14 de dezembro de 2010

O uso legítimo da Lei

Quando eu estava de viagem, rumo da Macedônia, te roguei permanecesses ainda em Éfeso para admoestares a certas pessoas, a fim de que não ensinem outra doutrina, nem se ocupem com fábulas e genealogias sem fim, que, antes, promovem discussões do que o serviço de Deus, na fé.

Ora, o intuito da presente admoestação visa ao amor que procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia. Desviando-se algumas pessoas destas coisas, perderam-se em loquacidade frívola, pretendendo passar por mestres da lei, não compreendendo, todavia, nem o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações.

Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela se utiliza de modo legítimo, tendo em vista que não se promulga lei para quem é justo, mas para transgressores e rebeldes, irreverentes e pecadores, ímpios e profanos, parricidas e matricidas, homicidas, impuros, sodomitas, raptores de homens, mentirosos, perjuros e para tudo quanto se opõe à sã doutrina, segundo o evangelho da glória do Deus bendito, do qual fui encarregado.

Sou grato para com aquele que me fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério, a mim, que, noutro tempo, era blasfemo, e perseguidor, e insolente. Mas obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade.

Transbordou, porém, a graça de nosso Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus. Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. Mas, por esta mesma razão, me foi concedida misericórdia, para que, em mim, o principal, evidenciasse Jesus Cristo a sua completa longanimidade, e servisse eu de modelo a quantos hão de crer nele para a vida eterna.

Assim, ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém! (1 Timóteo 1:3-17)
A água é uma bênção ou uma maldição? Ora, a resposta parece óbvia. A água é essencial ao funcionamento do organismo, para a produção de alimentos e até nos refresca em um dia de calor. Contudo, quando é feito um mau uso da água, ela pode provocar mortes e destruição. Um rio mal canalizado ou um copo d'água fria em óleo quente (não faça isso em casa!) são boas ilustrações de como uma coisa boa, quando mal usada, pode causar grandes estragos.

O mesmo pode ser dito da Bíblia. Quando bem usada, a Palavra é uma bênção e um meio de salvação. Mal usada, as Escrituras se tornam perigosas e podem conduzir os homens à perdição.
Bem usada, a eletricidade é boa. Mal usada...

E era essa a preocupação que o apóstolo Paulo. No século I, vários grupos queriam que a Lei fosse guardada ou observada pelos não-judeus dentro das igrejas cristãs. Paulo combateu essa ideia em várias cartas, e é este o assunto que abre a primeira carta do apóstolo a Timóteo.

Outra doutrina
Paulo começa dizendo que Timóteo deveria exortar pessoas que seguem uma "outra doutrina". Os seguidores deste novo ensino queriam passar a impressão de mestres da Lei e discutiam sobre genealogias e fábulas. Deixaram de se preocupar com o amor que procede de um coração puro e de uma boa consciência e uma fé sem hipocrisia. O resultado é que se perderam em discursos vãos (loquacidade frívola).

Claro que o problema não era esse. Ao quererem trazer a Lei para a igreja, na prática, eles queriam promulgá-la para os justos. Exigir que os cristãos observem todos os preceitos do Antigo Testamento é um erro. Trata-se de um uso não legítimo da Lei.

Isso acontece não apenas quando há preocupação com fábulas e genealogias. Em outras cartas, Paulo dá mais exemplos:
Outrora, porém, não conhecendo a Deus, servíeis a deuses que, por natureza, não o são; mas agora que conheceis a Deus ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como estais voltando, outra vez, aos rudimentos fracos e pobres, aos quais, de novo, quereis ainda escravizar-vos? Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Receio de vós tenha eu trabalhado em vão para convosco. (Gálatas 4:8-11)

Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade. (Colossenses 2:20-23)

Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão. Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. De novo, testifico a todo homem que se deixa circuncidar que está obrigado a guardar toda a lei. De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes. (Gálatas 5:1-4)
Insistir em um tipo de justificação pela Lei, cobrar a observância de dias e regras, buscar um caminho de santificação que lembra um livro de regras...tudo isso é seguir uma outra doutrina. É voltar para a escravidão. É decair da graça.

