O silêncio é uma arte perdida. Nestes dias corridos e barulhentos, qualquer pausa que promova meio segundo de ausência sonora é constrangedora.
Talvez por isso em algumas igrejas nem há mais sermões sem uma música de fundo - uma possível tentativa de eliminar os terríveis momentos de silêncio entre uma frase e outra do pastor? Outros diriam que é mais uma estratégia de manipulação emocional...
O ponto é que o silêncio se torna cada vez mais distante de nós.
A dificuldade reside no fato de que este fenômeno não apenas acontece fora de nós, nos ambientes à nossa volta, mas também em nós. Na era da "democratização" do espaço público, quando todos têm "voz", ninguém quer ficar calado.
Os blogs não me deixam mentir. Sua proliferação deu lugar às mais diversas declarações e estilos possíveis. De culinária, política, economia, esportes, piadas, organizações criminosas, novelas e fofocas, pessoais, e até de teologia (!).
Possivelmente, em algum lugar do mundo, existe um garotinho bêbado escrevendo alguma bobagem em seu blog (e talvez inventando um novo facebook - cf. o filme "A rede social"). Ou alguma garota digitando a letra de uma música vazia no twitter. Em algum canto deste planeta, deve haver, neste momento, um calvinista criando confusão por alguma interpretação apressada de algo que leu na internet. E assim caminhamos para um universo cada vez menos silencioso, onde todos acreditam que, por terem a possibilidade de falar, têm a necessidade de falar.
Uma das consequências disso é que nunca se expressou tanta opinião publicamente como hoje - o que, por um lado, é bom. Mas, por outro, as opiniões nunca foram tão bobas, superficiais e apressadas. O preço a pagar pela facilidade de usar a voz na esfera pública, é encarar o mal uso desta facilidade. Pensamos pouco, e falamos muito. Não apreendemos alguns conceitos, e já queremos apresentá-los na interntet. Não entendemos determinada crítica, e já estamos prontos a escrever uma refutação.
Em um sentido, o nosso coração é revelado nestas questões. Será que a nossa compulsão em escrever/falar reflete o desejo de impressionar pessoas? Nossa obsessão em sermos ouvidos reflete um coração egoísta e orgulhoso? Nossa prontidão em refutar críticas indica uma identidade centrada no que outros pensam de mim e de minhas idéias? (em vez de uma identidade enraizada em Jesus e no que Ele diz sobre mim).
Quanto mais raro o silêncio se torna, mais precisamos dele. Não defendo um monasticismo contemporâneo, mas percebo que antes de cada post ou comentário, antes de cada tweet ou buzz, poderíamos dedicar algum tempo à reflexão silenciosa. Isto não apenas diminuiria a poluição sonora do planeta, mas fundamentalmente, a do nosso coração.
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