28 de agosto de 2011

Resenha do livro "Em Defesa da Teologia", de Gordon Clark



CLARK, Gordon H. Em defesa da teologia. Brasília: Editora Monergismo, 2010. 114 pp.


Traduzido por Marcos Vasconcelos e prefaciado por Felipe Sabino (à edição brasileira) e John Robbins (à edição americana), o livro escrito pelo teólogo e filósofo calvinista norte-americano Gordon Haddon Clark (1902 – 1985) possui seis capítulos, acrescidos de um posfácio (“A crise de nossa era”), também de autoria do Robbins. O que se seguirá será mais um resumo do que propriamente uma resenha, embora haja algumas observações.

No primeiro capítulo, e de forma bem genérica, o Dr. Clark fala sobre os quatro grupos de pessoas que, em diferentes graus, desprezam a teologia enquanto ciência. Com uma boa dose de ironia – ironia esta que, aliás, perpassa todo o livro –, ele começa sua fala dizendo que “a teologia, aclamada no passado como ‘a rainha das ciências’, hoje mal chega à posição de lavadora de pratos” (p. 17). O primeiro grupo, pois, é o dos “cristãos medianos”, o qual abrange “pessoas de diversos níveis de desenvolvimento teológico e espiritual” (p. 18). É aos tais que Clark chamará no capítulo três de “os desinteressados”. O segundo grupo é o dos “ateístas”, que são aquelas “pessoas que afirmam não haver Deus” (p. 21). Aqui, Clark inclui os positivistas lógicos (“uma divisão notável do grupo ateísta histórico”), os naturalistas ou humanistas (“adoradores do cientificismo [que] não são positivistas lógicos”), alguns políticos liberais e seus “credos socialistas”, os panteístas e, por último, os agnósticos, “embora seus adeptos repudiem enfaticamente a designação de ateístas” (p. 22, 23). O terceiro grupo é formado por aqueles indivíduos que “creem na existência de algum tipo de Deus, mas estão convencidos de que ele não pode ser conhecido” (p. 24). Difere do agnosticismo justamente pelo detalhe religioso: não obstante sua transcendência, esse Deus “pode ser sentido”. Aqui Clark dirige parte de sua crítica aos pentecostais e aos “fundamentalistas rasos”, a quem ele chama a ala “extrema direita” desse grupo. “Os integrantes dessa casta generalizada”, diz Clark, “perguntam-se o que a teologia, com seus detalhes e a ortodoxia morta, teria em comum com a oração e a religião ‘fervorosa’”. Contra essa invectiva, Clark observa (em nota de rodapé) que “hoje, há tão pouca ortodoxia de qualquer tipo que seria reconfortante encontrar até mesmo a ortodoxia morta" (p. 25). Mas o alvo de Clark é mesmo os neo-ortodoxos, a ala “extrema esquerda” do grupo. Começando por Schleiemacher, “o iniciador moderno da teologia da experiência” (p. 25) e passando por Kierkegaard, aquele que “rejeitou o sentimento do infinito substituindo-o pela ‘paixão pelo infinito’” (p. 26), Clark chega, então, a Emil Brunner e a Karl Barth, a quem dirigirá críticas mais específicas no capítulo quatro, sobre a Neo-ortodoxia. Sobrou até para Dooyeweerd, a quem Clark acusa de defender pontos de vistas “extáticos, irracionais e existenciais” (p. 27), mas sem justificar o porquê disso – o que é uma falta grave da sua parte. Diz Clark que “os mais bíblicos desse grupo, não particularmente a multidão desatenta que dorme durante o sermão, mas, em especial, pastores e autores de livros devocionais populares, são, na maioria, incoerentes. Possuem uma pobre compreensão lógica e por isso, firmemente agarrados a alguma doutrina fundamental, também defendem, pregam e escrevem as heresias mais selvagens. Essa mistura indigesta”, continua ele, “é enfeitada de forma regular com o chantili fofo do absurdo” (p. 27). O quarto grupo, por fim, consiste nos que estudam mais teologia que a pregada no púlpito, a quem Clark dedicará o último capítulo de sua autoria.

A partir do segundo capítulo é que Clark se dirige de forma específica aos quatro grupos acima listados, começando pelos ateus. Como o cristão deve combater o ateísmo? Para Clark, o método evidencialista (embora ele não use esse termo), além de ser árduo, é praticamente inútil. Ele diz que “o ‘argumento cosmológico’ não é apenas extremamente difícil, uma vez que demandaria grande dose de ciência, matemática e filosofia para formá-lo, mas é inconclusivo e irremediavelmente falacioso. Essa não é a maneira de responder aos ateístas” (p. 34). Clark também ressalta a inutilidade do método evidencialista ao dizer que “os cristãos deveriam se preocupar menos com a existência de Deus e mais com o tipo de Deus existente”. Para ele, afirmar que Deus existe “não ajuda em nada o cristianismo”. “Já que tudo existe, a palavra existe é desprovida de informação. Por isso que o Catecismo pergunta: ‘o que é Deus?’, e não: ‘Deus existe?’” (p. 36). Qual o método, então? “Nosso axioma é o de que Deus falou. Ou, de modo mais completo – Deus falou na Bíblia. De forma mais precisa, as afirmações bíblicas são o que Deus falou”, responde ele (p. 38). Que Clark tem em mente aqui o escrituralismo (as Escrituras como a única fonte de verdade, em contraponto ao pressuposicionalismo do tipo vantiliano-schaefferiano, que contempla verdade em outras fontes) fica evidente no restante do livro.

