8 de fevereiro de 2010

O Revelado

Mostre-Se: Tu és Deus! Diga apenas uma palavra, meu Senhor! Uma única. E sei que tudo virará de ponta cabeça. Por Sua voz todo sofrimento desaparecerá. Por uma única palavra Sua eu crerei e serei salvo!
Louvado seja o Deus que fala, que Se revela, que chama. Para sempre minha alma engrandeça Aquele que por uma Palavra me fez crer. Aquele que faz todas as coisas novas. Aquele que enxugará todas as minhas lágrimas! Louvado seja o Deus Triúno!

O que segue é um apanhado de reflexões a propósito da auto-revelação de Deus. Reflexões feitas durante e após um período de estudos sobre Calvino. Assim, elas refletem um pouco do pensamento do reformador, mas são, principalmente, minhas próprias impressões. 
Tudo está intimamente relacionado, mas não há uma ordem lógica ou uma conexão direta entre os parágrafos. Não é um arrazoado, mas uma apresentação das ideias apreendidas. 
O leitor atento poderá perceber um duplo intento deste registro dos meus estudos. Por um lado, eu quero sempre poder lembrar daquilo que me acompanhou durante todo o tempo em que estava a estudar. Por outro, que aquilo que me acompanhou é o enlevo em louvor: eu quero demonstrar, usando-me por exemplo, que um bom estudo teológico nos faz cair de joelhos em adoração!

A revelação geral revela Deus como o Criador
Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo (Sl 19.1-4a).
O Deus das Escrituras é o Deus que Se revela. Toda a história da ordem criada é uma história da revelação de Seu Criador: “os céus proclamam a glória de Deus e por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo”. Conhecer Deus é conhecer Sua glória e Sua glória são Seus atributos. Se a criação, e o homem em especial, é para Sua glória, o conhecimento de Seus atributos que leva ao louvor e à adoração é o fim de todo ser!
Quando da criação, o homem não tinha o que lhe vendar os olhos. Ele podia ver Deus na criação, embora isso não fosse necessário para que O conhecesse. Pois ele O conhecia. Ele adorava Seu Criador. Mas há muito o homem não pode mais reconhecer Deus em Suas obras: voluntariamente caminha cego por este mundo. A revelação geral não pode levar ao conhecimento de Deus, mesmo que declare Sua existência. É necessário que a própria revelação especial diga que a geral declara Sua existência para que o percebamos. É necessário que Deus nos desvende os olhos para que enxerguemos!
Isto é evidente após a queda, certamente. Porém mesmo antes da queda Deus se revelou proposicionalmente: Sua vontade (ordem) foi dada por revelação especial. “E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.16-17). Desde o princípio Deus está a nos declarar que necessitamos que Ele Se revele para que O conheçamos mais profundamente. Conhecê-lO como Criador nos revela muito sobre Ele. Mas há mais a conhecer e pelo que adorá-lO!

A revelação especial revela Deus como o Redentor
A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma; o testemunho do SENHOR é fiel e dá sabedoria aos símplices. Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro e ilumina os olhos. O temor do SENHOR é límpido e permanece para sempre; os juízos do SENHOR são verdadeiros e todos igualmente, justos. São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos. Além disso, por eles se admoesta o teu servo; em os guardar, há grande recompensa. Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas. Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão. (Sl 19.7-13).
Se a revelação geral não é suficiente por nossa cegueira voluntária, e se não temos condições de curar a própria vista, Deus mesmo prescreve o tratamento para a cura. E esta cura nunca envolve um aplacar Sua ira por méritos que não temos. Nem uma receita dada por nós. Deus mesmo prescreve a receita e a cura em Si mesmo! É maravilhoso que no momento mesmo em que o homem se cegou Deus faz sua prescrição (Gn 3.15) e inicia a Se revelar, até culminar com o ápice de Sua auto-revalação na encarnação em Cristo Jesus! Oh, mistério terrível e maravilhoso que Deus tenha se feito homem, que o Eterno tenha se feito no tempo, que o Absoluto tenha assumido todas as nossas contingências! E que por isso sejamos redimidos e vejamos!
Deus Se revela proposicionalmente. Seu Espírito é quem fala por meio de quem Ele inspira. O texto bíblico é, portanto, o testemunho do Espírito Santo a nos revelar as profundezas de Deus e o que importa para que sejamos salvos e Lhe rendamos glória! Assim, a autoridade bíblica não é dependente da Igreja, mas de Deus. Ela é confirmada pelo testemunho do Espírito Santo, sendo esta a mais forte evidência da autoridade das Escrituras.
Deus é “o totalmente outro”. Ele é o Insondável. Mesmo assim Ele Se revela, Se nos dá a conhecer. E o que conhecemos dEle é a Verdade. Verdade que, embora nunca possa desvelar plenamente a essência de Deus, ainda é a Verdade de Sua essência. Além da limitação inerente à diferença ontológica entre Criador e criação, e também justamente por conta dela, a própria linguagem humana não é suficiente para se expressar sobre Deus. De fato, a linguagem é limitada até mesmo para a comunicação entre nós, que se dirá quanto a comunicar quem Deus é. Assim, reafirmamos que aquilo que está revelado é a Verdade de Deus, mas numa “linguagem de acomodação” de forma que O possamos entender.
O louvor ao Revelado
As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, SENHOR, rocha minha e redentor meu! (Sl 19.14).
E isto não é mesmo algo para se maravilhar? Que O busquemos e busquemos e sempre haja mais a buscar! Que Sua essência não seja atingida por nós! Estudar os atributos de Deus, sistematicamente, lendo a Palavra, é algo fascinante! Ele Se revela. E tanto quanto possamos apreender Ele está lá a Se fazer conhecido. Mas quando descobrimos algo profundo, e achamos que nada pode ser mais profundo, eis que Ele descortina ainda mais um nível! Eis que Ele Se nos mostra ainda mais o Insondável. E vemos que mergulhar em Seus mistérios é mesmo algo para uma eternidade diante da Presença! Louvado seja o Deus que nos chamou para esta vida eterna com Ele! E eis que não cessaremos de cantar o que já começamos aqui: Santo, Santo, Santo é o Senhor! Glórias a Ele!
SOLI DEO GLORIA!

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