25 de novembro de 2009

Bíblia e Predestinação [2] - O Objetivo da História e da Criação

No post anterior desta série, usamos os atributos de Deus como ponto de partida para o estudo da base bíblica da predestinação. Vimos que Deus é Todo-Poderoso, que Ele governa ativamente a criação e que o centro da Bíblia e da História é a glória d'Ele, e não a felicidade do homem.

Mas, se o objetivo supremo de Deus não é promover a felicidade ou realizar os desejos humanos, uma pergunta precisa ser respondida. Por que Deus criou o mundo? Quais os objetivos de Deus na História?

O objetivo supremo: a glória d'Ele
Sei que esse ponto já foi tratado anteriormente. Mas, exatamente por se tratar do tema central da Bíblia, ele precisa ser repetido várias e várias vezes.

Deus não criou o universo e o ser humano por precisar de nosso amor, afeto ou de alguma coisa para sobreviver. Isso é dito claramente no Salmo 50:
Se eu tivesse fome, não to diria, pois o mundo é meu e quanto nele se contém. Acaso, como eu carne de touros? Ou bebo sangue de cabritos? (Salmo 50:12-13)
Portanto, Deus sobrevive muito bem sem a criação. Contudo, a criação foi feita porque ela maximiza a glória de Deus. O simples fato da existência do Universo já aumenta a glória divina:
Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. (Salmo 19:1)
Fazendo uma analogia, uma mulher bonita é bela por si só. Mas, se ela usa um enfeite no cabelo ou faz uma maquiagem, essa beleza é realçada. Deus é glorioso por Si só. Mas a criação é como um adorno que aumenta ainda mais essa glória.

Cristo: o ápice da glória de Deus
Mas o auge da glória divina não é a criação do mundo, e sim a morte e ressurreição de Jesus Cristo, o verdadeiro ponto máximo da História e da glória divinas. Isso pode ser indicado, por exemplo, na resposta à seguinte pergunta: qual o momento mais importante do tempo?

A tendência popular é considerar a segunda vinda de Jesus. Se pudéssemos representar graficamente, a maioria de nós pensa que o melhor dos tempos era o da criação, seguido por um período de baixa até a crucificação e ressurreição de Cristo, entrando aí em uma curva ascendente até o Apocalipse, quando então voltamos ao melhor dos tempos.

Mas, segundo a Bíblia, o ponto focal do tempo é, exatamente, a primeira vinda de Jesus:
vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos. (Gálatas 4:4-5)
Não é na criação, mas sim na morte e na ressurreição, no fato de Cristo salvar o mundo e se tornar o cabeça da Igreja que Jesus atinge toda a plenitude:
Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus. (Colossenses 1:15-20)
A plenitude não é completada apenas no fato de Cristo ser o Criador e Sustentador de todas as coisas. Ela só é atingida quando todas as coisas são reconciliadas em Cristo, e isso acontece quando a paz é feita na cruz. Esse é o grande mistério da vontade de Deus e o objetivo último da predestinação:
desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra; nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade, a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo... (Efésios 1:9-12)
Ao contrário do que imaginamos, o mistério da vontade de Deus foi desvendado. Segundo a Bíblia:

- A vontade de Deus é de acordo com o beneplácito (consentimento, aprovação) proposto em Cristo;
- Esse beneplácito (logo, essa vontade) é o de que, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas convirjam para Cristo. Essa dispensação começou na primeira vinda de Cristo e terminará na segunda;
- A predestinação é segundo o propósito de Deus, que faz tudo segundo o conselho de Sua vontade;
- O objetivo da predestinação é o de que sejamos para louvor da glória de Deus.

A conclusão lógica da análise é a seguinte: o mistério da vontade de Deus é o de que Ele quer que tudo convirja para Cristo. Esse é o centro da vontade de Deus, a razão pela qual tudo foi criado, o objetivo máximo da História, o alvo final dos decretos divinos.

Tudo o que existe e foi decretado, incluindo-se aí até mesmo o mal e os pecados, existe para maximizar a glória divina. E essa glória só é maximizada com a morte, ressurreição e glorificação de Cristo.

Por esta razão, a queda do homem e dos demônios, a entrada do pecado no mundo, tudo foi decretado por Deus para que esse objetivo fosse atingido. É por essa ótica que toda a História deve ser entendida.

A necessidade dos dois vasos
E agora é preciso recuperar duas idéias que já apresentei aqui. A mais recente é a de que a predestinação faz parte do projeto de Deus para atingir o objetivo máximo de fazer com que tudo convirja para Cristo. Isso pode ser visto na releitura de Efésios 1:3-14, com ênfase nos versículos 9 a 12. A outra, apresentada no primeiro post, é a de que Deus não restringe o uso de Seus atributos, mas que Ele os expressa a todos.

Há, portanto, duas necessidades lógicas aqui:

- A predestinação é necessária para a glorificação máxima de Deus;
- A exibição de todos os atributos é necessária para a glorificação máxima de Deus.

E Deus é amor, mas também é justiça. Nas palavras de Paulo, bondade e severidade:
Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a bondade de Deus, se nela permaneceres; doutra sorte, também tu serás cortado. (Romanos 11:21)
Alguns passos que precisamos dar:

1) Deus considerou que reconciliar todas as coisas traria mais glória a Ele do que criar algo que nunca precisasse de reconciliação;
2) Por isso, determinou que o alvo máximo da História, o mistério da vontade de Deus era o de que tudo convergiria para Cristo e que em Cristo todas as coisas seriam reconciliadas;
3) Todos os atributos de Deus devem ser exibidos, e Deus é bom e justo;
4) Se todos forem salvos, a bondade e o amor de Deus são mostrados, mas não a Sua justiça e ira;
5) Se todos forem condenados, a ira e justiça divinas são mostradas, mas não o Seu amor e bondade.

A solução: Cristo não poderia salvar a todos. Alguns homens seriam salvos e outros, condenados. Deus precisava criar dois tipos de homens: os eleitos para a salvação e os eleitos para a perdição. Os vasos de ira e os de misericórdia:
Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição, a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios? (Romanos 9:22-24)
Repare que aqui Paulo dá as razões pelas quais uns são "vasos de misericórdia" e outros "vasos de ira":

1) Deus queria mostrar a Sua ira;
2) Deus queria mostrar o Seu poder;
3) Deus queria mostrar as riquezas de Sua glória em vasos de misericórdia.

Para atingir esses objetivos, é preciso que haja tanto salvos como condenados. Logo, não é possível afirmar que a predestinação é somente dos salvos, e que os eleitos são simplesmente preteridos ou deixados de lado.Veja também que cada vaso é preparado por Deus. Mais do que isso, esse preparo tem finalidades específicas: os de misericórdia são preparados de antemão para a glória e os de ira são preparados especialmente para a perdição. Em relação a este ultimo ponto, diz Salomão:
O SENHOR fez todas as coisas para determinados fins e até o perverso para o dia da calamidade. (Provérbios 16:4)
E Pedro concorda:
Para vós outros, portanto, os que credes, é a preciosidade; mas, para os descrentes,
A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular
e:
Pedra de tropeço e rocha de ofensa.
São estes os que tropeçam na palavra, sendo desobedientes, para o que também foram postos. (1 Pedro 2:7-8)
Desta maneira, o ensino bíblico claro é o de que há predestinação, tanto para a salvação como para a condenação.

Quando foi feita a predestinação?
Todos os passos dados neste post: a decisão de atingir a glória máxima, de que isso aconteceria com a glorificação de Cristo, a necessidade de fazer dois tipos de pessoa e de predestinar, todas essas decisões foram tomadas por Deus antes do início do tempo. De fato, Cristo foi morto antes da fundação do mundo:
mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós... (1 Pedro 1:19-20)

e adorá-lo-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. (Apocalipse 13:8)
Da mesma forma, a predestinação também foi feita antes da criação:
assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado... (Efésios 1:4-6)
Assim, antes da fundação do mundo, os salvos já foram escolhidos e predestinados para serem adotados como filhos de Deus por meio de Jesus Cristo.

E a conseqüência é óbvia. Toda a História da Salvação, desde a queda de Adão até o meio pelo qual os homens seriam salvos, incluindo-se aí a condenação e a vida eternas e as pessoas que seriam salvas ou não, tudo já estava definido antes do mundo começar. O tempo apenas concretiza o que já foi planejado e predeterminado por Deus nos mínimos detalhes, para que Ele possa atingir os Seus objetivos e propósitos.

Essa determinação não é cronológica, é lógica. Cristo não morre por causa da Queda, a predestinação não é decretada por causa da Queda, como normalmente pensamos. Ao contrário, a Queda acontece porque a predestinação é necessária, e a predestinação acontece para que Cristo seja glorificado.

Essa posição é conhecida como supralapsarianismo. Por ela, a ordem lógica dos decretos de Deus é a seguinte:

1) Glorificar a Deus por meio da exaltação de Cristo (objetivo supremo);
2) Eleger alguns para receberem a graça e outros para serem reprovados (eleição);
3) Criar o mundo e os seres humanos;
4) O homem cairia e pecaria;
5) Cristo viria para sofrer no lugar de Seus eleitos;
6) Os salvos seriam chamados à salvação.

Na posição conhecida como infralapsarianismo, a ordem seria cronológica:

1) Glorificar a Deus por meio da exaltação de Cristo (objetivo supremo);
2) Criar o mundo e os seres humanos;
3) O homem cairia e pecaria;
4) Eleger alguns para receberem a graça e outros para serem reprovados (eleição);
5) Cristo viria para sofrer no lugar de Seus eleitos;
6) Os salvos seriam chamados à salvação.

Já dei acima toda a minha fundamentação bíblica para defender o supralapsarianismo. Gostaria de encerrar o post fazendo uma citação de um ótimo artigo sobre o assunto escrito por Rafael Gabas, a quem muito agradeço e a quem devo muito de minha argumentação:
Essa ordem, à primeira vista, pode parecer ilógica, pois coloca o decreto da queda vindo antes do decreto da criação. Contudo, partindo do primeiro ponto, fica fácil enxergar que os outros são conseqüências do propósito original de Deus, para exibir Seu amor libertador e Sua ira vindicativa em (e através de) Cristo, como o Salvador ressuscitado. Porém, não havia mundo para Ele se encarnar, e nenhum indivíduo que pudesse ser amado ou odiado, razão pela qual Deus imaginou a humanidade que formaria e selecionou alguns de seus membros para serem atingidos pela obra de Cristo, destinando o restante à destruição; isso deixa claro que a eleição e a reprovação foram incondicionais, sem observar nenhuma condição preenchida pelos homens, pois nenhuma pessoa possuía qualquer característica, boa ou má, nem Adão havia quebrado a aliança, nem o Universo havia sido criado; ao contrário: tudo isso foi projetado para cumprir a eleição e a reprovação. A Bíblia ensina que a criação e a queda foram decretadas para que Deus enviasse Seu Filho como Salvador do mundo, demonstrando Seu amor eterno (que não começou com a queda) sobre os eleitos, e demonstrar o poder de Sua ira sobre os reprovados. Após eleger Seus filhos e odiar os outros, Deus deveria torná-los, todos, em seres culpáveis, dignos da condenação eterna, a fim de que houvesse um estado de miséria do qual os eleitos fossem removidos, e os reprovados fossem castigados. (Rafael Gabas, em "A Ordem dos Decretos Divinos")
A História está dentro do controle divino e segue um padrão preestabelecido para satisfazer, da melhor maneira possível, a glória de Deus. E a predestinação faz parte deste plano.

A série continua, o próximo post está aqui. Mas, por enquanto encerro louvando ao Deus Supremo, Senhor da História, que tem todo o poder para cumprir Seus propósitos na terra! A Ele, pois, toda a glória, e honra, e louvor! Amém!

Helder Nozima é pastor presbiteriano, blogueiro do Reforma e Carisma e escreve às quartas-feiras no  5 Calvinistas.

8 comentários:

  1. Helder, meu caro,

    Um artigo muito difícil de escrever, suponho. Mas o resultado ficou muito bom.

    Suponho também, como você me sugeriu, que venham a nos confundir com hipercalvinistas. Supras normalmente são. Não me importaria com isso!
    E, embora concordo com tudo no geral, tenho duas "críticas"...

    A primeira é quanto ao "aumento de glória". Falar assim do Deus Imutável é bastante impróprio. Porém, como você verá na minha próxima postagem aqui, às vezes isso é mesmo inevitável.

    A segunda é quanto à ordem lógica dos eventos. Embora eu assuma um supralapsarianismo e veja que todos os eventos são necessários, ainda vejo que a ordem lógica seria um pouco diferente. A ordem que eu proporia seria:
    1) Qual o plano? Glorificar a Deus por meio da exaltação de Cristo.
    2) Como? Pela salvação dos homens pelo Cristo encarnado, morto e ressuscitado.
    3) Salvá-lo por que? Por sua desobediência na queda.
    4) Salvá-los todos? Não, é necessário revelar Sua bondade aos eleitos e Sua ira aos réprobos.
    5) Como salvar os eleitos? Chamando-os.
    6) Plano feito, que fazer? Criar.
    Confesso que de 2 a 5, tudo pode ser pensado logicamente de outra forma. Mas se penso num "plano de glória" o planejamento deve iniciar com seu objetivo (1) e terminar com sua execução (6).
    Também imagino que devo estar propor algo muito heterodoxo. Mas Como você já deve saber, não me importo tanto com isso! rsrsrs

    No amor do Senhor,
    Roberto

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  2. Roberto,

    Não acho que o termo "aumento de glória" seja inadequado para referir-se ao Deus Imutável. Porque, embora seja fato que Deus, por si só, seja glorioso ao máximo, as obras do próprio Deus, de alguma forma, aumentam essa glória. Sem as obras, Deus poderia ser glorificado por algumas potencialidades. Quando Ele torna essas potencialidades algo real, então cumpre-se um Salmo 19 e a criação anuncia a glória de Deus. Algo que era apenas potencial torna-se real e, portanto, superior, por ser a realização plena de uma possibilidade.

    O termo pode não ser preciso (com o que concordo), mas reflete, de alguma forma, o que quis dizer.

    Sobre a ordem, acho que é uma mistura de posições, rs. Mas o mais importante não é exatamente o debate supra vs. infra. O meu objetivo aqui era mostrar que a predestinação era uma NECESSIDADE, e não uma arbitrariedade divina. Deus só poderia seguir o caminho que lhe trouxesse maior glória, e aí a predestinação é um passo necessário na História. Algo que acho, é mais claro e evidente no supralapsarianismo.

    Obrigado pelo comentário, sua opinião é muito importante para mim.

    Graça e paz do Senhor,

    Helder Nozima
    Barro nas mãos do Oleiro

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  3. Helder,
    Fico verdadeiramente lisonjeado em ser assim considerado. Isso também me lembra de nunca ser leviano em meus comentários!
    De fato, ser um termo "impróprio" não significa "errado". Digamos que é uma inadequação necessária, uma aproximação inevitável, já que nossas categorias são todas de tempo. Como falar do Eterno? O próprio Deus fala a nós de Si mesmo em categorias de tempo. É como podemos entender!
    Sim, entendo que o ponto é a necessidade e nisso concordamos plenamente!
    Não é bem uma mistura de posições. É que a análise lógica deve ter algo por referência. A posição infra é clara em analisar (logicamente) os eventos em termos de tempo. Ainda não consegui o porque da ordem lógica supra. Porém, eu mesmo vejo a coisa como um planejamento para que Deus revele Sua glória. Por isso a proposta. Mas, sinceramente, a mim importa ter em mente que os eventos são todos necessários por serem parte dos desígnios divinos. A ordem que os eventos possam ter no planejamento da mente de Deus é algo que não sonho realmente entender! Ainda mais por ser tudo um ato único de Deus desde a eternidade!
    No amor do Eterno,
    Roberto

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  4. Helder,

    Apesar de o teu texto por si só dispensar comentário(s), vou fazê-lo(s) mesmo assim. Mas não do texto todo em si, e sim apenas do ponto que julguei mais interessante e nevrálgico: o supralapsarianismo.

    É interessante o fato de que essa é uma questão que divide até mesmo os reformados. Não sei por quais motivos exatamente alguns defendem a visão infralapsariana. Mas posso dizer por mim mesmo, que já a defendi um dia. Eu não a defendia exatamente por considerá-la mais bíblica, digamos, e sim, por considerá-la menos tirana; por fazer Deus mais bondoso e menos cruel. Eu dizia para mim mesmo que a visão supralapsariana isentava o ímpio de sua culpa, já que ele havia sido reprovado por Deus antes mesmo de ter cometido pecado.

    Até que fui convencido pela verdade indubitável de Rm 9.11 e 12, que diz que “e ainda não eram os gêmeos [Esaú e Jacó, no caso] nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus quanto à eleição prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama)”, já fora dito a ela: o mais velho será servo do mais moço”. O texto não poderia ser mais claro: antes mesmo de Esaú ou Jacó terem feito qualquer coisa, Deus já havia decretado o destino de cada um deles. Se Esaú fosse reprovado porque havia pecado, o propósito de Deus quanto à eleição prevaleceria por obras. O mesmo se aplica a Jacó, se ele houvesse sido eleito por ter praticado o bem.

    Aqui, cabe dizer uma coisa: a História (o que inclui a criação, a queda, etc.) foi toda planejada na Meta-História (que é simplesmente aquilo lá que a Bíblia denomina de “antes da fundação do mundo”). Sendo assim, o homem não é condenado porque falhou na História, e sim porque já havia sido reprovado “antes da fundação do mundo”. É somente dessa forma que podemos explicar o porquê de Apocalipse 13.8, que diz que o Cordeiro “foi morto desde a fundação do mundo”; é somente dessa forma que Efésios 1.4 faz sentido: “assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele”. São verdades como essas que me fazem ser supralapsariano. E isso não é hipercalvinismo, de maneira nenhuma! Isso é a forma mais consistente de calvinismo.

    Parabéns pelo artigo!

    Leonardo.

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  5. Caro Helder,

    Embora não sendo um 'expert', também concordo com o Leonardo: a posição supralapsariana casa melhor com o texto de Romanos 9:11-12.

    Veja bem, mesmo não considerando que a posição infralapsariana seja "meio arminiana", ela pode, de forma mediata, remeter a uma diminuição da soberania do Criador. A ordem dos decretos (infralapsarianismo) pode dar a impressão - repito - de que Deus tenha "dado uma olhada" na sua criação antes de promulgá-los. Um certo dia eu até comentei isso com o Roberto, mas não consegui me fazer entender. No entanto, concordo que, de qualquer forma, Deus, ao promulgar os decretos, não se esvaziou dos Seus atributos, tendo absoluta condição de "enxergar previamente a criação", porém, não necessitando disso.

    Sinceramente, vou dizer uma coisa a vocês: para mim a ordem dos decretos não tem qualquer importância, a não ser, claro, para suscitar a discussão. Importa, em última análise, que Deus tenha "assegurada" plena soberania - e Ele tem, independentemente da nossa vontade e prescindindo do nosso "entendimento".

    Em Cristo.

    Ricardo

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  6. Olá, Ricardo.
    Realmente você se fez mais claro agora que daquela vez que conversamos.
    De todo modo, eu concordo em termos gerais que "a ordem dos decretos não tem qualquer importância". Aliás, como pode ficar claro pelo que expus acima, eu concordo mais com o que há "por trás" da noção supra do que com a posição em si.
    Grande abraço, irmão!
    NEle,
    Roberto

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  7. Irmãos, muito bom o texto. Já faz alguns meses que estou entendendo a doutrina Calvinista que antes para mim era anti-bíblica. Vejo que a bíblia nos mostra que tudo é para a glória de Deus. Estou entendendo aos poucos, já comprei alguns livros indicados pelo site monergismo e realmente o livre-arbítrio é inexistente nas Escrituras. Desde já, agradeço aos irmãos os diversos conteúdos do site que tanto nos esclarecem os diversos versículos que outrora eram pouco analisados ou “pulados” de uma forma geral. Agora, irmãos, obviamente ainda tenho algumas duvidas. Como Deus pode imputar a responsabilidade ao não cristão sendo que Ele o criou desta forma? Um abraço,

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  8. Eric,

    Aqui mesmo o Roberto Vargas escreveu sobre isso. O link segue abaixo:

    http://5calvinistas.blogspot.com/2009/11/responsabilidade.html

    Graça e paz do Senhor,

    Helder Nozima
    Barro nas mãos do Oleiro

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