30 de novembro de 2010

Internautas cristãos ou fariseus do século XXI?

Qual o significado dos dois testamentos da Bíblia? Popularmente, aprendemos nas igrejas cristãs que o Antigo Testamento refere-se a uma aliança feita por Deus antes da vinda de Jesus Cristo, que não está mais em vigor nos dias de hoje. Já o Novo Testamento é a aliança feita por meio de Jesus Cristo e que vigorará até o fim dos tempos. De modo geral essa diferenciação é reconhecida por diferentes correntes teológicas, embora alguns acentuem a separação (dispensacionalismo) e outros a atenuem (aliancismo ou teologia do pacto).

Contudo, ultimamente no Brasil uma forma extremada de aliancismo começa a ganhar espaço. Algumas pessoas defendem que a Lei de Moisés deve ser aplicada, em seus aspectos civis, em pleno século XXI. Por causa desse tipo de ideia, blogs como o Internautas Cristãos, defendem que o Estado criminalize pecados como o adultério e o homossexualismo, como pode ser visto neste post:
Os cristãos são favoráveis a leis que proíbam e punam o homossexualismo?

Sim, pois é isso que a Bíblia ensina. A lei de Deus é clara ao criminalizar o assassintato (sic!), o roubo, o adultério, o estupro, o homossexualismo, o incesto, a zoofilia, e uma série de outras condutas imorais. Isso serve para proteger a sociedade contra a proliferação do pecado. (Internautas Cristãos)
Esse ponto de vista choca-se diretamente com o de outros blogs, inclusive o 5 Calvinistas, que não defendem a aprovação de nenhuma lei que proíba a conduta homossexual, entendendo que não é papel do Estado legislar sobre a matéria:
Não somos a favor de nenhum tipo de lei que proíba a conduta homossexual; da mesma forma, somos contrários a qualquer lei que atente contra um princípio caro à sociedade brasileira: a liberdade de consciência.
É impossível que os dois lados estejam corretos. Definir quem tem razão é responder primeiro a seguinte pergunta: a lei civil de Israel deve ser obedecida pelos cristãos após a vinda de Jesus?

As três faces da Lei
Para entender melhor a discussão, é preciso esclarecer antes uma divisão que é feita da Lei de Moisés, que vigorou durante todo o Antigo Testamento. Dentro da teologia cristã, a Lei é dividida em três aspectos:

1. Lei moral: os princípios morais da Lei, como a ordem de amar ao próximo como a si mesmo (Levítico 19:18). Para os aliancistas (entre os quais eu me inclúo), esta parte do Antigo Testamento encontra-se em pleno vigor mesmo no século XXI.

2. Lei cerimonial: os sacrifícios e rituais de culto do Antigo Testamento (como Levítico de 1 a 7). Para todos os cristãos, essa parte da Lei não é mais válida, porque se tornou inútil com o sacrifício de Jesus Cristo na cruz.

3. Lei civil: a parte da Lei que estipulava penas a serem aplicadas pelo Estado teocrático de Israel, como a ordem de matar os filhos que amaldiçoassem aos pais (Êxodo 21:17). Para os dispensacionalistas e aliancistas moderados, essa parte da Lei também não é mais válida, ela apenas traz princípios que podem ser aplicados hoje em dia (como a justiça retributiva). Mas, para os aliancistas extremados, como é o caso do Internautas Cristãos, a lei civil deve ser aplicada, ainda que com adaptações.

Por que a lei civil caiu?
Uma das discussões mais vivas e presentes da igreja na época dos apóstolos foi exatamente a de determinar o que deveria ser observado da Lei e o que deveria ser descartado. O centro dessa discussão foi a circuncisão. Um grupo de judeus convertidos ao cristianismo achava que os não-judeus (gentios) deveriam ser circuncidados e observar a lei de Moisés. Já os apóstolos Paulo e Barnabé se opunham a isso. A discussão e a sua solução estão registradas em Atos 15:4-29.
Tendo eles chegado a Jerusalém, foram bem recebidos pela igreja, pelos apóstolos e pelos presbíteros e relataram tudo o que Deus fizera com eles. Insurgiram-se, entretanto, alguns da seita dos fariseus que haviam crido, dizendo: É necessário circuncidá-los e determinar-lhes que observem a lei de Moisés.

Então, se reuniram os apóstolos e os presbíteros para examinar a questão.

Havendo grande debate, Pedro tomou a palavra e lhes disse: Irmãos, vós sabeis que, desde há muito, Deus me escolheu dentre vós para que, por meu intermédio, ouvissem os gentios a palavra do evangelho e cressem. Ora, Deus, que conhece os corações, lhes deu testemunho, concedendo o Espírito Santo a eles, como também a nós nos concedera. E não estabeleceu distinção alguma entre nós e eles, purificando-lhes pela fé o coração. Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais puderam suportar, nem nós? Mas cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus, como também aqueles o foram.

E toda a multidão silenciou, passando a ouvir a Barnabé e a Paulo, que contavam quantos sinais e prodígios Deus fizera por meio deles entre os gentios.

Depois que eles terminaram, falou Tiago, dizendo: Irmãos, atentai nas minhas palavras: expôs Simão como Deus, primeiramente, visitou os gentios, a fim de constituir dentre eles um povo para o seu nome. Conferem com isto as palavras dos profetas, como está escrito:

Cumpridas estas coisas, voltarei e reedificarei o tabernáculo caído de Davi; e, levantando-o de suas ruínas, restaurá-lo-ei. Para que os demais homens busquem o Senhor, e também todos os gentios sobre os quais tem sido invocado o meu nome, diz o Senhor, que faz estas coisas conhecidas desde séculos.

Pelo que, julgo eu, não devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se convertem a Deus, mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, bem como das relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e do sangue. Porque Moisés tem, em cada cidade, desde tempos antigos, os que o pregam nas sinagogas, onde é lido todos os sábados.

Então, pareceu bem aos apóstolos e aos presbíteros, com toda a igreja, tendo elegido homens dentre eles, enviá-los, juntamente com Paulo e Barnabé, a Antioquia: foram Judas, chamado Barsabás, e Silas, homens notáveis entre os irmãos, escrevendo, por mão deles:

Os irmãos, tanto os apóstolos como os presbíteros, aos irmãos de entre os gentios em Antioquia, {Antioquia: capital da Síria} Síria e Cilícia, saudações.

Visto sabermos que alguns que saíram de entre nós, sem nenhuma autorização, vos têm perturbado com palavras, transtornando a vossa alma, pareceu-nos bem, chegados a pleno acordo, eleger alguns homens e enviá-los a vós outros com os nossos amados Barnabé e Paulo, homens que têm exposto a vida pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Enviamos, portanto, Judas e Silas, os quais pessoalmente vos dirão também estas coisas.

Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas essenciais: que vos abstenhais das coisas sacrificadas a ídolos, bem como do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas; destas coisas fareis bem se vos guardardes. Saúde. (Atos 15:4-29)
A questão não era apenas a de decidir se a obediência à Lei de Moisés é ou não necessária para a salvação dos gentios, mas também de determinar o que os gentios deveriam obedecer da Lei em sua vida cristã. E aí, percebe-se que ficaram apenas quatro exigências:

- abster-se das coisas sacrificadas a ídolos (lei moral, porque toca no aspecto da idolatria e do ferir a consciência de outros cristãos);
- abster-se de comer sangue (lei moral para uns ou cerimonial para outros);
- abster-se da carne de animais sufocados (porque o sangue fica entranhado na carne);
- abster-se das relações sexuais ilícitas (lei moral).

Fariseus se opuseram a Jesus, aos apóstolos e aos cristãos do século XXI
Repare: nenhuma das exigências diz respeito à lei civil. Embora as imoralidades sexuais sejam condenadas como pecados, não há qualquer referência a uma espécie de penalidade estatal. Em nenhuma parte do Novo Testamento, a igreja exige que o Império Romano aplique as penas da Lei de Moisés ou cria tribunais próprios para aplicar essas leis. O que existe é a disciplina eclesiástica, com penas aplicadas somente aos membros das igrejas, e não a pessoas de fora.

Mesmo assim, a questão da comida sacrificada aos ídolos é permitida em certas condições (por exemplo em 1 Coríntios 10) e há quem não veja problemas na questão de comer sangue porque Jesus considerou todos os alimentos puros (Marcos 7:19). O único aspecto realmente intocado da Lei de Moisés é o aspecto moral.

Claro que o resto da lei moral não é jogado fora...eles são repetidos em outros lugares do Novo Testamento e referendados de modo especial por Jesus Cristo no Sermão do Monte (Mateus 5 a 7). Porém, o objeto deste post é a lei civil, e não a moral.

