4 de janeiro de 2010

A expiação universal torna Deus injusto

"Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira." Rm 5:6-9

O título não é apelativo, pois creio firmemente que ele expressa uma verdade demonstrável, como se verá a seguir. Para isso precisamos definir os termos utilizados no título. Como este artigo é mais uma resposta à série de três artigos do pastor Ciro Sanches Zibordi, das Assembléias de Deus,  peço vênia para recorrer preferencialmente a autores assembleianos e a obras publicadas pela CPAD.

Compreendendo o termo expiação

Claudionor de Andrade define expiação como sendo o cancelamento pleno do pecado com base na justiça de Cristo" (Dicionário Teológico). Outro autor respeitado no meio assembleiano e admirado por mim diz que  "expiar o pecado é ocultar o pecado da vista de Deus de modo que o pecador perca seu poder de provocar a ira divina" (Myer Pearman, Conhecendo as Doutrinas da Bíblia). A outrora principal Bíblia da editora  (hoje desbancada pela Bíblia de Estudo Dake) ensina que “a palavra ‘expiação’ (hb. kippurim, derivado de kaphar, que significa ‘cobrir’) comunica a idéia de cobrir o pecado mediante um ‘resgate’, de modo que haja uma reparação ou restituição adequada pelo delito cometido (Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD).

Os subsídios das Lições Bíblicas também trazem importante contribuição para compreensão do termo. Nos subsídios da Lição 4 do quarto trimestre de 2008, lemos que "pela morte de Cristo, a culpa é cancelada, ou expiada. Na redenção, há sempre a idéia de libertação pelo pagamento de um preço; na expiação tem-se o resgate com o cancelamento do pecado, e da pena dele decorrente". Sobre a diferença do conceito de expiação no antigo e no novo pacto, os mesmos subsídios dizem que "a expiação, no Antigo Testamento, não tinha o alcance da expiação no Novo Testamento. No primeiro, vê-se o pecado sendo “coberto”. No segundo, vê-se o pecado sendo “tirado”. Essa é uma diferença teológica e bíblica fundamental" e acrescenta que "no Antigo Pacto, o sangue cobria o pecado (cf. Sl 51.9; Is 38.17; Mq 7.19), em o Novo Testamento, através de Cristo, o pecado é quitado". Nos subsídios de outra lição é destacada a expiação substutiva, nos seguintes termos: "o que a pouco foi dito é o que se chama de doutrina da expiação substitutiva (...)  Nosso pecado foi transferido para Ele; sua vida, ou justiça, nos é dada (cf. Rm 8.3; 2 Co 5.21; Gl 3.13). Este entendimento da morte de Cristo vigorava nos dias da igreja primitiva" (Lição 4, primeiro trimestre 2006).

Fica claro pelas citações acima, e outras tantas que poderiam ser apresentadas, que pela expiação a culpa pelo pecado de alguém foi transferida para a pessoa de Jesus, que ao morrer na cruz sofreu o castigo devido, satisfazendo a justiça de Deus e livrando esse alguém da culpa e da pena pelo pecado.

O que significa universal

Tendo definido o significado e a implicação da expiação, vejamos o que seja universal. Aqui não precismos nos estender, pois o Glossário da Lição 4, do primeiro trimestre de 2006 diz que significa, simplesmente, "comum a todos os homens, ou que é aplicável a todos". De fato, a mesma lição diz que "Cristo foi morto como o substituto por todos os homens e mulheres". Nada mais precisa ser dito aqui.

E o que vem a ser justiça e injustiça

Finalmente, precisamos nos voltar agora para o termo justiça, antes de amarrar tudo numa conclusão. Na falta de referências assembleianas para o termo, cito Norman Geisler, que tem duas obras publicadas pela CPAD e diz que "a justiça significa dar aos outros o que lhes pertence" (Norman Geisler, Ética Cristã). Expandindo um pouco sua definição, diria que justiça é dar a cada um o que lhe é de direito e não exigir de alguém o que não é devido por ele. Trazendo para o direito penal, é injustiça punir aquele que não tem dívidas para com a Lei.

Uma forma de injustiça que quero destacar aqui é o chamado bis in idem, que consiste em aplicar duas punições pelo mesmo crime. Ilustrando, há um filme que mostra bem isso, chamado Risco Duplo. Nele, um homem simula ter sido assassinado por sua esposa, que cumpre pena pelo crime. Saindo da prisão,  ela descobre que o marido está vivo e resolve se vingar. É orientada que caso  venha a matá-lo, mesmo diante de testemunhas, não iria presa nem seria julgada, pois não poderia, à luz do direito, ser condenada duas vezes pelo mesmo crime.

Juntando tudo

Feito todos esses esclarecimentos, vamos entender porque a expiação universal torna Deus injusto. Vimos que o conceito de expiação penal e substutiva significa que Jesus pagou completamente a culpa pelo  pecado daqueles por quem morreu. Nas Palavras de Mathew Henry, publicado pela CPAD, "Ele pagou nossa dívida pelo mérito de sua morte. Sim, mais que isso, Ele tem ressuscitado. Esta é a prova convincente de que a justiça divina foi satisfeita" (Comentário Bíblico Mathew Henry). Ou nas de outro teólogo assembleiano, "pelo seu sangue, nossa expiação foi feita. A justiça divina não foi adiada, mas cumprida integralmente" (Elienai Cabral, Comentário de Efésios).

Ora, se Jesus morreu penal e substutivamente por todos os homens sem exceção, então os pecado de todos os homens e mulheres sem exceção foram expiados (pagos, cancelados) e a justiça de Deus satisfeita. Jesus pagou na cruz o preço requerido por Deus por todos os pecados de todos os homens. No entanto, cremos que existe um inferno e que muitas pessoas vão para lá. Ora, se Jesus já pagou a dívida deles e Deus cobra o que eles não mais devem, torna-se injusto, por incorrer em bis in idem, punir duas vezes o mesmo delito, cobrar duas vezes a mesma dívida.

A única maneira de defender a expiação universal sem implicar que Deus é injusto  ao condenar aquele por quem Cristo morreu é negar a expiação penal e substitutiva. Pois expiação vicária universal e justiça retributiva aos perdidos são coisas auto-excludentes. Melhor e mais bíblico é crer que Jesus morreu especificamente pelos eleitos.

Soli Deo Gloria

Clóvis Gonçalves é blogueiro do Cinco Solas e escreve no 5 Calvinistas às segundas-feiras.

2 comentários:

  1. Graça e paz Clóvis.
    Excelente texto mostrando de forma clara que a salvação que Cristo trouxe é para os seus eleitos e eles serão alcançados onde estiverem.
    Que Deus lhe abençoe com mais textos assim.
    Fique na Paz!
    Pr. Silas

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  2. Belo texto, Clóvis.

    Meus parabéns.

    Filipe Luiz C. Machado - 2timoteo316.blogspot.com

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