9 de abril de 2011

Quando Jesus ficou em silêncio

Herodes, vendo a Jesus, sobremaneira se alegrou, pois havia muito queria vê-lo, por ter ouvido falar a seu respeito; esperava também vê-lo fazer algum sinal. E de muitos modos o interrogava; Jesus, porém, nada lhe respondia. Os principais sacerdotes e os escribas ali presentes o acusavam com grande veemência. Mas Herodes, juntamente com os da sua guarda, tratou-o com desprezo, e, escarnecendo dele, fê-lo vestir-se de um manto aparatoso, e o devolveu a Pilatos. Naquele mesmo dia, Herodes e Pilatos se reconciliaram, pois, antes, viviam inimizados um com o outro. (Lucas 23:8-12)
Por que as pessoas procuram a Deus ou vão à igreja? Pelas razões mais variadas. Pode ser a gratidão por um favor alcançado ou a angústia para resolver uma situação difícil. Há quem busque mudar de vida e aqueles que querem apenas dar uma desculpa para as suas consciências e continuarem os mesmos. Há os que só querem algum favor (como uma namorada ou marido) e existe até quem quer apenas provar que Deus está errado e arma ciladas para desmascará-Lo.

Mas há uma motivação que é ainda mais espantosa. Alguns ouvem as histórias a respeito de Deus e, de fato, acreditam nelas. Ficam espantados com os relatos dos milagres e chegam a lamentar porque não estavam presentes. "Piedosos", têm uma grande relação de perguntas que gostariam de fazer. São curiosos, interessadíssimos em transformar o Deus Vivo em um bobo da corte.

Esse era o caso do imperador Herodes Antipas, um tipo interessante da Galiléia nos dias de Jesus. Herodes era capaz de mandar prender um profeta como João Batista porque este o criticara (Lucas 3:18-20). Mas, ao mesmo tempo, tinha medo de João, um santo para ele e chegava a ouvi-lo "de boa mente" (Marcos 6:20). Nada disso, é claro, o impediu de decapitar o profeta (Marcos 6:16).

Morto João, o novo interesse de Herodes passou a ser Jesus. Ele ouvia os relatos dos milagres sobre Jesus e ficava espantado. Afinal, quem era este novo profeta? Eis a pergunta que não saía da cabeça do imperador (Lucas 9:9).

Até que um dia, o seu desejo se realizara. Jesus fora preso e Pôncio Pilatos, o governador da Judeia, enviara o Messias para ser julgado por Herodes. A alegria era imensa...finalmente ele iria ver o grande Jesus! Contudo, o encontro foi decepcionante. Herodes perguntou, perguntou...de várias maneiras diferentes...e nada. A única coisa que o Cristo deu ao imperador foi o seu silêncio.
Jesus perante Herodes Antipas em um quadro de Albercht Dührer (1509)

Por que Jesus não falou com alguém que se interessava tanto por Ele? Creio que a Bíblia nos dá algumas pistas.

Jesus não é mágico
Em primeiro lugar, Jesus não se revela a quem pensa que Ele é uma espécie de mágico ou artista. Deus não veio ao mundo satisfazer a curiosidade humana. O Cristo se fez carne para nos reconciliar com o Pai e não para divertir imperadores.

Herodes achava que Jerusalém era Las Vegas e que Jesus era um David Cooperfield. Ele não queria ouvir sobre o Pai, o imperador desejava ver Jesus realizando algum sinal...talvez a transformação água em vinho ou alguma cura, até tirar um coelho da cartola servia.

Hoje muitos buscam as igrejas com este mesmo espírito. Elas não querem ouvir as duras advertências do Evangelho, não querem reconhecer a Jesus como Rei, tudo o que elas querem é...entretenimento! Esquecidas de que o culto é prestado pela igreja a Deus, pensam que os cultos são espetáculos dedicados a entreter os "fiéis". Já não tratam mais a Deus como tal...e pensam que ele é gênio da lâmpada ou um ilusionista.

Esse tipo de pensamento, por si só, é demoníaco e repulsivo. Mas o pior é que há pastores dispostos a fazerem as vezes de mestre de cerimônias. Criam um culto-show onde Deus deixa de ser o Rei honrado e torna-se o bobo da corte.

Jesus não é o réu, nós é que somos
Porém este não é o único erro de Herodes. O imperador erra ainda mais quando ele se acha na posição de juiz de Deus. Ao contrário do que imaginamos, Jesus nunca está debaixo de nosso juízo ou exame. Nós, sim, é que somos julgados e examinados pelo Senhor.

É verdade que Herodes não chegou a emitir um veredicto sobre a acusação feita contra Jesus. Todavia, ele não se furtou a fazer um julgamento diferente sobre o Messias. O imperador queria saber se o Cristo era realmente alguém interessante e digno da atenção dele. Fez uma série de perguntas, como quem busca investigar ou testar uma pessoa. Mas, em momento algum, pensou na ideia de que era Jesus quem deveria fazer as perguntas.

E aí fica fácil entender o silêncio de Jesus. Ele não tem que prestar contas a nós, mas somente ao Pai. O Filho de Deus tinha que ser humilhado, mas não a ponto de ter que prestar contas e entreter um homem ímpio e metido como Herodes Antipas.

A questão é que Herodes ainda é um exemplo para muitos. As pessoas não pensam que são elas é que precisam ser aceitas por Deus e ainda têm a ilusão de que são elas quem aprovam ao Senhor. E por isso não falta quem se disponha a questionar a Jesus: se Ele é justo, se Ele é bom, se Ele vai me fazer feliz ou não...

Infelizmente muitos pastores também caem nessa ilusão e repetem esse mesmo discurso. Tentam convencer seus ouvintes de que Jesus é uma pessoa legal a quem você devia dar uma chance. Embora tenham o dever de questionar a vida das pessoas à luz da Bíblia, a Palavra de Deus, preferem buscar respostas agradáveis aos interrogatórios que elas fazem com o Senhor.

O desprezo da plateia
Contudo, sabemos que o silêncio sempre comunica algum recado. Fosse Herodes um homem mais atento, talvez se indagasse sobre o porquê do silêncio de Jesus. Será que havia algum problema com ele, Herodes? Estou fazendo algo errado? O quê?

Sabemos que o imperador não quis fazer este auto-exame, preferindo examinar ao Senhor. E, deparando-se com o silêncio, Herodes reagiu como muitos hoje reagem diante de Cristo: com desprezo e zombaria. Ao invés de honrar a Jesus como verdadeiro Rei, um manto extravagante seria a única homenagem que seria feita a um "rei de mentirinha".

De fato, para muitos, Deus continua em silêncio. Este é o argumento usado por muitos ateus e agnósticos para não O adorarem. Investigam-no, examinam-no e nada encontram, por esta razão, zombam d'Ele.

Outros cristãos tratam o Senhor como um palhaço, não encontram o que procuram e ofendem ao Senhor oferecendo-lhe falsas homenagens. No lugar da adoração "em Espírito e em verdade", pensam que o espetáculo é uma oferta melhor. Pastores/animadores de auditório, lutas nos cultos, ambiente de boate...pensam que assim Deus os ouvirá. Na verdade, quando agem assim, pastores e fiéis estão apenas cultuando a si mesmos. E têm o atrevimento de chamarem isso de oferta a Deus.

É preciso que hoje, o quanto antes, o Brasil deixe de seguir o exemplo de Herodes. O Senhor não existe para nos entreter, nós é que existimos para adorá-Lo. Ele não é o réu que deve ser inquirido, nós sim. E Ele não merece de nós o desprezo e mantos extravagantes...Ele merece sim o nosso mais profundo amor e respeito.

Se entendermos isso, o Senhor nos ouvirá e falará conosco. Essa é a minha fé.

Graça e paz do Senhor,

Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro

3 comentários:

  1. Parabéns pelo excelente texto.
    Um abraço, meu irmão.

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  2. O texto é fantastico, parabens!!! Keiker Voz de Denuncia.

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  3. obrigada! Me fez refletir sobre meus atos... sobre quem sou e quem é O Rei! E Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas!

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