O papel do Estado
E nessa perspectiva, o silêncio de Jesus e dos apóstolos em relação a um Estado que aplicasse as penas da Lei de Moisés é revelador. A ênfase da pregação apostólica é na obediência voluntária às leis de Deus. A coerção não é mais um caminho e o papel do Estado é reduzido a promover o bem dos que fazem o bem e punir com a espada os malfeitores:
Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal. (Romanos 13:3-4)
Talvez os aliancistas extremos interpretem o "fazer o mal" como sendo uma licença divina para que o Estado se coloque no lugar de Juiz e acabe punindo todo tipo de pecado, criando uma teocracia cristã. Mas uma teocracia cristã não é o plano divino para este momento da História, como escrevi em outro post.

O Estado deve regular as relações entre os seres humanos. Com certeza deve punir os que matam e roubam, os que enganam o próximo, dentro dos princípios colocados pela face civil da Lei. Mas não deve se intrometer nos aspectos mais privados e individuais dessas relações.

Por que coloco esse limite? Porque todas as exortações apostólicas relativas à sexualidade são feitas com base na pregação, na busca do convencimento intelectual e emocional dos cristãos. Não há apelos para que os cristãos se mobilizem para terem ao seu lado um Estado coercitivo, que lance mão da espada ou de outros instrumentos para forçar a sociedade a seguir determinado padrão sexual. O ensino de Romanos 13 encaixa-se mais no contexto de "manutenção da ordem" e deve ser entendido mais como uma legitimação das Forças Armadas e das polícias no seu trabalho de garantir a segurança interna e externa.

Quando o aliancista extremado quer criminalizar o adultério e o homossexualismo (por que não fazer o mesmo com a idolatria, a fornicação, a desobediência aos pais e outros, condenados pela Lei civil?), ele erra por querer que o Estado se intrometa em questões que o Novo Testamento trata na esfera da pregação da Igreja e da liberdade individual de escolha. No fundo, o aliancismo extremado quer produzir um Estado totalitário, que usa a espada (simbolizando todos os mecanismos coercitivos estatais) para forçar os seres humanos a guardarem a Lei.

A pedra de tropeço
Atrevo-me a dizer mais. Quando se caminha nessa direção, cai-se no mesmo erro dos fariseus de Atos 15, só que com um agravante. Lá o que se buscava era que os cristãos guardassem a Lei de Moisés (um peso que eles mesmos não puderam suportar, como lembra Pedro), mas agora o que se busca é forçar e constranger quem não é cristão a seguir a Lei!

O que os cristãos buscam não é a obediência a certas normas de conduta. Quem está atrás deste alvo está tropeçando em uma armadilha, como alerta Isaías:
A quem, pois, se ensinaria o conhecimento? E a quem se daria a entender o que se ouviu? Acaso, aos desmamados e aos que foram afastados dos seios maternos? Porque é preceito sobre preceito, preceito e mais preceito; regra sobre regra, regra e mais regra; um pouco aqui, um pouco ali. Pelo que por lábios gaguejantes e por língua estranha falará o SENHOR a este povo, ao qual ele disse: Este é o descanso, dai descanso ao cansado; e este é o refrigério; mas não quiseram ouvir. Assim, pois, a palavra do SENHOR lhes será preceito sobre preceito, preceito e mais preceito; regra sobre regra, regra e mais regra; um pouco aqui, um pouco ali; para que vão, e caiam para trás, e se quebrantem, se enlacem, e sejam presos. (Isaías 28:9-13)
Não hesito em dizer: quem está preocupado demais com a observância de regras e preceitos, a ponto de interpretarem a Palavra do Senhor (Bíblia) como um livro de regras e quererem forçar os não-cristãos a segui-la usando o Estado...quem vai por este caminho está perto de cair e ser quebrantado, enlaçado e preso! Não estão buscando a justiça (uma sociedade justa) por meio de Cristo e da pregação da fé, e sim por meio das obras, logo, tropeçam:
Que diremos, pois? Que os gentios, que não buscavam a justificação, vieram a alcançá-la, todavia, a que decorre da fé; e Israel, que buscava a lei de justiça, não chegou a atingir essa lei. Por quê? Porque não decorreu da fé, e sim como que das obras. Tropeçaram na pedra de tropeço,como está escrito: Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, e aquele que nela crê não será confundido. (Romanos 9:30-33)
Exagero meu? De modo algum! Eu é que pergunto a você: quando cristãos querem que o Estado legisle com base na Lei de Moisés, criminalizando os pecados apontados pela face civil da Torá...quando se acha que este é o caminho para uma sociedade melhor...quando se busca uma teocracia "cristã"...a esperança está sendo posta em quem: Moisés ou Jesus?

Qual a solução?
Então os cristãos devem se calar diante de pecados, como o adultério ou a prática do homossexualismo? Claro que não! Devemos nos calar diante de projetos como o PL 122? Óbvio que não! O que temos que fazer é protestar e pregar a Palavra! Agora, em momento algum, devemos enxergar no Estado (ou em uma teocracia) um caminho para salvação da sociedade ou da família.

Isso não é trair o espírito dos puritanos? Não. O que muitos "reformados" não enxergam é que o puritanismo deu certo por causa da pregação da Palavra e não devido à ação do Estado. A Genebra de Calvino só foi uma experiência governamental bem-sucedida na medida em que os cidadãos ginebrinos foram convencidos pela pregação da Palavra a acreditarem no Evangelho e obedecerem a Jesus. O bom uso do Estado foi uma consequência de corações transformados, e não a causa dessa transformação.

Por isso eu quero destacar um parágrafo magistral da equipe do iPródigo sobre o assunto.
Nosso consolo é saber que jamais ganharemos mais quando vencermos na esfera política. Muitas vezes, na história do Cristianismo, Deus usou a perseguição para que a Palavra fosse semeada com profundidade e amor verdadeiros. Por isso, nós do iPródigo convocamos todos a unirem sua vozes simbolicamente e declarar que Deus é santo, sua Palavra é inerrante e que não concordamos com nada que é contra esta Palavra e o caráter deste Deus. E isso inclui a falta de liberdade – mesmo que ela venha do governo. (iPródigo)
Se ganharmos ou se perdermos a batalha em torno do PL 122, isso não é o que importa. Criminalizar o homossexualismo, o divórcio, o adultério, a fornicação ou a desobediência aos pais não nos fará ganhar coisa alguma. O que realmente conta é a igreja erguer a sua voz para pregar a santidade de Deus e o  Evangelho de Jesus. A guerra é vencida, não quando o Estado aprova leis de acordo com a Bíblia, mas sim quando pessoas tocadas pelo Espírito Santo decidem, voluntariamente, deixar uma vida de pecados para viverem em obediência ao Deus vivo e verdadeiro, crendo em Jesus como Senhor e Salvador. E aí eu não resisto em dizer:

SOLI DEO GLORIA! (Só a Deus, e não ao Estado, e não à teocracia ou a qualquer outra criatura ou coisa que possamos fazer ou imaginar).

Graça e paz do Senhor,

Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro

P.S: Este post também se aplica a outros blogs favoráveis à criminalização da homossexualidade como o Ministério Cristão Apologético.

29 de novembro de 2010

Quem Jesus é?

E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem? Mt 16:13

Nas prateleiras de livros de qualquer livraria temos a resposta. Títulos como "Jesus, o maior líder que já existiu", "Jesus, o maior educador da história" e "Jesus, o maior psicólogo que já existiu", todos da Editora Sextante, além de "Jesus, o maior executivo que já existiu", publicado pela Editora Elsevier , e muitos outros nessa mesma linha, nos informam que Jesus é um modelo de professor, psicólogo, líder e homem de negócio. Um sábio que nos poucos anos que viveu sobre a terra deixou lições que podem ser seguidas por todos aqueles que quiserem ter êxito nas mais diversas áreas.

Os contemporâneos de Jesus tinham opiniões, por assim dizer, mais espirituais a respeito de Jesus. À pergunta de Jesus "eles disseram: uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas" (Mt 16:14). João Batista não gozava de uma boa imagem perante os religiosos da época, mas era popular entre o povo, até ser morto por Herodes. Certamente que considerar Jesus João Batista ressuscitado era uma avaliação positiva. O mesmo com relação a Elias, que o povo esperava como precursor do Messias, em cumprimento às promessas. Ser equiparado a Jeremias, o profeta que empresata o nome ao conjunto dos livros chamados proféticos, também era uma consideração e tanto. Mesmo ser tratado como "um dos profetas" do Antigo Testamento era um elogio, pois eram heróis da fé do povo.