No terceiro capítulo, como já foi mencionado, Clark se dirige aos “desinteressados”. São aqueles que consideram a teologia como uma matéria nada prática ou inútil; que aderem a bordões já desgastados como “nenhum Credo, senão Cristo” e “o que conta não é o que se crê, mas o que se sente” (p. 41). Para Clark, contudo, “caso Deus exista – supondo o descarte do ateísmo – ele deve ser alguém que deveríamos conhecer”. Isso o leva a afirmar que “ninguém pode ser crente sem teologia – o conhecimento de Deus” (p. 42). Clark também observa que “o temperamento americano é ativista e prático e talvez se impressione mais com a necessidade de teologia para o evangelismo”. E, após citar o quanto se desdenha de doutrinas como a ressurreição de Cristo nas faculdades e escolas de ensino fundamental – onde as pessoas são “inculcadas pela educação humanista” –, Clark aproveita para denunciar alguns “evangelistas” que, para contornar tais objeções, resolvem simplesmente excluir a ressurreição do “evangelho” deles ou então existencializá-la como “a feliz sensação de confiança sentida ao ressurgir das profundezas da frustração”, como fazem os neo-ortodoxos (p. 42, 43). Clark apresenta esses problemas como “desafios intelectuais ao evangelismo”, e diz que “seria lastimável se o cristão conhecesse a Bíblia de modo menos completo que seu colega conhece o humanismo” (p. 43), no que concordamos com ele. Para ele, “se quisermos conhecer a Deus é indispensável levar criteriosamente em conta a metodologia”. E que metodologia é essa? Uma teologia cujo conteúdo proceda “inteira e somente da Bíblia” (p. 44). “Nossa tarefa”, prossegue, “é coletar versículos e passagens da Bíblia, entendê-los preliminarmente e depois sistematizar o conteúdo” (p. 45)[1]. Mas, para justificar seu ponto, Clark faz um uso inapropriado – levando em consideração o contexto da passagem – do texto paulino em que o apóstolo diz que “Deus não é Deus de confusão… tudo, porém, seja feito com decência e ordem” (1 Co 14.33, 40). Ele conclui o capítulo tomando como ilustração a construção de uma casa, a qual somente é possível graças ao arranjamento lógico dos materiais (pregos, tijolos, cimento etc.).

No quarto capítulo é onde Clark vai bater mais forte nos neo-ortodoxos, os quais, segundo ele, é o grupo que “domina as principais denominações nos EUA e no exterior”. Para Clark, a Neo-ortodoxia é a “religião experimental” (p. 48); a “religião da irracionalidade” (p. 50); proponente de uma “dupla verdade” (p. 55) e, por isso mesmo, “antilógica” (p. 56). Por quê? Porque ela insiste que o homem nunca poderá conhecer Deus, visto que este é o “totalmente outro” (Barth) e ideias afins. A propósito, quando se refere a Barth, Clark diz que “é difícil entender por que tantas das asserções de Barth dão ao leitor de boa-fé a impressão exatamente contrária das verdadeiras crenças dele” (p. 58 – embora seja oportuno dizer que esta não é uma exclusividade dos leitores de Barth, evidentemente. Incluem-se aqui os próprios leitores de Clark). Para Clark, Barth, além de abraçar o paradoxo “nega quase de forma absoluta que o homem seja a imagem de Deus, de acordo com 1 Coríntios 11.9” (p. 58), como também “não crê na ressurreição do corpo” (p. 61). Tais coisas arrancam de Clark declarações fortes, como a de que “a igreja visível é muitas vezes atormentada pela peste dos místicos pseudodevotos que apostam na própria intuição”, e arremata: “o pensamento criterioso e a teologia dogmática repeliram-nos” (p. 58). O problema básico de Barth e dos pregadores super-religiosos é epistemológico, segundo Clark, visto que os tais, ao ignorarem a proposição bíblica de que o homem é a imagem de Deus, estão de fato repudiando a lógica (p. 64).