A Lei é para os pecadores, e não para os justos
Contudo, a Lei não é inútil. Ela foi promulgada para os pecadores, é o código legal que será usado pelo Senhor no Dia do Juízo. Afinal, Jesus Cristo não revogou o Antigo Testamento.
Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. (Mateus 5:17)
Por causa disso, a Lei de Deus (que não se restringe a Lei e os Profetas, mas também as ordens divinas no Novo Testamento) deve ser pregada. Os pecadores, de todos os tipos, devem reconhecer que estão condenados e buscarem a salvação. A proclamação da Lei é o meio usado pelo Senhor para convencer os seres humanos de seus pecados.

No entanto, há quem enxergue em 1 Timóteo 1:8-11 uma base bíblica para a aplicação da Lei de Moisés nos dias de hoje. É o caso do Ministério Cristão Apologético. Contudo, há uma coisa que precisa ser reparada.

Implicitamente, o apóstolo Paulo ensina que a Lei não é promulgada para os justos, ou seja, os que foram justificados por Jesus Cristo. Estes, diz ele em Romanos, já não estão mais debaixo da Lei.
Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça. (Romanos 6:14)
A Lei não tem mais domínio sobre os salvos. Não estamos mais debaixo de Sua autoridade ou poder. E isso cria um problema que desmonta a tese de levar a Lei para a esfera civil: os governos seculares reúnem salvos e não-salvos. Afinal, se a Lei é promulgada para pecadores...como aplicá-la a justos?

É claro que, pra Paulo, o uso legítimo da Lei é a pregação da Palavra, é o confronto dos pecadores com as exigências do Deus vivo, como ensina o Catecismo Maior de Westminster:
96. De que utilidade especial é a lei moral, aos homens não regenerados?

A lei moral é de utilidade aos homens não regenerados para despertar as suas consciências a fim de fugirem da ira vindoura e forçá-los a recorrer a Cristo; ou para deixá-los inescusáveis e sob a maldição do pecado, se continuarem nesse estado e caminho.

I Tim. 1:9-10; Gal. 3:10, 24; 1:20,
O amor: a essência da Lei
Mas a Lei não serve só para confrontar pecados. O seu uso legítimo só é possível quando ela é interpretada segundo o Evangelho. E o que se deve buscar nessa interpretação é o que Paulo buscava em sua exortação a Timóteo: o amor que procede de um coração puro e de uma boa consciência e uma fé sem hipocrisia. E esses objetivos só podem ser alcançados na graça, e não na Lei.

E Paulo usa a sua vida para ilustrar isso. Logo após criticar os que ensinam outra doutrina e falar sobre uma forma apropriada de utilizar a Lei, Paulo fala sobre a sua experiência pessoal. A Lei apenas o condenou e fez dele o maior dos pecadores. Mas Jesus o amou e teve misericórdia dele, removendo a culpa dos pecados do apóstolo. A graça e o amor de Deus são tão poderosos que transformaram o maior dos pecadores em modelo para todos os que creem. O Evangelho purificou o coração e a consciência de Paulo. O Deus vivo lhe deu uma fé que não é hipócrita, porque repousa na graça de Deus, e não na obediência à Lei.

O salvo não está mais preso a uma lista de regras de sim e não. A Lei que ele deve cumprir é o amor:
O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor. (Romanos 13:10)
Quem ama a Deus de todo o coração, alma, força e entendimento e ama ao próximo, esse cumpre a Lei e vive de acordo com a exortação que Paulo fez em 1 Timóteo. Ou, como diz Agostinho:
Ama e faze o que quiseres.
Graça e paz do Senhor,

Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro

10 comentários:

  1. Gostaria apenas de comentar o uso de Gálatas 4.8-11. Primeiro detalhe: No versículo 8 diz: "...outrora servíeis a deuses...". Sabemos que desde o retorno dos judeus da Babilônia, Israel estava completamente curado da idolatria, o pavor dos judeus em relação a este pecado é tão intenso até em nossos dias, que muitos deles não recebem Yeshua simplesmente com medo de caírem em idolatria. Sem dúvida, o texto se refere a gentios (não-judeus) de Galácia (a quem é endereçada a epístola), que haviam se convertido ao D'us de Israel e a seu Messias (Yeshua - Jesus) e que agora estariam voltando ao culto pagão Druida de origem celta em memória dessas falsas divindades.

