Não quero discutir se a razão está com os oficiais ou com as praças, mas aproveitar a deixa deles para uma reflexão: será que estamos sempre preocupados em colocar “a melhor farda” para Deus? Ou será que deixamos isso apenas para as ocasiões que consideramo s “especiais” (momento de oração, culto dominical, etc.)?
Se formos pensar em “farda” com sendo nossa justiça própria, é certo que não nascemos com uma que seja suficiente para merecermos o favor de Deus. De acordo com o profeta Isaías, até mesmo nossas ações mais respeitáveis não passam de “trapos de imundícia” aos olhos dAquele que é Santo, Santo, Santo (Is 64.6 – cf. cap. 6). As folhas de figueira (justiça própria) confeccionadas pelo casal edênico não foram suficientes para encobri-lo de sua nudez – foi necessário que o próprio Deus lhes providenciasse a vestimenta (Gn 3.7-21). A única forma possível de se agradar a Deus é, pois, vestir-se com a “farda” que Ele mesmo oferece: a justiça de Jesus Cristo, seu Filho, que cobre nossos pecados e nos torna aceitáveis diante do Pai; não por nossos próprios méritos, mas exclusivamente por Sua Soberana Graça.
Uma vez, pois, revestidos da justiça de Cristo, cabe a nós andarmos em novidade de vida (Rm 6.4), despojando-nos do nosso “velho homem” (a “velha farda”) e revestindo-se do “novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade” (Ef 4.22-24). Esta é a “farda nova” com a qual devemos sempre andar diante do nosso General, o Senhor dos Exércitos. Uma vez que chegamos à situação de “nova criatura” (2Co 5.17), nosso Criador espera que vivamos como tal. E, assim como no exército terreno o soldado não pode usar uma peça que não esteja prevista no regulamento de uniformes, assim também o soldado de Cristo não pode inventar a sua própria “indumentária espiritual”. Paulo mesmo é quem diz que nossa justiça e retidão são procedentes única e exclusivamente “da verdade”. Não podemos buscar o padrão requerido por Deus em outra fonte. Qualquer disciplina espiritual que fuja dos padrões estabelecidos por Ele redundar-se-á em desobediência (indisciplina) e fanatismo (cegueira). Portanto, exercícios como penitências, ascetismo religioso e vida monástica, por exemplo, para nada servem se não estiverem respaldados pelo “Regulamento de Deus” – a Escritura Sagrada.
Mas que isto não sirva de evasiva para aqueles que querem esquivar-se de suas responsabilidades! Todo quartel deveria sempre estar com sua faxina, instalações e documentação em dia, mesmo que não esteja prestes a ser inspecionado por algum general. E um bom soldado é exatamente aquele que faz o que é certo mesmo sem estar diante de seu superior. Tal atitude é responsabilidade de cada um. É o que chamamos aqui no Exército de “disciplina consciente”. O que deve motivar um filho de Deus, entretanto, não é exatamente o fato de ele saber que os olhos do Senhor estão em absolutamente em todos os lugares, perscrutando minuciosamente nossas mais “insignificantes” imperfeições (cf. Sl 139), mas o fato de que ofender a Deus é algo tão monstruoso que ele deve odiar tal coisa do fundo de sua alma. Assim como o bom soldado não busca agradar a seu senhor somente para se ver livre do peso de sua mão, o soldado de Cristo não deve agradá-lo somente para escapar do terror porvir – o Juízo Final. Como bem disse Calvino, “visto que o fiel ama a Deus como seu Pai e o teme como seu Senhor, mesmo que não existisse inferno, ofender a Deus lhe causaria horror”. E aí, podemos dizer o mesmo? Ou melhor, podemos viver o mesmo? Se o nosso General viesse agora, você estaria em condições de ser arregimentado ao Exército Celestial? A propósito, você já escolheu a sua “melhor farda” hoje?
Soli Deo Gloria!
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* O posto mais alto do Exército, na realidade, é o de marechal. Mas no Brasil tal posto só é ocupado em caso de guerra.
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