E é justamente a esta última que Clark dedica as linhas do quinto capítulo, no qual ele pretende fazer uma “defesa da teologia lógica” (p. 67). E o que vem a ser essa “teologia lógica”? Basicamente, é a pregação de todo o conselho de Deus. Para Clark, “Deus é um espírito ou intelecto racional e lógico, do qual o homem recebeu a imagem”. Aqui, ele continua criticando aqueles que exaltam a práxis em detrimento da atividade intelectual. Segundo ele, “todos os homens são obrigados a obedecer aos mandamentos divinos e devemos ‘fazer a verdade’ até onde a verdade puder ser realizada”. “Agora”, ironiza, “como ‘fazer’ a Trindade é um enigma” (p. 69). Doravante, ele fará outra crítica injustificada a Dooyeweerd, a quem ele chama de “existencialista” juntamente com Rookmaker, os quais seriam os mentores de um “grande grupo que detesta o conhecimento ou a lógica: os que tem mais interesse na estética que na teologia ou filosofia” (p. 71). Seria interessante se Clark pelo menos nos remetesse a algum escrito seu no qual ele confronta de forma mais apropriada (para não dizer justa) o filósofo holandês. Caberá também uma crítica a Leland Ryken, que disse que “é possível receber a verdade de Deus ouvindo o Messias de Handel. [...] Não basicamente pela razão, mas pelos sentidos (audição) e emoções” (p. 71). Para Clark, porém, uma vez que “somente as proposições podem ser verdades” (p. 74), “a arte não substitui a informação do evangelho” (p. 76). A partir da página 84 Clark apresentará alguns argumentos formais na Escritura em defesa da lógica, e da página 90 até ao final do capítulo, algumas notas sobre lógica simbólica, que é, de longe, a parte mais maçante do livro (especialmente para quem não entende bem o assunto, como eu. Por isso, prefiro não comentá-lo).

No sexto e último capítulo Clark se dirigirá àqueles que se interessam pela teologia – o quarto grupo. São pessoas que levam mais a sério a responsabilidade cristã, que “deleitam-se em receber informação da parte de Deus e querem entendê-la corretamente” (p. 95). Não é preciso fazer muito esforço para se chegar à conclusão de que este é o grupo a quem Clark se mostrará mais amigável. Ele toma como ponto de partida para o seu desfecho a doutrina do homem como imagem de Deus, a qual, segundo ele, “é aquela que está mais intimamente ligada à defesa da teologia”. E ele nos dá algumas referências bíblicas para tal defesa: Gn 1.26, 27; 5.1; 9.6; 1 Co 11.7; Cl 3.10 e Tg 3.9. Para ele, “teologia consiste em entender essas referências e extrair dela conclusões lógicas” (p. 97). Aqui, caberão ainda algumas críticas ao empirismo e ao naturalismo (p. 98 a 103). “Todas as filosofias não cristãs resultam no ceticismo total”, diz. E continua: “Em contraste, o teísmo fundamenta seu conhecimento nas proposições divinamente reveladas. Elas podem não nos dar toda a verdade; pode até ser que nos dêem pouca verdade; mas, de outra maneira, não existe verdade”. E arremata: “chega de alternativas seculares” (p. 103). Nesse embalo, vai sobrar novamente para a neo-ortodoxia (mormente nas figuras de Barth e Brunner), a qual torna toda doutrina falsa, segundo Clark. “Portanto”, conclui, “pode-se dizer que o material bíblico está corretamente resumido ao identificar a característica distintiva do homem como a razão. O pecado causa seu mau funcionamento. A redenção renovará os homens em conhecimento (retidão e santidade) à imagem de quem os criou. Então, no céu, não cometeremos erros nem mesmo de aritmética”. No último parágrafo do livro é que Clark fará uma síntese de todo ele:
Deus nos deu uma revelação verbal; temos a obrigação de estudá-la. Nenhuma outra exortação é necessária. Não há dúvidas de que muitos depreciadores da lógica e da informação sejam cristãos, entretanto o que publicam, pregam e conversam não é cristão. Também não são logicamente coerentes ao repudiarem o dogma bíblico, pois cristianismo sem doutrina inteligível é simplesmente doutrina inteligível sem cristianismo (p. 104-105).

Conquanto eu concorde com John Robbins em certos aspectos, encaro seu posfácio ao livro mais como uma oportunidade para destilar sua ojeriza ao sistema vantiliano de apologética do que propriamente uma defesa da teologia. “Os fieis clamam por verdade e recebem ‘paradoxo’ e ‘antinomia’”, diz (p. 108). E mais: “a prática dos crentes professos modernos é imoral por tratar-se da prática de teorias falsas” (p. 112). Ora, se este pensamento for levado às últimas conseqüências os eleitos não seriam somente os “clarkeanos”? Interessante que nem mesmo Clark parece ter pensado nisso! Temo pelos leitores caso estes se impressionem mais com o apelo ácido do Robbins do que com as palavras do Clark em si mesmas (pelo que sabemos, havia grande respeito pessoal entre este e Van Til).

O livro, no geral, é bom, embora haja conceitos nele que podemos encontrar com maior profundidade em outras obras, o que o tornaria, em certa medida, “dispensável”. Mas, como se trata de um pequeno esboço do que o autor pensa a respeito do assunto, é uma leitura válida – especialmente para aqueles que, como eu, desejam conhecer um pouco mais do pensamento de tão notável teólogo do século XX, o qual já goza de considerável prestígio entre muitos reformados da atualidade.


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[1] Novamente, tem-se como pano de fundo a perspectiva escrituralista.

24 de agosto de 2011

Deus vs Natureza: a lei de Deus é natural?

Pode parecer estranho, mas um dos argumentos mais poderosos usados para se rejeitar a Bíblia é a natureza. A ideia é a de que, se é natural, é certo, independente do que seja. Afinal, como nós podemos seguir uma lei divina que contraria a nossa "essência"? Se Deus ordena algo que fere o natural, então Ele que mude.

