1 de setembro de 2010

A Bíblia e as liberdades fundamentais ou Porque não voto no PT

Tendo, pois, Festo assumido o governo da província, três dias depois, subiu de Cesaréia para Jerusalém; e, logo, os principais sacerdotes e os maiorais dos judeus lhe apresentaram queixa contra Paulo e lhe solicitavam, pedindo como favor, em detrimento de Paulo, que o mandasse vir a Jerusalém, armando eles cilada para o matarem na estrada.

Festo, porém, respondeu achar-se Paulo detido em Cesaréia; e que ele mesmo, muito em breve, partiria para lá. Portanto, disse ele, os que dentre vós estiverem habilitados que desçam comigo; e, havendo contra este homem qualquer crime, acusem-no.

E, não se demorando entre eles mais de oito ou dez dias, desceu para Cesaréia; e, no dia seguinte, assentando-se no tribunal, ordenou que Paulo fosse trazido. Comparecendo este, rodearam-no os judeus que haviam descido de Jerusalém, trazendo muitas e graves acusações contra ele, as quais, entretanto, não podiam provar.

Paulo, porém, defendendo-se, proferiu as seguintes palavras: Nenhum pecado cometi contra a lei dos judeus, nem contra o templo, nem contra César.

Então, Festo, querendo assegurar o apoio dos judeus, respondeu a Paulo: Queres tu subir a Jerusalém e ser ali julgado por mim a respeito destas coisas?

Disse-lhe Paulo: Estou perante o tribunal de César, onde convém seja eu julgado; nenhum agravo pratiquei contra os judeus, como tu muito bem sabes. Caso, pois, tenha eu praticado algum mal ou crime digno de morte, estou pronto para morrer; se, pelo contrário, não são verdadeiras as coisas de que me acusam, ninguém, para lhes ser agradável, pode entregar-me a eles. Apelo para César.

Então, Festo, tendo falado com o conselho, respondeu: Para César apelaste, para César irás. (Atos 25:1-12)
Uma das maiores mentiras já contadas aos evangélicos é a de que todos os sistemas políticos são compatíveis com a Bíblia. Dizem os pregadores que não importa se estamos em uma democracia ou em uma ditadura, no socialismo ou no capitalismo...o Evangelho conviveria bem em qualquer forma ou regime de Governo. Bastaria que os cristãos sejam submissos ao Estado, porque a mensagem evangélica nada teria a dizer sobre política.

Contudo, o reino de Deus não é apenas a proclamação da libertação dos pecados. O objetivo de Deus é fazer com que todas as coisas sejam transformadas por Cristo e estejam subordinadas a Ele, o que certamente inclui os governos:
desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra...(Efésios 1:9-10)
A Bíblia não é um livro que fala apenas de salvação de pecados. Ela também trata de política, de economia, de sociedade...e os cristãos precisam aprender o que ela ensina sobre isso. E uma das pistas está no final do livro de Atos dos Apóstolos.

A lei protegendo o apóstolo
Por que será que Lucas gasta 6 capítulos de Atos narrando todos os fatos relativos à prisão de Paulo? A Bíblia não discorre apenas sobre os milagres ou discursos acontecidos nesta época, mas detalha as prisões, as emboscadas, os recursos judiciais, as audiências...ela mostra que os cristãos precisam de um Estado onde seja possível recorrer às arbitrariedades de um grupo organizado de pessoas.

Ou, dito de outra maneira, a Bíblia mostra que os cristãos devem contar com um Estado onde os cidadãos tenham o direito de se defenderem de ataques e de terem um julgamento justo.

Vejamos o contexto próximo de Atos 25. Paulo estava respondendo a uma falsa acusação dos judeus de ter profanado o templo. Sem um processo formal, Paulo foi espancado (Atos 21:29-32) e tentaram assassiná-lo duas vezes (Atos 21:31 e 23:12-35). Para escapar da morte e do abuso de autoridade de um comandante militar, Paulo apelou para seus direitos de cidadão romano (Atos 22:25-27) e contou com a lei para escapar de açoites (Atos 22:29). A proteção do Estado também foi necessária para garantir a integridade física do apóstolo (Atos 23:31-33).

Claro que nem tudo correu como o planejado. Mais de uma vez as autoridades romanas reconheceram que Paulo não cometeu nenhum delito contra Roma (Atos 23:28-29; 25:24-27; 26:30-32). Mesmo assim, a pressão dos judeus fez com que as autoridades romanas deixassem Paulo preso, como podemos ver no texto que abre este post.

No entanto, mesmo assim, sempre havia uma forma legal de recorrer dos abusos e garantir direitos. Foi o que Paulo fez quando viu que Festo queria agradar os judeus e que sua vida corria perigo. Ao reconhecer um juiz suspeito, Paulo recorreu ao tribunal superior. Apelou para César.

O ponto de vista bíblico sobre o Direito
Talvez muitos cristãos pensem que Paulo só agiu assim, apelando para a Lei, porque ele tinha esta opção. Imaginam que, na ausência de um Estado garantidor de direitos fundamentais, Paulo talvez apenas fugisse.

Contudo, não é isso o que o texto nos indica. Quando Festo tenta ferir o direito de Paulo, ele diz claramente ao governador o seu pensamento jurídico (e teológico):
Disse-lhe Paulo: Estou perante o tribunal de César, onde convém seja eu julgado; nenhum agravo pratiquei contra os judeus, como tu muito bem sabes. Caso, pois, tenha eu praticado algum mal ou crime digno de morte, estou pronto para morrer; se, pelo contrário, não são verdadeiras as coisas de que me acusam, ninguém, para lhes ser agradável, pode entregar-me a eles. Apelo para César. (Atos 25:10-11)
Nesta fala fica claro que:

- Paulo reconhecia a legitimidade do Estado para julgar o caso;
- Paulo aceitaria até a pena de morte caso tivesse cometido um crime grave;
- Nenhum juiz tem o direito de torcer o seu julgamento;
- Ele iria lutar até o último recurso para garantir o seu direito.

Essa postura combina com o ensino que é dado pelo apóstolo em Romanos 13. O Estado deve premiar quem faz o bem e castigar quem faz o mal:
Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal. (Romanos 13:3-4)
Paulo nunca buscou que o Estado romano chancelasse o cristianismo, assim como nunca procurou afrontar Roma. Não pediu a César que construísse templos ou praças da Bíblia nem articulou golpes de Estado. Mas, de modo bastante ativo, procurou sim, de todas as formas, garantir que o Estado cumprisse o seu dever bíblico.

E hoje?
Hoje a questão permanece atual. Em vários países, a Igreja não tem liberdade para pregar o Evangelho ou o Estado não garante a proteção aos cristãos. A situação é tão grave que há uma missão voltada especificamente para esta questão: a Portas Abertas. E, normalmente, essa perseguição acontece em Estados onde a democracia ainda não é consolidada.

E, onde os direitos fundamentais do cidadão estão ameaçados, a Igreja deve acordar. É nosso papel lutar ativamente para que o Estado seja usado para proteger os cidadãos da coação de grupos ou mesmo de agentes públicos. Mas, quando o Estado suas estruturas são usadas por grupos políticos para pressionar ou ameaçar a quem quer que seja, o dever da Igreja é protestar.

Nesta semana foi revelado que a Receita Federal do Brasil, ferindo a Constituição, quebrou o sigilo de Verônica Serra, filha do candidato a presidente da República, José Serra. Já é comprovado que um documento foi falsificado para a obtenção dos dados. O sigilo fiscal de outros quatro integrantes do PSDB também foi quebrado. O mesmo aconteceu com outras 130 pessoas. E já aconteceu antes com um caseiro. Tudo isso acontece e o Governo manobra para evitar dar explicações ao Congresso Nacional sobre o ocorrido. 

Junte a isso a tentativa de aprovar um programa de direitos humanos onde se dificulta que um cidadão se defenda de invasões à sua propriedade e com ameaças à plena liberdade de imprensa. Some-se a amizade com países onde a imprensa está sendo intimidada, como a Argentina e a Venezuela ou onde pessoas são condenadas à morte sem um julgamento justo, como o Irã. Isso sem falar na comparação feita pelo presidente Lula entre militantes da defesa das liberdades em Cuba e os bandidos do Brasil.

Diante de tudo isso, fica a pergunta. O Evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo é compatível com a forma como o Governo brasileiro encara a questão das liberdades? A Igreja deve ficar apática diante de tudo isso ou deve erguer-se em protesto?

A passividade da igreja evangélica brasileira diante de um Estado que fere os direitos dos cidadãos e faz companhia a países de tendências antidemocráticas é um pecado! Por várias razões:
1) Porque a Bíblia prega, para este mundo, um Estado onde essas liberdades (culto, pensamento, imprensa, opinião) e direitos (julgamento justo, devido processo legal) sejam respeitados;

2) Porque o aparelho do Estado está sendo usado para intimidar cidadãos, quando deveria ser usado para protegê-los de intimidações;

3) Porque a garantia destes direitos é fundamental para a proteção do próprio cristianismo em terras brasileiras;

4) Porque a aproximação do Brasil com as ditaduras acaba reforçando-as, e assim, contribui para uma perseguição maior da Igreja;

5) Porque o fato disso estar acontecendo com não-crentes não significa que eles não tenham o mesmo direito que nós diante de Deus.
Os servos de Deus devem parar de acreditar em mentiras. A Bíblia não é compatível com as ditaduras, nem com governos onde os cidadãos não possam se defender do Estado e onde ele é usado para intimidar quem deveria ser protegido. Precisamos reagir contra isso. Inclusive no voto, recusando-se a eleger políticos que não tenham compromisso com a democracia.

12 comentários:

  1. Com todo respeito à sua posição política, peço licença para fazer alguns contrapontos que me parecem cabíveis para aprofundamento da questão do ponto de vista jurídico:

    1) Parece-me anacronismo falar de "direitos fundamentais" na época de Paulo. Como sabemos, os direitos e garantias fundamentais de 1ª geração surgiram na Revolução Francesa de 1789, e levaram muito tempo para se consolidar. Obviamente, foram gestados ao longo dos séculos, com alicerce contraditório no Direito Natural (o mesmo que justificava a monarquia absolutista combatida pelos revolucionários, com um, digamos, "viés" divino).

    2) Apesar da Carta Magna inglesa de 1215, o Direito Constitucional, celeiro dos direitos e garantias fundamentais, só veio a se consolidar depois da Revolução Independentista dos EUA, com a Constituição americana de 1787, que gerou todo o fenômeno constitucional moderno.

    3) Imaginar o direito como codificação de leis é também um fenômeno posterior à Revolução Francesa, sobretudo com o Código Civil outorgado por Napoleão em 1804. No tempo de Paulo, o Direito Romano era muito mais tópico, casuístico e pretoriano, ou seja, julgado caso a caso pelos pretores.

    4) Paulo, acima de tudo, invocou a sua condição de cidadão ("civitas") romano, obtida provavelmente pela condição de seu pai em Tarso. Somente por isso é que teve direito a todo os julgamentos e recursos de que dispôs. A imensa maioria da população do Império Romano era composta por pessoas de 2ª classe, que nem "cidadãos" eram. Logo, me parece estranho justificar direitos fundamentais para uma parcela ínfima (e privilegiada) dessa mesma população.

    5) Obviamente, tudo ocorreu dentro dos planos que a soberania de Deus propôs para a propagação do evangelho, mas nem a condição de "cidadão" de 1ª classe de Paulo foi suficiente para impedir que ele próprio fosse condenado à morte injustamente pelo Império Romano que, sem dúvida, se assemelhava a uma "ditadura" no conceito moderno, mas pela mesma razão anacrônica não podemos cair no risco de comparar alhos com bugalhos.

    6) Aprendemos com a Filosofia do Direito que as maiores contribuições do cristianismo à ideia de Justiça são duas: a introdução do conceito de vontade ("voluntas", intenção) que era estranha aos gregos; e a possibilidade do perdão. Paulo certamente deu sua contribuição (talvez involuntária) para que esses conceitos fossem absorvidos pelo Império (e pelo Direito) Romano, mas isso só se cristalizou muito tempo depois de sua morte.

    Logo, com todo respeito às opiniões à direita e à esquerda, me parece que comparar fatos bíblicos que tiveram o seu contexto fático específico com a moderna concepção de direito e justiça é uma atitude muito mais ideológica do que teológica.

    Ainda a respeito deste tema, escrevi um texto no meu blog:

    http://ocontornodasombra.blogspot.com/2010/01/o-cidadao-paulo.html

    Graça e paz!

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  2. Hélio,

    Certamente que os direitos como vemos e classificamos hoje não eram vistos nem categorizados como tal nos dias de Paulo. Contudo, embora a "evolução histórica" do Direito coloque os direitos fundamentais no século XVIII, nada impede que a Bíblia defenda sim valores que, se adotados, acabem levando a eles.

    Mesmo o Direito Romano sendo, digamos, casuístico...fato é que Paulo se valeu de todos os recursos disponíveis para se livrar. Além disso, ele também trabalhou teologicamente o papel do Estado, colocando de forma clara a visão neotestamentária sobre o tema.

    Aí faço uma questão teológica para você: qual a relevância de Lucas detalhar todos os desdobramentos legais da acusação contra Paulo até a sua chegada a Roma? Nenhum? Ao meu ver, o propósito maior é mostrar aos cristãos que eles deveriam se valer, ao máximo, das leis para poderem pregar o Evangelho. Mas também o de mostrar que o Estado não deveria perseguir os cristãos, mas sim proteger a Igreja de seus perseguidores. Daí para chegar nas liberdades fundamentais é um pulo.

    Por outro lado, admito que nenhum texto...nenhum...incluindo os seus...é desprovido de ideologia. Mas creio, piamente, que uma análise dos textos neotestamentários mostra sim o ensino de que o Estado não deve se imiscuir em certos assuntos. A César o que é de César a Deus o que é de Deus leva à liberdade religiosa (o que fatalmente leva a liberdade de pensamento, já que o cristianismo apostólico nunca quis ser a religião oficial do Estado). O ensino de Paulo sobre punir os maus e premiar os bons mais os desdobramentos do caso de Paulo (incluindo sua exigência de um julgamento justo) leva ao devido processo legal.

    No mais, acho que há sim espaço para discordar de mim em vários tópicos. O que eu não aceito é a idéia de que a Bíblia é NEUTRA em matéria de política. O Império Romano, apesar de falhas, era um exemplo de "democracia" quando comparado às monarquias orientais que o precederam (lembra da lei dos medos e dos persas?). O Evangelho é liberdade...e isso é incompatível com totalitarismos, de esquerda ou de direita. E o Estado brasileiro é sim culpado...não só das violações de sigilo, mas de todas as violações que são feitas aos direitos de seus cidadãos.

    Claro que, como jornalista e pastor, puxo a brasa pra sardinha das liberdades, especialmente de imprensa, pensamento, opinião e religiosa. Mas, pense bem. Sem elas, não há cristianismo...só um cristianismo marginal, glamourizado pelo imaginário da igreja perseguida...mas que não sobreviveu, por exemplo, ao peso imposto pelo Islã na Idade Média.

    Graça e paz do Senhor,

    Helder Nozima
    Barro nas mãos do Oleiro

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  3. Ah, Hélio,

    Sobre os cidadãos de segunda classe, vejo como os escravos. Paulo não questionou, em Atos, a diferenciação. Mas deixa claro nas cartas que para Deus não há acepção de pessoas...logo, deveria o Estado fazer o mesmo? Fica implícita a idéia de que todos deveriam ter os mesmos direitos...mais um "direito" que não surgiu naquele momento da História, mas cujos alicerces estão na Escritura Sagrada.

    Um raciocínio parecido foi feito na época da escravidão...e foi a razão pela qual muitos protestantes se engajaram na luta pela liberdade dos negros na América.

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  4. Helder,

    Vivemos numa sociedade hipócrita, cuja liderança também é hipócrita; que prega liberdade, direitos humanos e democracia, mas que, na prática, tem se mostrado tão tirana e cruel quanto seus inimigos declarados (se é que estes são mesmo tiranos e crueis). O que esperar de um governo que flerta com Chávez, Cuba e afins; que amordaça a boca dos cidadãos que lutam por seus direitos mais elementares; que se utiliza de conchavos e desonestidade ("quebra de decoro") para vencer a oposição; que impõe uma nova ditadura em nossas fileiras, bem pior que aquela que tanto marcou nossa história recente; enfim, que tem capa de ovelha e alma de lobo?

    Quer saber? Eu também não estou com esse Governo aí. E também sinto muito pelos "cristãos" que andam se iludindo com suas promessas (é, tem gente que acha mesmo o Karlvinismo o "Márximo"). Que seu texto possa mesmo abrir os olhos dos tais.

    Abraços!

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  5. Caro Helder,

    Obrigado pela resposta gentil.

    Concordamos em algo que eu só me lembrei depois de postar meu comentário: que todos nós somos ideológos, políticos e teólogos, mesmo quando não percebamos isso. Costumo dizer que até o ateu precisa construir um discurso teológico para negar sua ateologia, da mesma maneira como quem diz que não gosta de política nem por isso deixa de ser político.

    Você me pergunta o que vejo do ponto de vista teológico no longo relato de Lucas sobre o processo e a prisão de Paulo. Sem falar do interesse jornalístico detalhista de Lucas, resumidamente (o assunto é muito extenso e inspirador) vejo nesta ênfase de Lucas ao processo de Paulo a intervenção de Deus na História da humanidade, utilizando o apóstolo como "embaixador em cadeias" (Efésios 6:20), da mesma maneira como a "plenitude dos tempos" do aparecimento do Messias em pleno Império Romano, que havia facilitado sobremaneira os transportes e a comunicação, inclusive pelo idioma grego universalizado alguns séculos antes por Alexandre. Há quem diga que a própria universalização romana da crucificação como meio de execução penal revela toda a simbologia vertica-horizontal representada pela cruz e aproveitada por Deus para transmitir sua boa nova. Obviamente podemos fazer n inferências de todas essas questões, mas elas não me parecem decisivas nem essenciais. O próprio conceito de "neutralidade" que você se recusa a atribuir à Bíblia me parece anacrônico. É claro que a Bíblia tem muitos posicionamentos políticos dentro do que podia se entender por "política" na época, mas isso não significa que eu me sinta autorizado, com os olhos do século XXI, a fazer uma interpretação de neutralidade, direita ou esquerda, esses também conceitos surgidos na Revolução Francesa e reforçados por Marx. Talvez eu possa, no máximo, fazer algumas ilustrações e tirar alguns ensinos que me pareçam interessantes para a sociedade de hoje, algo que rotineiramente todos nós fazemos.

    Por isso, quando Jesus diz para dar a César o que é de César, não me parece que Ele esteja dando uma aula sobre separação entre Igreja e Estado, até porque ambos os conceitos não existiam à época. A Igreja, como instituição, se inicia pouco tempo depois, mas o conceito de Estado também é moderno demais - a meu ver - para fazer essa correspondência. O Estado (Leviatã) de Thomas Hobbes só vai surgir - ainda como ideia - no século XVII. Curiosa e paradoxalmente, o próprio Hobbes via o Leviatã como a união de Igreja Cristã e Estado no mesmo corpo que a todos controlava na pessoa do monarca. Felizmente, esta confusão foi superada, mas continuamos lutando com muitos Leviatãs que ora se apresentam como junção de poder de Igreja e Estado, ora como negação e inimizade de parte a parte. Por isso, na minha humilde interpretação, acho que Jesus tinha preocupação muito mais sublime quando falava das prerrogativas de César, assim como Lucas quando - inspirado pelo Espírito Santo - narrava os escaninhos judiciais de Paulo.

    Graça e paz!

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  6. Hélio,

    Comentários bem-feitos como o seu são muito bem-vindos...até me fizeram pensar, por exemplo, se a teologia reformada reconheceria a validade de um Direito Natural.

    Mas, voltando ao assunto...eu diria o seguinte. Claro que nao dá pra dizer que a Bíblia é de direita ou de esquerda, por exemplo...como você mesmo diz são conceitos que vieram depois. Mas posso dizer sim que a Bíblia apóia certos princípios e condena outros. E isso já é suficiente, pra mim, pelo menos, para rejeitar certas opções...e para enxergar o caminho que leva a alguns direitos do século XXI.

    Sobre isso eu achava até mais interessante você conversar com o Allen Porto, que é companheiro do blog e tem formação em Direito.

    Graça e paz do Senhor,

    Helder Nozima
    Barro nas mãos do Oleiro

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  7. Bom, creio que você tem todo o direito de se posicionar politicamente. Vivemos em um Estado de direito, laico, onde cada um, dentro do limite constitucional, é livre e responsável por suas ideias e atos. Mas discordo completamente da argumentação do risco das liberdades fundamentais sob um novo governo do PT. Isso não acontecu nos 8 anos de Lula, e não acontecerá no governo da Dilma. Não posso dizer o mesmo do opositor, que é useiro e vezeiro em dossiês, calúnias e difamações e em perseguições a jornalistas de opinião (vide o que ocorreu a Heródoto Barbeiro em SP). Sim, estou me posicionando politicamente. Sou cristão, calvinista, pastor, presbiteriano independente. E voto Dilma, com toda a liberdade de consciência que Deus me deu.

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  8. Rev. Digão,

    Discordo da sua opinião, pelas razões apresentadas no post. As propostas do PT no PNDH ameaçam sim a liberdade, especialmente de imprensa. Interessante que no governo FHC nunca se precisou dizer para a ANJ que liberdade de imprensa era um bem a ser preservado...algo que acontece agora no governo Lula. Nem me lembro de caseiros terem o sigilo quebrado. Ou de propostas que põem em risco à propriedade rural.

    Mas, enfim...somos livres para nos posicionarmos como quisermos, esteja este posicionamento certo ou não. Só espero que tenhamos ainda esta liberdade. Na Venezuela já não se tem mais. E começou de modo parecido com o que vejo hoje no Brasil.

    Graça e paz do Senhor,

    Helder Nozima
    Barro nas mãos do Oleiro

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  9. Caro Helder,

    Peço licença pra pegar carona na sua última manifestação para fazer mais um comentário.

    Primeiro, quero dizer que não estou tão preocupado com o posicionamento eleitoral de quem quer que seja, mas com a importância de se exercer a plenitude da democracia, sabedor que sou que a perfeição neste exercício não existe, mas podemos contribuir para que nós e outros cresçamos como animais políticos que somos.

    A questão da liberdade de imprensa é uma das que mais nos confunde, ou tentam nos confundir, com liberdade de expressão. Esta última é exatamente o que nós estamos fazendo aqui, e tantos outros fazem, cada um à sua maneira, pelas mais diferentes vias. Nada mais saudável à democracia. Já a liberdade de imprensa é restrita a quem tem condições de emitir a sua opinião e fazê-la circular. No caso brasileiro, a liberdade de imprensa, no âmbito nacional, é restrita a poucos grupos e algumas famílias, como no caso da Globo (família Marinho), Folha de S. Paulo (família Frias), Estadão (família Mesquita), Veja (família Civita), SBT (Sílvio Santos), apenas para citar os maiores, e suas subsidiárias. Temos até uma igreja dita "evangélica" comandando a Record. Logo, a liberdade de imprensa, por mais que seja um direito fundamental merecedor de todas as garantias, está concentrado em poucas mãos e cabeças. A ele se contrapõe outro direito igualmente fundamental, que é o da informação, que não se restringe a poucas pessoas, mas a toda a coletividade, interessada que está em receber informação confiável e de qualidade. Este é um direito ainda pouco exercido e respeitado.

    Também não me oponho a que esses grupos que detêm o monopólio da liberdade de imprensa no país possam expressar sua opinião. Embora não concorde com tudo o que eles publicam, gosto particularmente do Estadão, que nunca teve vergonha de assumir sua posição de direita, algo que outros veículos tentam esconder constrangida e dissimuladamente. É legítimo e elogiável que assumam sua posição ideológica, até para que homenageiem e prestigiem a inteligência de seus leitores. O que eu gostaria mesmo, e luto por isso, é que mais veículos tivessem a mesma oportunidade de expressar e fazer circular suas visões de mundo. Todos sairíamos ganhando com isso.

    Enquanto este dia não chega, desfrutemos do bem mais precioso que a democracia pode nos brindar, como aqui estamos fazendo, que é a liberdade de expressão. Obrigado por abrir este espaço e mantê-lo arejado.

    Graça e paz!

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  10. Olá Helder,

    Ótimo texto, muito esclarecedor!

    God bless.

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  11. Corrupto, feminista, amigo de ditadores e outras mazelas. E se o Brasil for mesmo governado por uma mulher é mais coerente que ele se arrebente para ficar claro que mulher não foi criada para governar. Observe que Deus deu ao homem ( figura masculina ) o dominio nas descobertas da biologia, matemática... veja que só tem homens nas descobertas da hunanidade

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  12. Gostei muito das ponderações de Hélio e Helder, que são muito instrutivas e bem construidas, mas concordo com Helder que Roma diante até dos próprios judeus havia discussão de alguns direitos e valores (por mais que sabemos do exclusivismos em que eram atribuidos).
    Penso também que a Igreja não deve está escolhendo lados, mas que os cristãos tem obrigação de votar com consciência, pois somos sal da terra.
    Não tenho a capacidade de discussão de opiniões dos dois a que me referi, mas outra vez, venho lembrar que este governo atual implica em posicionamentos pelo menos preocupantes com lideres ditadores e desumanos, ficando em cima de muro sempre que é consultado sua respostas.
    E lembrando também que os petistas mais com cara deste que já foi o único partido puro, foram excluidos das discussões e até do partidarismo.

    Graça e Paz de Cristo!

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