Exorta aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que tudo nos proporciona ricamente para nosso aprazimento; que pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir; que acumulem para si mesmos tesouros, sólido fundamento para o futuro, a fim de se apoderarem da verdadeira vida. (1 Timóteo 6:17-19)
Confesso que a moralidade do brasileiro é algo extremamente confuso e complexo para mim. Veja, por exemplo, os critérios que são usados pelos eleitores para eleger seus representantes. No horário eleitoral gratuito e nos debates, fala-se em votar contra o candidato dos empresários. O fato de alguém ser rico ou empresário é apontado como um pecado capital, uma espécie de lepra ética, que deve ser escondida a todo custo. Mas a falta de estudo não é vista como algo problemático para a eleição de autoridades, como bem prova o deputado federal mais votado das eleições de 2010, o palhaço Tiririca. Corrupção também não parece ser problema, já que deputados acusados de envolvimento no mensalão foram eleitos, sem falar nos políticos ficha suja.
O mesmo acontece no terreno da teologia. A teologia católica é cheia de reservas em relação à riqueza material, tanto que os padres fazem voto de pobreza. Nas igrejas históricas do protestantismo, é nítida a influência da teologia latino-americana e sua proposta de reinterpretar a Bíblia de modo mais sociológico (eu diria, marxista mesmo), enxergando-a em um contexto de luta entre exploradores e explorados. Uma leitura que acaba colocando a riqueza como algo pecaminoso em si mesmo e que deve ser limitada a qualquer custo. Esta é uma das raízes de propostas como o plebiscito sobre o tamanho da propriedade rural, apoiada pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil e pela sua satélite protestante, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil.
Mas, a riqueza é, em si mesma pecaminosa? O que podemos dizer?
A riqueza pode ser uma fonte de tentações
Vamos examinar o texto que abre este post. Em 1 Timóteo Paulo dá ao jovem pastor Timóteo uma série de orientações sobre como cuidar de diferentes grupos de pessoas, como servos e senhores. Uma dessas instruções é específica para os ricos.
Basicamente Paulo diz que os ricos devem evitar dois pecados: o orgulho e a confiança nas riquezas. O dinheiro, os bens materiais, as posses...nada disso faz do rico uma pessoa superior, por si só, aos demais. Ele não deveria ser uma pessoa orgulhosa, soberba, esnobe. Por outro lado, ele também não deve trocar o Deus verdadeiro pelo dinheiro. Ele não deveria agir como o jovem rico que se encontrou com Jesus e escolheu ficar com suas posses ao invés de seguir a Cristo. A nossa confiança deve ser depositada unicamente em Cristo.
Mas, se formos sinceros e honestos, veremos que estas instruções se aplicariam, perfeitamente, a outros grupos. As pessoas bonitas não devem se orgulhar de sua beleza e nem confiar nela como sendo uma fonte de sucesso, dinheiro e outros prazeres. O mesmo pode ser dito dos que possuem um bom emprego, ou são doutores, dos atletas ou de quem se destaca de forma acentuada em qualquer área.
A riqueza também pode ser uma tentação porque abre portas a uma série de prazeres pecaminosos. Com dinheiro sobrando é muito mais fácil obter poder para se comprar o que quiser...de favores sexuais a políticos, incluindo-se aí drogas, bajuladores e outras tantas que não consigo imaginar. No entanto, tudo isso seria apenas um sintoma de um coração que confia nas riquezas e não em Cristo. Por isso Paulo se concentrou apenas nas duas exortações acima.
A riqueza pode ser uma fonte de bênçãos
Contudo, nem só de perigos vive a riqueza. Na verdade, se os ricos souberem usar corretamente os seus bens podem acumular um sólido tesouro espiritual que lhes será útil para se apoderarem da vida verdadeira. Assim como o dinheiro pode abrir uma série de oportunidades para o pecado...também pode ser uma fonte de bênçãos para a Igreja, o mundo e para o homem rico.
Para atingir esse objetivo, Paulo dá três conselhos: pratiquem o bem; sejam ricos em boas obras e generosos para dar e repartir.
Ao meu ver, praticar o bem seria a mesma coisa que ser rico em boas obras. Envolve aqui não apenas o "dar e repartir", mas também todas as questões relativas à piedade pessoal, como a oração, os jejuns e a leitura da Palavra. Mais: engloba o uso dos diferentes talentos que os ricos possuem no crescimento do Corpo de Cristo. As habilidades administrativas, as oportunidades de se aprofundar em diferentes conhecimentos (ricos podem possuir mais tempo e recursos para estudar que os mais pobres) e até mesmo a rede de contatos sociais...tudo isso pode ser usado para favorecer a expansão do Reino de Deus.
E, claro, a generosidade em dar e repartir não é um aspecto menor. Pessoas ricas podem, por exemplo, não ter tempo para fazer um doutorado em Teologia, mas podem pagar os estudos de uma outra pessoa que não têm os recursos necessários para pagar pelos estudos. Podem ajudar a manter obras de ação social, que ajudem pessoas carentes a estudarem, se capacitarem e possam progredir materialmente. Podem ajudar os pobres e necessitados a terem cuidados médicos, patrocinar a construção de casas, financiar pesquisas científicas...certamente o leque de opções está além da minha capacidade de imaginação.
O argumento mais forte
Creio que os argumentos mostrados acima são claros para provar que a riqueza, em si mesma, é neutra. O dinheiro e o acúmulo de posses não são coisas ruins ou demoníacas. Na verdade, as riquezas são um grande teste. Tanto podem ser um passaporte para o inferno...como uma ótima oportunidade de crescimento espiritual e santificação.
Mas ainda falta um argumento decisivo para mostrar que ser rico não é pecado. É óbvio, mas é ignorado por muitos. Havia pessoas ricas na Igreja. Se elas não existissem, Paulo não teria porque orientar a Timóteo sobre como cuidar deles e dos senhores. Cristo não morreu apenas para salvar aos pobres...Ele também morreu para resgatar a ricos da maldição do pecado.
Charles Studd doou toda a herança que recebeu de seu pai para promover obras cristãs |
Se não devemos ir atrás das heresias da Teologia da Prosperidade, também não devemos cometer o exagero de ir na outra direção e condenarmos os ricos, como fazem os marxistas. Ninguém deve exigir que os ricos vendam seus bens e os distribuam aos pobres...embora eles e os demais possam fazer isso, se assim o desejarem. E não...realmente não entendo como bíblico ou correto que façamos plebiscitos para limitar a propriedade rural.
Sejamos ricos, pobres ou de classe média...o nosso papel é empregar tudo o que somos e temos para a glória de Deus. Amém!
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