A segunda possibilidade, é a de que, não apenas a cosmovisão e os processos mentais direcionados pela Escritura foram reduzidos, mas a própria capacidade de pensar profundamente e compreender as coisas. Nesse sentido, não existiria mente cristã, porque a própria mente em seu sentido mais amplo estaria reduzida às escolhas mais básicas da humanidade: "o que vou almoçar hoje?", "será que é melhor ir ao banheiro agora?", "acho que estou com sono... vou dormir". Este aspecto do fim da mente cristã revela a redução na capacidade de raciocinar e desenvolver reflexões mais elaboradas sobre O Criador, a Criação, e as relações daí decorrentes.
Não me entendam mal, este não é um fenômeno exclusivamente cristão. Há quem estude esta queda abrangente e publique suas pesquisas sobre o assunto, como Allan Bloom, em seu livro "O declínio da cultura ocidental" (ed. Best Seller), ou dê exemplos de como os intelectuais já não são mais como outrora, a exemplo do "imbecil coletivo", de Olavo de Carvalho (ed. É realizações).
Permitam-me ilustrar o ponto entre os cristãos. Em 2003, o Barna Grupo divulgou os resultados de uma pesquisa sobre a leitura de material cristão entre os americanos. Havia alegria na publicação: metade dos americanos havia lido livros cristãos, e um terço deles estava comprando livros. Alguns pontos foram interessantes: os politicamente conservadores estão à frente no consumo de publicações cristãs, seguidos dos cristãos não evangelicais (provavelmente reformados e outros grupos). Os adultos e adolescentes evangelicais também merecem destaque na leitura de tais obras.
Embora exista algo de bom em que se esteja lendo livros cristãos, o número ainda é vergonhoso, e não digno de comemoração. A pesquisa demonstra que o adolescente comum comprou, no ano, apenas três livros (é possível que tenha lido mais, mas uma média dessa revela algo sobre o consumo e leitura de livros entre adolescentes). O adulto médio, de quem se poderia - teoricamente - esperar mais, comprou não muito mais do que isso: cinco livros por ano.
Mas essa não é a pior notícia. Alguém poderia argumentar que, se todo adolescente mantivesse a média de ler três livros por ano, e todo adulto lesse cinco no mesmo período, isso já seria motivo de muita alegria e enriquecimento. Eu não sou tão otimista assim. Primeiro porque, sem rebaixar os padrões, ler 3 livros em um ano inteiro é pouco. Soe isso arrogante ou não. Ou, se é para abrir uma concessão, que esses três livros fossem relidos várias vezes ao longo do ano, a fim de captar mais intensamente o seu conteúdo. Outro ponto é que, além da quantidade de livros lidos, é preciso selecionar bem o conteúdo do material a ser estudado.
E aqui está o problema: enquanto o Barna Group comemorou esses tímidos números, eu tentei desvendar que materiais cristãos estavam sendo lidos. Cheguei a uma pesquisa do mesmo grupo, realizada dois anos depois - em 2005. Ali está uma lista dos top 7: os livros cristãos mais populares nos Estados Unidos. Eis o ranking (alguns títulos são tradução livre, já que não conheço em português):
1 O código Da Vinci (Dan Brown)
2 Uma vida com propósitos (Rick Warren)
3 As cinco pessoas que você encontra no céu (Mitch Albom)
4 Deixados para trás (Tim Lahaye)
5 A oração de Jabez (Bruce Wilkinson)
6 Terças com Morrie (Mitch Albom)
7 Sua melhor vida agora (Joel Osteen)
O que esta lista fala sobre a qualidade da leitura popular? Não que nada possa ser aproveitado daí, mas qualificar O Código Da Vinci como literatura cristã já revela o início do problema, considerando o fato de que o autor desta obra tenta colocar em cheque o ensino bíblico sobre Jesus. "Literatura anticristã" seria mais apropriado. Dos demais, uma mistura de judaísmo, com teologia da prosperidade, auto-ajuda e ficção dispensacionalista, indicam que, se os três livros que os adolescentes leram, e os cinco dos adultos, forem dessa lista, o problema com a mente cristã é ainda maior.
Embora as pesquisas tenham sido realizadas nos Estados Unidos, creio não haver muita diferença em relação ao Brasil. Talvez ainda haja mais leitura por lá do que por aqui. O desafio que temos hoje, para resgatarmos a mente cristã, é de incentivarmos e promovermos a leitura, investirmos na produção e aquisição de bons livros, e trabalharmos pesado para que, pelo ensino bíblico, a cosmovisão cristã seja uma realidade entre nós.
Deus nos ajude.
Allen, parabéns pelo excelente post.
ResponderExcluirOutro dia estava "pendurado" na estante de uma livraria e apareceu uma moça perguntando sobre um livro. A assistente disse que o estoque estava zerado. Comentou, em seguida, com uma colega de expediente: "Nossa, depois que saiu na Veja uma matéria sobre esse livro, toda hora chega gente procurando."
Isso ilustra o quanto a leitura é contagiosa. Um bom estímulo é comentar mais, expor mais àqueles que conosco convivem o quanto a boa literatura ajuda.
Vivemos esse triste quadro: os brasileiros leem pouco ou quase não leem. E quando incursionam neste universo, o fazem movidos pela "onda", sem filtros e sem balizas literárias.
Em minha sala de EBD desenvolvemos um projeto há três anos. Trata-se da "Biblioteca Rotativa". Todo começo de ano, compramos em conjunto um pacote de livros. Rodiziamos a leitura durante o ano, promovemos conversas, e depois doamos ao acervo da igreja.
Precisamos descaricaturizar a leitura, como se fosse coisa pra intelectual. Gosto de pensar e compartilhar que lemos, na verdade, porque não conseguiríamos viver sem. Queremos estender nosso círculo de amigos, como dizia Lutero em relação a seus amigos mortos. Ou como afirmava C.S. Lewis no seu insuperável "A experiência de ler" (Porto Ed.): gostamos de comparar notas.
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ResponderExcluirBoa postagem pastor. Infelizmente não nos traz muita felicidade analisar estes pontos, vendo que esta é realidade dos "cristãos" de hoje, mas também não podemos fugir disso. Eu as vezes paro pra pensar nesta situação, não apenas com leituras, mas também de leituras, e tantas outras práticas da vida cristã... Do modo como as coisas tem andado hoje, e pessoas tem dado esse testemunho, e o que é pior, muitos líderes de igrejas e ministérios tem feito "discípulos", que são desenvolvidos baseados nesta realidade de um conhecimento bíblico superficial e muito sobre ficção, e tantos outros conhecimentos "atrativos", mas que não produzem nada de bom e seguro, ou no mínimo parecido com o evangelho do Reino. Isso vai gerando uma certeza tão grande dentro das mentes das pessoas, e algo que não chega nem perto daquilo que Cristo nos deixou, esta passa a ser a verdade para eles, e o pior, chamam de evangelho. Muitas vezes com uma grande porção de emoção e sentimento, que pelos próprios, acabam se deixando levar. Na verdade, tudo aquilo que desejam, e quase nada do que precisam; um "evangelho" frustrado.
Imagina como seria (ou será) esta próxima geração, se as coisas continuarem assim? - Seria pessoas que acreditariam viver, como muitos dizem hoje, o Cristianismo autêntico. Infelizmente por falta de conhecimento, o qual o próprio Deus nos revela, mas nós mesmos, homens, muitas vezes desprezamos.
Boas práticas como citado acima pelo Márcio sobre a bibilioteca, divulgação, anúncio sobre os mesmos, atitudes como essas aqui creio que ajudam! Temos que trabalhar em cima do problema, para solucionar. Creio que cada um de nós fazemos parte dessa solução.
Vamos continuar mudando! Um forte abraço! Willy Menezes (IB. Getsêmani)
Incentivo não só de leitura, mas da leitura crítica.
ResponderExcluirAbraços.
Excelente post, pr. Allen! :D
ResponderExcluirE que Deus nos ajude!
Abraço!