    Paulo é ainda categórico ao afirmar: “... estais voltando outra vez aos RUDIMENTOS..." (ARA). Mais uma vez precisa-se da ajuda dos originais, assim compreenderemos a expressão "rudimentos" com maior precisão. O que significa esta expressão? A palavra grega usada é o substantivo pluralizado "stoikeion" [stoiceion] que segundo o Dicionário do Novo Testamento Grego do professor W.C. Taylor é: "as causas materiais do universo pyr (fogo), ydôr (água), aêr (ar) e gê (terra)... os corpos celestes, sinais do zodíaco, etc, rudimento, princípio elementar, ou astro ou talvez (?) espírito, demônio". Na verdade estes princípios de elementos da natureza, signos, elementares, espíritos cósmicos, sempre foram princípios da antiga mitologia greco-latina e babilônica. Sem dúvida estes crentes estavam sendo escravizados por estes elementos, por isto Paulo encerra dizendo: "Guardais dias, e meses, e tempos, e anos" (v. 11). Na verdade estes dias que estavam sendo guardados pelos Gálatas não tinham nada haver com as Festas da Torá. Eram festas pagãs em honra aos "stoikeion". Seria como se uma pessoa advinda na bruxaria, da umbanda, ou de uma religião esotérica, depois de convertida ao Senhor Yeshua (Jesus), ainda fosse atraída para as festividades pagãs outrora celebradas em honra às respectivas divindades. Sem dúvida, isto seria um 'trabalho vão' conforme as palavras do apóstolo do Messias.

    Concluímos com isto, que em nenhum momento Paulo neste texto está fazendo referência a afirmativa de que "Os Ritos Judaicos são Transitórios" conforme a "ARA" (Almeida Revista e Atualizada). Mas, sim exortando os crentes recém convertidos do paganismo “galaciano”, para que não voltem às suas festividades demoníacas e cheias de misticismo pagão.

    Espero ter contribuido um pouco para um real entendimento do contexto da passagem, Tal explicação tem origem de membros
    da AMES.

    Fiquem na Shalom dada por Yeshua.

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  2. Gostaria mais uma vez de contribuir para um entendimento correto de certas expressões de Paulo.

    Paulo constantemente faz uso das expressões "obras da lei" e "sob a lei". O intérprete deve tomar cuidado com estas expressões. De forma alguma Paulo pode está dizendo que a prática de Torá (lei) traz maldição e tão pouco que a Torá é maldita, obviamente. Pois, o mesmo Paulo diz que a Torá é santa, justa e boa (Rm 7.12). Na verdade, este texto é uma exortação direta de Paulo ao legalismo.

    Mas, o que é "legalismo"? Legalismo é a prática da Torá com fins de justificação (salvação), sem fazer uso da fé no Messias e em sua obra no madeiro, o que é um erro. A Torá nunca foi dada para salvar o pecador ela tem a função de preservar o salvo no Messias. Como não existia a expressão "legalismo" em grego, Paulo usa a expressão "sob a lei" e "obras da lei" como sinônimos da prática legal a fim de se alcançar salvação. Citarei um famoso hermeneuta cristão: "Os argumentos de Paulo em Gálatas não eram contra a lei, mas contra o legalismo - essa perversão que diz que a salvação pode ser obtida mediante a observância da lei...O legalismo nada mais era do que a tentativa de ganhar a salvação mediante a guarda da lei" (Virkler, Henry A. - Hermenêutica Avançada - Editora Vida - Pg. 109 - 1998 - 5º Impressão).

    Uma pessoa que tenta se justificar unicamente pela prática da Torá estará sob maldição. Por quê? Ao tentar se justificar pelas obras do Torá esta pessoa: Primeiro: Nega a obra do Messias, pois ao confiar em si mesma para justificação, nega-se a obra do madeiro. Segundo: Teria que praticar toda a lei de forma correta, pois automaticamente ao quebrar um mandamento, estaria sendo passível ao recebimento das maldições descritas na Torá aos que não cumprem seus mandamentos. A não prática da Torá induz à maldição. Por isso Paulo continua: "... é evidente que, pela Torá, ninguém é justificado diante de D'us, porque o justo viverá pela fé [fidelidade]" (v.11).

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  3. Metushelach,

    Discordo de você sobre a definição de rudimentos. O problema que Paulo enfrentava em Gálatas era a insistência dos judaizantes em condicionar a salvação à prática da Lei.

    Graça e paz do Senhor,

    Helder Nozima
    Barro nas mãos do Oleiro

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  4. Helder,

    Eu me utilizei da explicação dada ao termo “rudimentos” pelo professor W.C. Taylor em seu Dicionário do Novo Testamento Grego, por ser ele um renomado e conhecido Estudioso no meio protestante e por sua obra ser aceita bem neste meio, mas eu poderia citar vários outros estudiosos como Siegfried Schulz, Maurice Goguel, Joseph Henry Thayer entre outros que partilham do mesmo ponto de vista que o termo "stoikeion" tem alguns dos seguintes significados : Os quatro elementos primordiais do universo pyr (fogo), ydôr (água), aêr (ar) e gê (terra) ou sinais do zodíaco, aparições entre outros elementos muito corriqueiros dos mitos Celtas.
    E o que se enquadra nesta passagem especifica é que Paulo está falando não para Judeus mas sim para Gentios que chegaram à Fé no Mashiach, provenientes da Galácia, um povoado de origem Celta, (como todas províncias com o nome começado por “Gal”, como por exemplo Gália na França, Galícia na Espanha entre outras menos importantes todos de origem Celta).
    E se estudarmos ao tipo de filosofia - religião dos povos Celtas, entenderemos bem com o que Paulo estava preocupado, e por isso o termo "stoikeion", rudimentos se aplica perfeitamente ao culto celta de prognosticação através dos “Elementares”, alem do culto à natureza dos Druidas e Wicas, bem como a determinação de dias, meses e anos para suas celebrações.
    Portanto na passagem de Gálatas 4:8-11, não se configura o embate de Paulo com os judaizantes, mas em Gálatas 5:1-4 este cenário se confirma sim.

    Fiquem na Shalom do Mashiach Yeshua.

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  5. Metushelach,

    Neste texto, rudimentos não tem esse significado. A Galácia, por exemplo, fica bem longe da Galícia e da Gália, tinham vários estrangeiros ali, os problemas religiosos que Paulo enfrentava na região eram mais ligados ao culto grego (como uma rápida olhada em Atos demonstraria).

    Eu não sei você é judeu messiânico, mas, sinceramente, é teimosia sua de insistir em um significado que salvaguarde a obediência à Lei. Pegue um comentário bom de Gálatas e você verá a associação entre rudimentos com as práticas judaizantes. Os dias, meses e anos que os gálatas estavam guardando (e sendo censurados por Paulo) eram os da Lei.

    Já publiquei em meu blog pessoal um post que mostra que não há mais essas distinções entre judeus e gentios. Com o perdão da sinceridade, mas judeus e gentios, os dois grupos, nenhum de nós precisa guardar mais nada da Lei que não seja amar a Deus e ao próximo. Se você quer algo a mais, são os Dez Mandamentos, a lei moral. E guardar a Lei não nos faz salvos...porque tanto judeus como gentios são salvos unicamente pela fé em Jesus.

