sabe. O médico diagnosticou a temida doença quando ela (minha avó) começou a se queixar de fortes dores no estômago quando se alimentava, de tal modo que quase tudo o que ela comia dava refluxo. Sua cirurgia, então, foi marcada para o dia 24 de janeiro de 2011 (disso ela sabe, embora ainda pense que se trate de um mioma). Tudo isso significa que, dentre outras coisas, minha avó não pode pegar peso, certo? O problema é que a privada de sua casa havia quebrado, e ninguém conseguia dar jeito. Com vergonha de pedir ajuda à minha tia para que esta pusesse um balde d’água no vaso, ela mesma estava enchendo o balde e derramando na bacia. É claro que ela fazia isso escondida da minha tia, que lhe dava umas broncas quando a flagrava. “A médica disse que ela não podia mais sangrar de jeito nenhum, Bruno” – explicou.
Do câncer eu já sabia a algum tempo, mas do detalhe da privada quebrada, não. Fiquei sabendo ontem, quando fui visitar minha avó. Deu na cabeça de dar uma de encanador, e fui no armazém comprar a peça que, segundo meu julgamento (o julgamento de um cara que não entende nada de hidráulica… pode?!), era o problema. Seguindo orientações do vendedor, de qual peça provavelmente era o problema, comprei a borrachinha responsável pela vedação e passagem da água (uma espécie de tampão). Enquanto tentava resolver o problema, conversava com minha tia, que desabafava algumas coisas – desta vez, nada relativo ao problema da minha avó, mas da situação do seu casamento, que não é das melhores. “Não sinto mais vontade de viver. Se não fossem os meus filhos, e não sei o que seria da minha vida”, disse. Agora eram pelo menos três problemas embolados na minha mente naquele instante: o câncer da minha avó, o casamento da minha tia, e a “bendita” privada quebrada. Até que me dei conta de um problema muito mais sério do todos esses três juntos: o pecado. Comecei a evangelizar minha tia, e explicar a ela que não existe sentido para a vida humana fora do Evangelho da Cruz de Cristo. Falei um pouco sobre a ira de Deus, da qual Cristo veio nos libertar (cf. 1 Ts 1.10), e, por consequência, do inferno. “O inferno, tia, não foi, como muita gente pensa, apenas preparado para o diabo e seus anjos, mas para todos aqueles que se rebelam contra Deus”. Nesse instante lhe lembrei das vezes em que ela pregava o evangelho para mim e meus primos quando éramos crianças. Os textos que ela usava? O livro de Apocalipse, essencialmente. E ao som de uma música homônima de Roberto Carlos. “Mas não faça como eu. Pregue o amor, em vez da dor”, disse ela, ao que lhe respondi: “no pain, no gain” (sem dor, sem ganho). Minha tia é afastada da igreja. Minha avó só ouvia a conversa.
Voltei minhas atenções para a privada. Depois de muito fuçar, e fuçar, e fuçar, finalmente concluí o trabalho. E com êxito, graças a Deus! A caixa acoplada voltou a funcionar perfeitamente. Minha avó não precisará mais pegar peso escondida de minha tia, correndo o (grande) risco de sangrar e complicar tudo. Ela me agradeceu muito, e até soltou um “glória a Deus”. De fato, glórias sejam dadas a Ele! Era o mínimo que eu poderia fazer por ela naquele momento, já que não posso intervir na cura daquele câncer que está alojado em seu estômago. Só Deus sabe, mas pode ser que eu não veja mais a minha querida avó quando voltar novamente em Recife de férias no ano que vem. Lógico que eu não quero isso! Mas devo me preparar para o que Deus quiser.
Ela ouviu o evangelho que eu estava pregando para minha tia, e certamente ficou a refletir em suas implicações. Ainda pretendo evangelizá-la mais, pois, independente dos seus setenta e seis anos, ela é uma pecadora que ainda não conhece a Cristo. E minha sincera oração é para que, antes da cirurgia do dia 24 de janeiro, outra cirurgia seja efetuada. Agora falo daquela cirurgia pela qual passou todo aquele que foi regenerado pelo Espírito Santo. Desejo do fundo do meu coração que minha querida vovó chegue à mesma conclusão que Paulo, de que “o viver é Cristo, e o morrer é lucro”; e que “partir e estar com Cristo é incomparavelmente melhor” (Fp 1.21,23).
Orem por ela, irmãos. Seu nome é Isabel. A solução que encontrei para a privada, embora oportuna, é temporária e pouco (para não dizer nada) resolve. Mas a solução de Deus para o verdadeiro grande problema humano é perene.
Soli Deo Gloria!
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(*) Título inspirado num artigo de John Piper, “Não desperdice seu câncer”.