11 de fevereiro de 2010

Proposicional


Participei, certa vez, de um debate sobre o cristianismo e a cultura. Na verdade era uma mesa, mas acabou se tornando, sutilmente, em um debate.

Eu era o reformado da mesa, acompanhado de uma antropóloga difícil de ser rotulada - sei que era feminista, e em alguma medida, relativista, e de um pastor influenciado pela teologia existencialista - com claros traços neo-ortodoxos.

A certa altura do bate-papo, o pastor afirmou, sem meias palavras, que Jesus é a Palavra de Deus, e que esta Palavra não pode ser restrita a um livro ou um código. Em outras palavras, ele criticava abertamente a noção de que a Bíblia é a Palavra de Deus, e contrariava a idéia de uma revelação proposicional.

Para os teólogos existencialistas (neo-ortodoxos) a coisa funciona assim: Deus se revela apenas em um encontro pessoal com o indivíduo, por meio de Jesus. Ocorre um abalo existencial, por meio do qual este sujeito tem a vida transformada. A Escritura pode funcionar para promover tal encontro, mas Ela, em si, não é a revelação de Deus - apenas Jesus é.

É possíve perceber um detalhe interessante desta perspectiva: a revelação não possui conteúdo, trata-se exclusivamente de um momento existencial, subjetivo e incompreensível. Isto explica porque tal pensamento faz tanto sucesso entre os que rejeitam o pensamento ocidental, em sua organização lógica.

Ao excluir o conteúdo da revelação divina, estes pensadores abriram espaço para que qualquer evento se torne "revelacional" - ponto ao qual chegou Paul Tillich, com a sua teologia da cultura, afirmando que qualquer abalo existencial poderia ser um momento de revelação de Deus.

Foi Francis Schaeffer, nA morte da razão, quem demonstrou como caímos em um irracionalismo pernicioso. Em O Deus que Se revela, o mesmo autor demonstra como Deus escolheu palavras para Se revelar. Logo no Éden, Deus falava com Adão. Mesmo antes da Queda, o meio de revelação utilizado pelo Altíssimo era proposicional. O mesmo caminho foi utilizado por toda a Bíblia - com profetas, apóstolos, sem deixar de mencionar os sermões de Jesus.

No fim do debate, o pastor decidiu fazer rápida exegese de um texto. Selecionou um dos textos que afirmam a divindade de Jesus, e Sua singularidade. Queria provar, com isto, que Jesus reivindicava exclusividade na revelação - sem a Escritura.

O grande problema é que ele estava usando a Bíblia como autoridade, para dizer que a Bíblia não possuía autoridade de Revelação. Talvez por isso rejeitasse a lógica coerente: ele não era muito forte nesse ponto.

Eu decidi responder no mesmo sentido: abri a Bíblia - com muito mais confiança do que ele, pois creio ser a Revelação proposicional de Deus - e li o texto de Romanos 10, que ensina ser essencial a pregação, a utilização de palavras, para alguém ter fé, o famoso encontro com Jesus.

Nosso encontro com Deus se realiza na Escritura, o meio escolhido por Deus para Se revelar a nós. Ele não despreza a nossa mente, utiliza proposições para demonstrar Seus atributos e Suas ações, tornando-se conhecido por nós. Esse abalo existencial é mediado pelo texto sagrado. É por aí que o Espírito Santo fala.

Um comentário:

  1. Oi Allen, excelente post!

    Aproveitando a oportunidade, gostaria de divulgar a publicação do 1º livro do filósofo calvinista Gordon Clark em português: "Em Defesa da Teologia", http://www.editoramonergismo.com.br/index.php?page=shop.product_details&category_id=15&flypage=flypage.tpl&product_id=187&option=com_virtuemart&Itemid=71 . O livro do Clark corrobora e muito a mensagem do seu post. Um abraço!

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