    Se você insistir que, como judeu, você deve guardar a Lei para ser justificado, tropeçou na pedra de tropeço: "Que diremos, pois? Que os gentios, que não buscavam a justificação, vieram a alcançá-la, todavia, a que decorre da fé;
    e Israel, que buscava a lei de justiça, não chegou a atingir essa lei. Por quê? Porque não decorreu da fé, e sim como que das obras. Tropeçaram na pedra de tropeço, como está escrito: Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, e aquele que nela crê não será confundido." (Romanos 9:30-33)

    Pare de forçar a interpretação, ignorando o contexto e escolhendo o significado das palavras que se encaixa melhor em sua visão teológica.

    Receio que você esteja agindo como vários judeus hoje em dia, que dizem acreditar em Jesus, mas não O reverenciam como Deus (apenas como Messias) e que agem como os judaizantes da época de Paulo, insistindo que a guarda da Lei é obrigatória, quando ela é, no máximo, opcional.

    Graça e paz do Senhor,

    Helder Nozima
    Barro nas mãos do Oleiro

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  6. Helder,


    Me desculpe se me fiz parecer um judaizante, mas não o sou, em nenhum momento afirmei a obrigatoriedade da Lei para gentios, e nem a justificação por meio de obras, pois a Lei nem pra mim nem pra ninguém poderia servir de justificação, mesmo no Sinai a Lei não justificação mas mostrava que apenas o sangue expiava pecados.

    Eu diferente dos judaizantes dos tempos apostólicos sei e apregôo que se não fosse o sangue do Messias Yeshua vertido no madeiro não seriamos de maneira alguma justificados diante de D-us, mas esta justificação nos torna livres da escravidão do pecado, se não somos mais escravos então temos a liberdade de não mais pecarmos e sim fazer a vontade de D-us, é a vontade de D-us é descrita nas Escrituras, e se as Escrituras me fornece um manual de como eu devo viver, viverei por ela, não para a salvação mas simplesmente pela vida.

    Quando você disse a seguinte frase: - “Pare de forçar a interpretação, ignorando o contexto e escolhendo o significado das palavras que se encaixa melhor em sua visão teológica.”, você me teve por alguém que se deixa levar por “achismos”, no entanto eu me baseei na visão de diversos Estudiosos Renomados do grego Bíblico, sobre o significado de uma expressão especifica, sendo assim não escolhi aleatoriamente um significado que melhor me aprouve, segundo eu não ignorei o contexto, apenas usei o contexto mais apropriado e não o que a cristandade já cristalizou como certo, pois eu me referi ao contexto do capitulo 4 de Gálatas no verso 8 que relata “Outrora, porém, não conhecendo a D-us, servíeis a deuses que, por natureza, não o são; mas agora que conheceis a D-us”, que a um olhar menos preconceituoso e antinômico, veria que o texto não pode estar falando de Judeus, primeiro por ser os Judeus conhecedores de quem é D-us; segundo desde a volta do exílio os Judeus não mais caíram no erro da idolatria.

    Outro ponto é que você diz que eu insisto na obrigatoriedade da guarda da Lei para a justificação, e eu nunca escrevi nada com este teor.

    Eu desde já me desculpo por compartilhar o ponto de vista Judaico dos que são alcançados com a Fé no Mashiach Yeshua como Senhor e Salvador, pois ao compartilharmos aquilo que faz com que para nós o “Novo Testamento” não seja um emaranhado de contradições, somos taxados de judaizantes e apregoadores da justificação pelas obras, apenas lamento.
    Sinceramente eu peço desculpas por ter achado que aqui era um lugar onde eu poderia dialogar e expor aquilo que temos recebido do Senhor, mas se isso causa transtornos e constrangimentos, eu apenas me aterei a ler os artigos.

    Agradeço por sempre terem ao menos comentado sobre as minhas tentativas de contribuições.

    Fiquem na Shalom do Mashiach Yeshua.

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  7. Metushelach,

    Acho algumas expressões reveladoras. Diz você: "em nenhum momento afirmei a obrigatoriedade da Lei para gentios". Ora, meu caro, ela não é obrigatória para os judeus. Você acredita que Deus desobrigou os gentios da Lei mas mantém essa obrigação para os judeus? Se você pensa assim, repito, tropeçou na pedra de tropeço. A única coisa da Lei a que judeus e gentios estão obrigados são os dois grandes mandamentos, como ensinam Jesus e Paulo. Fora isso, guardar ou não o resto da Lei não é necessário pra nada: nem mesmo pra sua santificação. Ama a Deus e ao próximo e terás feito a sua parte. Insistir em algo mais, seja a que pretexto for, é ser judaizante e é sim construir em cima do erro.

    Gálatas 4 segue no outro comentário.

    Graça e paz do Senhor,

    Helder Nozima
    Barro nas mãos do Oleiro

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  8. Metushelach,

    Considere que as igrejas da Galácia reuniam tanto judeus como gentios...e que a carta aos Gálatas é dirigida aos dois grupos. Querer dizer que é só para os gentios é ignorar a História. Em Atos 16, Paulo toma o filho de judia Timóteo como seguidor, enquanto percorria a região frígio-gálata (Icônio, Listra e Derbe).

    Em Gálatas 1:6-8, Paulo reclama que os gálatas estavam crendo em outro evangelho e que eram malditos os que anunciavam esse outro evangelho. Curiosamente, a seguir, ele discorre sobre como ele era um judeu zeloso, se converteu e como se relacionou com os Doze.

    Em Gálatas 2:1-5, veja só, Paulo fala de CIRCUNCISÃO, um sinal de que o problema com os gálatas era a GUARDA DA LEI. Veja o que ele diz:

    "Contudo, nem mesmo Tito, que estava comigo, sendo grego, foi constrangido a circuncidar-se. E isto por causa dos falsos irmãos que se entremeteram com o fim de espreitar a nossa liberdade que temos em Cristo Jesus e reduzir -nos à escravidão; aos quais nem ainda por uma hora nos submetemos, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós." (Gálatas 2:3-5)

    Continuando, Paulo discorre uma cena em que repreende a Pedro por dissimular com judeus que queriam que os gentios se circuncidassem para serem salvos. Mais um problema...COM A LEI! Sinal que o problema na Galácia não era paganismo, mas sim a insistência dos judeus em forçar os gentios a guardarem a Lei:

    "Quando, porém, vi que não procediam corretamente segundo a verdade do evangelho, disse a Cefas, na presença de todos: se, sendo tu judeu, vives como gentio e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus? Nós, judeus por natureza e não pecadores dentre os gentios, sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado." (Gálatas 2:14-16)

    E aí Paulo começa, veja só, a falar de justificação pela fé, em oposição às obras da Lei. Sinal que o outro evangelho dos gálatas, que são malditos os que o pregavam, era o de que era necessária a guarda da Lei.

    Continuo no próximo comentário...

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  9. Metushelach,

    Veja que até agora o contexto diz apenas que Paulo escreveu a carta aos gálatas para refutar os judaizantes. Essa foi a razão da epístola.

    No capítulo 3, Paulo faz a famosa alegoria de Sara e Hagar, mas ele começa identificando a fé com o Espírito e a Lei com a carne:

    "Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne? Terá sido em vão que tantas coisas sofrestes? Se, na verdade, foram em vão. Aquele, pois, que vos concede o Espírito e que opera milagres entre vós, porventura, o faz pelas obras da lei ou pela pregação da fé?"(Gálatas 3:2-5)

    Lembro que estas palavras, ao contrário do que você parece pensar, não são só para gentios, meu caro! São para todos os membros das igrejas, inclusive os judeus. Relembro-o que em Icônio e Antioquia da Pisídia, havia sinagogas. Aliás, lembro-o mais, quem perseguiu ao judeu Paulo nas regiões da Galácia foram os judeus, e não os pagãos:

    "Em Icônio, Paulo e Barnabé entraram juntos na sinagoga judaica e falaram de tal modo, que veio a crer grande multidão, tanto de judeus como de gregos. Mas os judeus incrédulos incitaram e irritaram os ânimos dos gentios contra os irmãos." (Atos 14:1-2)

    "Sobrevieram, porém, judeus de Antioquia e Icônio e, instigando as multidões e apedrejando a Paulo, arrastaram-no para fora da cidade, dando-o por morto." (Atos 14:19)

    Ou seja, havia judeus nas igrejas. Quando Paulo censura os gálatas por irem após obras da Lei, os judeus eram alvos da repreensão!

    Mas o mais importante para entender o significado de "rudimentos" em Gálatas 4 está no final do capítulo 3. Sigo no próximo comentário.

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  10. Metushelach,

    Considere que até agora Paulo está batendo é na guarda da Lei e não no paganismo. No final de Gálatas 3, ele associa a Lei como se fosse "tutores" de Deus para levar o Seu povo (judeus e gentios salvos são O povo de Deus, não há dois povos) a Cristo:

    "Mas, antes que viesse a fé, estávamos sob a tutela da lei e nela encerrados, para essa fé que, de futuro, haveria de revelar-se. De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé. Mas, tendo vindo a fé, já não permanecemos subordinados ao aio. Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes. (Gálatas 3:23-27)

    Agora, repare como começa Gálatas 4, o trecho onde fala de rudimentos:

    "Digo, pois, que, durante o tempo em que o herdeiro é menor, em nada difere de escravo, posto que é ele senhor de tudo. Mas está sob tutores e curadores até ao tempo predeterminado pelo pai. Assim, também nós, quando éramos menores, estávamos servilmente sujeitos aos rudimentos do mundo; vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos." (Gálatas 4:1-5)

    Obviamente, quando Paulo fala de herdeiros menores, debaixo de tutores e curadores...a Lei é o tutor e curador. Aí ele diz que NÓS (veja bem, PAULO ERA JUDEU E SE INCLUIU, NÓS) estávamos sujeitos aos rudimentos do mundo! Ora, meu caro, de duas uma:

    - Ou o sujeito da frase são judeus e gentios;
    - Ou o sujeito da frase são apenas os judeus, visto que Paulo era judeu.

    Logo, o "rudimentos" fatalmente, por uma questão básica de sintaxe e contexto, refere-se a judeus também! Portanto, na melhor das hipóteses pra vocë, rudimentos inclui a observäncia da Lei.

    Na verdade, os versículos posteriores confirmam que deve ser adotado um significado de "rudimentos" que inclua a Lei. Na mesma frase que Paulo fala de rudimentos do mundo, ele continua dizendo que Jesus veio resgatar os que estavam sob a Lei, para receberem a adoção de filhos. Paulo não fala resgatar os que estavam no paganismo, mas sim os que estavam sob a Lei. De onde se segue que os judeus, embora sob a Lei, não são filhos de Deus, a não ser que resgatados por Cristo.

    Assim como em português, no grego uma palavra têm vários significados. Cabe ao bom intérprete escolher o significado mais adequado.

    Você escolhe o seu para manter a ideia de que não há nada de mau ou ruim em se guardar os dias, meses e anos da Lei mosaica. Eu mostro que o contexto e a simples sintaxe da frase (Paulo é sujeito e ele era judeu) derrubam a sua ideia de associar "rudimentos" ao paganismo.

    É fora de dúvida para qualquer pessoa que discuta o assunto desapaixonadamente que "rudimentos" ali refere-se à guarda da Lei de Moisés. Pode ter outros significados? Pode. Mas o principal é esse, e não o culto celta. Até porque, em Atos, quando Paulo prega na Galácia, os pagãos que aparecem adoram deuses greco-romanos (Júpiter e Mercúrio, por exemplo).

    Graça e paz do Senhor,

    Helder Nozima
    Barro nas mãos do Oleiro

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