E engana-se quem pensa que o apelo à natureza explica apenas pecados sexuais, como o adultério (ou a promiscuidade sexual em si) e o homossexualismo. Afinal, mentir, por exemplo, é "biológico e natural". Já há cientista que disse o mesmo da violência. Basta procurar uma explicação genética que se legitima o pecado e livra a cara do pecador.

Errados são os antinaturais, como os celibatários (um escândalo até mesmo entre cristãos), os que não mentem e aqueles que lutam contra a violência em todas as suas formas. Imaginem o mal que estão causando a si mesmos! Pior é quando querem levar isso ao restante da sociedade, por exemplo, as crianças! Ir contra os genes é como sentenciar a humanidade a uma vida de desgraças e infelicidades. A imposição de um estilo de vida "antinatural" pode até ser apontada como a raiz de guerras, conflitos e outras mazelas.

Normalmente a maioria dos cristãos conservadores rebateria tudo isso negando a validade dessas pesquisas. Em muitos púlpitos, os pastores ensinam que "o pecado é que não é natural", já que Deus considera que a sua criação é "muito boa" (Gênesis 1:31). Mas essa resposta é muito simplista. Pior: ela é errada.

O pecado é natural
Errada porque, quando os cientistas descobrem que o pecado faz parte de nossa natureza, eles estão apenas concluindo o mesmo que a Bíblia! Sim, originalmente a natureza humana era boa. Mas depois do pecado, a inclinação natural dos seres humanos não é mais a de agradar a Deus: Como está escrito:
Não há nenhum justo, nem um sequer; não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer. (Romanos 3:10-12)
Na verdade, essa era a conclusão de Deus no primeiro livro da Bíblia:
O Senhor viu que a perversidade do homem tinha aumentado na terra e que toda a inclinação dos pensamentos do seu coração era sempre e somente para o mal. (Gênesis 6:5)
Uma inclinação que começa a se manifestar desde a infância:
O Senhor sentiu o aroma agradável e disse a si mesmo: "Nunca mais amaldiçoarei a terra por causa do homem, pois o seu coração é inteiramente inclinado para o mal desde a infância. E nunca mais destruirei todos os seres vivos como fiz desta vez". (Gênesis 8:21)
Logo, espantoso seria é se uma pesquisa concluísse que o ser humano tem a tendência natural de sempre dizer a verdade.

O pecado é antinatural
Só há uma consequência lógica do raciocínio bíblico. Se a tendência natural do ser humano é o pecado, então seguir a Lei de Deus é fazer o oposto do que a nossa natureza busca. Só que a oposição é maior do que imaginamos. Na verdade, é impossível aos seres humanos fazer aquilo que agrada a Deus.
A mentalidade da carne é morte, mas a mentalidade do Espírito é vida e paz; a mentalidade da carne é inimiga de Deus porque não se submete à lei de Deus, nem pode fazê-lo. Quem é dominado pela carne não pode agradar a Deus (Romanos 8:6-8)
Sem que a mentalidade da carne (a natural) seja substituída pela do Espírito, não é possível que alguém se submeta à lei de Deus. Podemos educar, pregar, ameaçar, disciplinar...nada disso produzirá verdadeira obediência. Somente por meio do Espírito Santo é que os seres humanos obedecerão ao Senhor.

Quando os pastores ensinam que Deus só ordena aos homens aquilo que nós podemos fazer, eles erram. Deus ordena sim o impossível. Adúlteros, ladrões, homossexuais, mentirosos, fofoqueiros, assassinos...nenhum deles consegue sozinho vencer o pecado. Deixar de pecar é negar aquilo que se é, aquilo que nós somos. Mas, se não fazermos isso, o mundo se transformará em um lugar de selvageria sem fim e se perderá. É preciso uma salvação.

Jesus: o Salvador da natureza
Se a Igreja erra quando não admite que o pecado é natural, o resto do mundo erra quando se nega a lutar contra a natureza humana. As nossas inclinações naturais são sim fortíssimas, mas há uma maneira de vencê-las: por meio de Cristo Jesus.
Entretanto, vocês não estão sob o domínio da carne, mas do Espírito, se de fato o Espírito de Deus habita em vocês. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo. Mas se Cristo está em vocês, o corpo está morto por causa do pecado, mas o espírito está vivo por causa da justiça. E, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vocês, aquele que ressuscitou a Cristo dentre os mortos também dará vida a seus corpos mortais, por meio do seu Espírito, que habita em vocês. Portanto, irmãos, estamos em dívida, não para com a carne, para vivermos sujeitos a ela. Pois se vocês viverem de acordo com a carne, morrerão; mas, se pelo Espírito fizerem morrer os atos do corpo, viverão, porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. (Romanos 8:9-14)
Se a humanidade se render aos seus impulsos carnais, ela se destruirá. Guerras e violências não são fruto da repressão divina, mas sim dos nossos desejos! É preciso, portanto, "fazer morrer os atos do corpo". É necessário que deixemos o domínio da carne. E isso só acontece com aqueles que pertencem a Cristo Jesus.

Em Romanos 8, a Bíblia fala que existem pessoas que estão fora do domínio da carne. Essas pessoas são controladas pelo Espírito de Cristo, que habita naqueles que estão em Cristo. Jesus habita nessas pessoas e Ele mata o nosso "corpo" (natureza pecaminosa) e vivifica em nós o Espírito. Quem está em Cristo não deve mais nada à sua natureza e não precisa viver sujeito à carne. O Espírito os guiará, e não mais os seus desejos.

E aqui nós precisamos parar e fazer uma reflexão. Muitas pessoas não se aproximam de Jesus porque acreditam ser impossível vencer os seus maus impulsos. Acham que não conseguirão viver sem sexo ou se sujeitar às exigências divinas de pureza sexual (heterossexualidade monogâmica ou celibato). Que não vão controlar os defeitos de seu caráter, o seu gênio ruim, a língua solta, a vontade de quebrar a cara daquela pessoa. Entendem que o pecado é mais forte e pensam que lutar contra ele seria sacrificar a si mesmos.

A Bíblia diz que isso é possível, desde que seja em Jesus. Por mais fortes que sejam os nossos pecados, se nos entregarmos a Jesus, se depositarmos n'Ele a nossa fé, se estivermos dispostos a morrermos com Cristo na cruz, não há pecado que não possa ser vencido. Mas isso é somente em Jesus. Sem Ele, é impossível.

E neste ponto ninguém é superior a ninguém. Todos nós, sem exceção, temos que passar por este processo de negação. Todos estão no mesmo barco, uns com uma dificuldade e outros com outra.

O processo é lento e às vezes cheio de idas e vindas, uma recaída aqui e outra ali. Mas, se estamos em Cristo, a vitória é certa. O progresso acontecerá. É só permanecermos nele.

Sim, Deus e a Natureza estão em lados opostos do ringue. Mas Deus jamais será vencido. Toda a glória seja dada somente a Ele!

Graça e paz do Senhor,

Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro

22 de agosto de 2011

O que o Deus fez por nós

“Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou.” Rm 8:29-30

Você já parou para pensar o que Deus fez por você? Não apenas durante sua vida, mas desde muito antes de você nascer? E você crê que Ele tem determinado um futuro glorioso para você, e que esse futuro é certo? Vamos analisar algumas coisas que Deus fez, faz e fará por nós.

Deus nos elegeu. Quando o texto se refere aos que “dantes conheceu” não está declarando simplesmente que Deus tomou conhecimento da nossa existência na eternidade. Tampouco está dizendo que Deus anteviu alguma característica em nós que Lhe atraísse, nem algo que iriamos fazer ou como reagiríamos diante da oferta do evangelho. O verbo conhecer na Bíblia tem caráter relacional e até íntimo. "O Senhor conhece quem lhe pertence" (2Tm 2:19). Jesus disse “conheço as minhas ovelhas; e elas me conhecem” (Jo 10:14). Sendo assim, o “dantes conheceu” implica uma escolha prévia, soberana e graciosa, devido unicamente ao especial amor de Deus por nós.

Deus nos predestinou. Predestinar é destinar de antemão. Significa que Deus já tem determinado um futuro especial para nós na eternidade. Muitas pessoas não gostam da palavra predestinação, evitam-na e até a combatem. Porém essa palavra nunca é apresentada de forma negativa na Bíblia e não temos nenhum motivo para rejeitá-la, uma vez que Deus é o agente da predestinação. Ora, se cremos que tudo o que Deus faz é bom e se a Bíblia diz que Deus predestina, então devemos amar a doutrina expressa por essa palavra. Pois foi “em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade” (Ef 1:5).

Deus nos chamou. Não significa que Deus apenas nos convidou e esperou passivamente que escolhêssemos aceitar ao seu chamado. Nem mesmo que o Espírito Santo se esforçou para nos persuadir das vantagens da aceitação do evangelho comparadas com as sérias consequências da rejeição, apelando ao nosso bom senso para uma decisão sensata. Nas cartas de Paulo, a chamada de Deus é sempre eficaz. Significa que somos renovados em nosso coração, mente e vontade, pois de outro modo não poderíamos ir, desse modo, não podemos não ir. Esses dois fatos são sintetizados por Jesus quando diz “ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6:44).

Deus nos justificou. O maior dilema da humanidade é “como se justificaria o homem para com Deus?” (Jó 9:2) ou “como seria puro aquele que nasce de mulher?” (Jó 25:4). Não pecar é a resposta mais óbvia, porém a Bíblia retira qualquer esperança nesse sentido quando declara, a priori, que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3:23) e que por isso “não há um justo, nem um sequer” (Rm 3:10). Inútil seria tentar fazer algo que compensasse isso, pois “todas as nossas justiças como trapo da imundícia” (Is 64:6). Apesar disso, a Bíblia diz que Deus nos justificou! Como? Não buscando em nós justiça pessoal, mas justiça alheia, mais especificamente “a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé” (Fp 3:9). Deus castigou nosso pecado em Jesus e mediate a fé somos declarados justos diante dEle!

Deus nos glorificou. Causa estranheza a Bíblia declarar que fomos glorificados, quando ainda não experimentamos essa realidade. O que Deus está afirmando ao usar esse tempo verbal é que a nossa participação da glória de Cristo é certa. "Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo" (Fp 1:6). Se fomos chamados e justificados, então é certo que seremos glorificados, assim como é fato que fomos eleitos e predestinados. Todos esses eventos estão postos em cadeia, de modo que nenhum elo pode ser quebrado. Não é possível negar a eleição ou a predestinação sem destruir a chamada e a justificação e tornar incerta a glorificação.

Conclusão. Paulo não estava defendendo as doutrinas da eleição, predestinação, chamada, justificação e glorificação nesses versículos. Ele as tinha como certas e supunha serem aceitas por seus leitores. Ele estava utilizando essas doutrinas para justificar aos seus leitores o fato de que “todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8:29). O que ele estava ensinando é que uma vez que Deus já assegurou nosso bem da eternidade passada à eternidade futura, então “aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Rm 8:18). Que estas palavras sirvam para lhe dar a certeza de que o mesmo Deus que agiu para seu bem na eternidade passada e agirá na eternidade futura também cuidará de ti em meio as aflições presentes, para Sua eterna glória!

Soli Deo Gloria

Clóvis Gonçalves é blogueiro do Cinco Solas e escreve no 5 Calvinistas às segundas-feiras.

17 de agosto de 2011

Pequenas ações não vão mudar o mundo!

Uma das boas coisas que eu aprendi no Jornalismo foi a de rejeitar respostas ou propostas simples demais. Especialmente quando o assunto é complexo. O bom repórter precisa ser um pouco "teórico da conspiração" e buscar sentidos ocultos (mas plausíveis) por trás de cada fato ou declaração. Infelizmente, muitos jornalistas não fazem isso.

Mas abraçar o simplismo não é exclusividade de jornalistas. Embora eu considere que todos, sem exceções, caem às vezes neste erro, penso que a turma do "politicamente correto" é a que mais cai neste conto do vigário. Se for evangélico então...aí as probabilidades chegam a quase 100%.

E poucas frases ilustram melhor esse simplismo do que a frase "pequenas ações podem mudar o mundo". Não é que eu seja contrário a ideia de que cada um faça a sua parte. Mas irrita-me uma certa ingenuidade estúpida de quem se esconde atrás das ações para não pensar. Pequenas ações só são transformadoras quando movidas por grandes pensamentos.
E isso também acontece em outros jornais e revistas, de todos os tipos.

Imagine, por exemplo, um grupo de pessoas que distribui sopa aos carentes. Se elas são evangélicas, em tese, fazem isso para minorar o sofrimento dos outros e evangelizar, usando o alimento físico como um meio de falar de Jesus, o alimento espiritual. Se elas são espíritas, estão fazendo isso para alcançarem a evolução de seus espíritos e despertarem os mais pobres para a necessidade de evolução. O evangélico e o espírita, embora movidos pela religião, vão em direções opostas. O evangélico, por exemplo, considera que a caridade do espírita ajuda os necessitados a irem para o inferno (já que eles podem se inclinar ao espiritismo). E talvez algum ateu condene os dois grupos por usarem a comida como instrumento de alienação dos pobres.

O que isso mostra? Simples: os pensamentos que estão por trás das ações é que determinam a mudança.

Mas há evangélicos que não veem assim. Com preguiça de pensar, condenam os que debatem, os que assumem posicionamentos fortes e se preocupam em viver a sua fé dentro de uma determinada visão de mundo. Chegam quase a dizer algo do tipo "enquanto você perde o tempo pensando, você deveria fazer pequenas ações que mudam o mundo". Amar o próximo, chorar com os oprimidos, fazer caridade, porque essas são as coisas que importam.

Só que eles não percebem que há uma ideologia por trás de cada ação, e que é essa ideologia que determina para onde estamos indo. Eu posso comprar alimentos orgânicos para cuidar da minha saúde ou como um manifesto para acabar com o uso de agrotóxicos. O problema é que a produtividade agrícola cairia muito sem os agrotóxicos, o que faria o preço dos alimentos subir. Só que o ecoxiita cristão (e não-cristão) não quer discutir isso com você.

A Bíblia mesmo ensina que somos mudados é pela renovação da nossa mente:
Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. (Romanos 12:2)
Se a mente, ou seja, se o nosso intelecto, se o nosso pensamento, se isso for mudado, nós mudaremos. Mais do que isso: o mundo pode mudar se muitos tiverem as mentes transformadas por Cristo.

Refletir não é perda de tempo. Uma pessoa que só quer fazer pequenas ações pode até ser bem-intencionada, mas está sendo superficial. Precisamos sim encaixar nossas ações dentro de uma cosmovisão (forma de ver o mundo) de modo consciente. É à luz da Bíblia que verdadeiros cristãos analisam a caridade, a política, a arte, a ecologia e tudo o mais. E isso deveria ser ainda mais forte em cristãos que se dizem reformados, herdeiros da tradição teológica representada por João Calvino e os puritanos.

