4 de fevereiro de 2011

É pecado se definir como calvinista?

Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer.

Pois a vosso respeito, meus irmãos, fui informado, pelos da casa de Cloe, de que há contendas entre vós. Refiro-me ao fato de cada um de vós dizer: Eu sou de Paulo, e eu, de Apolo, e eu, de Cefas, e eu, de Cristo.

Acaso, Cristo está dividido? Foi Paulo crucificado em favor de vós ou fostes, porventura, batizados em nome de Paulo?

Dou graças a Deus porque a nenhum de vós batizei, exceto Crispo e Gaio; para que ninguém diga que fostes batizados em meu nome. Batizei também a casa de Estéfanas; além destes, não me lembro se batizei algum outro.

Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o evangelho; não com sabedoria de palavra, para que se não anule a cruz de Cristo. Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus.

Pois está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos instruídos. Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria do mundo?

Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação. Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus. (1 Coríntios 1:10-24)
Nenhuma palavra define melhor a pós-modernidade do que o relativismo. Em um mundo sem absolutos morais ou estéticos (o que é belo, afinal?), não é de estranhar que os conceitos tenham se tornado incômodos. Usar nomes para definir posições políticas, econômicas e até mesmo teológicas tornou-se algo abominável, inclusive para cristãos. Rotular ou ser rotulado tornou-se um pecado mortal, a moda é tentar conciliar diferentes correntes, ainda que contraditórias. Quanto mais indefinido, melhor.

Dentro das igrejas protestantes, o repúdio aos rótulos chega a tal ponto que, para muitos, definir-se como calvinista, luterano ou arminiano é um pecado. Seria o mesmo erro cometido pela igreja de Corinto quando um dizia que era de Paulo, outro de Apolo e um terceiro de Cefas (Pedro). O certo é apenas se identificar como cristão. Certo?

Errado. Creio que esse tipo de pensamento é simplista demais. Sim, há horas em que a identificação com o calvinismo ou qualquer corrente teológica se torna algo pecaminoso e doentio. Mas, da maneira apropriada, o rótulo pode sim ser útil. Tudo depende do coração.
A moda é ter várias identidades, tantas, que ninguém possa ser rotulado. Quadro de Andy Warhol.

Quando é pecado
Os rótulos se transformam em um grande problema acontece quando eles nos levam a dividir o Corpo de Cristo. Quando o apóstolo Paulo critica os grupos de Corinto, a sua maior preocupação é manter a unidade da Igreja. Os coríntios estavam tão preocupados em afirmar seus pontos de vista e afinidades que estavam se esquecendo que eram parte de um povo.

Em Corinto, aparentemente, os grupos elegiam um teólogo-modelo e o colocavam acima dos demais, desprezando o trabalho e a teologia de outros apóstolos ou pregadores. Havia diferentes "disposições mentais" e "pareceres". As disputas iam muito além de simples debates: havia ciúmes e brigas, um verdadeiro sentimento de inimizade, causado pela carnalidade de alguns coríntios:
Porquanto, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem? Quando, pois, alguém diz: Eu sou de Paulo, e outro: Eu, de Apolo, não é evidente que andais segundo os homens? (1 Coríntios 3:3-4)
A postura desses coríntios era bem semelhante à das seitas: apenas o "meu grupo" é correto, e os demais estão errados. Mesmo quando alguns diziam ser "de Cristo", a atitude era criticada por Paulo. Nesse último caso, apenas os ensinos vindos de Jesus nos Evangelhos eram seguidos, havendo uma desconsideração com o ensino que o próprio Cristo dava por meio dos apóstolos. Era apenas mais um grupo no meio dos outros.

Quando ser calvinista (ou reformado) significa dividir o Corpo de Cristo, não reconhecer o valor de outros irmãos e se isolar em uma atitude de superioridade, o rótulo é sim prejudicial. Isso acontece com calvinistas que começam a questionar a salvação de quem diverge em pontos secundários da fé (como, por exemplo, arminianos ou pentecostais) ou que chegam ao ponto de recusar qualquer tipo de diálogo ou ação conjunta. Na hora em que os apelos à teólogos reformados se tornam tão ou mais importantes do que os versículos bíblicos, no instante em que argumentos de quem não é calvinista são recusados por motivos ad hominem, ou quando há um interesse maior em conhecer os pensamentos de Calvino e seus seguidores do que em Cristo Jesus e Seus apóstolos, com certeza estamos diante de comportamentos pecaminosos.


Claro que esse tipo de atitude não é uma exclusividade do calvinismo. Infelizmente atitudes semelhantes podem ser encontradas em outros ramos do protestantismo e do cristianismo também. Embora seja óbvio que há teólogos que entenderam melhor a Bíblia do que outros, devemos ser capazes de compreender e apreciar a contribuição de santos que não pensam como nós. Afinal, o cristianismo é maior que o calvinismo e não pode ser resumido nos pensamentos de um único teólogo, ainda que ele seja o apóstolo Paulo:
Quem é Apolo? E quem é Paulo? Servos por meio de quem crestes, e isto conforme o Senhor concedeu a cada um. Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus. De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. Ora, o que planta e o que rega são um; e cada um receberá o seu galardão, segundo o seu próprio trabalho. (1 Coríntios 3:5-8)
Quando não é pecado
Entretanto, ao contrário do que imaginamos, os rótulos são sim usados na Bíblia, inclusive por Jesus Cristo. Nem Ele e nem os apóstolos viam qualquer problema em usar nomes para identificar grupos que professavam determinado tipo de pensamento. Em resumo, não há qualquer pecado em rotular com um nome um grupo de pessoas que pensam ou agem de determinada maneira.

Um bom exemplo é ver a forma como os primeiros cristãos reagiram quando eram rotulados pelos demais. Em momento algum do livro de Atos vemos qualquer rejeição da Igreja aos rótulos:
tendo-o encontrado, levou-o para Antioquia. E, por todo um ano, se reuniram naquela igreja e ensinaram numerosa multidão. Em Antioquia, foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos. (Atos 11:26)
Paulo chega a se valer de um deles em sua defesa perante Félix:
Porém confesso-te que, segundo o Caminho, a que chamam seita, assim eu sirvo ao Deus de nossos pais, acreditando em todas as coisas que estejam de acordo com a lei e nos escritos dos profetas,...(Atos 24:14)
Os rótulos aparecem até para identificar segmentos distintos do povo de Deus:
Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas (judeus de fala grega) contra os hebreus (judeus de fala hebraica), porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária. (Atos 6:1)
E, claro, eles foram usados tanto por Jesus como pelos apóstolos para condenar grupos heréticos (notem que eles generalizavam sem constrangimentos):
E Jesus lhes disse: Vede e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus. (Mateus 16:6)

Posto que miríades de pessoas se aglomeraram, a ponto de uns aos outros se atropelarem, passou Jesus a dizer, antes de tudo, aos seus discípulos: Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. (Lucas 12:1)

Porque existem muitos insubordinados, palradores frívolos e enganadores, especialmente os da circuncisão. (Tito 1:10)

Com efeito, antes de chegarem alguns da parte de Tiago, comia com os gentios; quando, porém, chegaram, afastou-se e, por fim, veio a apartar -se, temendo os da circuncisão. (Gálatas 2:12)
Não devemos querer ser mais realistas que o Rei dos Reis. Se Jesus e Paulo usaram rótulos, inclusive para criticar, quem somos nós para dizer que eles são pecaminosos? Os pós-modernos querem ser mais santos que o Santíssimo. E, claro, incorrem em erro.

O equilíbrio da interpretação
E aqui nós podemos ver a importância de se analisar toda a evidência bíblica antes de emitirmos certos julgamentos. Isoladas, as críticas de Paulo aos grupos de Corinto parecem uma condenação clara a quem se identifica como calvinista, arminiano ou luterano, mas que também serviria a quem se define como católico, batista ou pentecostal. Quando o contexto é analisado com mais calma e consideramos atitudes de Paulo e de Jesus, vemos que o pecado surge quando a rotulação é fruto da natureza pecaminosa humana e de um espírito faccioso (que provoca facções, divisões), comprometendo a unidade da Igreja.

Por esta razão, não me constranjo em fazer parte de um blog que se autointitula 5 Calvinistas. Também não sou como outros que receam chamar suas posiçõs teológicas pelo nome. Não tenho vergonha em dizer que sou cristão, reformado, presbiteriano, pedobatista, carismático e amilenista. E não entendo os pudores de quem tem cheiro de lobo, cara de lobo, pêlo de lobo, latido de lobo e nega ser lobo. Aliás, só consigo entender isso como má-fé ou como uma rendição ao pós-modernismo, que alguma vezes influencia os cristãos mais do que o próprio Jesus.

Claro que há excessos, e ainda hoje há calvinistas, arminianos, pentecostais e outros que caem no mesmo erro dos coríntios. Mas um erro se corrige com um acerto, e não com outro erro, ainda que seja o do politicamente correto.

Graça e paz do Senhor,

Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro

12 comentários:

  1. Helder -

    Gostei do artigo mas discordo em parte das suas conclusões e totalmente da validade dos exemplos que você usou.

    Os rótulos que você listou ou são usados para definir os cristãos como um todo (cristãos, seguidores do caminho), ou são usados para distinguir diferenças lingüísticas/sociais (helenistas, hebreus), ou são exemplos do uso de rótulos pré-existentes para se referir aos grupos da época (fariseus, saduceus), ou—em um caso—são usados para distinguir os que seguiam uma heresia no ambiente cristão (os da circuncisão). Em nenhum destes casos vemos rótulos sendo usados para distinguir diferenças de discipulado ou pensamento entre cristãos que permanecem fiéis à palavra, e é claro que não, pois é justamente isto o que Paulo quer evitar no primeiro texto que você citou.

    Mas para muitos Calvinistas isso não é problema, pois muitas vezes existe a crença, explicita ou não, que todo o resto do chamado "Reino de Deus" é repleto de hereges, que se recusam a assinar em baixo de Westminster e/ou de um resumo holandês simplificado do que Calvino pensava/escreveu. Desta perspectiva, muitos usam o rótulo Calvinista ou Reformado para significar aqueles poucos que se atém fiéis à Palavra de Deus, os Santos entre os santos, os que estão mais perto da perfeição teológica do que o resto da Cristandade. Na verdade, deste ponto de vista os limites do verdadeiro "Reino de Deus" encercam apenas aqueles que também caem dentro do rótulo. O resto, é resto.

    Mas mesmo não pensando assim, eu evito o uso. Por que?

    1) Porque não quero ser identificado com o pensamento descrito acima. Alguns dos melhores cristãos que conheço não são Calvinistas, ou Reformados.
    2) Porque o que importa para mim não é discutir teologia em si, ou vertentes teológicas em si, e sim estabelecer relacionamentos que reconciliem pessoas com o Pai através do sacrifício do Filho e da obra do Espirito em suas vidas. Não faço isso sem background teológico, mas não vejo razão para colocar rótulos no caminho, que possam ser impecilhos ao objetivo maior. Afinal, o objetivo é proclamar o nome de Cristo e a sua Salvação, e não (nem um pouquinho) criar novos Calvinistas e/ou Reformados!

    Fica chato ter posições como estas num ambiente repleto de blogs e sites que tem se esforçado para usar nomes que promovam a sua identidade teológica Calvinista/Reformada, mas não vai ser a primeira vez (ou a última, se Deus quiser) que me acham chato. :-) Mas que público alvejamos, com uma ênfase dessa? Que objetivos temos? Estamos nos esforçando para trazer pessoas ao pé da Cruz, ou aos pés de Calvino? Rejeitaremos aqueles que se ajoelharem ao primeiro e não ao segundo? Infelizmente, é isto o que tenho visto em muitas igrejas Calvinistas/Reformadas.

    Que Deus abençoe a todos nós, estudantes da teologia reformada mas acima de tudo, pecadores redimidos pelo sangue de Cristo e irmãos de todos os outros redimidos pelo mesmo sangue, nos dando sabedoria quanto ao que merece os nossos esforços, a nossa energia, o nosso amor e a nossa lealdade. Que Ele nos dê a humildade para discernir que nem sempre (ou melhor, quase nunca), provar que estamos teologicamente corretos em um ponto (ou nos rotularmos de tal maneira) é a coisa mais importante em jogo, nos nossos relacionamentos dentro e fora da igreja.

    Abraços,

         - David

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  2. David,

    Chato por chato, teremos uma briga boa!

    À parte do texto do Helder (pois sua crítica ao texto me parece repeti-lo), discordo de você em dois pontos principais (se é que de fato discordamos).

    O primeiro é uma pequena defesa. Você parece incluir o 5C e os blogs pessoais no “ambiente repleto de blogs e sites que tem se esforçado para usar nomes que promovam sua identidade teológica”. Devo dizer que o 5C não se esforça para isso, mas simplesmente o declara. Como dizemos em nossa apresentação, somos “blogueiros de origens e filiações denominacionais, de conhecimentos e experiências de vida, de ênfase e estilos os mais diversos” e “reunimo-nos na esperança de que esta diversidade unificada na Verdade pelas doutrinas da graça como expressão do Evangelho possa bem servir ao Senhor e à Igreja, pela edificação do Corpo de Cristo, nosso Senhor e Salvador”. Estamos bem longe do sectarismo apontado pelo Helder em seu texto.
    Quanto aos blogs pessoais, o 5S talvez tenha o perfil mais explicitamente teológico em defesa de uma ortodoxia reformada, porém nosso gentleman não pode ser acusado de qualquer exclusivismo (talvez nem de ortodoxia! rs). Basta ler seu blog e os comentários nele para conferir isso. O meu, no outro extremo, não tem qualquer preocupação apologética, nem mesmo de testemunho, sendo verdadeiramente um solilóquio que se faz diálogo muitas vezes: o objetivo é expor o que penso, pura e simplesmente. E quem quiser que me acompanhe. Os demais estão em um meio termo que, se afirmam a Verdade das Doutrinas da Graça por um lado, não se fecham em orgulho epistêmico por outro.

    O segundo ponto é que me preocupa um discurso focado primeiramente em relacionamentos. Não o vou acusar de relacional (rs), mas se essa deve mesmo ser uma preocupação fundamental, não menos o deve ser a preocupação com a ortodoxia teológica. Não estou dizendo que você não tem tal preocupação. Mas digo sem reservas que abandonarei um relacionamento sem pestanejar se este for um ou levar a erro. Para além disso, meu ponto é que as cosmovisões que emergem de cada teologia são tão diversas que muitas vezes se tornam antagônicas. Neste sentido é que procurarei, sem deixar de ter relacionamentos edificantes no caminho (desde que os interlocutores efetivamente desejem tal), a correção teológica em uma cosmovisão coerente com a Palavra e o mundo que Ela criou.

    De resto, agradeço que tenha ouvido o clamor que não ouviu em prol do nível dos comentários: “amigos, comentem”! Obrigado pela intervenção, meu caro!

    No amor do Senhor,
    Roberto

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  3. Excelente post, caro irmão! Que a Paz do Senhor seja com você e com os outros 4 calvinistas irreprensíveis e santos!

    Realmente, como profetizou Paulo e muitos séculos depois, percebeu Nietzsche, vivemos a era das fábulas, a época da ditadura do relativismo ou do ceticismo quanto ao conhecimento... O Relativismo ou Ceticismo pós-moderno é a fábula que segue quem não ousa dizer que, de fato, conhece algo, porém, contraditóriamente conhece, sim, tanto que rotula-se a si próprio como cético quanto ao conhecimento...

    Que Deus nos perdoe.

    Solus Christus!

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  4. David,

    De fato, não há como achar na Bíblia exemplos idênticos à mesma situação que enfrentamos hoje. Contudo, quando a Bíblia usa com naturalidade os termos para as correntes judaicas, ela endossa sim o uso de rótulos para definir diferentes formas de pensamento.

    Todavia, há um caso não mencionado em meu post de uma divisão "rotulada" e legítima entre pessoas que servem a Deus: os fortes e os fracos. Paulo se coloca no grupo dos fortes (Rm 15:1), daqueles que comem qualquer coisa, mas não questiona a salvação dos fracos, que tinham restrições alimentares e até fala em uma certa tolerância. A existência dos fortes e fracos e o uso do termo por Paulo mostra que não é errado usar nomes para definir grupos que pensam de forma diferente dentro da igreja.

    No mais, reconheço o perigo e até mesmo a força deste "calvinismo" sectário no Brasil. Contudo, se deixarmos que apenas eles se definam como herdeiros de Calvino e da Reforma...estamos permitindo que o legado desses irmãos mais velhos na fé seja atirado à lama. Este post, por exemplo, tem várias críticas a esses sectários.

    No mais, também eu quero levar as pessoas aos pés de Cristo, e não de Calvino. Prefiro ser chamado de reformado, mas acho que não me definir como calvinista seria rejeitar também uma tradição e uma luta que, ao meu ver, foram essenciais para que hoje existam verdadeiros discípulos de Jesus. Quero levar homens a Cristo, mas sem deixar de lado uma herança que me orgulha. Claro, se necessário, a descartarei como esterco, mas nem Paulo negava completamente sua herança judaica. Ao me definir como calvinista, mostro ao mundo que Jesus age não só hoje, mas que agiu em todas as gerações. E essa é uma parte da mensagem que não quero perder.

    Graça e paz do Senhor,

    Helder Nozima
    Barro nas mãos do Oleiro

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  5. Roberto e Helder -

    Brigar com dois não vale, cuidado que eu saco a Espada!

    Estou preparando um post para o meu blog (depois de tirar o mofo dele) que esclarece um pouco o meu raciocínio quanto à auto-rotulação. Mas antes de postá-ló, passo de vôo rasante para responder algumas das colocações que vocês fizeram.

    Primeiro tenho que me retratar, pois disse que discordava do Helder em parte, nas suas conclusões. Na verdade, acho que concordamos na conclusão e na resposta à essa pergunta, e que as minhas preocupações tem a ver mais com a pergunta: "É sábio se rotular como Calvinista?" do que com a que está no título do post.

    Quanto ao nome do 5C, sei que é apenas uma declaração de que os 5 autores são desta linha doutrinária e não um esforço para construir barreiras, etc. Estava pensando mais em blogs e sites que tem nomes que claramente estabelecem uma "tchurminha", onde uns estão fora e outros estão dentro. Ainda assim, se existem problemas com a rotulação em si (e eu creio que existem), o 5C acaba sendo afetado passivamente por eles.

    Quanto ao discurso focado primeiramente em relacionamentos, sou totalmente culpado disso, graças a Deus. Cristo sempre foi focado em relacionamentos, relacionamentos através dos quais ele revelava a Si mesmo e chamava pessoas à reconciliação com o Pai e à fidelidade à Sua Palavra. A teologia só faz sentido dentro de um relacionamento, seja com o Deus Triuno (quando estamos aprendendo mais sobre Ele), ou com outras pessoas (quando devemos estar refletindo a pessoa de Cristo). Falar de teologia sem falar de relacionamento (ou sem pelo menos entender que o foco do Cristianismo é relacional, coram Deo), para mim, é como falar de jet-ski no meio do deserto do Atacama. Enfim, creio que seja possível, e necessário, mantermos relacionamentos (não necessariamente do mesmo tipo) com pessoas de cosmovisões bem diferentes das nossas, ou perdemos a oportunidade de sermos relevantes nas vidas deles (e vice-versa). O budista, hindu, muçulmano, ou católico não vai ouvir sobre a graça redentora de Cristo se não houver relacionamento (por mais epistemicamente justificados que estejamos em descartá-lo).

    Roberto, não entendi o que você disse sobre o "amigos, comentem", cheguei aqui através do seu link do no Twitter (onde quase nunca entro...). Mas serviu para começar a mexer as engrenagens mentais sobre esse assunto, que me incomoda há bastante tempo!

    Helder, ainda não consigo ver como usar rótulos da época (criados pelos próprios juedus) se traduza em um endosso para a criação de rótulos futuros. Veja bem, concordo que não seja pecado fazê-lo, mas daí para dizermos que a Biblia endossa isso ou aquilo tem uma boa distância. Quanto ao exemplo de Paulo, adjetivos e rótulos são duas coisas diferentes, e o uso de um (forte/fraco) nem representa, nem endossa, a criação e uso do outro. Ainda assim, isso não significa que o uso de rótulos seja errado. Mas também não significa que seja endossado, ou sábio, ou a melhor opção.

    Creio que existem formas de mantermos e prezarmos a nossa herança teológica que não envolva rótulos e chavões que careçam de explicação, que possam ser mal-interpretados, e/ou que possam ser usados (por qualquer um dos lados) para dividir e afastar irmãos redimidos pelo sangue de Cristo. Espero esclarecer isso um pouco mais no meu post, que espero terminar hoje, se Deus quiser.

    Um abraço!

    David Portela
    Lobo que não acha interessante sair berrando "sou LOBO, sou LOBO" por aí. (Pode amedrontar as ovelhinhas...)

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  6. David,

    Eu ainda duvido que discordemos e ainda não vi lá muita diferença entre o que você e o Helder dizem.

    Quanto ao relacionamento, ele sozinho bem pouco pode fazer. Como eu já disse, não o deixarei de lado, mas não terei menor cuidado com o que faço com ele. Porém, tendo que escolher entre relacionamento e correção, fico com esta. Ou, dizendo o mesmo de outra forma, reafirmo que, relacionamento ocorrendo, se a coisa não vai para onde convém, bato o pó das sandálias.
    Ainda, sobre a questão da cosmovisão, não só "perdemos a oportunidade de sermos relevantes nas vidas deles" se não nos relacionarmos, mas também se não afirmarmos a Verdade sem concessões. (Discordamos realmente aqui?)

    O "amigos, comentem" foi uma brincadeira que fiz no buzz sobre o nível da maior parte dos comentários por aqui. Pedi que alguma discussão no 5C fosse mais proveitosa. Eu sei que você não leu o apelo, mas o respondeu mesmo assim. rs

    No amor do Senhor,
    Roberto

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  7. João,

    Creio que nenhum dos 5 é irrepreensível. Se somos santos é somente pela graça de Cristo, porque de nós mesmos, nada somos.

    Obrigado pelo comentário.

    Graça e paz do Senhor,

    Helder Nozima
    Barro nas mãos do Oleiro

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  8. David,

    Ok, vou ceder um pouco. O fato de não ser pecado não quer dizer que seja endossado ou que seja a melhor opção. Mas o simples fato de não ser pecado já deveria refrear algumas críticas que são feitas a quem se define teologicamente.

    Sinceramente tenho minhas dúvidas de que não se rotular seja a solução mais sábia. Ao meu ver, é como capitular diante do pós-modernismo, do relativismo e do politicamente correto. Sempre gostei de dar nome aos bois: acho impossível reconhecer claramente fronteiras e até mesmo certas diferenças de pensamento sem os rótulos. Nós os usamos porque eles são práticos, esta é a razão pela qual eles fazem parte do nosso dia-a-dia.

    Claro que o rótulo pode ser mal usado, e daí entendo a sua preocupação. Mas essa recusa em se definir também pode ser mal usada, e muito. Não acho que a solução é simplesmente abrir mão do rótulo, mas sim explicá-lo.

    Pra fechar, pego uma carona no texto de convocação à batalha pelo corpo de Moisés do Guilherme e adapto. Há uma batalha pelo legado de Calvino e dos puritanos, legado esse que pra mim é parte da herança de Cristo e dos santos. Vamos simplesmente deixar que os radicais e intolerantes se apropriem disso?

    Graça e paz do Senhor,

    Helder Nozima
    Barro nas mãos do Oleiro

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  9. David e Helder,
    Finalmente vi alguma diferença entre vocês. Afinal, entre o não ser pecado e o evitar o uso pouca distância se vê.
    Mas vou discordar dos dois só para que concordemos. Pois, se todos concordamos com a mensagem essencial do texto, que é a necessidade de não sermos sectários, discordo que seja sábio não usar rótulos e discordo que seja sábio usar. A sabedoria se encontra em avaliar corretamente quando usar e quando não usar. Se bem que a intenção aí conte muito, pelo que se pode usar mais que não usar um rótulo ou vice-versa. E isto ainda depende do que intenciona...
    Bem, como vêem, ainda tenho cá minhas dúvidas quanto a esta discordância! rsrs
    Abraços aos dois. No Senhor,
    Roberto

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  10. @Roberto - A nossa conversa sobre relacionamento vs. teologia acho que já serviu o que tinha que servir, de traçar princípios gerais. Acho que não adianta muito tentarmos definir onde fica a linha depois da qual batemos o pó das sandálias, sem usarmos exemplos específicos, pois ficando no geral e no hipotético sempre haverá um "mas e se..."

    Quanto às diferenças entre o Helder e eu, já não disse que, quanto à essa pergunta, concordamos? O artigo serviu para mexer as engrenagens enferrujadas do meu pensamento quanto à questão, e ainda estou trabalhando nisso, ou seja, definindo a causa da minha aversão por esses rótulos.

    Ontem me ocorreu que talvez o problema tenha começado quando passamos de usá-los como adjetivos para usá-los como substantivos, atrás dos quais podemos nos ajuntar, esconder, e nos sentir superiores. Também tem algo a ver com o fato do rótulo Calvinista ser considerado por quase todos menos os Calvinistas como símbolo de híper-Calvinismo. E finalmente, acho que também tem a ver com o desejo que a Igreja de hoje não estivesse mais presa nas discussões, chavões e rótulos de 500-300 anos atrás, trazendo as mesmas questões à tona todo ano e discutindo problemas e soluções que já foram resolvidos nos séculos 16-19 e que não tem muito a ver com os problemas e questões que a Igreja enfrenta hoje. Não seria mais valioso e mais respeitoso à nossa tradição incorporá-lá ao nosso background teológico e sermos relevantes ao nosso tempo, como eles foram aos deles? Como você pode ver, ainda estou explorando essas questões para tentar definir minha posição. Uma coisa eu sei, o uso do rótulo em si é apenas a ponta do iceberg.

    @Helder - Concordo com você, tanto o uso como o não uso podem ser feitos erradamente. Infelizmente, online, estou constantemente me deparando com exemplos do primeiro, e poucos exemplos do segundo...

    @João - Quem é irrepreensível não precisa de perdão. :-)

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  11. David,
    Sim, sim, serviu. Agora, adiantar, adiantaria. Porém concordo que o espaço (e o tempo) não é propício.
    Sim, disse. Mas dado que vocês continuam falando da diferença que é sem ser, achei por bem brincar com ela.
    Olha, o resto de seu comentário me deixa curioso com sua postagem, a qual agora aguardo com certa expectativa.
    Talvez seja apenas a falta de detalhamento que o espaço não permite. Mas não vejo as questões recorrentes como "problemas e soluções que já foram resolvidos" em qualquer tempo. Pois, fossem de fato "resolvidas", não teríamos mais arminianos no mundo! (rs). Além disso, as questões que foram discutidas "nos séculos 16-19" voltam a ser discutidas por cada um que se depare com elas (pela primeira vez ou a cada vez que um ponto não pensado é posto em pauta).
    Também, se concordo que os tempos têm seu "idioma", o problema humano é sempre a mesma depravação total e as heresias que se repetem, pelo que não vejo como não repetir as discussões de sempre ad infinitum (leia-se "até que Ele venha").
    Esperarei sua postagem, no entanto, para ver seu rumo e "brigarmos", se tiver o que "brigar". (rsrs)
    De resto, eu te avisei: chato por chato...
    Abraço,
    No Senhor,
    Roberto

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  12. Irmão Helder,

    Somente pela graça, claro, foi isso que quis implícitamente dizer. Veja, chamar os eleitos de irreprensíveis e santos, é expressar o perfil bíblico dos eleitos, porque Paulo diz aos romanos que aqueles mesmos que Deus chamou, a esses escolheu e aos que escolheu, predestinou, glorificou, justificou e etc. para que fossem irrepreensíveis e santos, escreveu o Apóstolo aos efésios e divorciados da prostituição em outra carta endereçada a outra comunidade.

    Que Deus vos abençoe, caros irmãos e ABRAÇOS!

    Sola gratia, soli Deo gloria!

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