22 de março de 2011

Lulu Santos e o Novo Calvinismo

Publicado originalmente no Optica Reformata.

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Sem querer aumentar ainda mais o celeuma em torno das fervorosas discussões sobre o Novo Calvinismo (NC), e já correndo o risco de ser considerado como alguém totalmente avesso ao movimento (o que não é verdade, evidentemente), vou revelar aqui uma brincadeira que fiz alhures (via chat) com alguns colegas quando me referi àquela que poderia ser a modinha dos novos calvinistas. Trata-se da música O último romântico, de Lulu Santos, que assim reza em seus versos iniciais:

Faltava abandonar a velha escola/ tomar o mundo feito Coca-Cola.

É claro que não se trata de nenhuma análise “séria” do movimento, haja vista o elemento lúdico embutido na própria comparação em si. Sim, fiz isso mais como quebra-gelo mesmo, e até pensei se valeria a pena mesmo o post. Mas em que se pese essa proposta de ruptura com as velhas formas (ou, o velho modus operandi, de repente) e a consequente propagação de uma mensagem mais contextualizada para a cultura na qual está inserida – o ser “missional”, no caso do NC –, penso que a relação que fiz tem lá a sua validade, o que torna o este post, digamos, “publicável”, segundo penso.

Mas se é pra falar de coisa séria, aqui vai uma crítica. E mais uma vez me aproprio da deixa do Lulu, só que agora no que tange ao romantismo. Tenho notado que alguns irmãos que se identificam com o NC tem se deixado levar por uma postura quase acrítica quanto ao movimento, o que faz com que se irritem facilmente quando alguém questiona certos pontos de suas perspectivas. E o pior é que não são exclusivamente os ditos “neopuritanos” quem levantam as questões, mas até mesmo gente que está mais próxima do arraial do Piper do que do arraial do Peter Masters. E é justamente isso o que me preocupa, pois a impressão que tenho é que muitos estão simplesmente pegando arrego numa onda que nem bem sabem o que é, mas que já se apressam em defendê-la com unhas e dentes. Temo também que essa atitude irrefletida de alguns, somada aos seus ânimos acirrados pela "oposição", possa interferir de forma trágica no resultado pretendido por eles próprios, o que não seria nada bom para o calvinismo no Brasil. Para que seja um movimento realmente frutífero e duradouro [olha eu palpitando aí, gente!] – e não apenas um modismo –, é preciso que os novos calvinistas juntem o ouro, a prata e as pedras preciosas do que há de melhor na tradição reformada, largando de mão as madeiras, fenos e palhas de nossos modelos equivocados (cf. 1 Co 3.10-15). É necessário também que se vá com calma, muita calma, para que a noiva não se canse antes do baile.

É por essas e outras que tenho me recolhido ao silêncio nesses dias. Ainda preciso ler muito sobre o assunto para poder me definir como “a” ou “b”, se é que o farei. Mas de uma coisa eu sei: que a Fé Reformada é muito maior do que o Velho ou o Novo calvinismos. Maior até do que o próprio Calvino, como eu já disse alhures. E se porventura estivermos procurando estabelecer A ou B como o padrão último do que venha a ser um verdadeiro reformado, de modo que rompamos com as Escrituras e com a fé legada pelos nosso pais, então seremos achados não apenas os últimos românticos, mas também como os últimos tolos (isto se não deixarmos o mau exemplo para as futuras gerações, que também poderão continuar endossando essa nossa tolice). Que Deus nos dê discernimento!

Soli Deo Gloria!

3 comentários:

  1. Leonardo,

    Texto bom, embora pequeno. Pelo que se vê que qualidade não se mede por quantidade (tamanho do texto). O tom de "brincadeira" também vem a calhar, já que a analogia com a musiquinha do Lulu aparentemente não faz sentido (mas faz, claro, dentro do que se propôs).

    Quanto ao novo calvinismo, eu também estou a observar os textos. Uma coisa é certa, pouco importando o prefixo, não mudará em nada a minha percepção do Evangelho. Eis porque concordo que as defesas precipitadas a desaguar em longas e acaloradas discussões são mesmo despropositadas. Se "novo" ou "velho", pouco importa. Todavia, se o que vem é para acrescer em qualidade, seja bem-vindo!

    Ricardo.

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  2. Ricardo,

    obrigado pelo elogio.

    Eu também estou a observar os textos com atenção, avaliando as perspectivas e procurando extrair aquilo que delas podemos aproveitar, como Paulo nos ensinou. E, embora eu ainda não me considere um novo calvinista (sim, ainda preservo muito do "old"), devo reconhecer que tenho aprendido muito com os novos. Se o movimento vem mesmo para acrescentar, não vejo motivos para rechaçá-lo, como muitos da velha escola tem feito de forma precipitada. [Estou até pensando em postar algo sobre isso. rs!].

    Então, que o Novo Calvinismo seja bem-vindo enquanto se mantiver sóbrio!

    Abraços!

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  3. li tanto este post quanto o outro sobre o "NC" e me me fiquei a perguntar: Sera que o problema dos caras do NC esta somente ma estetica?(roupa coisa e tal)sera tambem que aqueles que são "seguidores do CALVINISMO TRADICIONAL (ou fundamental sei la) não são igualmente "problematicos" ao conservarem uma postura (QUASE SEMPRE)austera e um linguajar sempre refinado e erudito, distante muitas vezes da realidade do povo semianalfabeto(se é que isso existe)distante da compreenção dos bolsoes de miseria, distante do pé rachado do interior Maranhense e de outros "interiores" do Brasil.
    De ja digo que não sou defensor do NC.
    fICA AQUI UM PENSAMENTO OU TEMA QUEM SABE PARA UM NOVO POST.

    OBRIGADO.

    ISAIAS BRITO

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