28 de agosto de 2010

Tradicionalmente morto

O tradicional é o novo reformado. Os dois andaram juntos por um tempo, de modo que, agora um passou a engolir o outro. Por um lado, algumas igrejas sacramentalizaram a tradição e “devoraram”, no linguajar schaefferiano, a perspectiva reformada. No outro sentido, igrejas consideradas reformadas abriram mão da tradição em nome da relevância.

Pretendo, por ora, dar mais atenção ao primeiro fenômeno. Não há dúvidas que existem as igrejas reformadas que abandonaram a tradição, e perderam muito do que as definia. Há igrejas herdeiras da reforma que hoje são o pentecostalismo clássico em flor. Há igrejas que nasceram da fé calvinista e hoje bebem nas cisternas rotas de movimentos de crescimento de igreja e técnicas contemporâneas da busca de “relevância”. Há, ainda, os supostos reformados que deixaram o modelo puritano de vida com Deus, e abraçaram a espiritualidade medieval, talvez tentando colocar Calvino de mãos dadas com Teresa d'Ávila ou São João da Cruz. Sim, estes exemplares estão entre nós, mas pela maior facilidade de identificá-los, creio que não produzem tanta confusão quanto o outro exemplo.

Muitas são as igrejas que caminhavam bem no sentido de manter a perspectiva reformada com a tradição. No entanto, pouco a pouco, a tradição foi ganhando lugar, e a reforma, perdendo. A centralidade da cruz foi cedendo espaço para uma liturgia organizada, uma música constante, usos e costumes semelhantes, a comodidade de uma igreja na qual tudo permanece intacto.

Para estas comunidades, ainda resta o nome “reformado” - eles ainda conseguem falar os cinco pontos do calvinismo e mencionar alguma coisa sobre a predestinção. Mas não trabalham em termos de uma cosmovisão reformada. Rejeitaram o Ecclesia Reformata et Semper Reformanda Est (Igreja Reformada e sempre se reformando), e simplesmente se tornaram uma comunidade parada no meio da cidade. Confundiram a estética do conservadorismo com o conteúdo nele proposto, e ficaram apenas com a “carcaça”.

Nessas igrejas se percebe uma pregação vazia – como sempre, e isso conforta os membros –, disposições fracas na interação com a cultura, manutenção da membresia mais por meio da troca de favores do que pelo pastoreio efetivo, vidas sem paixão: por Deus, Pela Palavra, pelos perdidos...
Muitos reformados, pelo simples fato de tais igrejas não terem aderido ao pentecostalismo, não observam o perigo deste desvio para a igreja. O moralismo do púlpito, que há muito esqueceu o evangelho, vai matando em doses homeopáticas as ovelhas. Pior, transformando os cadáveres em réplicas nefastas a reproduzir tal mentalidade.

Com isso os pais vão perdendo seus filhos para a cultura. Lá a pressão é menor, e existe uma sensação de amor mais real. Os que ficam, trabalham a partir de uma dicotomia de vida que os faz agir de um modo na igreja, e de outro completamente diverso na cultura (trabalho, escola, faculdade, etc.).
As crianças são ensinadas, mas não educadas. Não conseguem articular as diferenças entre uma igreja parada e uma realidade dinâmica. E seguem criando problemas para os professores de escola dominical.

Os pais continuam naquele grupo de casais que funciona há uns 20 anos e nunca produziu frutos. O casamento tem os mesmos problemas, a vida continua do mesmo jeito, mas, no fim das contas, esta regularidade é boa. Quem está preocupado com frutos, afinal? Eles só vão gerar mais problemas para administrar...

A igreja pode ostentar um grande prédio, vários anos nas costas, e um orçamento consideravelmente bom. Mas ali está um cemitério do Evangelho. Nada há de perspectiva reformada, realmente. Apenas os restos do que um dia foi uma comunidade viva.

•   •   •

Allen Porto é blogueiro do BJC, e passa muito tempo sem escrever por aqui.

25 de agosto de 2010

A ignorância mata, mas o conhecimento vivifica

Começamos, porventura, outra vez a recomendar-nos a nós mesmos? Ou temos necessidade, como alguns, de cartas de recomendação para vós outros ou de vós? Vós sois a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos os homens, estando já manifestos como carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações. E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus; não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica.