Graça e paz do Senhor,

Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro

15 de agosto de 2011

Salmo 36 - A parábola do ímpio que encontra Deus

A transgressão do ímpio diz no íntimo do meu coração: não há temor de Deus perante os seus olhos.
Porque em seus olhos se lisonjeia, até que a sua iniqüidade se descubra ser detestável.
As palavras da sua boca são malícia e engano; deixou de entender e de fazer o bem.
Projeta a malícia na sua cama; põe-se no caminho que não é bom; não aborrece o mal.
A tua misericórdia, SENHOR, está nos céus, e a tua fidelidade chega até às mais excelsas nuvens.
A tua justiça é como as grandes montanhas; os teus juízos são um grande abismo. SENHOR, tu conservas os homens e os animais.
Quão preciosa é, ó Deus, a tua benignidade, pelo que os filhos dos homens se abrigam à sombra das tuas asas.
Eles se fartarão da gordura da tua casa, e os farás beber da corrente das tuas delícias;
Porque em ti está o manancial da vida; na tua luz veremos a luz.
Estende a tua benignidade sobre os que te conhecem, e a tua justiça sobre os retos de coração.
Não venha sobre mim o pé dos soberbos, e não me mova a mão dos ímpios.
Ali caem os que praticam a iniqüidade; cairão, e não se poderão levantar.
Sl 36:1-12

Um ímpio descia pelo caminho de sua maldade. Não tinha temor de Deus, pois lá do fundo do seu coração uma voz lhe ditava impiedades (v.1). Via a si mesmo como a pessoa mais importante e acreditando que seus pecados ficariam impunes pecava, e pecava tanto, que até mesmo para outros como ele seus pecados eram destestáveis (v.2). Sua mente estava imersa em trevas, por isso não conseguia entender e menos ainda praticar o bem, então falava mentiras e falsidades o tempo todo (v.3). Antes de sair da cama, já planejava os pecados do dia e andando os colocava em prática, improvisando outros mais, pois nunca se cansava de sua iniquidade (v.4).

Assim vagava esse ímpio, num zigue-zague de iniquidades. Até que Alguém vem ao seu encontro pelo caminho. Alguém completamente diferente dele e de todos que já tinha encontrado. Era uma pessoa que tinha uma misericórdia que chegava aos céus e uma fidelidade do mesmo tamanho (v.5). Apesar disso, tinha uma justiça inabalável como os montes e seus julgamentos eram mais profundos que o mar (v.6). Dono de uma benignidade preciosa, muitos buscavam refúgio junto dele (v.7). Na verdade, Ele sustentava a todos, homens e animais (v. 7), alimentando-os do bom e do melhor e dando-lhes de beber de Suas delícias (v.8).

O ímpio encontrou a Luz e viu a luz (v.9). Ele encontrou um manancial de vida (v.9). Pede que lhe seja estendida a benignidade e a justiça que lhe faltam (v.10). O ímpio torna-se justo. Como não quer voltar à antiga vida, clama que não seja pisado nem demovido de sua posição pelo iníquo (v.11). E recebe a garantia que todos os tentadores serão vencidos, e o serão completamente (v.12). E assim termina sua vida de impiedade.

Soli Deo Gloria

Nota: Via de regra, parábolas não trazem o nome dos personagens. Mas você é livre para dar nome ao ímpio. Eu dei.

Clóvis Gonçalves é blogueiro do Cinco Solas e escreve no 5 Calvinistas às segundas-feiras.

3 de agosto de 2011

Nem todos descansam em paz

Publicado originalmente no Reforma e Carisma.

Quem já viu desenho animado, deve se lembrar de quando um personagem "morre" e é enterrado. Nestes momentos, aparece uma lápide de pedra com a inscrição "RIP", uma abreviação de "rest in peace", que significa "descanse em paz" em português. O termo "RIP" também é conhecido de quem usa o Twitter e é uma hashtag muito comum usada quando morre alguém famoso, como a cantora Amy Winehouse.

A ideia por trás da expressão é a de que morte significa o fim do sofrimento. Morrer é descansar das aflições e angústias da vida, uma forma de por fim às dores e lutas. A esperança deste descanso é a crença que move a maioria dos cerca de um milhão de pessoas que se suicidam todo ano. O fim da vida seria a forma de fugir do bullying, das doenças, da decepção e da dor provocada pela morte de outras pessoas. Afinal, não existir é melhor do que certos graus de sofrimento.

Pelo menos é o que parece para algumas celebridades ao comentarem o falecimento da cantora Amy Winehouse, uma diva mergulhada em drogas e desespero. Demi Moore espera que "sua problemática alma soul encontre paz". Lily Allen partilha da mesma esperança: "Ela era uma alma perdida, espero que ela descanse em paz".

No entanto, estão eles certos? A morte trará paz a todas as almas do mundo?

A Bíblia é categorica: a resposta é não. Na verdade, o resultado de nossa morte depende do julgamento e da obra de Deus em nossas vidas:
Da mesma forma, como o homem está destinado a morrer uma só vez e depois disso enfrentar o juízo, assim também Cristo foi oferecido em sacrifício uma única vez, para tirar os pecados de muitos; e aparecerá segunda vez, não para tirar o pecado, mas para trazer salvação aos que o aguardam. (Hebreus 9:27-28)
Há um julgamento
Em primeiro lugar é preciso que entendamos que seremos julgados por Deus pelo que fizemos em nossa vida. Quando morremos não estamos livres do que fizemos ou deixamos de fazer enquanto vivíamos. Ao contrário, é o momento em que nossas ações e crenças serão pesadas diante de Deus:
Pois todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba de acordo com as obras praticadas por meio do corpo, quer sejam boas quer sejam más. (2 Coríntios 5:10)
Para aqueles que fizeram o bem, a morte é sim o momento do descanso e da recompensa. É a hora de receber o louvor de Cristo e aguardar até que Ele venha trazer salvação completa a todos os que O aguardaram.

