22 de setembro de 2010

O exemplo de Neymar

Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. (Romanos 13:1)
A maior prova de que lemas, slogans e similares não significam nada é a bandeira do Brasil. "Ordem e progresso" traz a ideia de que é preciso ordem (hierarquia, respeito às leis e às autoridades, obediência) para se alcançar o progresso. Mas, no país do jeitinho, todos estão...o tempo todo...buscando formas de alcançar o progresso (sucesso, prosperidade material) burlando a ordem.


No Brasil, se o talento e o sucesso podem garantir uns milhões de dólares a mais, valores éticos como o respeito à autoridade podem ser jogados no lixo. Afinal, ganhar um jogo ou valorizar o produto são mais importantes do que formar o caráter de um jovem atleta que se diz cristão.

Essa é a grande lição dada pela diretoria do Santos e pelo "grande" atacante Neymar. Durante o jogo entre Santos e Atlético Goianiense, Neymar xingou publicamente o seu técnico apenas porque o treinador determinara que outro jogador deveria bater um pênalti. Ficou acertado que o atacante seria afastado por tempo indeterminado, mas a diretoria do Santos demitiu o técnico Dorival Júnior porque ele se recusou a escalar o atleta no jogo contra o Corínthians. A razão da demissão? Grana e pressões pela queda do técnico.

Mas, que diz a Bíblia? Devemos imitar o exemplo de Neymar?

A hierarquia é um valor bíblico
Em primeiro lugar, precisamos entender que a hierarquia não é algo mau que fere a nossa liberdade. As autoridades são constituídas por Deus e devem ser obedecidas. Não importa se estamos falando de presidentes da República, juízes, pais ou técnicos de futebol. O cristão deve se sujeitar. Essa é a regra.

E as qualificações de quem manda não mudam a regra. Paulo disse que as autoridades romanas deveriam ser obedecidas, embora elas fossem ímpias e não reconhecessem a Deus. Pedro disse que as esposas cristãs deveriam ser submissas aos seus maridos incrédulos:
Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor. (1 Pedro 3:1-2)
Na verdade, toda ordem de obediência às autoridades pode ser entendida como uma conseqüência lógica de um dos Dez Mandamentos, o de honrar pais e mães:
Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR, teu Deus, te dá. (Êxodo 20:12)
A Bíblia não diz que os pais só devem ser honrados se eles forem competentes, cristãos, legais...eles devem ser honrados...e ponto! O mesmo princípio é extensível a outras autoridades: do guarda de trânsito até a mais alta autoridade do país.

O exemplo de outro jovem talento
E ninguém melhor do que Jesus para ilustrar essa verdade. Em Lucas 2:41-52 lemos que o adolescente Jesus "aprontou uma" para os seus pais. Quando a festa da Páscoa terminou, Jesus resolveu ficar no templo discutindo com os doutores da Lei e não avisou os seus pais. José e Maria ficaram preocupados, mas Jesus respondeu que deveria cuidar dos negócios de seu Pai (Lucas 2:49).


Antes de dizermos que Jesus foi um Neymar, vejamos que:

1) Ele é Deus;
2) Ele é perfeito;
3) Ele não comete pecado.

Logo, em tese, Jesus poderia ficar lá, fazer o que quisesse...e não obedecer a José e Maria. Afinal, em última análise, José e Maria são servos de Cristo. Mas, que diz a Bíblia?
E desceu com eles para Nazaré; e era-lhes submisso. Sua mãe, porém, guardava todas estas coisas no coração. (Lucas 2:51)
Se Jesus é o exemplo supremo, aqueles que se dizem seus irmãos deveriam imitá-Lo. As leis (que são ordens de autoridades legislativas constituídas por Deus), os pais, os professores, os chefes...todos deveriam ser respeitados e obedecidos na maior parte do tempo.

Neymar não é o único
Mas hoje contestar, questionar e ofender as autoridades é a moda. Alunos fazem piada dos professores, adolescentes se comportam como animais em acampamentos evangélicos, filhos não dão mais satisfação aos pais. No fundo, todos eles se acham melhores, mais inteligentes, espertos ou legais do que as autoridades.

Contudo, este não é um problema dos mais jovens. No Brasil de hoje, o presidente da República se sente à vontade para afrontar a liberdade de imprensa, um princípio fundamental da Constituição, a ponto de provocar uma reação dos jornais brasileiros e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Nesta semana um governador é preso pela Polícia Federal por desvio de verbas, solto e é recebido com festa no Amapá. Hoje surgiu mais uma denúncia de tráfico de influência, de uma empresa que teria sido favorecida em uma licitação por ter como funcionário o filho de um ministro. Parece que todos, inclusive as autoridades, querem burlar a ordem em benefício próprio.

Na verdade, a desobediência, a falta de domínio próprio, a ingratidão (não foi Dorival quem deu uma chance a Neymar?) e a irreverência são marcas do homem dos últimos dias. E é exatamente por causa destas coisas que essa época pode ser chamada de difícil:
Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes. (2 Timóteo 3:1-5)
O mundo pode até valorizar os irreverentes e desobedientes como heróis e pessoas de "personalidade". Mas os verdadeiros cristãos devem fugir deste padrão. E, quando caírem neste tipo de erro, devem se arrepender e mudar de atitude.

Como mudar?
E a receita está em Tito 3:1-7. Leiamos primeiro do versículo 1 ao versículo 3:
Lembra-lhes que se sujeitem aos que governam, às autoridades; sejam obedientes, estejam prontos para toda boa obra, não difamem a ninguém; nem sejam altercadores, mas cordatos, dando provas de toda cortesia, para com todos os homens. Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros. (Tito 3:1-3)
A Igreja precisa ensinar a todos, desde as crianças até os mais idosos, que nós devemos nos sujeitar às autoridades. A desobediência deve ser vista como um pecado que os verdadeiros cristãos abandonam. Afinal, como diz a Bíblia, outrora...em outra era...nós éramos desobedientes.

Mas falta ler os versículos 4 a 7:
Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna. (Tito 3:4-7)
Os desobedientes devem buscar na graça de Jesus Cristo o lavar regenerador do Espírito Santo. Devem crucificar com Cristo a desobediência e suplicar ao Pai que o Espírito os lave deste pecado. Só assim será possível vencer a rebeldia do coração humano.

A exceção
A única exceção seria a de recebermos uma ordem que contrarie uma lei maior, a de Deus. Por exemplo, quando o Sinédrio quis proibir os apóstolos de pregar o Evangelho, eles tiveram que desobedecer. A razão está nos lábios de Pedro e João:
Chamando-os, ordenaram-lhes que absolutamente não falassem, nem ensinassem em o nome de Jesus. Mas Pedro e João lhes responderam: Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus; pois nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos. (Atos 4:18-20)
As autoridades também devem ser questionadas quando peca, ainda que seja em sua esfera íntima. Foi o que fez João Batista, ao confrontar a conduta sexual de Herodes:
Porque o mesmo Herodes, por causa de Herodias, mulher de seu irmão Filipe (porquanto Herodes se casara com ela), mandara prender a João e atá-lo no cárcere. Pois João lhe dizia: Não te é lícito possuir a mulher de teu irmão. E Herodias o odiava, querendo matá-lo, e não podia. Porque Herodes temia a João, sabendo que era homem justo e santo, e o tinha em segurança. E, quando o ouvia, ficava perplexo, escutando-o de boa mente. (Marcos 6:17-20)
Convenhamos...o caso do cristão Neymar não se encaixa em nenhum dos casos. Na maioria das vezes, o pecado é ignorar a regra, e não as exceções. Mas...

Mas quando as autoridades do país quebram leis às quais eles estão sujeitos ou pecam, aí sim a Igreja deveria fazer alguma coisa. E a indiferença de muitos cristãos diante da conduta das autoridades no Brasil é também pecado.

Que o Brasil deixe de ser o país onde nos rebelamos quando estamos errados e somos cordeirinhos mansos quando deveríamos abrir a boca. Que o Senhor tenha misericórdia de nós!

3 comentários:

  1. Escrevi um artigo essa semana na mesma direção, leia por favor e comente: www.ezequiaspastor.blogspot.com

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  2. Entendo o texto, mas confesso que achei estranho que a maior parte do mesmo refira-se à obediência, quando o contexto nacional é de desobediência aos preceitos de Deus. Porque não exaltar a rara atitude de Lutero, Dietrich Bonhoeffer e Martin Luther King, dentre alguns outros? Porque não citar um pastor presbiteriano brasileiro cujo nome foi James Wright e que lutou bravamente contra o AI5? Talvez, estejamos demasiadamente influenciados pelo positivismo, acreditando que a "ordem determina o progresso"."

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  3. João Inácio,

    Seu comentário é contraditório. Diz você "achei estranho que a maior parte do mesmo refira-se à obediência, quando o contexto nacional é de desobediência aos preceitos de Deus." Logo a seguir, você diz "Porque não exaltar a rara atitude de Lutero, Dietrich Bonhoeffer e Martin Luther King, dentre alguns outros?" Ora, qual a sua reclamação: que eu falei sobre obediência ou por que não dei exemplos de obediência?

    Entendo que você conheça que a atualidade é um dos critérios para a confecção de textos. Peguei o exemplo do Neymar por se tratar de um caso atual e que pode alcançar pessoas que não conheçam, por exemplo, Bonhoeffer ou James Wright. Ao meu ver, a escolha do gancho do texto ou dos exemplos a serem abordados fica a critério de cada colunista. Embora não entenda como, por exemplo, James Wright se encaixe no problema que quis abordar (o foco do meu texto não é desobediência civil, a exceção à regra, mas a regra em si).

    Quanto ao lema positivista bandeira, não é que eu o endosse pelo positivismo em si. Mas o Deus da Bíblia é aquele que transformou o caos em ordem, para que o mundo se desenvolvesse a partir daí. Aliás, a Bíblia preza sim pela ordem como uma condição para um desenvolvimento saudável da sociedade. Sinceramente, não me recordo de um episódio bíblico em que a desordem seja apontada como algo que leva ao progresso.

    Graça e paz do Senhor,

    Helder Nozima
    Barro nas mãos do Oleiro

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