26 de outubro de 2010

As igrejas têm o direito de falar!

As eleições de 2010 certamente marcarão uma mudança na forma como as igrejas evangélicas participarão da política brasileira de agora em diante. Até agora, os evangélicos eram mais lembrados pela eleição de deputados e pouco considerados em eleições majoritárias (exceto no Rio de Janeiro, onde Anthony Garotinho e Marcelo Crivella conseguiram ser eleitos governador e senador, respectivamente). Mas em 2010 foi a primeira vez em que os evangélicos ocuparam um papel de destaque nas eleições presidenciais, inclusive colocando temas religiosos na campanha, como o aborto.

Mas, até onde a Igreja pode interferir em uma eleição? Se há uma separação entre a Igreja e o Estado, ela pode dizer o que o Estado deve fazer? A Igreja pode indicar algum candidato ou não recomendar o voto em alguém? Todas estas perguntas foram levantadas em 2010 e causam polêmica na sociedade. Respondê-las pode parecer irrelevante para algumas pessoas...mas a forma como nos posicionamos diante destas questões diz muito sobre como nós enxergamos qual o verdadeiro papel dos cristãos neste mundo.
A forma como você crê determina a forma como você vê e vive
O "não-posicionamento"
A postura mais aceita na sociedade é a do não-posicionamento. Os fiéis, individualmente, podem se posicionar, mas as igrejas não. É o ponto de vista que foi defendido por Frei Betto, em uma entrevista para a Folha de São Paulo em 23/10/2010:
FOLHA: Como o sr. vê a participação direta de bispos, padres e pastores na campanha, pregando contra ou a favor de um ou outro candidato?

FREI BETTO: Eu defendo o direito de que qualquer cidadão brasileiro, seja bispo, seja até o papa, tenha a sua posição e a manifeste. O que considero um abuso é, em nome de uma instituição como a Igreja, como a CNBB, alguém se posicionar tentando direcionar o eleitorado. Eu, por exemplo, posso, como Frei Betto, manifestar a minha preferência eleitoral. Mas não posso, como a Ordem Dominicana à qual eu pertenço, dizer uma palavra sobre isso. Considero um abuso.
Frei Betto vai além. Para ele, a discussão de temas religiosos é um oportunismo, algo que não é tão importante para o país:
FOLHA: Pelo que se supõe, já que não há muita clareza nos candidatos, nem Dilma nem Serra são favoráveis ao aborto em si, mas ambos parecem abertos a discutir sua descriminalização. Por que é tão difícil para ambos debater esse tema com clareza e honestidade?

FREI BETTO: Porque é um tema que os surpreende. Não é um tema fundamental numa campanha presidencial. É um vírus oportunista, numa campanha em que você tem que discutir a infraestutura do país, os programas sociais, a questão energética, a preservação ambiental. Entendo que eles se sintam constrangidos a ter que se calar diante dos temas importantes para a nação brasileira e entrar num viés que infelizmente está plantando no Brasil as sementes de um possível fundamentalismo religioso.
Embora Frei Betto seja católico, seu ponto de vista mostra um desprezo muito grande pela religião. As instituições religiosas não devem opinar e sua agenda não é importante. Quando a sociedade vai discutir valores ou questões éticas, atendendo ao apelo das igrejas, ela se desvia do "principal" e as igrejas se tornam "fundamentalistas".

Quadro de Giovanni Fattori mostrando João Batista repreendendo Herodes
O exemplo dos profetas
A melhor resposta que pode ser dada ao frei está na figura dos profetas. Ao longo de todo o Antigo Testamento, os profetas repreenderam reis e poderosos, denunciaram crimes e colocaram temas religiosos na agenda política de Israel. Quando faziam isso, os profetas não falavam apenas em seu próprio nome...mas sim no nome de Deus. A fala deles era, portanto, mais do que um posicionamento institucional...era revestida da autoridade do próprio Deus e deveria ser observada pelo povo.

Um exemplo interessante é a questão das leis. Dentro de um ponto de vista laico ou extremamente legalista (no sentido jurídico), não cabe ã Igreja julgar leis, e sim os seus fiéis. Mas não era o que pensava Isaías:
Ai dos que decretam leis injustas, dos que escrevem leis de opressão, para negarem justiça aos pobres, para arrebatarem o direito aos aflitos do meu povo, a fim de despojarem as viúvas e roubarem os órfãos! (Isaías 10:1-2)
O "ai" vai para os legisladores, mas as leis são avaliadas por Deus. O profeta se levanta, por exemplo, contra as leis que promovem injustiça contra os pobres, os órfãos e as viúvas. O profeta Amós proclama o juízo de Deus por causa de um imposto cobrado sobre o trigo:
Portanto, visto que pisais o pobre e dele exigis tributo de trigo, não habitareis nas casas de pedras lavradas que tendes edificado; nem bebereis do vinho das vides desejáveis que tendes plantado. (Amós 5:11)
Até mesmo as alianças feitas com outros países eram criticadas pelos profetas:
Depois disto, Josafá, rei de Judá, se aliou com Acazias, rei de Israel, que procedeu iniquamente. Aliou-se com ele, para fazerem navios que fossem a Társis; e fizeram os navios em Eziom-Geber. Porém Eliézer, filho de Dodavá, de Maressa, profetizou contra Josafá, dizendo: Porquanto te aliaste com Acazias, o SENHOR destruiu as tuas obras. E os navios se quebraram e não puderam ir a Társis. (2 Crônicas 20:25-27)
Estes textos mostram que a Igreja pode sim se posicionar, biblicamente, sobre a agenda política do país. A Igreja pode denunciar os pecados dos governantes, as leis injustas, os impostos opressivos e até mesmo sobre política externa. Não é preciso ficar calado e deixar que o debate seja feito por outros segmentos sociais: Deus também tem algo a dizer sobre estes assuntos e cabe ao Seu povo refletir a voz divina. O mesmo pode ser dito sobre autoridades. A base do ensino bíblico é a de que as autoridades, mesmo as ímpias (como era o Império Romano nos dias dos apóstolos) devem ser respeitadas:
Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. (Romanos 13:1)
No entanto, em circunstâncias específicas, alguns profetas foram usados por Deus até mesmo para dar golpes de Estado e derrubar governantes impiedosos:
Então, o profeta Eliseu chamou um dos discípulos dos profetas e lhe disse: Cinge os lombos, leva contigo este vaso de azeite e vai-te a Ramote-Gileade; em lá chegando, vê onde está Jeú, filho de Josafá, filho de Ninsi; entra, e faze-o levantar-se do meio de seus irmãos, e leva-o à câmara interior. Toma o vaso de azeite, derrama-lho sobre a cabeça e dize: Assim diz o SENHOR: Ungi-te rei sobre Israel. Então, abre a porta, foge e não te detenhas. Foi, pois, o moço, o jovem profeta, a Ramote-Gileade. Entrando ele, eis que os capitães do exército estavam assentados; ele disse: Capitão, tenho mensagem que te dizer. Perguntou-lhe Jeú: A qual de todos nós? Respondeu-lhe ele: A ti, capitão! Então, se levantou Jeú e entrou na casa; o jovem derramou-lhe o azeite sobre a cabeça e lhe disse: Assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Ungi-te rei sobre o povo do SENHOR, sobre Israel. Ferirás a casa de Acabe, teu senhor, para que eu vingue da mão de Jezabel o sangue de meus servos, os profetas, e o sangue de todos os servos do SENHOR. Toda a casa de Acabe perecerá; exterminarei de Acabe todos do sexo masculino, quer escravo, quer livre, em Israel. Porque farei à casa de Acabe como à casa de Jeroboão, filho de Nebate, e como à casa de Baasa, filho de Aías. Os cães devorarão Jezabel no campo de Jezreel; não haverá quem a enterre. Dito isto, abriu a porta e fugiu. (2 Reis 9:1-10)
Logo, o respeito às autoridades não anula o dever cristão de criticá-las quando elas erram (oposição) e até mesmo de derrubá-las em situações excepcionais (o caso de Jeú e Acabe não é o único). Desta maneira, dependendo da circunstância, as igrejas podem sim se colocar contra candidatos ou autoridades que defendam pontos de vista opostos aos bíblicos.

E isso vale até mesmo para questões de "foro íntimo". No Novo Testamento, João Batista tornou-se inimigo do rei Herodes porque denunciava os pecados reais, especialmente as suas relações com a sua cunhada Herodias. E, por causa disso, o profeta acabou virando mártir:
Por aquele tempo, ouviu o tetrarca Herodes a fama de Jesus e disse aos que o serviam: Este é João Batista; ele ressuscitou dos mortos, e, por isso, nele operam forças miraculosas. Porque Herodes, havendo prendido e atado a João, o metera no cárcere, por causa de Herodias, mulher de Filipe, seu irmão; pois João lhe dizia: Não te é lícito possuí-la. E, querendo matá-lo, temia o povo, porque o tinham como profeta. Ora, tendo chegado o dia natalício de Herodes, dançou a filha de Herodias diante de todos e agradou a Herodes. Pelo que prometeu, com juramento, dar-lhe o que pedisse. Então, ela, instigada por sua mãe, disse: Dá-me, aqui, num prato, a cabeça de João Batista. Entristeceu-se o rei, mas, por causa do juramento e dos que estavam com ele à mesa, determinou que lha dessem; e deu ordens e decapitou a João no cárcere. Foi trazida a cabeça num prato e dada à jovem, que a levou a sua mãe. Então, vieram os seus discípulos, levaram o corpo e o sepultaram; depois, foram e o anunciaram a Jesus. (Mateus 14:1-12)
A verdade é que não há um assunto político que deva ser um tabu para as igrejas, desde que exista uma base bíblica clara e consistente para tratar a matéria.

Os limites
Contudo, isso não significa que a Igreja deva assumir o papel do Estado e comece, ela mesma, a legislar e julgar as pessoas. A teocracia não é o caminho, como já falei em outro post. A Igreja deve influenciar, nunca impor. E esta influência deve acontecer em cima de bases e princípios bíblicos claros e estabelecidos. Nos assuntos em que a Bíblia se cala, a Igreja deve se calar também. Naqueles assuntos onde as Escrituras não são claras, os posicionamentos devem ser cautelosos.

O verdadeiro limite para a liberdade de pensamento e opinião política dentro da verdadeira Igreja de Cristo (na sociedade a liberdade deve ser ampla) deveria ser este: a Bíblia. Naqueles assuntos onde o ensino bíblico é claro (como, por exemplo, no papel dos governos), nem os cristãos e nem a instituição Igreja deveriam ter vergonha de se posicionar. E se os assuntos são mencionados na Escritura, a Palavra de Deus, não é um frei quem vai desconsiderá-los como sendo sem importância.


A Bíblia: a única regra de fé e prática do protestante e também de suas instituições
Contudo, isso não significa que a instituição Igreja também deva ir para o outro lado e apoiar formalmente candidatos, especialmente quando esse apoio é dado como moeda de troca e não em cima de um programa de governo. Mas, dependendo da circunstância e das opções que estão em jogo, apoiar algum candidato também não é um erro. Aliás, em alguns casos, a omissão é que é o pecado.

Que circunstâncias justificariam as excepcionalidades? Governos ou candidatos que ameacem a liberdade religiosa e a pregação do Evangelho, com certeza devem ser combatidos. Fora isso, entendo que é preciso uma discussão maior por parte de todo o povo de Deus para uma melhor definição.

Se este é o caso das eleições de 2010? Ao meu ver, sim. Embora as igrejas evangélicas históricas não tenham se posicionado, vários pastores e personalidades protestantes têm declarado abertamente o seu voto. Para alguns, como Frei Betto, isso é um oportunismo. Mas não creio que seja este o caso de homens como Solano Portela e Geremias do Couto. Quanto ao meu posicionamento, ele pode ser conferido clicando aqui.

Que possamos aprender, especialmente os reformados, a pautarmos as nossas discussões e decisões políticas pelos ensinos da Escritura Sagrada e não pela opinião dos teólogos "da moda". Que a Bíblia seja não apenas regra de fé, mas também de prática...inclusive na política.

Graça e paz do Senhor,

Rev. Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro

P.S: Já está avisado no blog, mas não custa repetir que este post reflete um ponto de vista pessoal.

19 de outubro de 2010

Celibatário ou abrasado?

Quero que todos os homens sejam tais como também eu sou; no entanto, cada um tem de Deus o seu próprio dom; um, na verdade, de um modo; outro, de outro. E aos solteiros e viúvos digo que lhes seria bom se permanecessem no estado em que também eu vivo. Caso, porém, não se dominem, que se casem; porque é melhor casar do que viver abrasado. (1 Coríntios 7:7-9)

O que realmente eu quero é que estejais livres de preocupações. Quem não é casado cuida das coisas do Senhor, de como agradar ao Senhor; mas o que se casou cuida das coisas do mundo, de como agradar à esposa, e assim está dividido. Também a mulher, tanto a viúva como a virgem, cuida das coisas do Senhor, para ser santa, assim no corpo como no espírito; a que se casou, porém, se preocupa com as coisas do mundo, de como agradar ao marido. Digo isto em favor dos vossos próprios interesses; não que eu pretenda enredar-vos, mas somente para o que é decoroso e vos facilite o consagrar-vos, desimpedidamente, ao Senhor. Entretanto, se alguém julga que trata sem decoro a sua filha, estando já a passar-lhe a flor da idade, e as circunstâncias o exigem, faça o que quiser. Não peca; que se casem. Todavia, o que está firme em seu coração, não tendo necessidade, mas domínio sobre o seu próprio arbítrio, e isto bem firmado no seu ânimo, para conservar virgem a sua filha, bem fará. E, assim, quem casa a sua filha virgem faz bem; quem não a casa faz melhor. (1 Coríntios 7:32-38)
Quando se fala em relacionamentos, com certeza o celibato é o assunto menos tocado e explorado nas igrejas cristãs. Mesmo nas igrejas católicas, quando os fiéis querem saber sobre celibato é para discutir o seu fim...pelo menos para padres e freiras. No entanto, há ótimas razões pelas quais deveríamos refletir sobre este tema.

Em primeiro lugar porque a quantidade de homens e mulheres não é a mesma. Se o padrão bíblico é o de um homem para uma mulher, fica óbvio que, na melhor das hipóteses, sobrarão mulheres. Se o universo for reduzido às igrejas cristãs, a diferença costuma ser ainda maior.

Em segundo lugar porque um número cada vez maior de pessoas têm rejeitado o casamento e optado por ficarem solteiros pelas razões erradas. Viver tendo relações sexuais esporádicas ou casos sem compromisso, casais amaziados e inúmeros outros arranjos sentimentais são vistos pelos cristãos como alternativas melhores ao casamento. O celibato...bom, quem cogita que a vontade de Deus para a sua vida seja o celibato?

Como o mundo vê o celibato
Em terceiro lugar porque é visível o aumento no número de cristãos que ficam sozinhos e castos...também por motivos errados. Pessoas que, na prática, são celibatárias, porque se decepcionaram com relacionamentos afetivos ou não acharam alguém que satisfizesse seus requisitos ou que simplesmente "sobraram" e se sentem sozinhas e frustradas.

E o que todas estas pessoas precisam aprender sobre o celibato?

O celibato é bom
Vou começar pelo mais chocante. Ser celibatário não é um castigo, uma prisão ou uma maldição lançada por Deus para oprimir alguns de seus filhos. O ensino bíblico é o de que o celibato pode ser algo bom. Vamos reler 1 Coríntios 7:7-8.
Quero que todos os homens sejam tais como também eu sou; no entanto, cada um tem de Deus o seu próprio dom; um, na verdade, de um modo; outro, de outro. E aos solteiros e viúvos digo que lhes seria bom se permanecessem no estado em que também eu vivo.
Aqui, o apóstolo Paulo diz que ele quer, ele deseja, que todas as pessoas sejam como ele era: celibatário. Aliás, Paulo não foi o único: Jesus, o exemplo supremo para a Igreja viveu no celibato. Mais do que isso, Paulo diz aos solteiros e viúvos que seria bom se eles permanecessem sozinhos.

Muitos (e eu sou um dos que mais incorrem neste erro) constroem os seus ideais de segurança, felicidade e bem-estar em cima de outras pessoas. Se uma outra pessoa nos acha especiais ou importantes, ficamos felizes. Se a pessoa amada ou desejada nos despreza, ficamos abalados ou com orgulho ferido, e ou desabamos em choro ou tentamos mostrar a ela o quanto nós somos bons, desejáveis e "não precisamos dela".

O verdadeiro celibatário mostra que o nosso valor independe do que as pessoas acham de nós. Mostra que um ser humano pode ter uma vida significativa mesmo sem um casamento. Ajuda os casados a não colocarem os seus casamentos como ídolos, como fontes de bênçãos e satisfações que apenas Deus pode dar ao ser humano. Mais do que isso: o celibatário mostra que o sexo não é necessário para uma vida plena e feliz.

Celibato não é viver abrasado
Esse é exatamente o ensino de 1 Coríntios 7:9, quando afrima que casar é melhor do que viver abrasado. Viver abrasado, em fogo...é viver uma vida cheia de desejos e práticas sexuais impróprias. Vai desde o adolescente que arde em masturbações até os jovens adultos que vivem debaixo do mesmo teto, tendo relações sexuais e não decidem se casar..sem se esquecer dos adúlteros e dos que se divorciam por sexo ou "amor". Segundo a Bíblia, estes são os que vivem em pior situação.

Afinal, a Bíblia diz que ser celibatário é melhor do que casar (vou explicar isso no próximo ponto). E que casar é melhor do que viver abrasado. Logo, a ausência de relações sexuais é uma parte obrigatória do verdadeiro celibato.

Eu acho até compreensível que muitos considerem a vida abrasada a melhor opção. Afinal, prazer sem compromissos e cobranças parece uma tentação atraente. No entanto, isso também significa relacionamentos mais vazios e superficiais e pessoas mais egoístas, que gostam de usufruir do corpo das pessoas mas não querem se doar para ajudá-las a crescerem, a amadurecerem, a enfrentarem as dificuldades da vida e serem felizes. Mesmo no concubinato, a vida abrasada ainda mostra a rebeldia do coração humano em se sujeitar às leis de Deus.

Hoje o celibatário tem uma mensagem poderosa para anunciar ao Ocidente: sexo não é tudo! Não precisamos de sexo para sermos felizes. Uma vida humana não é mais plena por causa de sexo! Parece impossível...mas sim...é perfeitamente possível termos uma vida significativa sem pornografia, masturbação, fornicação ou outras imoralidades sexuais. O sexo não controla a nossa vida!

O celibatário vive para Deus
Mas, se nem o casamento e nem o sexo determinam o valor e a felicidade de um ser humano, o que define? A resposta bíblica é simples: a glória de Deus. O celibato é melhor que o casamento por uma razão muito simples:
O que realmente eu quero é que estejais livres de preocupações. Quem não é casado cuida das coisas do Senhor, de como agradar ao Senhor; mas o que se casou cuida das coisas do mundo, de como agradar à esposa, e assim está dividido. Também a mulher, tanto a viúva como a virgem, cuida das coisas do Senhor, para ser santa, assim no corpo como no espírito; a que se casou, porém, se preocupa com as coisas do mundo, de como agradar ao marido. (1 Coríntios 7:32-34)
O verdadeiro celibatário não é aquele que usa o seu tempo livre, o seu dinheiro, a sua ausência de preocupações...para servir a si mesmo ou aos seus prazeres pecaminosos (viver abrasado). O verdadeiro celibatário é aquele que devota a sua vida para o serviço a Deus. É alguém que usa o seu tempo livre, o seu dinheiro extra e todas as vantagens da solidão para estar mais próximo de Deus.

E aqui vem uma aplicação incômoda. O celibato, assim como o casamento, é um dom de Deus (1 Coríntios 7:7). É a escolha deliberada de um tipo de vida. Ficar solteiro para ter mais tempo para si mesmo ou para não se desgastar com outras pessoas...é egoísmo, e não celibato. Ficar só, mas morrendo de raiva ou de tristeza porque não se casou não é celibato. Não há nada de nobre no egoísmo, na incredulidade ou no sentimento de que Deus se esqueceu de nossos desejos (casamento é desejo, não necessidade).

Na verdade, o que vive abrasado é o mais infeliz porque vive para si. Os que se casam são melhores porque vivem para servir ao próximo, mais especificamente a família (cônjuge e filhos). O celibatário é ainda melhor porque pode se dedicar de um modo muito especial Àquele que, efetivamente, define a nossa vida, o nosso valor e a nossa felicidade: Deus.

Uma pergunta que todos devem se fazer
Deus chama os seres humanos para uma vida de serviço ao outro, e não para uma vida de egoísmo. Um chamado que só é atendido de modo pleno pelos Seus filhos, seja no contexto do casamento ou do celibato. Ambos devem pregar com suas vidas o quanto as pessoas (família) e Deus são importantes. Uma mensagem que só é eficaz se tivermos casados e celibatários.

Por isso, todo cristão deveria orar e perguntar a Deus qual o seu dom: casamento ou celibato. E se a resposta for "celibato", é preciso que a Igreja volte a aprender a nobreza e a importância deste dom. É preciso que aprendamos com os celibatários qual deve ser a verdadeira razão de nossa vida: servir a Deus.

O teólogo anglicano John Stott é celibatário e dedicou sua vida a conhecer e explicar as Escrituras
Este foi o modelo dado por Jesus. Ele não teve esposa e filhos, mas viveu para amar intensamente a Deus e a todos quantos O buscaram. Dedicou-se por nós mais do que Tristão por Isolda ou do que a mais prestimosa das mães fez por seu filho(a) favorito(a). E Deus o tornou maior do que todos os pais e maridos da face da Terra. De todos, tenho certeza, ninguém foi mais feliz do que Cristo.

Que possamos aprender com Jesus, com Paulo, com John Stott e com todos os verdadeiros celibatários qual o real valor e propósito de nossa vida: a glória de Deus! Amém. Glórias sejam dadas ao Senhor!

15 de outubro de 2010

5Calvinistas Internacional - [International Five Calvinists]

Não, não são os Jackson Five. São os "Five Calvinists" mesmo, hehe.

A partir de amanhã os 5Calvinistas passam a ter um correspondente internacional. O Nosso representante no Centro-Oeste, o Rev. Helder Nozima - de longe a pessoa que mais escreve neste blog - viajará a serviço para um país na África.
Dois Calvinistas: Allen (Nordeste) e Helder (Centro-Oeste), numa foto aparentemente tirada na década de 80... =p


Isso significa dizer que, provevelmente, em breve teremos posts do além-mar. E assim seguimos honrando a Deus intercontinentalmente.

Desejamos uma ótima viagem ao Calvinista, e ficaremos em oração pelo cumprimento de sua vocação por lá, até o seu retorno.

Deus o abençoe, Rev. Helder!

Todos os leitores são convidados a rogar a Deus pela viagem do nosso brother. Incusive você. Porque calvinistas oram uns pelos outros, crendo no Deus soberano.

Leia os posts do Rev. Helder.

9 de outubro de 2010

Deus, aborto e família: por que não?

As eleições presidenciais de 2010 no Brasil já entraram para a História como sendo as primeiras em que os evangélicos ocupam um papel de destaque. Atribui-se ao voto evangélico a votação expressiva da candidata Marina Silva e a realização de um segundo turno, disputado entre os candidatos Dilma Rousseff e José Serra. E uma das conseqüências deste fato é a discussão de temas pouco comuns na campanha, como Deus, aborto e família.

O que, na opinião do jornalista Maurício Stycer, é um completo desastre. No post Eleições em nome Dele, Stycer reproduz a matéria Brasil regride séculos com programa eleitoral sobre Deus, aborto e família, onde ele faz algumas afirmações "dignas" de nota:
De um lado Dilma, de outro Serra. No meio, “a família brasileira”, esta entidade abstrata, a quem os dois candidatos resolveram se dirigir com promessas de “respeito à vida” e a Deus, como se o Brasil vivesse uma era de obscurantismo e perseguição religiosa.

Um atraso de séculos, dramatizado pelo discurso dos dois candidatos e de apelações variadas.

Um desastre. Num Estado laico e democrático, é assustador ouvir os candidatos à Presidência da República recorrerem a Deus para conseguir votos.
Mas, será que o jornalista está com a razão?

Um Estado laico não é igual a um Estado ateu
Começo dizendo que o caráter laico do Estado não significa tornar "Deus" ou "religião" assuntos tabus, proibidos, que jamais devem ser discutidos por agentes públicos. Tanto que o nome de Deus é mencionado no preâmbulo da Constituição Federal:
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. (grifo meu)
No artigo 5º que trata dos direitos fundamentais, encontramos a base legal para que o Estado  (laico) promova, por exemplo, concursos públicos para capelães nas Forças Armadas:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;
Stycer comete o mesmo erro que o jornalista Reinaldo Azevedo aponta em ação do Ministério Público Federal que quer proibir a realização de um concurso para capelães das Forças Armadas. Ao comentar sobre a ação, Reinaldo Azevedo diz:
Estado e Igreja estão separados no Brasil desde a República, e as relações têm sido harmônicas. Mas uma coisa a doutora Luciana Loureiro Oliveira não consegue negar, não é? O Brasil é um país esmagadoramente cristão, dividido em várias confissões, sendo a católica a majoritária.

Laicismo não pode se confundir com perseguição religiosa. Os sem-religião nas Forças Armadas não estarão submetidos a nenhum constrangimento — não receberão orientação nenhuma se não quiserem. Atender à maioria, nesse caso, não significa retirar direitos, então, da “minoria”.
Da mesma forma, falar sobre Deus na campanha não significa ferir o caráter laico do Estado. Nem Serra e nem Dilma estão defendendo que o Estado assuma um caráter confessional ou faça uma lei declarando a existência de Deus. Igreja e Estado continuam separados.


O Brasil teria regredido séculos é se fosse proibido discutir Deus na campanha. Aí sim estaríamos em uma idade de trevas, onde não seria mais possível discutir certos assuntos!

O povo não pode escolher a agenda política?
Aliás, se a democracia é o governo feito pelo povo, o fato do povo escolher que temas devem ser discutidos deveria ser louvado. Jornalistas e políticos estão acostumados a pautarem as discussões da sociedade (o famoso agenda setting), mas parece não aceitarem muito bem quando ela mesma coloca a sua própria agenda na pauta da imprensa e das campanhas políticas.

Entendo que a eleição de um(a) presidente da República envolva sim a discussão de vários temas relevantes para o país. Sei que nem todos são discutidos adequadamente...eu gostaria de ver, por exemplo, uma reestruturação dos impostos (reforma tributária) ser mais discutida. Mas um dos pilares da democracia é a convicção de que o povo é capaz de eleger seus governantes. Se somos capazes para nomeá-los, por que não somos capazes de perguntarmos o que nos interessa?

Valores também devem ser discutidos
Por fim, a mim me parece que a visão de Stycer exclui os valores mais importantes da campanha política. A impressão é a de que deveríamos discutir programas, ações...mas não valores e princípios. Sim, porque crenças e questões éticas estão diretamente relacionadas a princípios...os quais, por sua vez, acabam determinando as ações que serão tomadas.

A esmagadora maioria do Brasil acredita na existência de Deus. Para estas pessoas, Deus é um dos assuntos mais importantes de sua vida. No caso dos evangélicos, Deus é o tema mais proeminente de todos, o que determina tudo o que fazemos, como está escrito:
Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus. (1 Coríntios 10:31)

Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém! (Romanos 11:36)
Falar de aborto é falar, nada mais, nada menos, na vida humana. Será que este não é um assunto importante? Com a palavra, o cardeal-arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer:
“Eu acredito que é bom que a questão do aborto seja também levada em consideração dentro dos debates políticos. É uma questão que merece consideração política. Ou a vida humana seria tão desprezível que não merece consideração política?”, afirmou o cardeal em coletiva sobre a “Semana Nacional da Vida”, no Amparo Maternal, em São Paulo. “Acho que é desejo dos eleitores que os candidatos tenham posições claras e coerentes com aquilo que de fato pretendem levar adiante”, acrescentou. (Matéria de André Mascarenhas, do Estado de São Paulo, que pode ser lida aqui).
Quanto à família, ela ainda é vista pela maioria das pessoas no Brasil como sendo a base da sociedade. É um dos assuntos que toca a maioria dos brasileiros de modo mais direto, porque envolve falar de casamento, paternidade e maternidade, adoção de filhos, cuidado com os mais idosos, abandono de crianças, divórcio, entre outros. Quem, em sã consciência, não acharia importante discutir este assunto?

Claro que, ao meu ver, o Estado não deve se intrometer na vida das famílias. Mas, ao aprovar leis como a Lei Maria da Penha (de violência doméstica contra às mulheres) ou a que tornou o divórcio um processo muito mais rápido, o Estado acaba sim influenciando as famílias brasileiras com suas decisões. Se tal assunto não é importante para o Sr. Maurício Stycer, para este pastor presbiteriano e outros milhões de evangélicos, trata-se de um dos temas cruciais que devem ocupar a mente dos brasileiros no século XXI.

Voltar no tempo?
No mais, encerro dizendo que Stycer comete um erro típico de uma sociedade relativista. Tudo pode ser discutido e debatido...menos os assuntos que interessam às igrejas cristãs. As idéias de outros parecem ser recebidas como naturais e próprias ao tempo...mas quando os cristãos querem discutir o que é relevante para nós...então a sociedade está regredindo séculos e caindo em uma era de obscurantismo.

Eu é que proponho ao jornalista que deixe um pouco de luz entrar em sua mente e mostre um pouco mais de respeito aos milhões de cristãos deste país que valorizam Deus, a vida humana e a família.

8 de outubro de 2010

No que alguém deve crer para ser chamado de calvinista?

Essa foi uma pergunta que me fizeram lá no Formspring.me. Achei por bem postar minha resposta aqui.

Douglas,

Muito boa essa sua pergunta!

Veja bem. Já que o requisito para ser calvinista não é o mesmo que para ser salvo (porque se fosse já não seria mais pela Graça*), podemos dizer que para ser calvinista uma pessoa deve, sim, crer e defender algumas doutrinas distintivas do sistema teológico que ficou conhecido como "reformado", sistema este oriundo de João Calvino e seus sucessores (no contexto mais imediato, os puritanos).

Entretanto, uma vez que não há consenso entre os calvinistas sobre certos aspectos desta mesma fé (como por exemplo no campo da escatologia, pneumatologia e eclesiologia, somente para citar os mais relevantes), restringimos o termo àqueles que creem e defendem a soteriologia reformada, que foi historicamente resumida em cinco artigos - os famosos "Cinco pontos do Calvinismo". Isso é o mínimo que todo bom calvinista deve conhecer, defender e pregar (mesmo que ele depois acabe se enroscando, por exemplo, em questões envolvendo a ordem dos decretos - supralapsarianismo x infralapsarianismo).

Mas é óbvio que o calvinismo não é somente doutrina - ele também é vida! Não apenas ortodoxia, mas sobretudo ortopraxia. E que ninguém ouse afirmar que é um legítimo calvinista se não viver o que prega o legítimo calvinismo, pois, como diria um dos calvinistas mais ilustres de todos os tempos, Charles Haddon Spurgeon, "a profissão de fé sem a graça divina é a pompa funerária de uma alma morta".

Espero ter ajudado.

Volte sempre, e obrigado pela pergunta.

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* Não que ser calvinista seja fruto de obras! Continuamos atribuindo tudo à Soberana Graça de Deus!

Pergunte-me qualquer coisa

6 de outubro de 2010

Riqueza não é pecado

Exorta aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que tudo nos proporciona ricamente para nosso aprazimento; que pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir; que acumulem para si mesmos tesouros, sólido fundamento para o futuro, a fim de se apoderarem da verdadeira vida. (1 Timóteo 6:17-19)
Confesso que a moralidade do brasileiro é algo extremamente confuso e complexo para mim. Veja, por exemplo, os critérios que são usados pelos eleitores para eleger seus representantes. No horário eleitoral gratuito e nos debates, fala-se em votar contra o candidato dos empresários. O fato de alguém ser rico ou empresário é apontado como um pecado capital, uma espécie de lepra ética, que deve ser escondida a todo custo. Mas a falta de estudo não é vista como algo problemático para a eleição de autoridades, como bem prova o deputado federal mais votado das eleições de 2010, o palhaço Tiririca. Corrupção também não parece ser problema, já que deputados acusados de envolvimento no mensalão foram eleitos, sem falar nos políticos ficha suja.

O mesmo acontece no terreno da teologia. A teologia católica é cheia de reservas em relação à riqueza material, tanto que os padres fazem voto de pobreza. Nas igrejas históricas do protestantismo, é nítida a influência da teologia latino-americana e sua proposta de reinterpretar a Bíblia de modo mais sociológico (eu diria, marxista mesmo), enxergando-a em um contexto de luta entre exploradores e explorados. Uma leitura que acaba colocando a riqueza como algo pecaminoso em si mesmo e que deve ser limitada a qualquer custo. Esta é uma das raízes de propostas como o plebiscito sobre o tamanho da propriedade rural, apoiada pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil e pela sua satélite protestante, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil.

Mas, a riqueza é, em si mesma pecaminosa? O que podemos dizer?

A riqueza pode ser uma fonte de tentações
Vamos examinar o texto que abre este post. Em 1 Timóteo Paulo dá ao jovem pastor Timóteo uma série de orientações sobre como cuidar de diferentes grupos de pessoas, como servos e senhores. Uma dessas instruções é específica para os ricos.

Basicamente Paulo diz que os ricos devem evitar dois pecados: o orgulho e a confiança nas riquezas. O dinheiro, os bens materiais, as posses...nada disso faz do rico uma pessoa superior, por si só, aos demais. Ele não deveria ser uma pessoa orgulhosa, soberba, esnobe. Por outro lado, ele também não deve trocar o Deus verdadeiro pelo dinheiro. Ele não deveria agir como o jovem rico que se encontrou com Jesus e escolheu ficar com suas posses ao invés de seguir a Cristo. A nossa confiança deve ser depositada unicamente em Cristo.

Mas, se formos sinceros e honestos, veremos que estas instruções se aplicariam, perfeitamente, a outros grupos. As pessoas bonitas não devem se orgulhar de sua beleza e nem confiar nela como sendo uma fonte de sucesso, dinheiro e outros prazeres. O mesmo pode ser dito dos que possuem um bom emprego, ou são doutores, dos atletas ou de quem se destaca de forma acentuada em qualquer área.

A riqueza também pode ser uma tentação porque abre portas a uma série de prazeres pecaminosos. Com dinheiro sobrando é muito mais fácil obter poder para se comprar o que quiser...de favores sexuais a políticos, incluindo-se aí drogas, bajuladores e outras tantas que não consigo imaginar. No entanto, tudo isso seria apenas um sintoma de um coração que confia nas riquezas e não em Cristo. Por isso Paulo se concentrou apenas nas duas exortações acima.

A riqueza pode ser uma fonte de bênçãos
Contudo, nem só de perigos vive a riqueza. Na verdade, se os ricos souberem usar corretamente os seus bens podem acumular um sólido tesouro espiritual que lhes será útil para se apoderarem da vida verdadeira. Assim como o dinheiro pode abrir uma série de oportunidades para o pecado...também pode ser uma fonte de bênçãos para a Igreja, o mundo e para o homem rico.

Para atingir esse objetivo, Paulo dá três conselhos: pratiquem o bem; sejam ricos em boas obras e generosos para dar e repartir.

Ao meu ver, praticar o bem seria a mesma coisa que ser rico em boas obras. Envolve aqui não apenas o "dar e repartir", mas também todas as questões relativas à piedade pessoal, como a oração, os jejuns e a leitura da Palavra. Mais: engloba o uso dos diferentes talentos que os ricos possuem no crescimento do Corpo de Cristo. As habilidades administrativas, as oportunidades de se aprofundar em diferentes conhecimentos (ricos podem possuir mais tempo e recursos para estudar que os mais pobres) e até mesmo a rede de contatos sociais...tudo isso pode ser usado para favorecer a expansão do Reino de Deus.

E, claro, a generosidade em dar e repartir não é um aspecto menor. Pessoas ricas podem, por exemplo, não ter tempo para fazer um doutorado em Teologia, mas podem pagar os estudos de uma outra pessoa que não têm os recursos necessários para pagar pelos estudos. Podem ajudar a manter obras de ação social, que ajudem pessoas carentes a estudarem, se capacitarem e possam progredir materialmente. Podem ajudar os pobres e necessitados a terem cuidados médicos, patrocinar a construção de casas, financiar pesquisas científicas...certamente o leque de opções está além da minha capacidade de imaginação.

O argumento mais forte
Creio que os argumentos mostrados acima são claros para provar que a riqueza, em si mesma, é neutra. O dinheiro e o acúmulo de posses não são coisas ruins ou demoníacas. Na verdade, as riquezas são um grande teste. Tanto podem ser um passaporte para o inferno...como uma ótima oportunidade de crescimento espiritual e santificação.

Mas ainda falta um argumento decisivo para mostrar que ser rico não é pecado. É óbvio, mas é ignorado por muitos. Havia pessoas ricas na Igreja. Se elas não existissem, Paulo não teria porque orientar a Timóteo sobre como cuidar deles e dos senhores. Cristo não morreu apenas para salvar aos pobres...Ele também morreu para resgatar a ricos da maldição do pecado.

Charles Studd doou toda a herança que recebeu de seu pai para promover obras cristãs
Se não devemos ir atrás das heresias da Teologia da Prosperidade, também não devemos cometer o exagero de ir na outra direção e condenarmos os ricos, como fazem os marxistas. Ninguém deve exigir que os ricos vendam seus bens e os distribuam aos pobres...embora eles e os demais possam fazer isso, se assim o desejarem. E não...realmente não entendo como bíblico ou correto que façamos plebiscitos para limitar a propriedade rural.

Sejamos ricos, pobres ou de classe média...o nosso papel é empregar tudo o que somos e temos para a glória de Deus. Amém!

4 de outubro de 2010

Tirem os filhos de Eli do poder!

Então, Elcana foi-se a Ramá, a sua casa; porém o menino ficou servindo ao SENHOR, perante o sacerdote Eli. Eram, porém, os filhos de Eli filhos de Belial e não se importavam com o SENHOR; pois o costume daqueles sacerdotes com o povo era que, oferecendo alguém sacrifício, vinha o moço do sacerdote, estando-se cozendo a carne, com um garfo de três dentes na mão; e metia-o na caldeira, ou na panela, ou no tacho, ou na marmita, e tudo quanto o garfo tirava o sacerdote tomava para si; assim se fazia a todo o Israel que ia ali, a Siló. Também, antes de se queimar a gordura, vinha o moço do sacerdote e dizia ao homem que sacrificava: Dá essa carne para assar ao sacerdote; porque não aceitará de ti carne cozida, senão crua. Se o ofertante lhe respondia: Queime-se primeiro a gordura, e, depois, tomarás quanto quiseres, então, ele lhe dizia: Não, porém hás de ma dar agora; se não, tomá-la-ei à força. Era, pois, mui grande o pecado destes moços perante o SENHOR, porquanto eles desprezavam a oferta do SENHOR. (1 Samuel 2:11-17)
Política é um dos assuntos que menos chamam a atenção dos brasileiros. Por causa da corrupção, a política é vista como algo que, por si só, é maligna. No entanto, líderes corruptos também atuam em outras áreas: no futebol, nos sindicatos e até mesmo dentro das igrejas. Trata-se de uma praga que não respeita nenhuma área ou organização.

Mas, embora líderes corruptos atuem em áreas tão distintas como o esporte, a fé e o Estado, podemos reconhecer várias características comuns quanto ao seu método de ação. Algumas delas podem ser lidas na história dos filhos de Eli.
Deputados evangélicos de Brasília na famosa "oração da propina"

Tratando o público como se fosse privado
No Antigo Testamento, os sacrifícios de animais eram uma parte essencial do culto a Deus. Segundo a Lei de Moisés, uma parte (que incluía a gordura) deveria ser queimada no altar, pois era a porção do Senhor (Levítico 3). O sacerdote tinha o direito de comer o peito e a coxa direita (Levítico 7:31-32). O restante do animal deveria ser comido pela pessoa que fazia o sacrifício.

Qual o erro dos filhos de Eli? Eles tinham o costume de roubar do povo uma parte dos sacrifícios que não lhes pertencia. Afinal, os moços dos sacerdotes pegavam com um garfo as partes dos animais que eles desejavam...mesmo que não se tratasse do peito e da coxa direita devidos aos sacerdotes. Além disso eles também roubavam a parte de Deus. A gordura devia ser queimada...mas os filhos de Eli queriam a carne crua e ameaçavam tomá-la à força.

Esse comportamento é típico de pessoas que tratam os bens públicos e divinos como se fossem uma propriedade particular. Quando o pastor pega emprestado o dinheiro da igreja e promete pagar depois; quando um fiel pega as cadeiras da igreja para usar na festa de aniversário da filha ou o adolescente relaxado põe o pé nos bancos como se estivesse sentado no sofá de casa...ele faz o mesmo que os filhos de Eli.

A ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra ao lado da candidata do PT, Dilma Rousseff
E em todas as esferas de Governo podemos ver os filhos de Eli em ação. O genro do ministro do Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Britto usa o parentesco para negociar o possível impedimento de seu sogro no julgamento da Lei da Ficha Limpa. Depoimentos indicam que o filho da ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, nomeava amigos para trabalhar na Casa Civil. Os governadores Pedro Paulo Dias, do Amapá; Carlos Gaguim, do Tocantins e André Puccinelli, do Mato Grosso do Sul, foram acusados de participar de esquemas de corrupção que envolviam fraudes em licitações e pagamento de propina em contratos.

O desprezo pelo bem público e pelas coisas de Deus
As ações de todos estes "filhos de Eli" são graves, mas o verdadeiro problema não é o comportamento. Eles só tratam o que é dos outros como bens particulares porque possuem um coração pecaminoso. O pecado deles é desprezar o que é de Deus...e o que pertence à sociedade.

Repare no que diz 1 Samuel 2:17. O erro deles era grande, exatamente porque eles desprezavam a oferta de Deus.
Era, pois, mui grande o pecado destes moços perante o SENHOR, porquanto eles desprezavam a oferta do SENHOR. (1 Samuel 2:17)
Dito de outra forma, os filhos de Eli não consideravam a oferta de Deus como algo importante. Para eles, tratava-se de algo sem valor. E, claro, na verdade não era a oferta que eles desprezavam, mas sim o próprio Deus.

Afinal, quando nós amamos, cuidamos daquilo que pertence a outra pessoa. Basta imaginar uma refeição, por exemplo. Se vamos fazer um jantar para o amor da nossa vida, cuidamos de tudo nos mínimos detalhes, até mesmo da decoração e da música que será tocada. Agora, se a refeição é para alguém que não gostamos muito...o cuidado é muito menor.


Quando agentes públicos, lobistas e similares usam a sua influência para se apropriar do que não lhes pertence, eles mostram o quanto eles amam a Deus e ao povo. O comportamento exterior é o reflexo de um coração que não tem temor pela Lei de Deus nem consideração pelo bem-estar da sociedade. Como disse Jesus:
Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem. (Marcos 7:21-23)
A solução é por pra fora!
Mas, como resolver isso? Será que devemos apenas dizer às nossas autoridades que elas devem se arrepender? Não. Na verdade, isso é insuficiente. Vejam o que fez o sacerdote Eli quando soube do comportamento de seus filhos:
Era, porém, Eli já muito velho e ouvia tudo quanto seus filhos faziam a todo o Israel e de como se deitavam com as mulheres que serviam à porta da tenda da congregação. E disse-lhes: Por que fazeis tais coisas? Pois de todo este povo ouço constantemente falar do vosso mau procedimento. Não, filhos meus, porque não é boa fama esta que ouço; estais fazendo transgredir o povo do SENHOR. Pecando o homem contra o próximo, Deus lhe será o árbitro; pecando, porém, contra o SENHOR, quem intercederá por ele? Entretanto, não ouviram a voz de seu pai, porque o SENHOR os queria matar. (1 Samuel 2:22-25)
Hoje é muito popular a idéia de que a conversa é suficiente para resolver a todos os problemas. A disciplina é adiada ao máximo. O pai se recusa a bater no filho, cortar a mesada ou proibir alguma diversão...o presidente não demite imediatamente os ministros e posterga as demissões, que são sempre "a pedido"...e o povo, na hora de votar, teima em dar uma segunda chance a políticos corruptos ou tolerantes com a corrupção.

A eleição já aconteceu...e até agora o STF não julga a Lei da Ficha Limpa
E isso acabou de acontecer no Brasil. Vários candidatos considerados ficha suja foram eleitos e aguardam um pronunciamento do Supremo Tribunal Federal para saber se irão ou não tomar posse. Fora outros casos. Lembra do episódio dos dólares na cueca? Pois o deputado José Nobre Guimarães foi reeleito deputado federal no Ceará. A esposa do ex-governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, foi para o segundo turno nas eleições no DF.

A complacência do brasileiro com o pecado é o alimento que mantêm os filhos de Eli no poder. Quando damos um voto de confiança a corruptos, ou a pessoas que protegem corruptos, estamos indo no mesmo caminho de Eli. E o resultado não foi bom:
Veio um homem de Deus a Eli e lhe disse: Assim diz o SENHOR: Não me manifestei, na verdade, à casa de teu pai, estando os israelitas ainda no Egito, na casa de Faraó? Eu o escolhi dentre todas as tribos de Israel para ser o meu sacerdote, para subir ao meu altar, para queimar o incenso e para trazer a estola sacerdotal perante mim; e dei à casa de teu pai todas as ofertas queimadas dos filhos de Israel. Por que pisais aos pés os meus sacrifícios e as minhas ofertas de manjares, que ordenei se me fizessem na minha morada? E, tu, por que honras a teus filhos mais do que a mim, para tu e eles vos engordardes das melhores de todas as ofertas do meu povo de Israel? Portanto, diz o SENHOR, Deus de Israel: Na verdade, dissera eu que a tua casa e a casa de teu pai andariam diante de mim perpetuamente; porém, agora, diz o SENHOR: Longe de mim tal coisa, porque aos que me honram, honrarei, porém os que me desprezam serão desmerecidos. Eis que vêm dias em que cortarei o teu braço e o braço da casa de teu pai, para que não haja mais velho nenhum em tua casa. E verás o aperto da morada de Deus, a um tempo com o bem que fará a Israel; e jamais haverá velho em tua casa. O homem, porém, da tua linhagem a quem eu não afastar do meu altar será para te consumir os olhos e para te entristecer a alma; e todos os descendentes da tua casa morrerão na flor da idade. Ser-te-á por sinal o que sobrevirá a teus dois filhos, a Hofni e Finéias: ambos morrerão no mesmo dia. Então, suscitarei para mim um sacerdote fiel, que procederá segundo o que tenho no coração e na mente; edificar-lhe-ei uma casa estável, e andará ele diante do meu ungido para sempre. Será que todo aquele que restar da tua casa virá a inclinar-se diante dele, para obter uma moeda de prata e um bocado de pão, e dirá: Rogo-te que me admitas a algum dos cargos sacerdotais, para ter um pedaço de pão, que coma. (1 Samuel 2:27-36)
O Brasil vai escolher no dia 31 o futuro presidente da República e 9 governadores. Ainda há tempo de impedir que "filhos e filhas de Eli" assumam o poder. Mais do que isso: dá para impedir que "Elis" também se tornem governantes.

Não dê uma segunda chance a quem despreza o bem público. Não dê uma segunda chance a líderes que foram frouxos quando amigos se viram envolvidos em casos de corrupção.


E faça o mesmo na igreja. Os líderes e pastores corruptos devem sim ser afastados e disciplinados. Só assim os maus aprenderão a temer a Deus e reconhecerão que precisam se arrepender.

Soli Deo Gloria!