Mas, para quem fez o mal, a penalidade será aplicada "de acordo com as obras praticadas". Nestes casos, a morte não é o fim, mas sim o início de um sofrimento ainda maior do que aquele que foi experimentado em vida. Segundo o próprio Jesus, o inferno é um lugar tão terrível, que é mais apavorante do que a própria morte:
Eu lhes digo, meus amigos: não tenham medo dos que matam o corpo e depois nada mais podem fazer. Mas eu lhes mostrarei a quem vocês devem temer: temam aquele que, depois de matar o corpo, tem poder para lançar no inferno. Sim, eu lhes digo, esse vocês devem temer. (Lucas 12:4-5)
Não há uma segunda chance, outras vidas onde se pode recomeçar com menos pressão e consertar o que foi feito no passado. O julgamento acontece assim que morremos e nos encontramos com o Senhor.
Quadro "O Juízo Final", de Jehan Cousin Le Jeune

Jesus: o Salvador de muitos
Qual o critério usado por Deus neste julgamento? Com certeza as obras definem as penas e recompensas, mas não são elas que definem se o veredicto será "inocente" ou "culpado". A sentença depende do sacrifício que Cristo Jesus fez na cruz, morrendo no lugar dos pecadores, para tirar os pecados de muitos.

Não há outra forma de ser considerado inocente. A Bíblia ensina que todos nós pecamos e, por esta razão, o pagamento justo que deveríamos receber era a morte:
Que concluiremos então? Estamos em posição de vantagem? Não! Já demonstramos que tanto judeus quanto gentios estão debaixo do pecado. Como está escrito: "Não há nenhum justo, nem um sequer; não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus". (Romanos 3:9-11)

Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor. (Romanos 6:23)
Logo, a lógica bíblica é a de que todos nós deveríamos ser condenados por Deus. A morte seria o início da dor para todos. Mas, em Cristo há uma exceção:
Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por meio dele. Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no nome do Filho Unigênito de Deus. (João 3:16-18)
A única forma de enfrentar o Juízo e encontrar a paz após a morte é crendo em Jesus. Aquele que crê que Jesus veio ao mundo para morrer no lugar dos pecadores e deposita em Cristo a sua vida, esse não é condenado. Mas todos os que duvidam de Cristo e não creem n'Ele já estão condenados. Esses jamais descansarão em paz.

Aguardando a Cristo
Mas o que muitos precisam é de paz para o presente. Muitas vezes a vida parece mesmo insuportável, um fardo enorme e impossível de se carregar. Eu mesmo já pensei em tentar o suicídio algumas vezes e em vários momentos questionei se a vida valeria mesmo a pena ser vivida. E sei que não sou o único. O que fazer nessas situações?

A resposta é dada no final de Hebreus 9:28. Jesus veio trazer a salvação aos que O aguardam, aos que estão esperando o Seu retorno. De fato, aquele que crê em Cristo já é salvo, está livre da condenação eterna e conta com a ajuda de Deus desde agora. Mas a salvação ainda não está completa e só será concluída no fim dos tempos.

O cristão deve ter, portanto, uma atitude de esperança e paciência diante do sofrimento. Ele precisa ter fé de que a dor e os problemas são passageiros. Mesmo que os nossos problemas se arrastem por décadas, no final Cristo virá e nos livrará de toda dor. Contudo, essa é uma bênção que só alcança aqueles que esperam por Jesus.

O que não quer dizer que não tenhamos um socorro imediato. Jesus está o tempo todo diante do Pai, orando por nós e nos convidando a irmos até Ele para recebermos a graça e a misericórdia de que necessitamos:
Portanto, visto que temos um grande sumo sacerdote que adentrou os céus, Jesus, o Filho de Deus, apeguemo-nos com toda a firmeza à fé que professamos, pois não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas sim alguém que, como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado. Assim sendo, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade. (Hebreus 4:14-16)
Não importa qual o sofrimento que nos aflige: Jesus pode nos socorrer. Ele entende as nossas fraquezas e está ao lado do trono do Pai, oferecendo o que nós precisamos para vencer os momentos de necessidade. Enquanto não encontramos o descanso definitivo de nossos problemas, em Cristo podemos achar tudo o que precisamos para perseverar e vencer.

Não adianta, portanto, nos iludirmos pensando que a morte trará a paz. Morrer não é a solução. A única forma de realmente derrotar a dor e as tristezas de nossa vida é crendo em Jesus, nos aproximando do trono do Pai e aguardando o retorno de Cristo. Até que esse dia chegue, por mais difíceis que seja a nossa situação, Deus sustentará os que crerem n'Ele.

Graça e paz do Senhor,

Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro