17 de setembro de 2010

“Por que me preocupar se o abortado não sou eu”? Um clamor pela não-presidência do PT

Era só mais um dia como outro qualquer na capital paulista. Érica, uma jovem de apenas dezessete anos, estava grávida de dois meses. Como muitas garotas na sua idade, ela não sabia quem era o pai da criança, visto que havia se envolvido com muitos parceiros naquela noite. Não, ela não é garota de programa, mas de uma família abastada da classe média paulistana. Havia saído com os amigos para uma balada, onde tudo aconteceu – sexo, drogas, rock n’ roll e mais algumas coisinhas. Somente sua mãe sabia que ela estava grávida, mas não por Érica ter contado, e sim por pura desconfiança – dos constantes enjoos, dos remédios escondidos na gaveta, do semblante sempre misterioso e… pelo instinto materno também, é lógico. Até que Érica abriu o jogo com sua mãe, mas somente com ela, porque se o pai soubesse provavelmente a colocaria para fora de casa. E agora? O que fazer?

Mesmo se soubesse quem era o pai da criança, Érica bem sabia que nenhum dos garotos com quem se relacionou naquela noite estaria disposto a assumir a responsabilidade. “Toma que o filho é teu” – ia parecer piada! A alternativa? Bem. Logo ali perto de sua casa funcionava uma clínica clandestina especializada em resolver “questões familiares” dessa natureza. A ideia partiu de uma colega de Érica, que rapidamente convenceu ela e sua mãe de que aquela era a alternativa mais viável naquele momento tão delicado. “Esgotados” todos os recursos, resolveram ir lá – sem muito constrangimento moral, pois, afinal de contas, mais um pouquinho de tempo e a barriguinha ia começar a despontar, e aí o “constrangimento” ia ser de verdade: pela expulsão de casa, pelo desamparo, pelo falatório popular, etc. Enfim, o procedimento médico (médico?) não demorou muito. Por sucção o feto foi extraído e logo em seguida jogado no lixo. E Érica foi embora com um “enorme” peso tirado das costas – e da barriga.

Apesar de o relato acima ser fictício, qualquer semelhança com a realidade não terá sido mera coincidência. E não terá sido mesmo: acontece todos os dias nas capitais paulista, mineira, fluminense, pernambucana, baiana, catarinense, amazonense, etc. A estória foi contada bem grosso modo; um pouco exagerada e caricaturizada, é verdade, mas o que é a vida para os abortistas? Mais especificamente, o que é a vida para os petistas que idealizaram o Projeto Nacional de Desenvolvimento Humano 3 (PNDH-3), que aprova, dentre outras aberrações, a descriminalização do aborto, sob a alegação da “autonomia das mulheres para decidir sobre seus corpos” (Diretriz 9; Objetivo Estratégico III, letra g)? “Autonomia das mulheres para decidir sobre seus corpos”… E quem decide sobre a vida, quem é? Verifica-se que para esse pessoal (inclusive para a nossa Érica, se a carapuça assim servir) o feto é somente um “corpo estranho” (literalmente) que a mulher pode retirar da sua barriga a hora que quiser, assim como se tira um espinho ou um caco de vidro do pé.

O mais irônico de tudo é que nosso Excelentíssimo Senhor Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um dito “defensor” dos direitos humanos e dos ideais de igualdade, liberdade e fraternidade, no texto de apresentação ao PNDH-3, diz que

Todos esses avanços são robustos e animadores, mas não podem esconder os problemas ainda presentes. […] Refiro-me à violência que ainda mostra índices alarmantes nas grandes cidades; à prostituição infantil; grupos de extermínio; persistência do trabalho escravo e do trabalho infantil [p. 13].

De fato, descriminalizar o aborto deve ser mesmo “robusto e animador” para alguém que não sabe o real significado das palavras vida, direitos humanos e liberdade, conceitos que ele tanto diz cultuar. Será que ele enxergaria os idealizadores desse projeto maligno, bem como as inúmeras clínicas abortistas (que deixarão de ser clandestinas, se Dilma for eleita!) como esse tal “grupo de extermínio” que ele condenou acima? É óbvio que não! Por que? Porque ele mesmo diz que

Não haverá paz no Brasil e no mundo enquanto persistirem injustiças, exclusões, preconceitos e opressão de qualquer tipo. A equidade e o respeito à diversidade são elementos basilares para que se alcance uma convivência social solidária e para que os Direitos Humanos não sejam letra morta da lei. Este PNDH-3 será um roteiro consistente e seguro para seguir consolidando a marcha histórica que resgata nosso País de seu passado escravista, subalterno, elitista e excludente, no rumo da construção de uma sociedade crescentemente assentada nos grandes ideais humanos da liberdade, da igualdade e da fraternidade [p. 13].

Um testemunho: eu tinha dito para mim mesmo que política não era, definitivamente, a minha “praia”, mas essas coisas instigaram meu interesse. Eu até nem mesmo sabia exatamente porque o PT era maligno (a não ser pelo fato de eu detestar a esquerda comunista histórica), mas agora me convenço de que a ideologia que o estrutura é mesmo anticristã (em primeira instância) e desumana (em última). Infelizmente, o povo parece não perceber isso. Como diria Paulo, o “deus deste século” tem cegado seus entendimentos (2 Co 4.4). Quando se promete internet grátis, mais escolas e mais hospitais, as pessoas parecem não enxergar mais a necessidade de Cristo, Aquele que redime o homem desse cativeiro moral, espiritual e, por que não, ideológico. E o pior de tudo é que a cegueira é tão grande que até mesmo projetos explicitamente desumanos como esses são recebidos com entusiasmo e expectativa, inclusive por alguns cristãos que já se decidiram pelo PT, a quem lhes dou os meus sinceros pêsames escatológicos, se não se arrependerem de seus maus caminhos.

Não estou escrevendo para convencer os cristãos que estão prestes a votar no PT para a presidência da República a não fazê-lo (uma vez que nem mesmo a Bíblia eles ouvem!), mas para que pelo menos reflitam sobre os desdobramentos que hão de resultar disso. E esse meu clamor se estende até mesmo àqueles que não se julgam como cristãos, mas que pelo menos ainda prezam por valores como vida, família, igualdade e liberdade. Será que em algum lugar desse mundo alguém já se colocou no lugar do abortado? Melhor: alguém gostaria de ser alijado precocemente da placenta de sua mãe somente para não ser um estorvo (ainda mais agora, que a cadeirinha é obrigatória no banco traseiro), um estraga-prazeres, um aperta-orçamento? Mas parece que muitos não dão a mínima para isso. E é exatamente por isso que as “éricas” espalhadas por aí seguem jogando vidas interrompidas na lata do lixo, aos cuidados do primeiro gato que aparecer. Afinal de contas, por que me preocupar se o abortado não sou eu?

Que Deus tenha misericórdia de nós!

Soli Deo Gloria!

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O PNDH-3 pode ser aqui: http://portal.mj.gov.br/sedh/pndh3/pndh3.pdf

A Bíblia pode ser lida aqui: http://www.bibliaonline.com.br/

6 comentários:

  1. Em respeito à verdade e à liberdade de informação, gostaria de lembrar que a ampliação das autorizações abortivas já estava previsto no PNDH 2, de 2002, do governo FHC, do PSDB (quantas siglas, não?). O artigo 179 do PNDH 2 dizia o seguinte:

    179. Apoiar a alteração dos dispositivos do Código Penal referentes ao estupro, atentado violento ao pudor, posse sexual mediante fraude, atentado ao pudor mediante fraude e o alargamento dos permissivos para a prática do aborto legal, em conformidade com os compromissos assumidos pelo Estado brasileiro no marco da Plataforma de Ação de Pequim.

    Além disso, José Serra é o único dos presidenciáveis que já tomou uma posição oficial a favor da facilitação do aborto, quando era ministro da Saúde:

    http://www.cfemea.org.br/pdf/normatecnicams.pdf

    Abraço!

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  2. Helio, eu sou completamente contra o aborto, mas o PNDH2 não cita nada que não esteja na Constituição Federal. Estamos discutindo a legalização do aborto como uma escolha da mulher.

    O interessante deste discurso da escolha é que a menina da estória pôde escolher se drogar, pôde escolher se embriagar, pôde escolher com que homens se relacionar, mas em nenhum momento escolheu tomar as precauções necessárias para não ter que escolher depois se abortava ou não. É interessante quando as vítima de nossas escolhas não somos nós mesmos, e sim um feto inocente. É muito cinismo.

    Outro dia aqui no México eu escutei uma propaganda de uma Clínica de Aborto no rádio, com a mesma naturalidade com que se anuncia uma marca de leite ou uma marca de carro. O slogan era "Porque os filhos devem ser desejados, nunca uma obra do acaso", e logo depois anunciavam os seus planos de aborto, como se o aborto fosse mais uma ferramenta de planejamento familiar.

    Salvo pelo estupro, que a vítima não pode escolher, hoje quem engravida assim o fez porque não tomou as precauções necessárias, e eu duvido que um casal casado (ou em relacionamento duradouro e estável), que relaxe nas precauções, no caso de se encontrarem grávidos, escolham o aborto como opção.

    Eu realmente não entendo porque o aborto é uma bandeira da esquerda, e a única explicação que eu encontro é que a esquerda é o instrumento do diabo na terra, negando toda a obra de Deus, porque Deus e as Religiões são o Ópio da Humanidade.

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  3. Um texto interessante para compararmos o PNDH II e o PNDH III encontra-se no seguinte link: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/ainda-o-golpe-dos-direitos-humanos-desconstruindo-outra-mentira/.

    Independentemente dos comentários do Reinaldo Azevedo, é notória a diferença entre o texto no que diz respeito a prática do aborto (e a outros "permissivos") nos PNDH II e III - não que eu considere o PNDH II algo bom, muito pelo contrário.

    Transcrevo para quem quiser analisar:

    O ABORTO NO PNDH II, DE 2002
    179. Apoiar a alteração dos dispositivos do Código Penal referentes ao estupro, atentado violento ao pudor, posse sexual mediante fraude, atentado ao pudor mediante fraude e o alargamento dos permissivos para a prática do aborto legal, em conformidade com os compromissos assumidos pelo Estado brasileiro no marco da Plataforma de Ação de Pequim.

    ABORTO NO PNDH III, DE 2009
    g) Apoiar a aprovação do projeto de lei que descriminaliza o aborto, considerando a autonomia das mulheres para decidir sobre seus corpos.

    Abraço!

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  4. Olá! Interessante o post, mas acredito que a posição mais correta deveria ser menos paternalista. Explico: Atualmente vemos muitos cristãos preocupado com a lei "X" ou a lei "Y", defendida pelo partido "PX" ou "PY", e o que essas leis podem causar às pessoas. Creditamos a mudança moral à força da lei, que é exterior ao ser humano. A lei, nesse caso seria como um "pai" dizendo o que é certo e punindo, caso o sujeito faça diferente... A mudança é imposta, por meio de uma lei.

    A posição menos paternalista é a de: se pregamos o evangelho de Jesus e se, de fato, as pessoas estão se convertendo a Jesus, ele é vivo e eficaz, por meio do Espírito, para promover todas as mudanças nas pessoas; Ele não precisa da 'ajuda' de lei nenhuma para mudar pessoas. Nesse caso, a sociedade experimentaria uma mudança, gerada pelo próprio Jesus, individualmente, afetando o coletivo. Falar de uma lei que criminaliza ou descriminaliza aborto, ou qualquer outra aberração, seria totalmente desnecessário!

    O problema é que não pregamos o evangelho de Jesus. Pregamos o evangelho da igreja Presbiteriana, da igreja Batista, da Assembléia... Pregamos as instituições e esperamos que elas (instituições) façam alguma coisa para a mudança moral das pessoas. Nosso apoio em instituições é tão grande que confiamos na força de uma lei (instituída) para mudar os rumos de uma nação.

    Jesus não precisa de ajuda!
    Só a Ele (mesmo!) toda a glória!

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  5. Guilherme,

    Com todo respeito, se minha visão é "paternalista", a sua é, no mínimo, ingênua. O próprio Jesus, que tanto pregou sobre o arrependimento, foi crucificado. Os apóstolos foram presos, conforme o livro de Atos. E Paulo, conforme ele mesmo relata, várias vezes foi encarcerado e perseguido (2 Co 11). E aí? Eles, por acaso, não evangelizavam?

    Noto que sua visão sobre a lei é um pouco equivocada. Paulo diz que o Estado é ministro de Deus para que a ordem social seja mantida (Rm 13). Deus estabeleceu muitas leis em Israel que visavam o bem comum a todos. Mas mesmo essas leis "temporais", digamos, o povo rejeitou por muitas vezes e de diversas maneiras! E aí?

    De fato, as instituições não tem o poder de mudar os rumos de uma nação. Mas Deus as instituiu para que, fiéis àquilo que Ele prescreve, elas possam nos antecipar, ainda que de maneira imperfeita, a Jerusalém Celestial, que está para vir. As leis não "ajudam" Jesus, mas Ele mesmo no-las deu para o nosso próprio bem (eu ia dizer "para que sejamos por Ele ajudados", mas preferi evitar ser mal-entendido).

    Abraços!

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  6. Leonardo,

    Nunca afirmei que você é paternalista, contudo você afirmou com todas as letras que sou ingênuo!

    Após isso, escreveu que Jesus foi cricificado, apóstolos foram presos, Paulo foi perseguido. Realmente, está tudo certo. Mas isso não tem nada a ver com o que eu escrevi. Não escrevi nada contra o evangelismo, pelo contrário, incentivei o evangelismo e critiquei o atual evangelicalismo (Jesus não era evangélico).

    Você ainda escreveu que minha visão sobre a lei é equivocada, porém eu não expus nada contra ou a favor das leis. Escrevi, sim, contra o crédito demasiado que se atribui às leis, como se uma lei aprovada a favor disto ou daquilo fosse o que iria definir os rumos de uma nação. Ora, se assim fosse Jesus teria se tornado um estadista! A abstração que Jesus fez é sempre necessária: "O meu Reino não é deste mundo".

    Por fim, Deus não criou instituições, criou pessoas e pôs nelas a capacidade de amar e de se relacionar. O pecado que acompanha a raça humana nos torna incapazes de amar e formar relacionamentos. Criamos (os seres humanos) instituições para poder manter um mínimo possível de convívio social.

    O que eu disse é que se as pessoas fossem realmente salvas, alcançadas por Jesus, suas mentes e corações seriam dia após dia sendo transformadas até atingir a estatura de homem/mulher perfeitos. Nesse caso, seria óbvio e desnecessário dizer que uma pessoa não deve abortar ou matar. Isso é como uma sociedade utópica, reconheço. Mas nós, os evangélicos, somos em número suficiente (20% da população) para promover mudanças pelo nosso estilo de vida, caso houvesse ocorrido transformação nas vidas daqueles que vivem dentro das igrejas instituídas.

    Se temos que confiar na aprovação de leis humanas para garantir aquilo que é óbvio ao evangelho, então o evangelho perdeu sua eficácia! Como isso não é possível (o evangelho tornar-se ineficaz), então há algo errado com o meio pelo qual ele é pregado: as instituições evangélicas.

    Leonardo, quando eu disse 'paternalista' não "ataquei" o autor da idéia, mas a idéia em si que está tão presente no meio evangélico, principalmente em tempos de eleições, onde vemos muitos líderes coagindo pessoas a votarem em "X" e não votarem em "Y", decidindo por elas o que é melhor, colocando em jogo, inclusive, a salvação ou condenação da pessoa, como citado no texto:

    "inclusive por alguns cristãos que já se decidiram pelo PT, a quem lhes dou os meus sinceros pêsames escatológicos, se não se arrependerem de seus maus caminhos."

    Ora, se votar em um ou outro poderá decidir o futuro de uma pessoa, a Graça foi invalidada!

    Não sou a favor do PT, mas não posso afirmar que uma pessoa que votou em determinado partido irá para o céu ou inferno.

    Só a Deus (mesmo) toda a Glória!

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