Apesar disso, os contemporâneos de Jesus  ficaram muito aquém de descrever quem Ele era realmente. E muito menos fazem aqueles que pensam estar honrando Jesus ao destacar suas habilidades como mestre, gestor de pessoas ou empreendedor. Se é que realmente estão interessado em destacar  a pessoa de Jesus,  não apenas vender livros. Pois o que fazem, na verdade, é encobrir o que Jesus realmente é, colocando em evidência algum aspecto de Sua humanidade.

Não satisfeito com as respostas recebidas, Jesus torna a pergunta pessoal: "e vós, quem dizeis que eu sou?" (Mt 16:15). Pedro, mais uma vez assumindo o papel de porta-voz do grupo declara: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mt 16:16). Esta, e somente esta, é a resposta que satisfaz plenamente a pergunta de Jesus, pois vai além dos aspectos aparentes de seu ministério e torna ridícula as ênfase em suas competências administrativas, pois trás à luz o fato mais importante sobre Sua pessoa: Ele é Deus!

Os homens aceitam facilmente Jesus como educador, psicólogo, líder e não fariam objeções a qualificações dele como oculista, carpinteiro, médico, guia turístico ou o que quer que seja, desde que não sejam confrontados com a verdade de que Ele é Deus. Da mesma maneira que designações como iluminado, rabi e profeta são aceitáveis, mas à alusão de que Ele é o Filho Unigênito de Deus pegam em pedras, rangem os dentes ou, na melhor das hipóteses, maneiam a cabeça de forma condenscendente com "a fé ignorante" dos que crêem assim.

Mas o fato é que Jesus é Deus e esta verdade precisa ser reafirmada, sob pena de Jesus não passar de mais um Buda ou Confúncio. A verdade bíblica é que "no princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" (Jo 1:1). É impossível escrever um livro que esgote a profunidade das verdades expressas nessas três simples declarações. A pré-existência, a co-existência com Deus e o fato de ser  o próprio Deus tem rendido tratados e mais tratados e ainda assim muito mais poderia ser dito. No entanto, a frase de Pedro bastou para expressar toda verdade aqui contida:  "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mt 16:16).

Por isso o entusiasmo de Jesus ao dizer a Pedro "bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus" (Mt 16:17). E aqui temos, também, a razão porque os homens toleram que Jesus seja um líder excepcional e até um religioso exemplar, mas de maneira alguma aceitam a sua divindade: isto não pode ser aceito naturalmente, mas é necessária uma revelação sobrenatural. Inteligência não é o caso aqui. "Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos" (Mt 11:25). Reconhecer Jesus como Deus é privilégio dos que tiveram seus olhos abertos pelo Espírito Santo.

A pergunta de Jesus vai do geral ("que dizem os homens") para o pessoal ("e vós, quem dizeis"). Isto significa que não basta subscrever acriticamente um credo no qual a divindade de Jesus é afirmada, por mera formalidade para o batismo. É necessário uma convicção interna, pessoal, dada pelo Espírito Santo, que nos leve a confessar, como Tomé "Senhor meu, e Deus meu!" (Jo 20:28).

E para você, quem Jesus é?

Clóvis Gonçalves é blogueiro do Cinco Solas e escreve no 5 Calvinistas às segundas-feiras.

27 de novembro de 2010

Onde está Abraão, intercedendo por Sodoma?

Ser pastor é conviver regularmente com dilemas que, na prática, não parecem tão fáceis de serem resolvidos, como pensam muitos membros. Vou dar um exemplo. Há certos pecados que precisam ser combatidos de púlpito, mas quando se prega a respeito, os "ofendidos" movem uma verdadeira campanha contra você, mesmo quando seu nome não é mencionado. Há os que ficam do seu lado e há os que consideram um absurdo que você tenha "mandado recado" do púlpito. O povo se divide, e você fica no meio. Isso já aconteceu comigo.

Confesso que essas brigas são um tanto desgastantes para o coitado que aponta o erro. Um desgaste que já estou meio cansado de ter no mundo real...e que gostaria de evitar na blogosfera, até porque tenho uma briga inacabada com outro blogueiro no Reforma e Carisma. Contudo, os argumentos de uma irmã me levam ao fogo de novo.

No último post que escrevi aqui, falei sobre blogueiros que "evangélicos, que se dizem reformados, atacando os militantes pró-PL 122 sem mostrarem qualquer preocupação evangelística neste ataque." De que tipo de blog estou falando?

Cito, por exemplo, o Internautas Cristãos. Já começa com o título "Sodomitas ofendem e ameaçam reitor de universidade cristã". Sim, porque o título não foi despropositado, já que o autor fala no final: "A verdadeira face violenta do movimento homossexual. Qualquer semelhança com os moradores de Sodoma não é mera coincidência." Fica destacado o versículo que diz que todos os homens de Sodoma cercaram a casa de Ló para estuprar os dois hóspedes que estavam hospedados com ele. O post é republicado pelo blog Reforma Monergista.

Gente, acaso podemos generalizar dizendo que todos os homossexuais são estupradores e violentos, como os homens de Sodoma? Todos os homossexuais da Antiguidade moravam em Sodoma? O homossexualismo era a única explicação para a violência dos sodomitas? Eu não concordo com esse tipo de associação.

Vou além: se a analogia do autor é apropriada, lembro de Abraão intercedendo a Deus pela salvação de Sodoma em Gênesis 18. Lembro que Abraão foi lutar para salvar os sodomitas em Gênesis 14. E nós? Se homossexuais estiverem sendo mortos, seja por qual motivo for, vamos nos calar, ou vamos agir? Vamos só condená-los ou vamos orar, pedindo a Deus pela salvação deles, como fez Abraão, prefigurando Cristo?

O nome do blog, aliás, é muito infeliz. Porque alguém que entra em um site de busca, querendo saber no que pensam os "internautas cristãos", pode se surpreender achando, por exemplo, que os cristãos são favoráveis a uma lei que proíba a conduta homossexual.

Há erros menores, como a caricaturização das posições. Eu não acho nada construtivo textos como o "desabafo de um pai presbiteriano" no Ministério Cristão Apologético, tentando sensibilizar os leitores dizendo coisas como:
Tenho um casal de filhos... (muitos sonham em ter um casal de filhos, mas daqui para frente, pra quê mesmo?)

pelo jeito não poderei mais destacar a diferença deles...

pelo jeito não posso mais falar para eles que um tipo de comportamento é coisa de meninA, ou de meninO...

não poderei mais orar pedindo ao Senhor um marido para minha filha, e uma esposa para meu filho... (capaz de ficarem ouvindo como aconteceu com Daniel)...
Olha, a coisa não está nesse nível! Se ficamos indignados quando caricaturizam as posições cristãs (católica e evangélica) sobre o homossexualismo, por que fazer o mesmo, por que devolver o tapa? Os cristãos não deveriam agir de modo diferente? Mas essa caricaturização não apenas é feita, como é reproduzida, por exemplo, no Blog dos Eleitos. Isso não é amar o inimigo.

Não defendo que fiquemos passivos diante da PL 122 ou mesmo de iniciativas tomadas por militantes homossexuais para que o brasileiro considere esse tipo de prática sexual algo normal. Há denúncias sérias nesse sentido a serem feitas ao cidadão comum. Mas não dá pra generalizar. Não dá pra blogar sobre isso sem estudar o assunto, sem amor pelos homossexuais, sem o desejo sincero de levá-los a Cristo, sem sequer orar por eles! É preciso mais inteligência e mais cristianismo nesse assunto.

Eu gostaria muito que todos os cristãos tivessem pelos homossexuais o mesmo respeito que têm pelos divorciados, pelos fornicadores, pelos adúlteros...todos pecados ligados à sexualidade. Gostaria de ver o mesmo respeito que é dado aos comunistas (sim, comunismo é pecado, meu amigo!), aos espíritas, aos ateus (que formam a cosmovisão que dá base a todo tipo de comportamento sexual pecaminoso) e aos idólatras de uma forma geral (o primeiro mandamento condena idolatria, não sexualidade).

Talvez eu seja mais sensível a questão porque conheço e convivo com homossexuais que respeito e há uma, em especial, por quem nutro um carinho muito grande e que espero não ter perdido o respeito ou a consideração por causa dessa polêmica da PL 122. Até porque não diminuiu em nada o meu desejo de ser amigo dela e o meu amor por ela. Não devo amá-la mais ou menos por causa da sexualidade dela. Assim como não devo amar menos qualquer outro pecador: Jesus me ordenou a amar os meus inimigos! E é isso que eu desejo que todos entendam.

Graça e paz do Senhor,

Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro

Quanto custa a cabeça de um presidente de Supremo Concílio de uma denominação evangélica? E quanto custa a de um Chanceler de Universidade?

Publicado originalmente no Optica Reformata.

