3 de outubro de 2011

Uma trilha sonora para a sua vida

Acredito que as pessoas já sabem que não sou apenas uma garotinha sexy, tenho mais a dizer. Estou tentando dar às pessoas trilha sonora para suas vidas - músicas que expressam um barril de emoções. (Katy Perry)
Eu sou pastor, mas se você vasculhar as minhas playlists no YouTube ou no meu MP3 player, vai ter uma surpresa. Muito sertanejo (especialmente universitário), pop e rock. Aqui e ali você encontra algo de MPB. E sim, algumas músicas evangélicas...todas no estilo "adoração" e que podem ser classificadas como boas para se usar nos cultos. Mas não espere encontrar pop gospel, rock gospel (exceto Oficina G3), sertanejo gospel...

Não, não se trata de nenhuma bronca especial que eu tenha com a música gospel. Ao contrário, várias músicas feitas para o culto cristão efetivamente abençoaram a minha vida e são bem-vindas quando executadas. Eu mesmo faço parte de um ministério de louvor. Mas, quando se trata de "música cristã"...aquela que não cabe bem em um culto e fica melhor no rádio de um carro do que no templo...bom, aí há algumas coisas a se considerar.
Katy Perry

A graça comum
A primeira é que artistas não-cristãos podem sim fazer arte que glorifique a Deus e seja boa para ser apreciada pelos homens. Glorificar a Deus não é algo que apenas pessoas salvas e geradas de novo pelo Espírito Santo podem fazer. Na verdade, até mesmo seres inanimados podem fazê-lo.
Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos. (Salmo 19:1)
Na verdade, o tempo todo os cristãos se beneficiam de obras realizadas por não-cristãos e não vemos problema algum nisso. Tomamos remédios, desfrutamos de invenções tecnológicas, lemos livros e vemos filmes que foram feitos por pessoas sem temor de Deus em seus corações. Obviamente, todas essas obras não foram feitas com a intenção explícita de glorificar a Deus.

E por que nós podemos usufruir de tudo isso? Por causa daquilo que os reformados chamam de graça comum, ou seja, das bênçãos que Deus distribui a todos os seres humanos, independente de sua fé. Mesmo quando os homens usam essa graça sem a intenção explícita de engrandecer ao Senhor, Ele é glorificado pelo simples fato dessas bênçãos serem usadas. Afinal, o cantor, o artista, a engenheira ou a médica podem não saber, mas aquele talento todo procede de Deus e deve ser usado. Pode não ser essa a intenção, mas o uso deste talento beneficia os seres humanos. E, por causa de tudo isso, glorifica ao Senhor. Como está escrito:
Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes. (Tiago 1:17)
Uma visão limitada da glória de Deus
No entanto, a maioria dos cristãos evangélicos parece não entender ou não aceitar o conceito de graça comum. Eles desconfiam de tudo que é produzido "fora da igreja" e têm dificuldades em apreciar o que é feito por não-cristãos. Por isso o pé atrás em relação à ciência, a recusa de participar de eventos sociais fora da igreja (no máximo, festinha de criança, se não tiver cerveja), o pouco interesse pelos últimos lançamentos nas livrarias e, acima de tudo, o medo da arte. A ideia é que apenas a música que mencione especificamente o nome de Deus e seja ligada à adoração ou ao culto são seguras. De que somente este tipo de música glorifica a Deus.

Quem pensa assim não consegue enxergar a glória de Deus fora das quatro paredes dos templos. Só consegue vê-la nos cultos, nos irmãos, nas atividades eclesiásticas. Não se envolve com o "mundo" (a sociedade exterior) pois só vê nele o que é mau e diabólico. Nada mais natural que fuja da música, ainda mais quando se ouvem notícias como a morte da cantora Amy Winehouse.

Mas Deus é glorificado fora da igreja. Ele é glorificado no amor, na poesia, no trabalho. É glorificado quando perdemos alguém, ficamos doentes e temos que enfrentar situações difíceis. É exaltado nos nossos momentos de indecisão e até quando erramos. No nosso dia-a-dia o Senhor é exaltado.

A Bíblia mostra isso o tempo todo. As Escrituras não tratam apenas dos momentos "religiosos" ou cúlticos de seus personagens. Ao contrário, ela mostra como as histórias de vida de cada personagem honram ou não a Deus. Mesmo em fracassos monumentais, como o adultério de Davi ou quando o apóstolo Pedro nega três vezes a Jesus, a glória do Senhor se manifesta.

Sem falar que o fato do próprio Jesus ter se encarnado e participado da nossa vida comum já mostra o quanto ela é importante pra Deus. Jesus não amou uma mulher específica, mas amou a Igreja e viu várias histórias de amor em sua vida. Seu primeiro milagre foi em um casamento. Ele ia comer com gente de má fama. Quer sinal maior do que esse para entendermos como o Senhor é glorificado fora dos cultos?

Onde está a trilha sonora?
E aí vem a minha crítica aos músicos cristãos. A ampla maioria deles compõe apenas para a igreja. Mesmo os cantores de ritmos como rap, funk e axé buscam se apresentar nos templos e shows com canções explicitamente cúlticas ou que lembram muito um sermão. E as músicas que falam da vida das pessoas?

São poucos os músicos cristãos que compõem, tocam e cantam buscando o teatro, ao invés do templo. Que falam de amor, de lutas, de morte, de desabafos, da alma de seres humanos buscando o Deus vivo em suas vidas. Faltam músicas que a gente ouça e possa dizer "essa faz parte da trilha sonora da minha vida".

E se os artistas cristãos não o fizerem, outros o farão, e muito bem. Engana-se quem pensa que o público que vai a eventos como o Rock in Rio quer apenas uma relação comercial. Conheço muitas pessoas que se identificam fortemente com bandas e têm suas vidas inspiradas pela música. Canções que ilustram momentos de alegria e de tristeza, que ajudaram a começar e a terminar relacionamentos, que deram forças para dar a volta por cima ou as ajudaram a tomar decisões. Os (bons) shows têm um quê de culto, de transcedência, algo que encanta e fascina tanto os fãs como os astros.

E confesso: vários artistas como Roxette, Queen, Paula Fernandes e até Katy Perry e Maria Cecília e Rodolfo fazem parte da trilha sonora da minha vida. E sim, sou grato ao Senhor por isso. E sim, lamento muito quando os evangélicos boicotaram bandas como a Catedral que tentaram fazer isso e foram rechaçados pelos seus irmãos de fé.
Banda Catedral: uma rara tentativa de alcançar "todo o mundo"

Espero que Deus levante músicos cristãos que tenham o propósito de escrever trilhas sonoras para a vida das pessoas. Trilhas que glorifiquem ao Senhor e marquem a vida de seus ouvintes.

Graça e paz do Senhor,

Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro

5 comentários:

  1. Olá, quanto a coisas do mundo eu também acredito que o Senhor é glorificado. Na (boa) música, nos (bons) livros, nos acontecimentos,etc. Nos beneficiamos com a maravilhosa graça comum que Deus pôs nesse mundo. Quanto a envolver-se com o mundo devemos ter cautela, pois sabemos que ele não anda nos caminhos do Senhor e pode utilizar da graça comum para desagradar ao Senhor como: livros impuros, baladas noturnas, shows de rock,etc.
    Basta ao cristão se afastar desse mau uso que o mundo faz dessa graça.

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  2. Ana Paula,

    Concordo em parte. Temos sim que ter discernimento para evitar os maus livros, as más diversões, o mau uso das bênçãos que Ele nos deu. Contudo, é muito difícil achar algo completamente bom ou mau, sempre há que se examinar para discernir as coisas.

    E, ao contrário de você, não acho que baladas noturnas e shows de rock, por si só, sejam coisas que desagradem ao Senhor. Diria que também aí é o caso de discernir as más baladas e os maus shows.

    Graça e paz do Senhor,

    Helder Nozima
    Barro nas mãos do Oleiro

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  3. Oi irmão Helder!
    A respeito de baladas (nunca frequentei,só vejo através de filmes e novelas) digo que é um tipo de diversão ímpia porque sempre tem bebados, droga, prostituição, ficantes,coisas que não convém para nós que devemos buscar santificação. Nunca vi balada boa,que não tenha esses comportamentos. E os shows de rock não acho bom porque o rock tem suas raízes satânicas. Eu li em um site cristão que trata disso em detalhes. Mas outros tipos de shows com músicas boas clássicas, sertanejo, etc não vejo mal nenhum. Eu penso: Se Cristo voltasse hoje e visse seus servos em uma balada, na folia do profano carnaval e num show de rock, como Ele ficaria?
    Eu até imaginei.
    Abração, que Deus abençõe seu blog e traga bastante leitores!!

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  4. O cara fala mau de Catedral e diz que curti Katy Perry... fim dos tempos mesmo! (só pra constar não curto catedral). Então pra você bastar ser talentoso e saí dando glórias a Deus pela graça comum? Kety Perry é muito mal influencia para muitos jovens hoje (principalmente meninas), gosto de música não "gospel".... mas temos que saber escolher... não é sair por ai ouvindo qualquer merda, ainda dizer que é graça comum e que glorifica a Deus!

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  5. Jason,

    Se você ler com atenção, vai ver que não falei mal do Catedral (ao contrário). Eu também não endossei tudo o que a Katy Perry ou outros cantores cantam ou representam...algumas inferências não fazem jus ao conteúdo do texto.

    Graça e paz do Senhor,

    Helder Nozima
    Barro nas mãos do Oleiro

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