E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glória, a ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda que desvanecente, como não será de maior glória o ministério do Espírito! Porque, se o ministério da condenação foi glória, em muito maior proporção será glorioso o ministério da justiça. Porquanto, na verdade, o que, outrora, foi glorificado, neste respeito, já não resplandece, diante da atual sobreexcelente glória. Porque, se o que se desvanecia teve sua glória, muito mais glória tem o que é permanente. (2 Coríntios 3:1-11)
A educação nunca foi tão valorizada no mundo como em nosso tempo. É praticamente um consenso universal que o caminho para a construção de uma sociedade desenvolvida é o estudo. A informação é considerada um bem mais valioso do que várias mercadorias, a ponto de vivermos a chamada "sociedade do conhecimento".

Mas, enquanto todo o mundo se esforça para crescer em conhecimento, as igrejas evangélicas brasileiras se tornam pregadoras da ignorância, especialmente as influenciadas pelo neopentecostalismo ou por um tipo arcaico e legalista de pentecostalismo. "A letra mata", dizem eles para se referirem à Bíblia ou à teologia. O estudo teológico e a busca pelo sentido literal e histórico das Escrituras são vistos como inimigos da santidade, uma espécie de veneno que mata a fé dos crentes e os leva para longe de Deus. O segredo é "o Espírito", normalmente entendido como a prática de jejuns, orações e até mantras, buscando dons, experiências, visões, arrebatamentos e outras experiências, no mínimo, "extravagantes".

Contudo, o que a Bíblia ensina quando fala que "a letra mata"?

A letra não pode ser a Bíblia
A primeira coisa que devemos ter em mente é que é impossível que a letra seja a própria Bíblia. Se for, existem duas conseqüências desagradáveis que precisam ser respondidas:

1) A Bíblia é um livro que veio matar as pessoas?
2) A Bíblia e o Espírito Santo são opostos?

A resposta a essas duas perguntas é dada pelo próprio Jesus Cristo:
O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida. (João 6:63)
Se entendemos que Jesus é Deus e que a Bíblia é a Sua Palavra, então vemos que Jesus coloca a Bíblia em harmonia com o Espírito e como fonte de vida, e não de morte. Na verdade, Jesus diz claramente que as palavras do Pai (a Bíblia) se opõem ao mundo, e não ao Espírito, e que são a forma pela qual os discípulos são santificados:
Eu lhes tenho dado a tua palavra, e o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como também eu não sou. Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como também eu não sou. Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade. (João 17:14-17)
Estudar a Bíblia não é ruim. Pelo contrário, a pregação e o ensino fiel das Escrituras são o caminho para salvar vidas e ser aperfeiçoado por Deus.
Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes. (1 Timóteo 4:16)

Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. (2 Timóteo 3:16-17)
A letra é a Lei de Moisés
Se a letra de 2 Coríntios 3:6 não é a Bíblia, o que é então? Uma leitura atenta do contexto mostra que a referência é feita à Lei de Moisés, ao texto da antiga aliança feita entre Deus e os israelitas.

Paulo começa o capítulo dizendo que os coríntios são a carta viva de seu ministério, a prova evidente de que a obra dele era de Deus. Uma carta que foi escrita pelo Espírito Santo nos corações e que era fruto do ministério da nova aliança, do Espírito. No versículo 7, Paulo fala que a letra está ligada ao "ministério da morte, gravado com letras em pedras", cuja glória se manifestou no brilho do rosto de Moisés. É só ler o livro de Êxodo que fica claro que a referência é a lei de Moisés.

O que significa "mata"?
Mas, como assim? A Lei é parte da Bíblia. Como pode a Lei matar e ser chamada de "ministério da morte" e de "ministério da condenação"? A Lei é ruim?

Não. A Lei é boa. Todas essas perguntas foram respondidas por Jesus e por Paulo:
Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus. (Mateus 5:17-19)

Por conseguinte, a lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom. Acaso o bom se me tornou em morte? De modo nenhum! Pelo contrário, o pecado, para revelar-se como pecado, por meio de uma coisa boa, causou-me a morte, a fim de que, pelo mandamento, se mostrasse sobremaneira maligno. (Romanos 7:12-13)
Contudo, a Lei não é o meio usado por Deus para salvar as pessoas. A Lei indica as pessoas qual a vontade de Deus e o que Ele deseja, mas, por si só, ela não dá o poder necessário para vencer o pecado. Por isso, a letra da Lei não vivifica.

Na verdade, a Lei tinha dois objetivos: dar aos homens o conhecimento do que é pecado...e tornar todos condenáveis aos olhos de Deus.
Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus, visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. (Romanos 3:19-20)
Deus não quer que ninguém seja salvo por esforço pessoal, Ele quer que a salvação seja algo que venha somente d'Ele e de Sua graça. Mas, para que isso aconteça, era preciso que os homens conhecessem o real tamanho de seus pecados...e que eles também pudessem ser objetivamente condenados por sua maldade. Isso é feito pela Lei. Por isso que a Lei, sozinha, escrita em tábuas de pedra, "mata" as pessoas...porque ela veio trazer condenação.

Como o Espírito "vivifica"
No texto de 2 Coríntios 3 a vida é a salvação, a nova aliança, que é chamada de "ministério da justiça", porque é por meio dela que os homens são justificados diante de Deus. E um dos sinais dessa aliança é a presença do Espírito Santo no mundo.
Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão. Mostrarei prodígios em cima no céu e sinais embaixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso Dia do Senhor. E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. (Atos 2:16-21)
E qual o trabalho do Espírito? Gravar a lei (a Palavra) de Deus no coração das pessoas.
Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. (Jeremias 31:33)

Vós sois a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos os homens, estando já manifestos como carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações. (2 Coríntios 3:2-3)
O Espírito "vivifica" quando leva os homens à salvação. E Ele faz isso quando escreve a Palavra de Deus na mente e no coração dos fiéis.

O conhecimento vivifica
Quando lemos 2 Coríntios 3 com atenção, vemos que, na verdade, a leitura e o estudo bíblicos não são nocivos ou mortíferos. Ao contrário, o caminho da vivificação no Espírito é exatamente ter a Bíblia escrita no coração e na mente. Não é uma leitura espiritualista ou alegórica, como querem alguns. A Palavra é escrita na mente e no coração (na Bíblia, coração é sede dos pensamentos e crenças, e não só das emoções).

E, se pensarmos bem, quanto mais lermos e estudarmos a Bíblia, mais o Espírito Santo a grava em nossos corações. Quanto mais Palavra, "mais salvos" seremos, como disse Paulo a Timóteo. Não adianta só cuidar de si mesmo, é preciso cuidar também da doutrina.

Logo, quanto mais ignorantes formos e fugirmos do estudo bíblico, mais fugimos do Espírito e nos tornamos alvo das condenações da Lei de Moisés. Mas, quanto mais buscarmos o conhecimento da Bíblia, mais o Espírito nos vivificará.

A ignorância mata, mas o conhecimento vivifica.

18 de agosto de 2010

Proteste!

Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti -lhe face a face, porque se tornara repreensível. Com efeito, antes de chegarem alguns da parte de Tiago, comia com os gentios; quando, porém, chegaram, afastou-se e, por fim, veio a apartar -se, temendo os da circuncisão. E também os demais judeus dissimularam com ele, a ponto de o próprio Barnabé ter-se deixado levar pela dissimulação deles. Quando, porém, vi que não procediam corretamente segundo a verdade do evangelho, disse a Cefas, na presença de todos: se, sendo tu judeu, vives como gentio e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus? Nós, judeus por natureza e não pecadores dentre os gentios, sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado. (Gálatas 2:11-16)
A cada dia que passa, aumentam as minhas dificuldades em ligar as igrejas ditas "evangélicas" à teologia e a tradição da Reforma Protestante. Gradualmente, os evangélicos abandonam as bandeiras do protestantismo e abraçam posturas mais próprias do catolicismo ou do paganismo. E uma delas é exatamente a bandeira do "protesto".

A metáfora do cristão como "ovelha" parece ter entrado de modo tão forte na cabeça dos evangélicos que hoje não há mais questionamentos, atitudes de repúdio ou oposição às atitudes dos líderes. Qualquer crítica é apontada como pecado de desobediência, insubmissão ou "falta de companheirismo cristão". Aos membros (ovelhas) cabe apenas o papel de dar o amém (bééé) mesmo quando a ordem de comando é o rosnar de um lobo.

Na verdade, tanta passividade não é fruto de corações obedientes ao chamado de Cristo para o Seu rebanho. Lembra mais a figura de pessoas que tapam os olhos e ouvidos e calam a boca, dando assim o seu aval para que o pecado destrúa e dizime as igrejas.

O exemplo de Paulo
Mas, quando protestar? E como fazer isso? Creio que o relato de Paulo em Gálatas 2:11-16 nos ajuda a enxergar as respostas.

Em primeiro lugar, sempre que o Evangelho for colocado em perigo o dever dos cristãos é o protesto. A carta aos gálatas foi escrita pelo apóstolo Paulo com o objetivo de combater o ensino herético de que é preciso guardar a Lei de Moisés e se circuncidar para ser salvo. Caso essa heresia prevalecesse, o Evangelho perderia a sua razão de ser, pois o sacrifício de Jesus não seria 100% eficaz para produzir a salvação. Nestas situações, ser obediente a Deus é saber reconhecer o rosnar lupino e resistir.

Em segundo lugar, sempre que a conduta dos líderes puder trazer prejuízos ao Evangelho, o líder deve ser repreendido, independente de quem ele seja. A piedade ou o título eclesiástico de um líder não são imunidades contra as críticas da igreja. Ainda que seja o próprio apóstolo Pedro. Pedro não disse nada a favor do partido que era pró-circuncisão, mas suas atitudes davam a entender que ele os apoiava. Quando um grupo de judeus de Jerusalém chegou às igrejas da Galácia, Pedro afastou-se dos gentios. Parou de apoiar, publicamente, o grupo que tinha a razão, talvez até por motivos nobres, como preservar a unidade da Igreja ou evitar a criação de atritos. Mas, como o afastamento enfraquecia a defesa da verdade, Paulo repreendeu a Pedro. Publicamente! Sem conversas prévias! A paz, a unidade e até mesmo a hierarquia não estão acima da defesa do Evangelho.

Em terceiro lugar, o erro público de um líder deve sim ser questionado publicamente. De fato, o cristão não deve expor, desnecessariamente, a vida de ninguém. Por isso os erros privados devem, sempre que possível, serem tratados reservadamente. Contudo, o erro público precisa ser punido publicamente. Principalmente quando ele é cometido por um líder, porque a sua conduta influencia a outros. Ao repreender a Pedro, Paulo apenas cumpriu o que ele mesmo ensinou depois, em 1 Timóteo 5:19-20.
Não aceites denúncia contra presbítero, senão exclusivamente sob o depoimento de duas ou três testemunhas. Quanto aos que vivem no pecado, repreende-os na presença de todos, para que também os demais temam.
Por causa de sua posição, o erro de um líder é mais danoso sim que o erro de um fiel. Por que então o fiel, quando disciplinado, é punido com rigor e o erro dos líderes não pode sequer ser apontado?

Ignorantes da própria história
Além de ser antibíblico, o silêncio dos fiéis diante dos erros de seus líderes é uma prova de amnésia evangelica. Os protestantes foram assim chamados exatamente porque lutaram contra a corrupção teológica e moral do catolicismo romano de seus dias. Os reformadores não "guardaram para si" a sua opinião nem buscaram audiências papais antes de questionarem, publicamente, o que viam. O amor pela verdade bíblica foi maior que o respeito à hierarquia clerical. Uma hierarquia que não é bíblica, diga-se de passagem.

Se o erro do pastor, do bispo, do apóstolo não pode ser apontado, se não há confrontação pública de posicionamentos errôneos, então estamos apenas reproduzindo o clericalismo católico-romano. Se os fiéis não podem protestar quando suas lideranças erram, nem questionar suas posturas e decisões, se não há debate entre ovelhas e pastores, se é uma ofensa se opor ao pastor...então, não temos moral para, por exemplo, censurarmos os católicos quando protegem padres pedófilos. Na prática, estamos fazendo o mesmo, protegendo líderes que erram.

E, se essa mensagem parece um libelo à desobediência eclesiástica, então, pare de identificar-se com Lutero, Calvino e os reformadores. Sem protesto, não haveria Reforma. Sem protesto, a Reforma não se mantém. E, sem "profecia", o povo se corrompe (Provérbios 29:18).

10 de agosto de 2010

Diga NÃO ao “karlvinismo”!

Provavelmente você nunca ouviu esse termo antes, mas certamente já deve ter encontrado algum “karlvinista” por aí. Que bicho é esse? Bem, é uma mistura de Karl Marx com Calvino; ou, como queiram, de protestantismo reformado com socialismo. Que existem protestantes que abraçam os ideiais socialistas todo mundo sabe (preciso citar exemplos?), mas que existem calvinistas comunistas é algo mais difícil de imaginar. Mas o fato é que os tais existem, sim. Eles defendem ao mesmo tempo a soberania de Deus e a do Estado (mas se o cerco apertar ele fica com o Estado), e estão prestes a dar as caras agora, em tempos de eleições. Quem sabe algum apareça por aqui.

Eu, pessoalmente, digo “NÃO!” ao karlvinismo. E você?

Soli Deo Gloria!