Muito embora eu ainda não tenha escrito nada até agora sobre a recente polêmica envolvendo a Universidade Presbiteriana Mackenzie (na pessoa do seu chanceler, o Rev. Dr. Augustus Nicodemus Lopes) e os ativistas anti-“homofóbicos” por conta de um manifesto que a referida instituição publicou em seu site (em 2007!) contra o Projeto de Lei que pretende criminalizar a já famigerada homofobia, tenho dado alguns palpites avulsos por aí. E um deles foi recentemente, em meu Google Buzz (ferramenta parecida com o Twitter), onde postei a seguinte frase, por ocasião do manifesto que cerca de quinhentos ativistas anti-“homofóbicos” fizeram em frente à Mackenzie na última quarta-feira dia 24/11/10:

Os manifestantes querem a cabeça do Rev. Augustus Nicodemus a todo custo. E aí, diretoria, vai dar uma de Herodes?

A comparação com Herodes* foi meio forçada e teve a intenção de justamente provocar à reflexão a quem a carapuça servisse – seja à diretoria da Mackenzie, à liderança da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) ou aos evangélicos de modo geral. Mas devo, aqui, dizer que foi uma comparação não apenas forçada, mas injusta. E demais, eu diria. O responsável por me trazer esse “pesar” foi o André Venâncio, blogueiro do Retratos por Escrito. Abaixo, o comentário imediato dele lá no Buzz:

Até onde sei, a cabeça do pr. Augustus está mais grudada no pescoço do que jamais esteve antes da reunião do Supremo Concílio. Ou há algo pós-reunião que eu não estou sabendo?

Minha resposta foi:

André,


Só cutuquei mesmo. Também não sei de nada, mas sei que os manifestantes querem a cabeça do Augustus. Acho que a Mackenzie, ou até mesmo a IPB, deveriam nos tranquilizar emitindo nem que seja uma notinha de imprensa, não achas? Mas até agora não se pronunciaram, pelo menos até onde sei...


Na realidade, como já sabemos, foi o Rev. Roberto Brasileiro quem escreveu aquele manifesto lá, não o Augustus (veja aqui: http://www.ipb.org.br/noticias/noticia_inteligente.php3?id=808). Mas, como presidente de Supremo Concílio da IPB não tem o mesmo status quo de um Chanceler de uma das mais tradicionais universidades brasileiras, digo igual aos "canibais de cabeça" da música Metrô Linha 743, do Raul Seixas: "eu avalio o preço me baseando no nível mental que você anda por aí usando. Aí eu lhe digo o preço que sua cabeça agora está custando" (hehe!). Sendo assim, quanto custa a cabeça de um presidente de Supremo Concílio? E quanto custa a de um Chanceler de universidade? Minha bronca toda é essa. E nem a IPB nem a Mackenzie passam pra dar sequer um "oi". Essa é minha outra bronca.

Vamos por partes. Primeiro, quanto a essa tal reunião. Depois, quanto ao título desta postagem.

Segundo informações do André, ainda via Buzz, houve uma reunião, nesta semana, em que a IPB deu pleno apoio ao Augustus. Não só como presbiteriano, mas acima de tudo como cristão, fiquei muito feliz e tranquilizado com isso, mas só em parte. Por que? Porque ainda não houve uma resolução pública dessa reunião. Mas já que faz tão pouco tempo que ela ocorreu, vamos esperar para ver se vai haver publicação disso. Do contrário, ficarei muito decepcionado (o que não invalidará a injustiça que cometi com a comparação a Herodes, lógico!).

E quanto ao título desta postagem (somente para justificá-lo e dar mais algumas alfinetadas), é aquilo lá mesmo que comentei (logo acima) com o André. Para efeito de repercussão, a cabeça do Presidente do Supremo Concílio da IPB não vale nada, uma vez que é exatamente nessas horas (estranho, não?) que as pessoas batem no peito e dizem que “vivemos num Estado laico”. Elas dizem: “É só um líder de uma das trocentas denominações evangélicas que existem por aí. Não vale a pena queimar munição num cara desses”. Mas em se tratando de um chanceler de uma tradicional instituição de ensino, quanto vale sua cabeça? E ninguém está dando a mínima se a crítica ao texto que gerou toda a polêmica é burra – só querem ver o circo pegar fogo mesmo. É bem mais confortável colocar uma nação inteira contra uma instituição de ensino (daí estão pouco se lixando se ela é confessional ou não) do que contra um grupo de idiotas religiosos, não é mesmo? A isto tudo eu chamaria de “terrorismo ideológico”, sem nenhuma ressalva! Ou será que estou exagerando?!

Espero que tanto a Mackenzie quanto a IPB se manifestem logo, para a tranquilização dos justos e frustração dos ímpios. E que toda essa tribulação prove o ponto de Jesus em Mateus 5.11,12: “Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós”. Que Deus continue fortalecendo a sua Igreja!

Soli Deo Gloria!

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*Todos conhecem a história envolvendo Herodes e João Batista. João Batista foi metido no cárcere por Herodes quando disse a este que sua situação conjugal era ilícita, já que sua esposa era também esposa de seu irmão Filipe, que ainda vivia. João estava simplesmente pregando o que a Escritura prescrevia (Lv 18.16,20). Herodes temia matá-lo por conta da fama que João tinha de profeta, mas encontrou em sua mulher, Herodias, o mais perfeito capataz. Foi bem simples: a filha dela dançou, Herodes gostou e disse “pede-me o que quiseres e eu te darei”, a moça consultou sua mãe, que por sua vez pediu a cabeça de João Batista num prato, e Herodes concedeu-a (Mc 6.14-29). Interessantemente, o assunto envolvia a sexualidade.

26 de novembro de 2010

Amor a verdade e ódio aos inimigos?

Ouvistes que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes.

Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios também o mesmo?

Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste. (Mateus 5:38-48)
Na última quarta-feira, dia 24, cerca de 500 pessoas fizeram um protesto contra a homofobia em frente à Universidade Presbiteriana Mackenzie. A manifestação foi convocada como uma resposta a carta publicada pelo chanceler da universidade, Rev. Augustus Nicodemus Lopes, reproduzindo a posição da Igreja Presbiteriana do Brasil sobre o PL 122, que criminaliza a homofobia. Quando as críticas ao Mackenzie começaram, vários blogueiros evangélicos publicaram textos de apoio ao Rev. Augustus, inclusive o 5 Calvinistas.

Mas, a partir daí, percebo uma certa divisão. Em alguns blogs, como o iPródigo e o Voltemos ao Evangelho, o amor a verdade não exclui o amor que é devido aos homossexuais. No entanto, outros blogs apenas manifestam a desaprovação ao homossexualismo, em um tom de ataque e achincalhe desnecessário, mostrando muito zelo pela verdade, mas pouco amor ao "inimigo". Quem lê os textos fica com a impressão de que todos os homossexuais são inimigos, e dos piores, merecendo menos respeito e consideração que todos os outros seres humanos. Pelo menos eu tive essa impressão.

Entendo que os cristãos devem amar a Deus antes de amarem ao próximo. Isso inclui uma defesa apaixonada, mas racional, dos ensinos contidos na Bíblia. Todavia, entendo também que o amor ao Senhor não é incompatível com o amor ao próximo, mesmo que ele se coloque como um inimigo da fé ou da Escritura. É ordem de Jesus que o amor inclua a todos, mesmo os inimigos. Mas, para que isso aconteça, os cristãos devem aprender algumas lições.
Na cruz, Jesus morreu para salvar seus inimigos: nós!

A primeira é a de que não devemos devolver o mal com o mal. Quando Jesus diz aos cristãos para darem a outra face e não resistirem ao perverso, Ele diz que os filhos de Deus não devem agir no princípio do "olho por olho" quando lidam com seus inimigos em suas vidas pessoais. Se somos xingados, não devemos xingar de volta. Se fazem protestos na nossa porta e não querem nos ouvir, isso não é desculpa para que façamos o mesmo. O dever do cristão é agir melhor do que o seu inimigo ou ofensor. Na hora de defendermos a verdade, nossa resposta não deve ser tão baixa quanto a de nossos adversários.

Outra lição a ser aprendida é que devemos devolver o mal com o bem. Se somos ofendidos e odiados, devemos devolver com amor, ainda que seja o amor firme da repreensão e do confronto respeitoso. Se nos perseguem, devemos orar, pedindo ao Senhor que leve as pessoas ao arrependimento. Se nos ignoram, a nossa resposta é a saudação. Em nossos embates, a meta não é só mostrar a superioridade intelectual do ponto de vista bíblico, mas também a de ganhar o oponente para Cristo. O amor à verdade também é buscar ganhar o coração e a mente dos opositores.

Por fim, o amor ao inimigo deve ser visto como parte da perfeição divina. Há quem defenda que Deus não ama a todos os seres humanos, mas essa ideia se choca com o ensino de Jesus no Sermão do Monte. Por que devemos amar aos inimigos? Seria pelo valor intrínseco da dignidade humana? Não. A resposta de Jesus é: para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste. Devemos amar aos nossos inimigos assim como Deus ama, fazendo o bem a todos, mandando chuva sobre justos e injustos. Cumprir este mandamento é um pré-requisito para que nos tornemos perfeitos, assim como Deus é.

Preocupa-me muito quando vejo evangélicos, que se dizem reformados, atacando os militantes pró-PL 122 sem mostrarem qualquer preocupação evangelística neste ataque. Preocupa-me muito quando vejo o homossexualismo ser condenado e não vejo blogueiros oferecendo alternativas ao pecado. Não vejo o amor ao inimigo em atitudes como essa.
Asia Bibi: cristã paquistanesa
condenada à morte  por blasfêmia

Preocupo-me ainda quando vejo blogueiros atacarem a militância gay com uma virilidade muito maior do que condenam os Estados que condenam cristãos à morte, como está acontecendo com a paquistanesa Asia Bibi. Defender a causa LGBTT é mais grave do que condenar cristãos à morte? Fala-se tanto na liberdade religiosa, mas por que não nos mobilizamos pela campanha Free to Believe, da Missão Portas Abertas? Onde estão os nossos manifestos pela liberdade religiosa dos cristãos perseguidos? Vamos sim defender a liberdade religiosa no Brasil nos colocando contra o PL 122, mas também vamos defender os nossos irmãos.

A apologética (defesa da fé) há sim que ser firme e sem concessões indevidas. Mas ela também precisa ser amorosa. A igreja não deve apenas condenar os pecadores, sejam eles quem forem. Precisa orar por eles, bendizê-los, tratá-los melhor do que eles nos tratam. Que possamos aprender com Jesus a conciliar o amor à verdade com o amor aos nossos inimigos de fé.

Quem quer saber de quem estou falando, pode ler outro post meu aqui.

Graça e paz do Senhor,

Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro

25 de novembro de 2010

Um dia para agradecer

Hoje alguns países e denominações cristãs comemoram o "Dia de ação de graças" (thanksgiving). Em tese, é um dia separado para celebrar a Deus pelas bênçãos derramadas ao longo do ano.
Descobri muito recentemente - ontem, pra falar a verdade - que a Igreja Presbiteriana do Brasil realiza cultos de ação de graça nesse dia, para acompanhar a idéia. Recebi a notícia, também, de que, em 1949, o Presidente Gaspar Dutra institui no Brasil o Dia Nacional de Ação de Graças - exatamente na quarta quinta-feira de Novembro, como é feito nos EUA e Canadá.
Como temos a tendência de desviar o foco das questões centrais, e de esquecer a razão de determinados eventos e tradições, é bom pensar sobre o assunto.
o primeiro thanksgiving - puritanos nos EUA
O dia de ação de graças não é apenas um momento para estar com a família e curtir um belo e recheado jantar. Trata-se de voltar nossos olhos para Deus, e responder ao Pai em gratidão e louvor pelo que tem feito entre nós.
O ato de agradecer é, em algum sentido, humilhante.
Primeiro ele é alter-centrado (se é que tal palavra existe). Agradecer é olhar para o outro e a ele dirigir minhas afeições e palavras. É, pelo menos por um minuto, não pensar em mim como o foco dos eventos ou o realizador das coisas, e dirigir a gratidão a quem, de fato, é. O agradecimento é libertador.
Agradecer também é humilhante porque nasce do reconhecimento de que alguém fez o que eu não fiz. Em alguns casos - especialmente relacionados a Deus - a consciência virá ainda mais forte: alguém fez o que eu não poderia fazer. E assim, em vez de ser tomado por inveja, eu amo o que foi feito e quem fez, respondendo em gratidão.
Agradecer a Deus pelas bênçãos de um ano inteiro é reconhecer a Sua soberania e controle sobre a História. Se O louvamos pelo que nos aconteceu em 2010, estamos reconhecendo que foi Ele quem decretou e/ou agiu diretamente nestes eventos.
Agradecer também pode revelar uma manifestação subjetiva de satisfação. Há falsos agradecimentos, é verdade. Mas a gratidão genuína brota de um coração satisfeito e envolvido emocionalmente. Tomados pelo amor e prazer em Deus, voltamos a Ele com palavras de louvor e agradecimento.
Somos desafiados a observar o ano de 2010 pelo prisma da Providência. Que bênçãos Ele tem derramado sobre nós? (Lembrem-se que "bênçãos" não são apenas os itens que nos agradam em curto prazo, mas coisas dolorosas que resultaram ou resultarão em nosso bem). Quando encaramos a realidade pelo ângulo correto, temos mais razões para um coração satisfeito em Deus, uma vida de gratidão, e baterias recarregadas para o que ainda vem.
Tenham todos um ótimo Dia de Ação de Graças. Happy Thanksgiving.

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Allen escreve no BJC e no EuCaso.com.

24 de novembro de 2010

Mas eu não sabia que era pecado!

Lutar contra o pecado é realmente algo muito difícil. E o problema já começa na definição. Para muitas pessoas, se a gente não mata, não rouba e não bebe, não pecamos. Outros vão além e identificam o pecado com uma transgressão dos Dez Mandamentos. O que, aliás, já é algo desanimador. Quem pode dizer que nunca mentiu ou tomou em vão o nome de Deus?

O problema é que pecar não é só quebrar os Dez Mandamentos. Na verdade, se quebrarmos a lei, ou seja, qualquer regra estipulada por Deus, pecamos:
Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei. (1 João 3:4)
Considerando que a maioria das pessoas sequer decorou os Dez Mandamentos, é muito grande a possibilidade de que todos nós, talvez, cometamos um pecado e sequer tenhamos consciência disso. Afinal, quem pode dizer, com toda a segurança do mundo, que decorou toda a Bíblia e sabe sempre, em todas as circunstâncias, o que fazer? Creio que ninguém pode fazer essa afirmação. O que nos deixa com um problema: o que fazer quando pecamos por ignorância?

A ignorância não anula o pecado
E aqui é uma boa hora para nos recordarmos de um princípio do Direito. Imagine que você ande por uma rodovia a 80 km/h, sem saber que o limite era de 60 km/h e aí um guarda de trânsito o pare. Não vai adiantar nada dizer ao agente que você desconhecia a regulamentação. O desconhecimento das leis humanas não nos livra de cumpri-las.
Art. 3º Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece. (Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro)

A ignorância ou má interpretação da lei não justifica a falta do seu cumprimento nem isenta as pessoas das sanções nelas estabelecidas. (Art.6º do Código Civil Português)
Se é assim com as leis humanas, a lei divina não deve ter um rigor menor. E, de fato, a Bíblia coloca com todas as letras que a ignorância não serve de desculpa para não cumprirmos as leis de Deus. As Escrituras reconhecem que há pecados por ignorância e o Antigo Testamento estipulava quais os sacrifícios que deveriam ser feitos nesses casos:
Se qualquer pessoa do povo da terra pecar por ignorância, por fazer alguma das coisas que o SENHOR ordenou se não fizessem, e se tornar culpada; ou se o pecado em que ela caiu lhe for notificado, trará por sua oferta uma cabra sem defeito, pelo pecado que cometeu. (Levítico 4:27-28)

Se alguma pessoa pecar por ignorância, apresentará uma cabra de um ano como oferta pelo pecado. O sacerdote fará expiação pela pessoa que errou, quando pecar por ignorância perante o SENHOR, fazendo expiação por ela, e lhe será perdoado. (Números 15:27-28)
Pode ser também que o pecado tenha acontecido não por ignorância, mas que o pecador a tenha cometido distraídamente, uma falta que lhe era oculta. Mesmo assim, quando o pecado oculto era notificado, o pecador tinha que acertar contas com Deus.
Quando alguém pecar nisto: tendo ouvido a voz da imprecação, sendo testemunha de um fato, por ter visto ou sabido e, contudo, não o revelar, levará a sua iniqüidade; ou quando alguém tocar em alguma coisa imunda, seja corpo morto de besta-fera imunda, seja corpo morto de animal imundo, seja corpo morto de réptil imundo, ainda que lhe fosse oculto, e tornar-se imundo, então, será culpado; ou quando tocar a imundícia de um homem, seja qual for a imundícia com que se faça imundo, e lhe for oculto, e o souber depois, será culpado; ou quando alguém jurar temerariamente com seus lábios fazer mal ou fazer bem, seja o que for que o homem pronuncie temerariamente com juramento, e lhe for oculto, e o souber depois, culpado será numa destas coisas. Será, pois, que, sendo culpado numa destas coisas, confessará aquilo em que pecou. (Levítico 5:1-5)
Logo, não importa se o pecado foi cometido por ignorância ou sem que nós soubéssemos. Aos olhos de Deus, todas as faltas, mesmo essas, são válidas e devem ser acertadas com Ele.

Cristo: a solução de todos os pecados
Hoje esse acerto não é feito mais por meio do sacrifício de animais. Esses sacrifícios eram apenas uma sombra do verdadeiro sacrifício que remove pecados, que foi aquele oferecido por Jesus Cristo na cruz:
Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção. Portanto, se o sangue de bodes e de touros e a cinza de uma novilha, aspergidos sobre os contaminados, os santificam, quanto à purificação da carne, muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo! (Hebreus 9:11-14)
Vale lembrar que a redenção obtida por Cristo é eterna e que purifica não só a carne, mas também a consciência de todas as nossas obras mortas. O sacrifício de Jesus não apenas remove a culpa, também nos purifica do pecado em si, fazendo com que nós deixemos de andar "nas trevas", para andarmos "na luz". Quando isso acontece, a Palavra diz que somos purificados de todos os pecados, o que inclui os ocultos e os cometidos na ignorância.
Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. (1 João 1:7)
Confessando os pecados
Todavia, esta promessa não é para todos. Assim como em Levítico, só é perdoado quem se reconhece como pecador e tem fé de que o sacrifício pode, de fato, remover a culpa. Só é beneficiado pelo sacrifício de Cristo quem reconhece, diante de Deus, as suas faltas e crê que a morte e a ressurreição de Jesus são suficientes para se obter o perdão.

E a confissão de pecados é uma forma adequada, tanto para admitirmos os nossos erros como para manifestarmos a nossa fé em Cristo. Por isso a Bíblia ensina:
Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós. (1 João 1:8-10)
Essa confissão deve ser feita diretamente a Deus. Não é preciso que nenhum padre, pastor ou sacerdote faça essa intermediação. Também não é preciso pagar penitências, Cristo já sofreu todo o castigo em nosso lugar.

Mas, como confessar um pecado que nós não sabemos qual é, e nem mesmo se o cometemos? Será que não é um excesso de preciosismo pedir perdão por pecados cometidos por ignorância ou ocultos? Bom, não é o que diria Jó. Ele não sabia tudo da vida dos filhos, mas fazia sacrifícios a Deus porque talvez eles tivessem pecado:
Decorrido o turno de dias de seus banquetes, chamava Jó a seus filhos e os santificava; levantava-se de madrugada e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles, pois dizia: Talvez tenham pecado os meus filhos e blasfemado contra Deus em seu coração. Assim o fazia Jó continuamente. (Jó 1:5)
Além disso, o rei Davi também pediu que Deus o perdoasse de seus pecados ocultos:
Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas. (Salmo 19:12)
A ignorância nunca é boa
Esses textos nos mostram que a ignorância não nos traz nenhuma vantagem diante de Deus. O ditado popular de que "a ignorância é uma bênção", além de errôneo, também se revela maligno, porque leva muitos cristãos a acharem que é melhor não conhecer a Bíblia para serem menos culpados. Pior: há quem ache que se as pessoas não conhecerem o Evangelho e a sua real culpa diante de Deus, então Deus as salvará...porque elas não sabiam que pecavam!

Assim como todos nós devemos conhecer as leis do nosso país para sermos cidadãos honestos e respeitáveis, também temos o dever de conhecermos as ordens e exigências do Deus vivo e verdadeiro. Quanto mais conhecimento de Deus tivermos, menos erros cometeremos e mais próximos estaremos do Senhor. Já quem foge da Bíblia, continuará aumentando seus pecados.

Claro que, como disse antes, ninguém sabe tudo. Por isso, independente do nosso conhecimento bíblico, todos nós devemos nos juntar a Davi e reconhecermos os nossos limites. Que possamos pedir perdão a Deus não apenas pelos nossos pecados inconscientes, mas também por todos aqueles que cometemos na nossa ignorância ou que permanecem ocultos.

Graça e paz do Senhor,

Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro

20 de novembro de 2010

Mas enchei-vos do Espírito

"E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito" Ef 5:18

O encher-se do Espírito marca a diferença entre uma vida cristã medíocre e insonsa e outra rica e plena de significado. Sem esse enchimento, o crente não viverá a realidade da vida cristã em sua plenitude, pensará que aquilo que já experimentou é tudo o que poderia experimentar. Por isso, o encher-se do Espírito é como um rio que separa a mediocridade da plenitude espiritual.

Sem a pretensão de aprofundar este importante tema, gostaria de refletir um pouco sobre este enchimento, começando com o que o precede.

O esvaziamento prévio é necessário

Paulo alerta "não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução". Chama atenção duas coisas aqui: a embriaguez (ou intoxicação) e a dissolução (ou desperdício). O vinho aqui não é o determinante, pois a pessoa pode se intoxicar com outra bebida ou substância e pode viver dissolutamente de forma abstêmica. O ponto de interesse aqui é o que controla a pessoa e por conseguinte determina suas atitudes e comportamento.

Penso que podemos considerar neste ponto o que enche a pessoa e a domina. No verso 22 do capítulo 4 Paulo ensina "quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano". Nada é mais embriagante que o próprio eu. O homem é inclinado naturalmente a envenenar-si de si mesmo.

Os resultados disso é uma vida caracterizada pela sonolência ao invés de iluminação (v.14), nesciedade em lugar de sabedoria (v.15), desperdício de tempo e insensatez ao invés de compreensão e realização da vontade do Senhor (v.16-17). Quando a natureza do homem está no controle, ele cambaleia como se estivesse vencido pelo vinho.

O enchimento é um mandamento

Por isso o encher-se do Espírito não é algo facultativo, mas um mandamento do Senhor. O esvaziar-se de si mesmo não é uma prerrogativa, mas uma necessidade para que "haja espaço" a ser ocupado pelo Espírito Santo.

Além disso, não é uma ordem a ser cumprida uma vez para a vida toda. É uma ordem que precisa ser seguida várias vezes, assim como os israelitas precisavam colher o maná diariamente e as virgens precisavam de suprimento extra de azeite, nós precisamos continuamente ser cheios do Espírito, na medida em que nossas reservas diminuem.

Ser cheio significa que todo nosso ser é tomado pelo Espírito. Ao invés de sermos dominados pelo nosso velho eu ou nos entregarmos ao controle externo das substâncias e coisas inebriantes, passamos a ser plenificados do Espírito, que passa a nos controlar e determinar nossas atitudes e ações.

O resultado é adoração e serviço

Vimos que há duas realidades separadas pelo encher do Espírito Santo. É uma ponte que vai da nesciedade e insensatez para a sabedoria e compreensão da vontade de Deus. Apesar disso, sabedoria e compreensão não são a finalidade do enchimento, mas meios para alcançar outros propósitos.

O primeiro e principal deles é nos levar à adoração apropriada. Paulo emenda o encher-se do Espírito com "falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo" (v.19-20). Não percamos isto de vista: o própósito principal de Deus ao nos encher com Seu Espírito é receber de nós uma melhor adoração.

Apontando para este propósito último temos o serviço ao nosso irmão. Percebemos isso na expressão "sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo" (v.21). Quando finalmente nos enchemos do Espírito, nos esvaziamos de nós mesmo e ao invés de servirmos aos nossos interesses, preocupamo-nos em ser úteis aos nossos irmãos.

Enchei-vos do Espírito é um imperativo e uma necessidade, se quisermos viver plenamente a realidade de Deus para nossas vidas.

Soli Deo Gloria

Clóvis Gonçalves é blogueiro do Cinco Solas e escreve no 5 Calvinistas às (vezes) segundas-feiras.

19 de novembro de 2010

UNIVERSIDADE MACKENZIE: EM DEFESA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO RELIGIOSA

A Universidade Presbiteriana Mackenzie vem recebendo ataques e críticas por um texto alegadamente “homofóbico” veiculado em seu site desde 2007. Nós, de várias denominações cristãs, vimos prestar solidariedade à instituição. Nós nos levantamos contra o uso indiscriminado do termo “homofobia”, que pretende aplicar-se tanto a assassinos, agressores e discriminadores de homossexuais quanto a líderes religiosos cristãos que, à luz da Escritura Sagrada, consideram a homossexualidade um pecado. Ora, nossa liberdade de consciência e de expressão não nos pode ser negada, nem confundida com violência. Consideramos que mencionar pecados para chamar os homens a um arrependimento voluntário é parte integrante do anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. Nenhum discurso de ódio pode se calcar na pregação do amor e da graça de Deus.

Como cristãos, temos o mandato bíblico de oferecer o Evangelho da salvação a todas as pessoas. Jesus Cristo morreu para salvar e reconciliar o ser humano com Deus. Cremos, de acordo com as Escrituras, que “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). Somos pecadores, todos nós. Não existe uma divisão entre “pecadores” e “não-pecadores”. A Bíblia apresenta longas listas de pecado e informa que sem o perdão de Deus o homem está perdido e condenado. Sabemos que são pecado: “prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, contendas, rivalidades, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias” (Gálatas 5.19). Em sua interpretação tradicional e histórica, as Escrituras judaico-cristãs tratam da conduta homossexual como um pecado, como demonstram os textos de Levítico 18.22, 1Coríntios 6.9-10, Romanos 1.18-32, entre outros. Se queremos o arrependimento e a conversão do perdido, precisamos nomear também esse pecado. Não desejamos mudança de comportamento por força de lei, mas sim, a conversão do coração. E a conversão do coração não passa por pressão externa, mas pela ação graciosa e persuasiva do Espírito Santo de Deus, que, como ensinou o Senhor Jesus Cristo, convence “do pecado, da justiça e do juízo” (João 16.8).

Queremos assim nos certificar de que a eventual aprovação de leis chamadas anti-homofobia não nos impedirá de estender esse convite livremente a todos, um convite que também pode ser recusado. Não somos a favor de nenhum tipo de lei que proíba a conduta homossexual; da mesma forma, somos contrários a qualquer lei que atente contra um princípio caro à sociedade brasileira: a liberdade de consciência. A Constituição Federal (artigo 5º) assegura que “todos são iguais perante a lei”, “estipula ser inviolável a liberdade de consciência e de crença” e “estipula que ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política”. Também nos opomos a qualquer força exterior – intimidação, ameaças, agressões verbais e físicas – que vise à mudança de mentalidades. Não aceitamos que a criminalização da opinião seja um instrumento válido para transformações sociais, pois, além de inconstitucional, fomenta uma indesejável onda de autoritarismo, ferindo as bases da democracia. Assim como não buscamos reprimir a conduta homossexual por esses meios coercivos, não queremos que os mesmos meios sejam utilizados para que deixemos de pregar o que cremos. Queremos manter nossa liberdade de anunciar o arrependimento e o perdão de Deus publicamente. Queremos sustentar nosso direito de abrir instituições de ensino confessionais, que reflitam a cosmovisão cristã. Queremos garantir que a comunidade religiosa possa exprimir-se sobre todos os assuntos importantes para a sociedade.

Manifestamos, portanto, nosso total apoio ao pronunciamento da Igreja Presbiteriana do Brasil publicado no ano de 2007 e reproduzido parcialmente, também em 2007, no site da Universidade Presbiteriana Mackenzie, por seu chanceler, Reverendo Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes. Se ativistas homossexuais pretendem criminalizar a postura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, devem se preparar para confrontar igualmente a Igreja Presbiteriana do Brasil, as igrejas evangélicas de todo o país, a Igreja Católica Apostólica Romana, a Congregação Judaica do Brasil e, em última instância, censurar as próprias Escrituras judaico-cristãs. Indivíduos, grupos religiosos e instituições têm o direito garantido por lei de expressar sua confessionalidade e sua consciência sujeitas à Palavra de Deus. Postamo-nos firmemente para que essa liberdade não nos seja tirada.


Este manifesto é uma criação coletiva com vistas a representar o pensamento cristão brasileiro.
Para ampla divulgação.

18 de novembro de 2010

Notas calvinistas sobre o mundo que nos cerca

Calvinistas também cantam

Eduardo Mano, blogueiro, cantor e compositor, lançou recentemente o CD "Velhas Verdades".
Este é um ótimo exemplo de boa música: bíblica, reformada, criativa e contemporânea.
Se você acha que ser calvinista é apenas curtir hinos e, no máximo, músicas do Logos e do VPC, vai descobrir um universo de boa teologia e bom som para além destes itens (para deixar claro: eu gosto de hinos, Logos, e Vencedores Por Cristo - mas não os idolatro, nem os elevo ao patamar de "definidores de um reformado").
Você pode baixar os mp3 ou comprar o CD no site do cantor.
É muito bom perceber calvinistas produzindo, tanto em termos ministeriais, quanto culturais. O calvinismo sempre alimentou isso.

Leia outras críticas sobre o CD "Velhas Verdades" aqui, e aqui.

Twitter do Cantor e Compositor: @eduardomano
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O singularismo dos pluralistas

O assunto da semana é a revolta dos homossexuais e seus defensores contra a Universidade Presbiteriana Mackenzie. Encontraram, no site da chancelaria, a posição oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil (mantenedora da Universidade) sobre o PLC 122/06 - a chamada "lei da mordaça" pelos cristãos, e lei contra a "homofobia", pelos homossexuais.
Como o Chanceler da Universidade endossa a posição oficial da mantenedora, obviamente, os homossexuais e grupos relacionados têm se manifestado furiosamente contra a Instituição. O agendamento social por parte destes setores é tão intenso, que alguns portais noticiaram a UPM como homofóbica.
A coisa caminha mais ou menos assim: estamos em um tempo de pluralismo - todos têm a sua verdade e o seu lugar na sociedade... menos os que não concordam com o pluralismo. Todos merecem tolerância e voz, menos aqueles que não concordam com a agenda politicamente correta. Todos podem manifestar suas preferências nas mais diversas áreas... desde que tais preferências não sejam bíblicas e conservadoras.
Ou seja: o pluralismo é um barco furado. Na prática, é mais uma estratégia de controle social e difusão da iniquidade do que a abertura do espaço público a todos.
O cristianismo bíblico é bem mais coerente, demonstrando amor, mesmo que manifestando discordância e denunciando pecados. Por causa da depravação total, os calvinistas não têm razão para pensarem ser melhores do que ninguém, mas por causa do Sola Scriptura, eles continuarão professando sua fé e regulando sua prática por aquilo que a Bíblia ensina.
O cristianismo bíblico sabe conjugar verdade e amor juntos.

Leia a análise do Rev. Ageu Magalhães aqui.

Twitter do Mackenzie: @mackenzie1870

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Allen Porto também escreve no BJC e no EuCaso.com

16 de novembro de 2010

Breve comentário sobre Mateus 5.20

Por isso vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus.

Almeida Revista e Atualizada.

Não seria nenhum exagero dizer que a passagem supracitada é o cerne do mais famoso discurso de Jesus, o Sermão do Monte, visto que é exatamente aqui que o Redentor nos avisa que não podemos exercer nenhum tipo de justiça fora dEle, pelo fato de ter sido Ele, e tão somente Ele, Aquele a quem o Pai enviou para cumprir toda a Lei, nada revogando desta (Mt 5.17)*. É por este motivo que jamais haveremos de entrar nos portais celestiais, a menos que estejamos alicerçados em Sua perfeita Justiça (obediência), pela qual importa que sejamos sarados (Is 53.5). Fora de Cristo, nossa justiça não passa de meros “trapos de imundícia” para Deus (Is 64.6).

Isto posto, é apropriado que também enxerguemos aqui a doutrina da união do fiel com o seu Senhor (União Mística), pois não há a mínima possibilidade de obtermos um veredicto favorável da parte de Deus se não estivermos totalmente unidos a Cristo. Sem tal união, não seríamos em nada diferentes dos ativistas religiosos hipócritas contra quem Jesus proferiu graves acusações, visto que ainda teríamos como essência da piedade a mera obediência externa. Somente em Cristo é que a nossa justiça consegue exceder a dos fariseus. Fora disso, estamos estabelecendo a nossa própria (cf. Rm 10.3).

É nisto que creio.

Soli Deo Gloria!

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* Nesse sentido, o referido texto também versa sobre a Humilhação do Redentor, que se submeteu à Lei para resgatar os que estavam sob ela, a fim de que recebessem a adoção de filhos (Gl 4.4,5).

15 de novembro de 2010

A lição esquecida

A raiz da violência está na falta de educação e na pobreza. Se os adolescentes tiverem uma boa formação escolar e acesso a bens de consumo, teremos resolvido a maioria dos casos de menores infratores. Este é o mantra repetido diariamente nas escolas e universidades brasileiras como sendo o remédio que o Brasil deveria adotar para acabar com todos os tipos de criminalidade, inclusive a infanto-juvenil.

No entanto, teimosamente, o noticiário insiste em desafiar a teoria. No último domingo, 14 de novembro, um grupo de quatro adolescentes e um jovem resolveu fazer três ataques a homens na região da Avenida Paulista. Segundo a Folha de São Paulo, tudo começou porque um adolescente do grupo teria sido alvo de um flerte homossexual por uma das vítimas. A reação terminou com quatro agredidos, uma noite na delegacia de polícia e pais envergonhados. Os alunos são todos de classe média e estudam em uma escola particular no Itaim-Bibi, "bairro nobre da região oeste de São Paulo". Certamente neste caso a educação e a economia não explicam o que aconteceu.

Vale lembrar que não se trata de um episódio isolado. Na semana passada, um aluno de uma escola técnica quebrou o braço e seis dentes de uma professora no Rio Grande do Sul porque recebeu uma nota baixa. Quem não se lembra dos jovens socialites cariocas que ficavam jogando ovos em transeuntes e prostitutas, divertindo-se com a certeza da impunidade de seu ato? Ou então dos jovens de Brasília (um deles menor de idade) que queimaram o índio Galdino em 1997? O problema, definitivamente, não é socioeconômico ou escolar. Mas é sim educacional.

Honrar: o mandamento esquecido
O que leva jovens e adolescentes a espancarem pessoas na rua, professores, transeuntes e chegarem a matar um índio que dormia na rua? A falta de consideração pelo ser humano? Com certeza. Mas a raiz é bem mais profunda. Vivemos em uma sociedade onde nem mesmo as autoridades são respeitadas, seja em casa, na escola, na igreja e até mesmo na política. Se não aprendemos a respeitar pais, professores e pastores, não teremos respeito por mais ninguém. Não é à toa que o primeiro dos Dez Mandamentos relacionados ao amor ao próximo fale exatamente sobre isso:
Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR teu Deus te dá. (Êxodo 20:12)
No Oriente, o conceito de "honra" ainda é muito valorizado na sociedade e pelas famílias. Por exemplo, um estudante japonês não passa no vestibular apenas para ter um futuro melhor. A aprovação é uma forma de honrar o esforço e os sacrifícios feitos pelos seus pais para que ele seja bem-sucedido.

No Brasil a história é diferente. Os "príncipes do povo" são pegos em escândalos de corrupção e se consideram honrados para continuar na vida pública. Famílias são desfeitas por adultérios, adolescentes são pegos em atos criminosos...e ninguém sente a sua honra atacada. Parece que a desonra só existe em sentido sexual...e olhe lá.

Por causa disso, as pessoas não sabem mais o que significa "honrar". No hebraico, a palavra tem o sentido de "dar o devido peso", "ter a devida consideração". A ideia é a de que os filhos devem reconhecer a autoridade dos pais e agir de acordo com esse reconhecimento. Isso pressupõe várias atitudes:

- Amor (afinal, só temos vida graças aos nossos pais, mesmo que eles nos abandonem);
- Gratidão (pela vida e por todos os sacrifícios feitos por eles);
- Respeito (porque, tendo vindo deles, os reconhecemos como sendo superiores a nós);
- Cortesia (boa educação e palavras respeitosas são a forma adequada de falarmos com eles);
- Obediência (porque eles são autoridade sobre nós, nós devemos nos submeter a eles).

E aí está a raiz deste tipo de violência: os brasileiros desaprenderam a honrar pais e mães. Não se ensina mais o que significa ser um pai ou uma mãe. Muitas vezes, os próprios pais abandonam o seu papel e fogem, pela porta do divórcio, dos vícios e até mesmo do trabalho. Isso quando eles não querem ser vistos pelos filhos como amigos, como mentores...menos como pais. Por causa disso, os filhos não sabem qual é "o peso" da paternidade e não têm a menor condição de honrar os seus pais.
Não basta estar junto, é preciso ensinar a honrar
É preciso, com urgência, que a palavra "honra" volte aos púlpitos de nossas igrejas e às nossas aulas de EBD. Honrada não é a menina virgem, é sim a menina e o menino que amam, respeitam e se submetem aos seus pais.

Pais: as autoridades esquecidas
Mas recuperar o conceito de honra não é suficiente: os pais também devem reaprender a exigir a honra que lhes é devida. Eles também devem refletir sobre o peso da paternidade e buscarem viver de acordo com suas responsabilidades. Antes de serem amigos dos filhos, os pais precisam compreender seu papel para saberem como se posicionar.

E o que isso significa? A Bíblia responde:
Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com promessa, para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra. E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor.(Efésios 6:1-3)
Em primeiro lugar, os pais precisam aprender a exigir obediência. Há afeto, há amor, há cumplicidade...mas também há hierarquia na relação entre pais e filhos. Especialmente até que eles atinjam à idade adulta, não se trata de um relacionamento entre iguais. Os pais têm que exigir que seus filhos se submetam a eles.
Autoridade sim, tirania não
Claro que autoridade não significa tirania. Por isso a Bíblia faz a advertência de que os pais não devem irritar os filhos. Não devem dar ordens absurdas ou irracionais, que possam prejudicar os filhos. Mas também não devem se omitir. A autoridade deve ser exercida da maneira correta

E isso nos leva ao segundo ponto. Os pais devem criar seus filhos na disciplina do Senhor. A palavra também pode ser traduzida por "educação" ou "instrução" e está ligada a ideia de discipulado. Um filho disciplinado é alguém que é educado para ser um discípulo, um seguidor do Senhor. Os filhos não são criados para fazerem o que quiserem, os pais devem criá-los para seguirem os mandamentos e ensinos de Deus. Para isso, os pais devem estudar a Bíblia e ensinar seus filhos a obedecerem o que está nas Escrituras.

Claro que haverá resistências. Por isso eles também devem ser criados na admoestação do Senhor. No grego a palavra também pode ser traduzida como aviso e repreensão. Ser autoridade é ter o dever de avisar, de repreender, de disciplinar, até mesmo de castigar os filhos para que eles andem de acordo com os mandamentos de Deus. Nem tudo pode ser resolvido com uma conversa cordial. Se os pais não falarem duro, não interferirem na vida de seus filhos, não tomarem medidas educativas, não proibirem e, dependendo do caso, não baterem...então eles não estarão dando o devido peso às suas responsabilidades paternas.

Dias prolongados: a promessa esquecida
Mas há mais um ensino bíblico que deve ser resgatado. A honra aos pais deve ser ensinada porque ela é uma bênção para os filhos. Quando eles honram aos pais, então Deus faz com que a vida deles seja melhor (te vá bem) e maior (sejas de longa vida). Sempre que a Palavra é obedecida, há uma recompensa.

E isso não é difícil de entender. Quando os filhos sabem dar o devido peso aos pais, eles terão a base para fazer o mesmo em outros relacionamentos. Isto porque eles saberão respeitar as autoridades e dar-lhes o devido peso. Assim, é de esperar que eles honrem não apenas professores e pastores, mas também os seus amigos, a sua escola, o seu emprego, seus cônjuges e até mesmo os estranhos. E isso se refletirá de várias formas: amor, gratidão, cordialidade, submissão...qualidades que são necessárias em tudo o que fazemos na vida.

Além disso, os conselhos dos pais nos livram de muitas encrencas. Quem aprende a respeitar as autoridades e a seguir as leis do Senhor, não será pego no papel de espancador. Não vai ficar menosprezando os demais ou cometer crimes. Vai evitar más companhias e locais perigosos. Vai até cuidar mais da saúde. Acaba tendo seus dias prolongados.

Claro que esta promessa é um princípio geral, mas que nem sempre se cumpre como queremos. Muitas vezes bons filhos são levados cedo pelo Senhor. Mas, embora não sejamos capazes de entender isso agora, a obediência deles será recompensada por Deus. Eles terão um destino melhor que o dos filhos que viveram desonrando a seus pais.

Precisamos entender, o quanto antes, essa lição esquecida. Fui pastor em uma região de baixo poder aquisitivo em Brasília, com sérios problemas de criminalidade e encontrei ali adolescentes e jovens que são exemplos de uma vida correta, submissos a seus pais. Encontrei o mesmo tipo de adolescente em lares do Plano Piloto, região nobre de Brasília. E nos dois contextos encontrei filhos rebeldes, que viviam dando problemas.

A violência não será vencida só com escolas e economia. Enquanto cada família não enfrentar a questão do caráter, enquanto não meditarmos seriamente sobre o quinto mandamento da Lei de Deus...não venceremos esta chaga do nosso país. Que possamos ser como Jesus, pois Ele, mesmo sendo Filho de Deus, foi submisso a seus pais:
E desceu com eles para Nazaré; e era-lhes submisso. Sua mãe, porém, guardava todas estas coisas no coração. (Lucas 2:51)
Que possamos imitar o exemplo do nosso Deus e Senhor. Aleluia!

Graça e paz do Senhor,

Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro