29 de junho de 2011

Dos calvinistas que comem “despacho” de macumba e bebem vinho

Esse foi um texto que escrevi no Google Buzz, com ligeiríssimas alterações aqui. Por isso mesmo é que ele soa assim, meio solto e com maneirismo de rede social. Risos.

***

Hoje discuti com um irmão aqui do trabalho, enquanto almoçávamos, acerca dos alimentos sacrificados a ídolos. Bem, não lembro como começamos, mas o fato é que a conversa tomou rumos inesperados, pelo menos para mim. Ele ficou escandalizado porque eu lhe disse que, numa situação desértica e extrema, faminto, eu comeria um "despacho" de macumba sem problema, desde que eu estivesse sozinho. Argumentei como Paulo, no sentido de que os ídolos não são absolutamente nada, e que Deus há somente um (1 Co 8.4-6). Mas se eu estivesse acompanhado de alguém que não tivesse esse entendimento e que se escandalizasse com minha atitude, eu não comeria por amor a essa pessoa, visto que entendimento desprovido de amor serve somente para inflar o ego ("o saber incha, mas o amor edifica" - 1 Co 8.1)*. Ainda assim, esse irmão disse que o problema era meu, visto que "para Deus não há distinção de pecado", e que Deus era poderoso para suprir sua necessidade, e que por isso jamais se submeteria a comer um despacho de macumba.

Eu sei que depois o papo chegou no vinho, e ele prometeu que ia me provar, mediante estudo do termo grego, que o vinho de que a Bíblia fala, e que Jesus bebeu na Ceia, era vinho não-fermentado; um suco de uva, na realidade. Novamente, tentei argumentar com ele, dizendo que o que a Escritura proíbe é a embriaguez. Inútil. Citei o caso de Noé, que pecou por embriagar-se (não por beber) com vinho, e esse irmão disse que não queria saber da "Velha Aliança". Se o irmão está certo, então será que os fariseus estavam acusando Jesus de ser um “bebedor de suco de uva não fermentado” (cf. Lc 7.34)? Bom, deixa pra lá…

Para coroar a discussão, ele disse que eu cria dessa maneira porque sou calvinista. Perguntou até (em tom de sarcasmo) se eu cria na reencarnação, vejam só! Depois ele se virou para a predestinação, dizendo que ela não é bíblica e todo o papo que vocês já conhecem. Disse que há diferença entre predestinação e eleição. Disse também que meu problema é que eu fui doutrinado pela Igreja Presbiteriana, a qual ele disse conhecer muito bem, e que por isso mesmo está onde está, visto que não foi por ela convencido. Eu falei para ele que não dava pra discutir com uma pessoa que parte dos pressupostos errados. Sugeri-lhe que estudasse os termos gregos (já que ele gosta tanto dos originais!) para eleição e predestinação. Perguntei-lhe também se ele consegue encarar textos como Romanos 9 assim, "numa boa". "Seu problema é que você se baseia em textos isolados"... "Não sirvo a Calvino, sirvo a Deus"; gritou ele quando eu já distava uns cinquenta metros. Sim, deixei ele falando sozinho.

Infelizmente, esse irmão é somente mais um dentre tantos que confundem liberdade cristã com libertinagem (“licença” para pecar) – o que acaba se tornando um dos argumentos preferidos dos não-calvinistas contra o calvinismo, uma vez que somos acusados de nos esconder na predestinação e na perseverança dos santos, usando-as como pretexto para o pecado. Nada mais longe da verdade. É nessas horas que devemos exercitar o amor para com os fracos (cf. Rm 14). E eu diria que deixar ele falando só naquele momento foi, em alguma medida, uma prova de amor. Procurá-lo depois para esclarecê-lo e ajudá-lo pode ser outra ainda maior. Espero que assim seja.

Soli Deo Gloria!
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* Muito embora eu tenha certeza de que, mesmo sem entender a liberdade cristã, meu acompanhante ignoraria sua própria ignorância e mataria logo sua fome. =p

12 comentários:

  1. Leo,

    Despachos à parte, sugira a seu amigo a leitura do artigo "É pecado beber vinho?". É de um cara que foi doutrinado numa igreja pentecostal.

    Clóvis

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  2. Clóvis,

    grato pela ótima indicação. Vou imprimir e repassar para o meu amigo.

    Abraços!

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  3. Vou repassar para meus conhecidos. rsrsr.

    www.cafeegraca.blogspot.com
    se for possível dê uma olhadinha neste blog e deixe um comentário por lá.

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  4. Leo,

    Meu problema com isso aí é o limite. Isto é, até que ponto o meu comportamento será de amor por deixar de fazer? O limite, a meu ver, é duplo. Está na minha vida que é minha e no mostrar a fraqueza que é amor.

    Fiquei bastante preocupado em meu contexto com um caso recente em que se disciplina alguém porque este alguém vai a festas sociais (uma danceteria, no caso). Não posso acreditar que se veja um lugar como mal em si mesmo. Mas também não quero julgar o caso, por um lado e por outro, pois não sei o nível de tal danceteria nem que vida este alguém levava. Apenas que senti algum cheiro de legalismo no ar...

    Com toda sinceridade, vou a pubs (ambiente) e tomo cerveja (álcool) sem me preocupar com as línguas ou com o que o meu ou qualquer outro pastor ou membro de igreja venha a pensar. Prefiro ser íntegro e honesto quanto às minhas convicções. Não deixarei de tomar meu vinho nos restaurantes ou em minhas refeições em casa.

    Deixarei de fazer algo (ou farei algo), em amor ao meu irmão que se escandaliza, quando estiver em sua casa (não sejamos literais, refiro-me a um ambiente em que tal atitude seja o que convém). Mas na minha mando eu. A falta de amor é dele se desrespeita isso.

    Não que seja assim tão fácil saber de quem é a casa. Mas é certo que há que se ter limites.

    NEle,
    Roberto

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  5. Leonardo,

    Sinceramente, com pessoas tão "sábias" e "gentis" eu não discuto mais. Apenas tento argumentar, mas vendo que é "malhar em ferro frio" (para me apropriar de um aforismo dos meus pais), caio fora. Ando completamente sem paciência com liberais e legalistas. Ah, e numa situação como a narrada por você no texto, eu comeria o despacho escandalizando ou não o "outro", já que se trataria de preservar a vida, esta, um bem maior do que quaisquer melindres de terceiros. Afinal, Jesus não curou no sábado? E eu tomo vinho. Não para escandalizar outrem, mas porque aprecio sem culpa.

    Grande abraço.

    Ricardo.

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  6. Roberto,

    esse assunto é realmente amplo, e sempre nos remeterá ao "choque" entre liberdade cristã e restrição - choque esse causado por gente legalista, na maioria dos casos. Mas assim como você, eu também prefiro ser íntegro e honesto quanto às minhas convicções. Por exemplo, se um irmão chega em minha casa jamais esconderei meus cd's e dvs's de música "secular" somente porque ele vai se escandalizar. Inclusive, se se tratar de um convite partido de mim, eu até mesmo posso colocar um B. B. King pra rolar enquanto degustamos a janta, acompanhada ou não de um bom vinho. Se ele achar legal, ótimo. Se não, paciência. Se não achar legal e ainda destilar críticas a mim, a falta de amor é realmente dele, por não tolerar este "fraco" aqui. A menos que ele se arrependa, jamais o convidarei novamente, simples assim.

    Abraços!

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  7. Ricardo,

    essa questão de preservar a vida eu deixei implícita na nota de rodapé do post. =)

    Abraços!

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  8. Leonardo,

    Se eu bem entendi a sua resposta ao meu comentário, penso que a sua nota de rodapé de maneira alguma se aplica ao meu comentário ou à minha pessoa, uma vez que eu, ao contrário do "irmão", entendo muito bem a liberdade cristã e não me considero ignorante - pelo menos no que se refere à questão tratada em seu texto.

    Portanto, meu caro, penso que você não deve mesmo ter entendido o que escrevi, ou então eu não me fiz entender, embora parecendo ter sido bem claro.

    Abraços.

    Ricardo.

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  9. Ricardo,

    palma, palma, não priemos cânico, meu rapaz! O que eu disse foi que minha nota de rodapé se aplica àquilo que você disse quanto à questão da preservação da vida, com o que estou de pleno acordo. Eu sei que você entende muito bem a liberdade cristã, meu caro. Você parece que só não entende meus comments. hehe! Espero que o imbróglio tenha sido desfeito.

    Abraços!

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  10. Hehehe. Tudo certo e nos seus devidos lugares, após a complementação. Resta saber se eu não entendo os seus coments, ou se você não se fez entender, tendo em vista o comentário do rodapé.

    Abraços. Com palma e sem qualquer cânico (rsrsrs)

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  11. Ricardo,

    acho que você é que não entendeu meu comentário. Mas não fique triste, pois "isso acontece nas melhores famílias". hehe!

    Abraços!

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  12. Simples, vamos ver o q Jesus diria:

    "O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem."

    [Mateus 15:11]

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