28 de abril de 2011

O pecado de William e Kate

Publicado originalmente no Reforma e Carisma.
Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne. (Gênesis 2:24)

Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros e adúlteros. (Hebreus 13:4)
Histórias de amor envolvendo príncipes e princesas nem precisam ser reais para atrair o sonho e a imaginação das pessoas. Os noivos podem até ser ogros, como em Shrek, e mesmo assim a história desperta o interesse de gerações. E quando o "conto de fadas" se torna real, aí sim você tem um verdadeiro frisson. Afinal, não é todo dia que a plebeia se casa com o príncipe...e ainda mais com um que tem tudo pra se tornar rei!

E é grande o otimismo com que tem sido noticiado o casamento do príncipe William com Kate Middleton. Há até quem levante razões para invejar Kate. O casal é apontado como um exemplo de discrição, correção e até de modéstia, já que o príncipe trabalha como militar, foi voluntário em serviços humanitários e mora em uma propriedade modesta para um nobre. Tudo perfeito. De fato, William e Kate despontam como uma história de amor exemplar para o início do século XXI.
O príncipe William e sua noiva, Kate Middleton.

Exemplar? Bom, até poderia ser, não fosse por um pequeno "detalhe":
Kate costuma passar longas temporadas na casa do príncipe, algo impensável há 30 anos. Quando os pais de William se uniram, em 1981, a virgindade de Lady Di era uma condição fundamental. Hoje, os súditos nem se importam com o fato de os noivos já viverem juntos antes do casamento. E, cada vez mais, querem ver os futuros vizinhos como rei e rainha. William é o segundo na linha de sucessão, logo depois do pai, o príncipe Charles. (Do G1, com informações do Fantástico)
William e Kate começaram a viver como marido e mulher antes de se casarem. Já não são mais virgens, praticamente "moram junto" há alguns anos e isso não está mais sendo discutido, nem mesmo pelos nobres bispos da Igreja da Inglaterra. Isso pode não ser um problema para a sociedade não-cristã, mas ainda é para aqueles que se importam com a Bíblia.

O que é um casamento?
Puxa, mas que caretice! Por que eu deveria me importar com a virgindade? Os tempos são outros, não é mesmo? E, além do mais, casamento é uma convenção que varia conforme o tempo e o lugar, certo? Não, errado.

Em primeiro lugar, a Bíblia é o livro de Deus escrito para todos os seres humanos, de todos os lugares e em todas as épocas. Ela deve sim ser interpretada levando em conta a cultura e a história do momento em que foi escrita, mas trata-se de um livro com verdades eternas. Mesmo naquilo que é "cultural", há princípios que devem ser percebidos e observados por todos, sem distinção.

O casamento, aliás, é um bom exemplo. Embora a forma como ele se realiza varie ao longo dos anos, o casamento foi instituído por Deus no momento da criação, antes que houvesse pecado. Trata-se, portanto, de uma convenção divina, que reúne quatro elementos segundo Gênesis 2:24:

- Independência (deixa o homem pai e mãe);
- Unidade (e se une);
- Monogamia (à sua mulher);
- Amor e sexualidade (tornando-se os dois uma só carne).

O versículo mostra uma gradação de intensidade. Os noivos adquirem independência, ou seja, as condições de se sustentarem sem a ajuda paterna. Havendo o desejo da união, eles se casam e dão todos os passos acima, um mais intenso do que o anterior, separando-se da família anterior e formando uma nova.

Claro, nada contra alguém morar sozinho e deixar os pais antes de se casar. Os celibatários, como Jesus, fazem isso e não pecam. Mas o unir-se a mulher (que também pode ser entendido como "morar junto" e suas implicações afetivas) e principalmente o "tornar-se uma só carne" (a relação sexual) são, claramente, partes de um casamento.

Logo, se William e Kate coabitam sexualmente antes de se casar, eles pecam. Quem quer ver uma análise bíblica mais profunda mostrando que o sexo antes do casamento é pecado, pode clicar aqui.

O leito sem mácula
O sexo pré-marital já não credencia William e Kate como exemplos. Eles podem ser príncipes, William pode até ser o futuro "cabeça da Igreja da Inglaterra", mas o que determina os nossos modelos é a Bíblia e não a posição social ou o título eclesiástico.

E o que a Bíblia diz que devemos valorizar é o "leito sem mácula", ou seja, o casamento puro. Os casais que devemos elogiar são aqueles que respeitam os vínculos do casamento e vivem em fidelidade e pureza. Os que são impuros e adúlteros não devem receber nossa admiração, mas sim o nosso alerta de que serão julgados por Deus.

Há uma ótima razão para ser assim. O casamento humano é um símbolo do casamento espiritual que vai acontecer entre Jesus e a Igreja, no último dia.
Eis por que deixará o homem a seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, e se tornarão os dois uma só carne. Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja. (Efésios 5:31-32)
E este casamento é entre dois entes puros. Sim, a Igreja é formada por pecadores de todos os tipos, inclusive de gente extremamente impura e adúltera. Mas ela é purificada por Jesus, que terá, no último dia, uma noiva santa, sem mácula e sem defeito.
Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito. (Efésios 5:25-27)
Por isso, quando os bispos anglicanos e até mesmo os pastores protestantes se calam sobre a coabitação dos príncipes, nós pecamos, porque não advertimos os fiéis sobre a ameaça do julgamento divino para quem macula (mancha) o seu leito. Erramos quando toleramos as impurezas sexuais em nossas igrejas. Erramos quando achamos normais os namorados que traem, as fornicações e outros tipos de impureza sexual. Erramos porque assim manchamos o simbolismo humano do casamento espiritual de Jesus.
Abadia de Westminster.
O casamento humano é  uma representação do casamento de Jesus com a Igreja.

