21 de dezembro de 2009

Falta um Sola no arminianismo

Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Ef 2:8

Sei que os arminianos não fazem questão de serem chamados de reformados, aliás costumam identificar assim os calvinistas, que por sua vez esforçam-se para fazer jus ao epíteto. A bem da verdade, ser reformado vai bem além de subscrever alguma Confissão de Fé, defender o acróstico TULIP ou reunir-se numa igreja dita confessional. Mas para os fins deste artigo, chamarei de reformado todos aqueles que aceitam sem reservas os Solas da Reforma: Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide, Solus Christus e Soli Deo Gloria. E assim sendo, os arminianos não podem ser considerados reformados, pois embora aceitem o Sola Fide, negam o Sola Gratia.

Antevendo protestos, vou explicar porque entendo que os arminianos não professam o Sola Gratia. Vou recorrer à Declaração de Cambridge para esclarecer o que realmente significa Sola Gratia:

“A graça de Deus em Cristo não só é necessária como é a única causa eficaz da salvação. Confessamos que os seres humanos nascem espiritualmente mortos e nem mesmo são capazes de cooperar com a graça regeneradora”.

Os arminianos pregam a pleno pulmões que a graça é necessária à salvação. Porém não levam isso até às últimas consequências, por exemplo, de afirmar que a graça é a única causa da salvação, porque os homens estão mortos em pecado e são absolutamente incapazes que cooperar com a graça regeneradora. Aliás, explicitamente negam que a regeneração antecede a fé, pois afirmam categoricamente que a fé produz o novo nascimento.

Que os remonstrantes modernos não crêem na salvação pela graça fica ainda mais claro quando se analisa o que se afirma e o que se nega com o Sola Gratia:

“Reafirmamos que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual à vida espiritual.

Negamos que a salvação seja em qualquer sentido obra humana. Os métodos, técnicas ou estratégias humanas por si só não podem realizar essa transformação. A fé não é produzida pela nossa natureza não-regenerada.”

Os arminianos até que gostariam de poder dizer que somos resgatados da ira de Deus unicamente pela Sua graça, que nos dá vida enquanto estamos mortos espiritualmente. Mas dirão que a causa disso é a fé e esta é um presente do pecador a Deus e não o contrário. Assim, em pelo menos algum sentido, a salvação é obra humana (embora afirmem que a fé não é obra).

Seria o caso de que a Declaração de Cambridge estaria definindo o Sola Gratia em termos calvinistas, desfavorável ao arminianismo? Seguramente não é o caso, pois o que a Declaração faz é apenas resgatar o sentido que a expressão tinha para os reformadores. Além disso, a definição de graça é controlada pelo que diz a Palavra de Deus, que não deixa margem para inserção de elemento humano algum.

O texto sagrado diz “pela graça sois salvos” e não “também pela graça sois salvos”. A salvação é monergistica, pois é Deus quem opera exclusivamente o novo nascimento, sem o concurso de nenhuma faculdade humana. A graça é a causa única da salvação. A fé em si não é a causa da salvação, que se dá por meio e não por causa dela. Podemos dizer, no máximo, que a fé é a causa instrumental da salvação. De qualquer forma, a fé como tudo o mais que diz respeito à salvação é dom de Deus, dom este que vem unicamente pela graça.

Mas se os arminianos negam na prática o Sola Gratia, será que não negam também outros Solas?

Soli Deo Gloria

Clóvis Gonçalves é blogueiro do Cinco Solas e escreve no 5 Calvinistas às segundas-feiras.

3 comentários:

  1. Clóvis,

    Os "Solas" estão intimamente ligados entre si de tal forma que a negação de um "sola", compromete todo o resto.

    Os arminianos não spodem ser considerados reformados pois não podem abraçar, de fato, os "solas" da reforma.

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  2. Heitor,

    Então talvez haja outros artigos nesta linha...

    Em Cristo,

    Clóvis

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  3. Olá Clóvis,

    É que para os arminianos (e eu posso dizer, pois já fui um há não muito tempo) a graça não é bem graça - ou, conforme Paulo, "se é pela graça já não é pelas obras, pois caso contrário a graça já não seria graça - já que pretende apenas "dotar o ser humano de escolha. Concordo plenamente com você que a fé é apenas instrumento da graça, ou seu sucedâneo, comprovado pela própria ordem dos versos 8 e 9 de Efésios 2: "Pela graça sois salvos mediante a fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus..."

    Logo, não resta dúvida que a fé tem nascedouro por intermédio da graça, sendo esta última a origem da salvação e a primeira o seu acessório.

    A conclusão lógica é essa mesmo: Deus o Criador, o homem a criatura. Deus o principal, o homem acessório. Ele o Oleiro, nós a massa.

    Bendito seja o nome do Senhor, o Soberano, de cujas obras humanas independe!

    NEle,

    Ricardo

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