25 de agosto de 2010

A ignorância mata, mas o conhecimento vivifica

Começamos, porventura, outra vez a recomendar-nos a nós mesmos? Ou temos necessidade, como alguns, de cartas de recomendação para vós outros ou de vós? Vós sois a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos os homens, estando já manifestos como carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações. E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus; não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica.

E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glória, a ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda que desvanecente, como não será de maior glória o ministério do Espírito! Porque, se o ministério da condenação foi glória, em muito maior proporção será glorioso o ministério da justiça. Porquanto, na verdade, o que, outrora, foi glorificado, neste respeito, já não resplandece, diante da atual sobreexcelente glória. Porque, se o que se desvanecia teve sua glória, muito mais glória tem o que é permanente. (2 Coríntios 3:1-11)
A educação nunca foi tão valorizada no mundo como em nosso tempo. É praticamente um consenso universal que o caminho para a construção de uma sociedade desenvolvida é o estudo. A informação é considerada um bem mais valioso do que várias mercadorias, a ponto de vivermos a chamada "sociedade do conhecimento".

Mas, enquanto todo o mundo se esforça para crescer em conhecimento, as igrejas evangélicas brasileiras se tornam pregadoras da ignorância, especialmente as influenciadas pelo neopentecostalismo ou por um tipo arcaico e legalista de pentecostalismo. "A letra mata", dizem eles para se referirem à Bíblia ou à teologia. O estudo teológico e a busca pelo sentido literal e histórico das Escrituras são vistos como inimigos da santidade, uma espécie de veneno que mata a fé dos crentes e os leva para longe de Deus. O segredo é "o Espírito", normalmente entendido como a prática de jejuns, orações e até mantras, buscando dons, experiências, visões, arrebatamentos e outras experiências, no mínimo, "extravagantes".

Contudo, o que a Bíblia ensina quando fala que "a letra mata"?

A letra não pode ser a Bíblia
A primeira coisa que devemos ter em mente é que é impossível que a letra seja a própria Bíblia. Se for, existem duas conseqüências desagradáveis que precisam ser respondidas:

1) A Bíblia é um livro que veio matar as pessoas?
2) A Bíblia e o Espírito Santo são opostos?

A resposta a essas duas perguntas é dada pelo próprio Jesus Cristo:
O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida. (João 6:63)
Se entendemos que Jesus é Deus e que a Bíblia é a Sua Palavra, então vemos que Jesus coloca a Bíblia em harmonia com o Espírito e como fonte de vida, e não de morte. Na verdade, Jesus diz claramente que as palavras do Pai (a Bíblia) se opõem ao mundo, e não ao Espírito, e que são a forma pela qual os discípulos são santificados:
Eu lhes tenho dado a tua palavra, e o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como também eu não sou. Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como também eu não sou. Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade. (João 17:14-17)
Estudar a Bíblia não é ruim. Pelo contrário, a pregação e o ensino fiel das Escrituras são o caminho para salvar vidas e ser aperfeiçoado por Deus.
Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes. (1 Timóteo 4:16)

Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. (2 Timóteo 3:16-17)
A letra é a Lei de Moisés
Se a letra de 2 Coríntios 3:6 não é a Bíblia, o que é então? Uma leitura atenta do contexto mostra que a referência é feita à Lei de Moisés, ao texto da antiga aliança feita entre Deus e os israelitas.

Paulo começa o capítulo dizendo que os coríntios são a carta viva de seu ministério, a prova evidente de que a obra dele era de Deus. Uma carta que foi escrita pelo Espírito Santo nos corações e que era fruto do ministério da nova aliança, do Espírito. No versículo 7, Paulo fala que a letra está ligada ao "ministério da morte, gravado com letras em pedras", cuja glória se manifestou no brilho do rosto de Moisés. É só ler o livro de Êxodo que fica claro que a referência é a lei de Moisés.

O que significa "mata"?
Mas, como assim? A Lei é parte da Bíblia. Como pode a Lei matar e ser chamada de "ministério da morte" e de "ministério da condenação"? A Lei é ruim?

Não. A Lei é boa. Todas essas perguntas foram respondidas por Jesus e por Paulo:
Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus. (Mateus 5:17-19)

Por conseguinte, a lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom. Acaso o bom se me tornou em morte? De modo nenhum! Pelo contrário, o pecado, para revelar-se como pecado, por meio de uma coisa boa, causou-me a morte, a fim de que, pelo mandamento, se mostrasse sobremaneira maligno. (Romanos 7:12-13)
Contudo, a Lei não é o meio usado por Deus para salvar as pessoas. A Lei indica as pessoas qual a vontade de Deus e o que Ele deseja, mas, por si só, ela não dá o poder necessário para vencer o pecado. Por isso, a letra da Lei não vivifica.

Na verdade, a Lei tinha dois objetivos: dar aos homens o conhecimento do que é pecado...e tornar todos condenáveis aos olhos de Deus.
Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus, visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. (Romanos 3:19-20)
Deus não quer que ninguém seja salvo por esforço pessoal, Ele quer que a salvação seja algo que venha somente d'Ele e de Sua graça. Mas, para que isso aconteça, era preciso que os homens conhecessem o real tamanho de seus pecados...e que eles também pudessem ser objetivamente condenados por sua maldade. Isso é feito pela Lei. Por isso que a Lei, sozinha, escrita em tábuas de pedra, "mata" as pessoas...porque ela veio trazer condenação.

Como o Espírito "vivifica"
No texto de 2 Coríntios 3 a vida é a salvação, a nova aliança, que é chamada de "ministério da justiça", porque é por meio dela que os homens são justificados diante de Deus. E um dos sinais dessa aliança é a presença do Espírito Santo no mundo.
Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão. Mostrarei prodígios em cima no céu e sinais embaixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso Dia do Senhor. E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. (Atos 2:16-21)
E qual o trabalho do Espírito? Gravar a lei (a Palavra) de Deus no coração das pessoas.
Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. (Jeremias 31:33)

Vós sois a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos os homens, estando já manifestos como carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações. (2 Coríntios 3:2-3)
O Espírito "vivifica" quando leva os homens à salvação. E Ele faz isso quando escreve a Palavra de Deus na mente e no coração dos fiéis.

O conhecimento vivifica
Quando lemos 2 Coríntios 3 com atenção, vemos que, na verdade, a leitura e o estudo bíblicos não são nocivos ou mortíferos. Ao contrário, o caminho da vivificação no Espírito é exatamente ter a Bíblia escrita no coração e na mente. Não é uma leitura espiritualista ou alegórica, como querem alguns. A Palavra é escrita na mente e no coração (na Bíblia, coração é sede dos pensamentos e crenças, e não só das emoções).

E, se pensarmos bem, quanto mais lermos e estudarmos a Bíblia, mais o Espírito Santo a grava em nossos corações. Quanto mais Palavra, "mais salvos" seremos, como disse Paulo a Timóteo. Não adianta só cuidar de si mesmo, é preciso cuidar também da doutrina.

Logo, quanto mais ignorantes formos e fugirmos do estudo bíblico, mais fugimos do Espírito e nos tornamos alvo das condenações da Lei de Moisés. Mas, quanto mais buscarmos o conhecimento da Bíblia, mais o Espírito nos vivificará.

A ignorância mata, mas o conhecimento vivifica.

Um comentário:

  1. Queridos calvinistas, me diverti com a leitura de alguns posts; mas esse que reafirma o conhecimento como vivificador da espiritualidade sadia é excelente. Parabens e que o Senhor conceda tempo para vcs escreverem mais.
    Abs. Edilson.

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