Mas erra ainda mais quem acha um avanço o fato dos pecados sexuais não serem mais confrontados. Não há nada de exemplar nas fornicações reais, nisso eles não são o nosso exemplo! Quem deveríamos honrar e valorizar são os virgens, os que preservam um namoro santo, os que se recusam a trair, os que são imaculados! Mas estes, coitados, hoje em dia são alvo de gozações e piadas. Contudo, no final, os puros é que serão exaltados pelo Senhor.

E se o leito já foi maculado?
Mas agora que tudo aconteceu...o casamento de William e Kate é amaldiçoado? Deus jamais lhes será favorável? Bom, depende.

Assim como William e Kate, muitos cristãos também não conseguiram manter a sua pureza sexual e pecaram. Nem por isso eles estão condenados à infelicidade. Aliás, muitos deles tiveram (e têm) ótimos casamentos. Há graça e bênção para os que se arrependem do pecado e decidem recomeçar.

Arrepender-se é reconhecer o pecado e decidir mudar a direção. É optar por não repetir o mesmo erro, entregando-se a Deus. Em grego, é uma metanoia, ou seja, "mudar de mente". Havendo arrependimento, há purificação, inclusive para os príncipes.

Como lemos acima, Jesus se entrega pela Igreja para santificá-la e purificá-la, deixando-a sem mácula e defeito. E todos os que fazem parte da Igreja, todos, sem exceção, possuem manchas e defeitos. Só que a graça de Deus é maior do que os pecados cometidos, por isso, quando Jesus nos limpa, é como se nunca tivéssemos pecado.

Que o Senhor possa abençoar os príncipes com o genuíno arrependimento. E que Ele recompense os que optaram por seguir os padrões da Bíblia e rejeitaram os valores do mundo.

Graça e paz do Senhor,

Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro

26 de abril de 2011

Cosmovisão e santidade no Salmo 119.9

De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo a tua palavra.
De todos os cento e setenta e seis versículos do Salmo 119, o versículo supracitado talvez seja um dos que mais me tenha chamado a atenção durante minha curta trajetória cristã até aqui. Pureza no viver e apego às Escrituras são duas coisas que sempre extraí como grandes lições desse texto. Só que domingo passado algo diferente me saltou aos olhos. Diferente digo, novo. Bom, novo pelo menos para mim.

Confesso que eu nunca havia atentado detalhadamente para a resposta que o salmista dá para a pergunta que ele mesmo levanta.
"Observando-o segundo a tua palavra": a quem se refere o tal pronome oblíquo aqui? Ora, se não é ao "caminho"!

Isto posto, temos que o texto não fala apenas de pureza no viver e apego às Escrituras, como eu pensava, mas também à necessidade de se ter uma sólida cosmovisão cristã. Isso mesmo: devemos observar as coisas ao nosso redor sob o ótica de Cristo, uma vez que temos a Sua mente (cf. 1 Co 2.16). Não podemos guardar puro o nosso caminho fingindo que nada está acontecendo ao nosso redor. Aliás, o próprio Jesus não deseja que sejamos alienados do mundo para que nos encontremos santos, mas que sejamos guardados do mal pelo poder de Deus (Jo 17.15) - o que implica necessariamente em confronto com as outras visões de mundo que reclamam a Verdade para si.

É assim que o cristão - agora independente da idade - poderá se guardar das contaminações deste mundo mau (mesmo sem nunca ter ouvido falar nesse troço de "cosmovisão", muito menos que ele se encontra até em salmo da Bíblia!).

Soli Deo Gloria!



18 de abril de 2011

O discipulado cristão e a Missão Pressuposicionalista

Sem dúvida, foi lamentável o fato de que os nossos “pensadores” cristãos, antes que a mudança se instalasse [a mudança do paradigma lógico para o dialético] e que o despenhadeiro fosse estabelecido, não tenham ensinado e pregado com base em uma clara compreensão das pressuposições. Tivessem eles agido assim, não teriam sido tomados de surpresa e poderiam ter ajudado os jovens a enfrentar suas dificuldades. Mas a maior ironia de tudo isso é o fato de que, mesmo agora, anos depois de a mudança se completar, muitos cristãos ainda não sabem o que está acontecendo. E isso se deve ao simples fato de que continuam não sendo instruídos acerca da importância de pensar em termos de pressuposições, especialmente no que diz respeito à verdade.

O texto supracitado é de um dos grandes apologistas reformados que o século XX conheceu: Francis Schaeffer[1]. E o tomo emprestado aqui porque penso que ele resume e justifica muito bem a proposta implícita no título deste post. É simples, meus caros: Jesus nos chamou não apenas para sermos, mas também para fazermos discípulos. Como? Indo e pregando o evangelho (Mc 16.15; Mt 28.18-20). Foi este o meio ordinário, a “metodologia” que Deus escolheu para arrebanhar os seus eleitos. Do “ide” deduzimos que o cristão deve negar-se a si mesmo (sim, nossa natureza carnal e preguiçosa não quer ir nunca) e obedecer ao imperativo divino; do “pregai”, que ele deve, como arauto que é, anunciar somente aquilo que recebeu do seu Senhor (cf. 1 Co 11.23); e do “fazei” que, de certa forma, este mesmo arauto deve estabelecer de uma vez por todas, para quem o ouvir, as condições e implicações da mensagem que ele está anunciando. Isso fará com que as pessoas percebam que a mensagem que está sendo anunciada se alicerça não apenas na experiência de quem a vive, mas sobretudo na razão de ser da própria mensagem em si, que é lógica e verdadeira por si só – pois, como diria Calvino, “a verdade está livre de toda dúvida, visto que, sem nenhuma ajuda, ela é suficiente para manter-se”. Isso me leva a crer, portanto, que a única razão realmente válida para alguém se tornar cristão é que o Cristianismo é a Verdade; que está ancorado num alicerce racional, não apenas experimental; e que perto dele as outras “verdades” são reduzidas a nada.

Isto posto, entendo que não há como comunicar fiel e verdadeiramente o evangelho sem que haja confronto, visto que o arauto deve ser fiel tanto no sentido de pregar somente aquilo que recebeu quanto no sentido de anunciar “todo o desígnio de Deus” (At 20.27), sem se envergonhar disso (cf. Rm 1.16). Ou seja: nada ele adultera; nada ele omite. O arauto deve saber que o erro precisa ser demolido e esfarelado, não tolerado. Se é Deus mesmo quem diz que sua Palavra é o “martelo que esmiúça a penha” (Jr 23.29), seus servos não tem o direto de usá-la em uma guerra de travesseiros idiota contra os escarnecedores. Definitivamente, não há a mínima possibilidade de negociação entre a mente perfeita de um Deus santo e a mente decaída de um homem falido. Só uma das duas pode ser verdadeira, visto que mutuamente se excluem. Para o apóstolo Paulo, “seja Deus verdadeiro, e mentiroso todo homem” (Rm 3.4). A essa forma “beligerante” de apologética damos o nome de pressuposicionalismo. Partindo do pressuposto de que “a Escritura não pode falhar” (Jo 10.35), o cristão primeiramente ataca e destrói as falsas pressuposições que estruturam o pensamento dos incrédulos para depois lhes apresentar o Evangelho como a única “verdade verdadeira” – portanto, a única esperança –, como faziam os apóstolos (cf. At 17.16-34) e o próprio Jesus (Mt 21.23-27; Lc 10.25-37). Aliás, o próprio Deus age isso também, demolindo a estrutura de pensamento das criaturas finitas. Jó é quem nos garante: “Ele apanha os sábios na sua própria astúcia” (Jó 5.13).

Mas infelizmente, como Schaeffer já se antecipou em apontar, muitos crentes hoje já não sabem mais por onde começar; estão confusos, mesmo tendo provas suficientes de que o mundo em que vivemos está mergulhado num terrível caos de ordem intelectual, moral e espiritual. Isso deveria fazer com que eles se engajassem naquilo que eu chamaria de Missão Pressuposicionalista, mas não é isso o que acontece. Não me admira o fato de que muitos estejam comprometidos com a agenda do relativismo, do politicamente correto, da tolerância. Não me admira o fato de que eles queiram “paz”, e não guerra. Mas eles esquecem de que foram arregimentados para a guerra; a maior das guerras: a guerra pela Verdade. Mas o fato é que muitos ainda não se deram conta disso. Como bem disse o profeta Jeremias, eles “curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz” (Jr 6.14). É por essas e outras que eu não consigo aceitar que tantos que dizem amar a Verdade sejam tão apáticos e omissos em defendê-la. Se estão mesmo sentados aos pés de Cristo, deveriam ao menos perceber quando Lhe ferem o calcanhar! Mas nem isso fazem. Parecem mais os discípulos no Getsêmani: dorminhocos, fracos, de “olhos pesados”; incapazes de observar que “o traidor se aproxima” (Mt 26.36-46). Não deve ser essa a postura daqueles que são santificados pela Palavra da verdade (cf. Jo 17.17).

Como cristãos que amam a verdade acima de todas as coisas, devemos estar preparados não apenas para falar do amor de Deus, mas para explicar porque esse amor é verdadeiro. Quando alguém nos questiona o porquê da nossa fé e porque ele também deve crer em Cristo, devemos estar prontos não apenas para convocá-lo ao arrependimento, mas também para lhe mostrar de forma razoável a necessidade disso tudo. Até podemos nos despedir dos incrédulos deixando-lhes a impressão de que somos loucos, é verdade (uma vez que a pregação é mesmo loucura para os que se perdem), mas não podemos usar isso como uma desculpa para a nossa preguiça intelectual. Deus não nos chamou para sermos suicidas intelectuais – para “cortar o galho em que estamos sentados” –, mas para santificar a Cristo como Senhor em nosso coração, “estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1 Pe 3.15). Agindo dessa maneira, estaremos agradando Àquele que nos confiou a sublime missão de levar a Sua liberdade aos cativos.

“Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e vestindo-vos da couraça da justiça. Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz; embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus” (Ef 5.14-17).

A Armadura está aí. Cabe a cada um de nós, soldados-discípulos, vesti-la e nos engajarmos no combate. A “Missão Pressuposicionalista” nos espera. Avante, pois!

Soli Deo Gloria!

Leonardo Bruno Galdino.

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[1] SCHAEFFER, Francis. O Deus que intervém. Cultura Cristã, 2002. p. 24.

10 de abril de 2011

Uma família para os solitários

Deus faz que o solitário more em família; tira os cativos para a prosperidade; só os rebeldes habitam em terra estéril. (Salmo 68:6)
É incrível como o ser humano se deixa enganar pela aparência. Nós pensamos, por exemplo, que as pessoas mais perigosas são as explosivas. Temos medo daqueles homens grandões, que vivem ameaçando e procurando formas de exibir a sua "masculinidade", dos "pit boys", "skinheads" e outros tipos de valentão.

Já os quietos, os calmos, os pacatos, ah, esses são inofensivos. São pessoas que podemos desprezar, ignorar, bater e ofender sem nenhum constrangimento. Olha lá, o nerd magrelo, a "rolha-de-poço", o canhão de artilharia, a bichinha e o cabeludo esquisito. Esses são "bonzinhos", não são perigo algum, você pode dar uns sopapos neles se eles quiserem cantar de galo.

Só que a coisa não funciona bem assim. Eu mesmo era, aparentemente, inofensivo. Um japa gordo, de óculos, que mal abria a boca e sempre agia como um idiota quando falava com uma menina bonita. Um nerd que sempre tirava boas notas no Colégio Militar, mas que explodia de raiva dentro de casa. O último a ser escolhido, o cara sem amigos, que não confiava nos pais. Alguém que odiava a tudo: o meu reflexo no espelho, as meninas que não me davam bola e os meninos que ficavam com elas. Ah, se eu fosse grande, forte e soubesse lutar! Com certeza, iria fazer muitas pessoas pagarem.

Mas eu não tinha como destruir os outros. Pensei então em destruir a mim mesmo. E como não tinha coragem de usar drogas, o suicídio parecia algo bastante racional quando eu tinha 13 anos de idade.

Felizmente algo mudou e impediu que a minha história se tornasse algo trágico. Um evangélico resolveu ser meu amigo e falar comigo. Eu zombava do Deus dele, mas ele insistia em continuar falando. E, no momento em que eu decidi acabar com a minha vida, o Senhor fez com que ele ligasse pra mim e me convidasse a ir a uma Assembleia de Deus.

Por causa do amor que recebi de um único amigo...hoje eu estou vivo escrevendo este post.

Uma sorte que não alcançou Wellington Menezes de Oliveira, o assassino do Realengo, que no dia 7 de abril de 2011 assassinou 12 crianças em uma escola do Rio de Janeiro. Segundo a irmã e os seus antigos colegas de escola, ele era estranho, reservado e calado. E, aparentemente, ninguém se importou com isso.

Claro que a solidão não é desculpa para o que ele fez. Não tenho dúvidas de que Wellington está agora no inferno, sofrendo castigos horríveis pelo crime abominável que cometeu. Mas a história dele é um alerta às igrejas para não deixarem que outros solitários matem a outros...ou a si mesmos, como já pensei em fazer.

A solidão não é boa
Para que isso aconteça é preciso que os cristãos entendam de uma vez por todas que a solidão não é boa! Quando olhamos em nossas igrejas, escolas e ruas e achamos pessoas que vivem isoladas, precisamos fazer algo a respeito! Nem mesmo Adão no Paraíso, antes da Queda, deveria estar sozinho:
Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea.(Gênesis 2:18)
Eva não foi criada para servir ou dar prazer sexual a Adão. Ela foi criada para fazer companhia a Adão, e vice-versa. O Senhor não quer que os seres humanos vivam sozinhos.

Embora este texto seja usado para falar de casamento, ele também tem uma mensagem para os solteiros. Deus não gosta da solidão humana. Ele fez bilhões de seres humanos povoarem a Terra para que possamos viver juntos, adorando-O e servindo-O ao lado de outros homens e mulheres. O Senhor não ficou inerte vendo a solitude de Adão: Ele fez uma companheira! Deus faz algo para nos tirar da solidão.

Mas os cristãos se esquecem disso. Até hoje, mesmo sendo pastor, descubro que nas igrejas tenho o dom da invisibilidade. Se eu não procurar alguém, raramente sou procurado de volta. Sou capaz de assistir a cultos inteiros, tomar um cafezinho e descobrir que ninguém percebeu a minha presença. Quem me dera ter essa habilidade quando faço uma bobagem no trabalho!

Vou a acampamentos e sinto-me nas high school americanas. Os populares se reúnem e se divertem, riem até...e os adolescentes tímidos andam se esgueirando pelas paredes, perguntando quando aquele suplício vai terminar. É difícil enxergar a diferença entre os adolescentes cristãos e os que não são.

Até hoje as igrejas são ambientes que mais excluem do que incluem. Queixam-se de igrejas que pastores são tatuados ou que tocam músicas de rock ou rap. Mas esses puristas não pensam que é nas tribos urbanas que muitos (e não só adolescentes) encontram o amor e o afeto que deveriam receber em suas casas e na casa de Deus.

Mas o Senhor não é assim. Ele percebe a nossa solidão. E Ele nos ordena que façamos algo a respeito.

O solitário precisa se arrepender
Só que há também o outro lado da moeda. Poucos são os que atentam a este provérbio, mas ele ensina uma grande verdade: ser solitário é uma escolha e um pecado.
O solitário busca o seu próprio interesse e insurge-se contra a verdadeira sabedoria. (Provérbios 18:1)
Sim...é isso mesmo. Se você anda só, a culpa não é apenas dos outros: ela é sua também! E minha! Quando ando só, faço isso porque escolhi pecar.

O solitário é aquele que busca o seu próprio interesse. É alguém que têm dificuldades em se ajustar à comunidade, em viver com os outros. A comunhão pra ele não é um prazer, é um sofrimento. E, biblicamente, o egoísmo é a razão para esta dificuldade.

Antes que eu seja crucificado, sim...eu sei que muitas vezes o mundo é sim uma high school cruel e implacável. Mas há outros, tão estranhos como eu e você, que buscam se ajustar. Tentam servir ao próximo. Acham pessoas que não são esnobes e aproximam-se delas. Sabem perdoar os que são maus e, quando injustiçados, deixam o caso com Deus. O mundo as joga para fora, mas, em Cristo, elas teimam em construir pontes. E acabam vencendo o seu egoísmo. Encontram um lar. Vencem a solidão.

O problema é que os solitários acabam entregando os pontos. É mais fácil se isolar e deixar o ódio e a tristeza crescerem. É mais fácil se retrair do que confrontar e perdoar os inimigos. É mais fácil chorar em casa do que pedir a ajuda de alguém. É mais fácil reclamar dos outros do que fazer um auto-exame e tentar mudar. É mais fácil esperar que o mundo se adapte a nós do que procurar fazer concessões para vivermos com os outros.

E isso não é sábio! O Senhor nos criou para vivermos em comunidade. E há certas coisas que não podemos viver sozinhos. A melhor auto-estima do mundo não substitui o amor sincero de uma amizade! A alegria que não é compartilhada não é completa. Há situações em que precisamos do cuidado de outros. Por isso, mesmo os celibatários devem viver com outras pessoas, amando-as e sendo amadas de volta, porque o amor só é amor se houver pelo menos duas partes!
Certos prazeres a solidão jamais pode dar

E eu e você, solitário ou solitária, temos que aceitar esta exortação. O Senhor nos convida a lutarmos contra este pecado, mesmo que encontremos uns valentões desagradáveis no caminho. Vamos lutar?

Em Cristo, uma nova família
E tanto a Igreja como os solitários podem encontrar ânimo para esta luta. Sim, nós não temos como fazer "companheiras(os) idôneas(os)" para todos, nós é que seremos os companheiros, e isso é difícil. Sim, é difícil querer deixar a solidão quando somos xingados, desprezados e espancados. Mas Cristo nos ajudará.

Em seus dias aqui na Terra, Jesus fez companhia a pecadores. Tocou em leprosos, falou com mulheres de má-fama e até chamou um corrupto publicano, discriminado pelos judeus, um criminoso para Israel...chamou esse aí para ser um dos seus apóstolos. Mais do que isso, Jesus resolveu o nosso maior problema de solidão, ao oferecer o Seu corpo para que nós nos reconciliássemos com Deus.
Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; (Romanos 5:1)

Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. Dificilmente, alguém morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer. Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. (Romanos 5:6-8)
A nossa tendência humana sempre será na direção do mal. Ou seja, os solitários sempre se sentirão tentados ao isolamento. Os "populares" têm a tendência de se esquecer dos que não são "legais". E os puristas da Igreja vão querer torcer o nariz para aqueles tipos estranhos. Mas Jesus é aquele que veio destruir o pecado nas nossas vidas. N'Ele teremos o que precisamos para sermos diferentes.
Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos, sabedores de que, havendo Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte já não tem domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. (Romanos 6:8-11)
Que estas palavras nos ajudem:

- A oferecer Cristo, consolo e companhia aos que são atingidos pela violência, no Realengo e em nossa vizinhança. A violência, muitas vezes, é a mãe da solidão.
- A oferecer Cristo, consolo e companhia aos solitários dentro de nossas igrejas, escolas, famílias e ruas.
- A buscarmos, em Cristo, o consolo e a companhia e rejeitarmos a solidão.

Sejamos, pois, uma família para os solitários. Que assim seja, para a glória d'Ele. Amém.

Graça e paz do Senhor,

Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro

9 de abril de 2011

Quando Jesus ficou em silêncio

Herodes, vendo a Jesus, sobremaneira se alegrou, pois havia muito queria vê-lo, por ter ouvido falar a seu respeito; esperava também vê-lo fazer algum sinal. E de muitos modos o interrogava; Jesus, porém, nada lhe respondia. Os principais sacerdotes e os escribas ali presentes o acusavam com grande veemência. Mas Herodes, juntamente com os da sua guarda, tratou-o com desprezo, e, escarnecendo dele, fê-lo vestir-se de um manto aparatoso, e o devolveu a Pilatos. Naquele mesmo dia, Herodes e Pilatos se reconciliaram, pois, antes, viviam inimizados um com o outro. (Lucas 23:8-12)
Por que as pessoas procuram a Deus ou vão à igreja? Pelas razões mais variadas. Pode ser a gratidão por um favor alcançado ou a angústia para resolver uma situação difícil. Há quem busque mudar de vida e aqueles que querem apenas dar uma desculpa para as suas consciências e continuarem os mesmos. Há os que só querem algum favor (como uma namorada ou marido) e existe até quem quer apenas provar que Deus está errado e arma ciladas para desmascará-Lo.

Mas há uma motivação que é ainda mais espantosa. Alguns ouvem as histórias a respeito de Deus e, de fato, acreditam nelas. Ficam espantados com os relatos dos milagres e chegam a lamentar porque não estavam presentes. "Piedosos", têm uma grande relação de perguntas que gostariam de fazer. São curiosos, interessadíssimos em transformar o Deus Vivo em um bobo da corte.

Esse era o caso do imperador Herodes Antipas, um tipo interessante da Galiléia nos dias de Jesus. Herodes era capaz de mandar prender um profeta como João Batista porque este o criticara (Lucas 3:18-20). Mas, ao mesmo tempo, tinha medo de João, um santo para ele e chegava a ouvi-lo "de boa mente" (Marcos 6:20). Nada disso, é claro, o impediu de decapitar o profeta (Marcos 6:16).

Morto João, o novo interesse de Herodes passou a ser Jesus. Ele ouvia os relatos dos milagres sobre Jesus e ficava espantado. Afinal, quem era este novo profeta? Eis a pergunta que não saía da cabeça do imperador (Lucas 9:9).

Até que um dia, o seu desejo se realizara. Jesus fora preso e Pôncio Pilatos, o governador da Judeia, enviara o Messias para ser julgado por Herodes. A alegria era imensa...finalmente ele iria ver o grande Jesus! Contudo, o encontro foi decepcionante. Herodes perguntou, perguntou...de várias maneiras diferentes...e nada. A única coisa que o Cristo deu ao imperador foi o seu silêncio.
Jesus perante Herodes Antipas em um quadro de Albercht Dührer (1509)

Por que Jesus não falou com alguém que se interessava tanto por Ele? Creio que a Bíblia nos dá algumas pistas.

Jesus não é mágico
Em primeiro lugar, Jesus não se revela a quem pensa que Ele é uma espécie de mágico ou artista. Deus não veio ao mundo satisfazer a curiosidade humana. O Cristo se fez carne para nos reconciliar com o Pai e não para divertir imperadores.

Herodes achava que Jerusalém era Las Vegas e que Jesus era um David Cooperfield. Ele não queria ouvir sobre o Pai, o imperador desejava ver Jesus realizando algum sinal...talvez a transformação água em vinho ou alguma cura, até tirar um coelho da cartola servia.

Hoje muitos buscam as igrejas com este mesmo espírito. Elas não querem ouvir as duras advertências do Evangelho, não querem reconhecer a Jesus como Rei, tudo o que elas querem é...entretenimento! Esquecidas de que o culto é prestado pela igreja a Deus, pensam que os cultos são espetáculos dedicados a entreter os "fiéis". Já não tratam mais a Deus como tal...e pensam que ele é gênio da lâmpada ou um ilusionista.

Esse tipo de pensamento, por si só, é demoníaco e repulsivo. Mas o pior é que há pastores dispostos a fazerem as vezes de mestre de cerimônias. Criam um culto-show onde Deus deixa de ser o Rei honrado e torna-se o bobo da corte.

Jesus não é o réu, nós é que somos
Porém este não é o único erro de Herodes. O imperador erra ainda mais quando ele se acha na posição de juiz de Deus. Ao contrário do que imaginamos, Jesus nunca está debaixo de nosso juízo ou exame. Nós, sim, é que somos julgados e examinados pelo Senhor.

É verdade que Herodes não chegou a emitir um veredicto sobre a acusação feita contra Jesus. Todavia, ele não se furtou a fazer um julgamento diferente sobre o Messias. O imperador queria saber se o Cristo era realmente alguém interessante e digno da atenção dele. Fez uma série de perguntas, como quem busca investigar ou testar uma pessoa. Mas, em momento algum, pensou na ideia de que era Jesus quem deveria fazer as perguntas.

E aí fica fácil entender o silêncio de Jesus. Ele não tem que prestar contas a nós, mas somente ao Pai. O Filho de Deus tinha que ser humilhado, mas não a ponto de ter que prestar contas e entreter um homem ímpio e metido como Herodes Antipas.

A questão é que Herodes ainda é um exemplo para muitos. As pessoas não pensam que são elas é que precisam ser aceitas por Deus e ainda têm a ilusão de que são elas quem aprovam ao Senhor. E por isso não falta quem se disponha a questionar a Jesus: se Ele é justo, se Ele é bom, se Ele vai me fazer feliz ou não...

Infelizmente muitos pastores também caem nessa ilusão e repetem esse mesmo discurso. Tentam convencer seus ouvintes de que Jesus é uma pessoa legal a quem você devia dar uma chance. Embora tenham o dever de questionar a vida das pessoas à luz da Bíblia, a Palavra de Deus, preferem buscar respostas agradáveis aos interrogatórios que elas fazem com o Senhor.

O desprezo da plateia
Contudo, sabemos que o silêncio sempre comunica algum recado. Fosse Herodes um homem mais atento, talvez se indagasse sobre o porquê do silêncio de Jesus. Será que havia algum problema com ele, Herodes? Estou fazendo algo errado? O quê?

Sabemos que o imperador não quis fazer este auto-exame, preferindo examinar ao Senhor. E, deparando-se com o silêncio, Herodes reagiu como muitos hoje reagem diante de Cristo: com desprezo e zombaria. Ao invés de honrar a Jesus como verdadeiro Rei, um manto extravagante seria a única homenagem que seria feita a um "rei de mentirinha".

De fato, para muitos, Deus continua em silêncio. Este é o argumento usado por muitos ateus e agnósticos para não O adorarem. Investigam-no, examinam-no e nada encontram, por esta razão, zombam d'Ele.

Outros cristãos tratam o Senhor como um palhaço, não encontram o que procuram e ofendem ao Senhor oferecendo-lhe falsas homenagens. No lugar da adoração "em Espírito e em verdade", pensam que o espetáculo é uma oferta melhor. Pastores/animadores de auditório, lutas nos cultos, ambiente de boate...pensam que assim Deus os ouvirá. Na verdade, quando agem assim, pastores e fiéis estão apenas cultuando a si mesmos. E têm o atrevimento de chamarem isso de oferta a Deus.

É preciso que hoje, o quanto antes, o Brasil deixe de seguir o exemplo de Herodes. O Senhor não existe para nos entreter, nós é que existimos para adorá-Lo. Ele não é o réu que deve ser inquirido, nós sim. E Ele não merece de nós o desprezo e mantos extravagantes...Ele merece sim o nosso mais profundo amor e respeito.

Se entendermos isso, o Senhor nos ouvirá e falará conosco. Essa é a minha fé.

Graça e paz do Senhor,

Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro

1 de abril de 2011

Uma teologia "infeliciana"

Para quem gosta de polêmicas, essa semana foi "ótima". Começou na segunda-feira, quando o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) disse no programa "CQC" que namorar com mulheres negras seria uma "promiscuidade". Piorou quando ele, ao se desculpar, afirmou ter entendido errado a pergunta feita por Preta Gil, achando, na verdade, que era sobre namorar gays.

As declarações já seriam um farto material para alimentar polêmicas a semana toda. Mas tem gente que não aguenta ver o circo pegar fogo e não participar. Parece que não suporta ver todos os holofotes iluminando uma idiotice e quer provar que a sua estultícia e ignorância são ainda maiores. E, mesmo admitindo não saber o que o outro disse...outro deputado resolveu abrir a boca e falar bobagens.

E, então, o pastor Marco Feliciano (PSC-SP) resolve dizer que os africanos são acompanhados por uma maldição desde os tempos de Noé e que "A podridão dos sentimentos dos homoafetivos levam (sic) ao ódio, ao crime, à rejeição". Não contente, ele ainda se diz feliz porque a polêmica o tornou mais conhecido, entre outras barbaridades.

Um desavisado pode pensar que é assim que pensam os cristãos no Brasil. Mas isso não é verdade. Os verdadeiros protestantes pensam conforme a Bíblia ensina. E as Escrituras contrariam os ensinos "infelicianos" do pastor Marco.

A maldição de Canaã
Comecemos com a declaração de que os negros africanos (ele não inclui os brancos) e seus descendentes são herdeiros das maldições lançadas em cima de Canaã, filho de Cam, filho de Noé. A primeira coisa que devemos nos lembrar é que Cam não foi amaldiçoado, mas somente o seu filho Canaã:
Despertando Noé do seu vinho, soube o que lhe fizera o filho mais moço e disse: Maldito seja Canaã; seja servo dos servos a seus irmãos. E ajuntou: Bendito seja o SENHOR, Deus de Sem; e Canaã lhe seja servo. Engrandeça Deus a Jafé, e habite ele nas tendas de Sem; e Canaã lhe seja servo. (Gênesis 9:24-27)
A primeira coisa que deve ser notada é que os egípcios e etíopes são descendentes de Cam e não de Canaã. Feliciano afirma que Canaã representa todos os descendentes de Cam, o que não é verdade. Os camitas geraram nações poderosas, como o Egito, o que torna absurdo concordar com Feliciano quando ele tuita:
A maldição q Noe lança sobre seu neto, canaã, respinga sobre continente africano, dai a fome, pestes, doenças, guerras étnicas!
Nos dias bíblicos, tanto o Egito como a Etiópia foram nações poderosas. E qualquer leitor do Antigo Testamento sabe que o povo de Israel, o povo escolhido por Deus, também foi alvo de guerras, pestes, doenças...e que os israelitas foram escravos no Egito!

Os descendentes de Canaã foram os povos que habitaram a Palestina até os dias de Moisés e Josué, quando os israelitas começaram a conquistar Canaã. Quem conhece um mínimo de geografia bíblica vai perceber que os cananeus eram asiáticos e não africanos!
Canaã gerou a Sidom, seu primogênito, e a Hete, e aos jebuseus, aos amorreus, aos girgaseus, aos heveus, aos arqueus, aos sineus, aos arvadeus, aos zemareus e aos hamateus; e depois se espalharam as famílias dos cananeus. E o limite dos cananeus foi desde Sidom, indo para Gerar, até Gaza, indo para Sodoma, Gomorra, Admá e Zeboim, até Lasa. (Gênesis 10:16-19)
Sidom fica no atual Líbano e é associada aos fenícios. Gaza é a nossa Faixa de Gaza, lá no sul da Palestina. Os heteus habitaram o Oriente Médio. Logo, os amaldiçoados não moravam na África!
Os cananeus moravam na Palestina, e não na África!

Todos estes povos ou foram destruídos na campanha israelita de conquista da terra de Canaã. Os que sobreviveram acabaram se casando com os israelitas e seus descendentes podem ser achados no meio dos semitas de hoje (como os judeus). Aliás, Jesus Cristo era descendente da cananéia Raabe (Mateus 1:5)!

Seria Jesus Cristo um maldito para Marco Feliciano?

Todos os povos são malditos
Contudo, biblicamente falando, ser amaldiçoado não é um "privilégio" exclusivo dos cananeus. Brasileiros, japoneses, judeus, alemães, russos, árabes, índios, chineses...todos compartilham da mesma situação. Afinal de contas a Bíblia amaldiçoa todos os que pecam:
Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está escrito: maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las (Gálatas 3:10)
Quando pecamos, por ação ou omissão, é porque não permanecemos dentro do ensino bíblico. E todos os seres humanos, exceto o próprio Jesus, pecam.
pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, (Romanos 3:23)

Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. (Romanos 3:9-12)
Um africano não é mais pecador aos olhos de Deus do que um brasileiro ou um norueguês. Aos olhos d'Ele, todos nós somos malditos que precisam fazer as pazes com Deus, se arrepender e serem salvos por Jesus Cristo. O pensamento de Feliciano fere não apenas a simples leitura de Gênesis: também nega o fundamento da doutrina da salvação. Não se trata apenas de um simples erro, é uma heresia.

Homossexualismo: raiz de todos os males?
Mas este não é o único erro de Feliciano. Eu sou cristão e reitero que o homossexualismo é sim um pecado contra o qual devemos pregar. Jamais direi que a conduta ou o desejo homossexual não são pecaminosos. Todavia, a mentira, o adultério, a pornografia, o racismo e o ódio aos homossexuais também são pecados que devem ser combatidos. E, diga-se de passagem, embora o diabo seja o pai da mentira (João 8:44), ninguém diz que a mentira é a mãe do ódio, do crime e da rejeição, como Feliciano fez com os homossexuais. (Embora, na verdade, a mentira seja sim a mãe de todos os pecados, já que o diabo mentiu para levar Adão e Eva a caírem!).

Se a fala de Feliciano fosse verdadeira, então não haveria ódios, crimes e rejeição em meios heterossexuais. Mas é só olharmos para o Irã, um país que, segundo seu presidente, não existe homossexualismo...para vermos que lá também acontecem pecados e crimes que escandalizam o mundo todo. Basta visitarmos um presídio e vermos quantos criminosos são heterossexuais. Ou então nos sentarmos com nossos amigos e amigas e vermos o ódio brotando de corações heterossexuais por causa de problemas heteroafetivos.

E aqui cabe o mesmo raciocínio usado com os africanos: homossexuais e heterossexuais precisam igualmente da graça de Deus e de salvação. Eu posso não ter nenhum desejo homossexual, mas sou pecador e maldito todas as vezes que penso na mulher alheia ou rio de uma piada que denigre uma mulher. Um heterossexual que fornica antes do casamento e vê pornografia precisa desesperadamente de perdão e salvação em sua sexualidade, assim como um homossexual ou um marido que sente o desejo de trair a sua esposa.

Assim como um grupo étnico não é superior ou inferior a outro, atrevo-me a dizer que nenhum ser humano pode se considerar santo, por si mesmo, em sua sexualidade. Todos nós, sem exceção, somos falhos aos olhos de Deus e precisamos de Jesus Cristo para nos salvar de nossos pecados sexuais. Há sim diferentes graus de pecado sexual, mas todos eles nos levam ao inferno e destroem a nossa vida! Logo, todos carecemos desesperadamente de Jesus.

Feliciano é sim homofóbico em sua declaração. E se esquece de que o verdadeiro problema é que o pecado mora em todos nós, independente de gênero, preferência sexual, etnia, religião dos pais ou qualquer outra variável.

Jesus: a solução para todos
Só há um antídoto para tal teologia "infeliciana": Cristo Jesus. Ele veio trazer salvação a todos: brancos, negros, amarelos, azuis com bolinhas verdes, homossexuais, heterossexuais, bissexuais, homofóbicos, heterofóbicos...e até homens como Marco Feliciano também podem ser salvos e transformados por Jesus.
Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação. Porquanto a Escritura diz: Todo aquele que nele crê não será confundido. Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. (Romanos 10:9-13)
Todos os que buscarem a Jesus, pedindo salvação de seus pecados, serão aceitos. Não importa se o pecador é um homossexual ou um homofóbico, Cristo pode salvar os dois.

Pode ser que nesta vida não consigamos viver uma vida perfeita, sem lutas contra o pecado. Assim como eu luto contra vários pecados, inclusive sexuais, há sim cristãos, salvos em Cristo Jesus, que lutarão eternamente contra o homossexualismo e a homofobia. Da mesma forma, assim como venci vários pecados ao longo de minha vida, haverá sim cristãos completamente libertos tanto do homossexualismo como da homofobia. Cristo é poderoso para vencer qualquer pecado.

E este é o meu conselho para Bolsonaro, para Feliciano, para mim mesmo e para qualquer ser humano: volte-se para Jesus! Reconheça o seu pecado, confesse suas iniqüidades, arrependa-se, creia em Jesus, receba-O como seu Senhor e viva uma nova vida, para glorificá-Lo acima de tudo! Este é o único Caminho que pode salvar a todos nós.

Graça e paz do Senhor,

Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro