24 de novembro de 2010

Mas eu não sabia que era pecado!

Lutar contra o pecado é realmente algo muito difícil. E o problema já começa na definição. Para muitas pessoas, se a gente não mata, não rouba e não bebe, não pecamos. Outros vão além e identificam o pecado com uma transgressão dos Dez Mandamentos. O que, aliás, já é algo desanimador. Quem pode dizer que nunca mentiu ou tomou em vão o nome de Deus?

O problema é que pecar não é só quebrar os Dez Mandamentos. Na verdade, se quebrarmos a lei, ou seja, qualquer regra estipulada por Deus, pecamos:
Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei. (1 João 3:4)
Considerando que a maioria das pessoas sequer decorou os Dez Mandamentos, é muito grande a possibilidade de que todos nós, talvez, cometamos um pecado e sequer tenhamos consciência disso. Afinal, quem pode dizer, com toda a segurança do mundo, que decorou toda a Bíblia e sabe sempre, em todas as circunstâncias, o que fazer? Creio que ninguém pode fazer essa afirmação. O que nos deixa com um problema: o que fazer quando pecamos por ignorância?

A ignorância não anula o pecado
E aqui é uma boa hora para nos recordarmos de um princípio do Direito. Imagine que você ande por uma rodovia a 80 km/h, sem saber que o limite era de 60 km/h e aí um guarda de trânsito o pare. Não vai adiantar nada dizer ao agente que você desconhecia a regulamentação. O desconhecimento das leis humanas não nos livra de cumpri-las.
Art. 3º Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece. (Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro)

A ignorância ou má interpretação da lei não justifica a falta do seu cumprimento nem isenta as pessoas das sanções nelas estabelecidas. (Art.6º do Código Civil Português)
Se é assim com as leis humanas, a lei divina não deve ter um rigor menor. E, de fato, a Bíblia coloca com todas as letras que a ignorância não serve de desculpa para não cumprirmos as leis de Deus. As Escrituras reconhecem que há pecados por ignorância e o Antigo Testamento estipulava quais os sacrifícios que deveriam ser feitos nesses casos:
Se qualquer pessoa do povo da terra pecar por ignorância, por fazer alguma das coisas que o SENHOR ordenou se não fizessem, e se tornar culpada; ou se o pecado em que ela caiu lhe for notificado, trará por sua oferta uma cabra sem defeito, pelo pecado que cometeu. (Levítico 4:27-28)

Se alguma pessoa pecar por ignorância, apresentará uma cabra de um ano como oferta pelo pecado. O sacerdote fará expiação pela pessoa que errou, quando pecar por ignorância perante o SENHOR, fazendo expiação por ela, e lhe será perdoado. (Números 15:27-28)
Pode ser também que o pecado tenha acontecido não por ignorância, mas que o pecador a tenha cometido distraídamente, uma falta que lhe era oculta. Mesmo assim, quando o pecado oculto era notificado, o pecador tinha que acertar contas com Deus.
Quando alguém pecar nisto: tendo ouvido a voz da imprecação, sendo testemunha de um fato, por ter visto ou sabido e, contudo, não o revelar, levará a sua iniqüidade; ou quando alguém tocar em alguma coisa imunda, seja corpo morto de besta-fera imunda, seja corpo morto de animal imundo, seja corpo morto de réptil imundo, ainda que lhe fosse oculto, e tornar-se imundo, então, será culpado; ou quando tocar a imundícia de um homem, seja qual for a imundícia com que se faça imundo, e lhe for oculto, e o souber depois, será culpado; ou quando alguém jurar temerariamente com seus lábios fazer mal ou fazer bem, seja o que for que o homem pronuncie temerariamente com juramento, e lhe for oculto, e o souber depois, culpado será numa destas coisas. Será, pois, que, sendo culpado numa destas coisas, confessará aquilo em que pecou. (Levítico 5:1-5)
Logo, não importa se o pecado foi cometido por ignorância ou sem que nós soubéssemos. Aos olhos de Deus, todas as faltas, mesmo essas, são válidas e devem ser acertadas com Ele.

Cristo: a solução de todos os pecados
Hoje esse acerto não é feito mais por meio do sacrifício de animais. Esses sacrifícios eram apenas uma sombra do verdadeiro sacrifício que remove pecados, que foi aquele oferecido por Jesus Cristo na cruz:
Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção. Portanto, se o sangue de bodes e de touros e a cinza de uma novilha, aspergidos sobre os contaminados, os santificam, quanto à purificação da carne, muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo! (Hebreus 9:11-14)
Vale lembrar que a redenção obtida por Cristo é eterna e que purifica não só a carne, mas também a consciência de todas as nossas obras mortas. O sacrifício de Jesus não apenas remove a culpa, também nos purifica do pecado em si, fazendo com que nós deixemos de andar "nas trevas", para andarmos "na luz". Quando isso acontece, a Palavra diz que somos purificados de todos os pecados, o que inclui os ocultos e os cometidos na ignorância.
Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. (1 João 1:7)
Confessando os pecados
Todavia, esta promessa não é para todos. Assim como em Levítico, só é perdoado quem se reconhece como pecador e tem fé de que o sacrifício pode, de fato, remover a culpa. Só é beneficiado pelo sacrifício de Cristo quem reconhece, diante de Deus, as suas faltas e crê que a morte e a ressurreição de Jesus são suficientes para se obter o perdão.

E a confissão de pecados é uma forma adequada, tanto para admitirmos os nossos erros como para manifestarmos a nossa fé em Cristo. Por isso a Bíblia ensina:
Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós. (1 João 1:8-10)
Essa confissão deve ser feita diretamente a Deus. Não é preciso que nenhum padre, pastor ou sacerdote faça essa intermediação. Também não é preciso pagar penitências, Cristo já sofreu todo o castigo em nosso lugar.

Mas, como confessar um pecado que nós não sabemos qual é, e nem mesmo se o cometemos? Será que não é um excesso de preciosismo pedir perdão por pecados cometidos por ignorância ou ocultos? Bom, não é o que diria Jó. Ele não sabia tudo da vida dos filhos, mas fazia sacrifícios a Deus porque talvez eles tivessem pecado:
Decorrido o turno de dias de seus banquetes, chamava Jó a seus filhos e os santificava; levantava-se de madrugada e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles, pois dizia: Talvez tenham pecado os meus filhos e blasfemado contra Deus em seu coração. Assim o fazia Jó continuamente. (Jó 1:5)
Além disso, o rei Davi também pediu que Deus o perdoasse de seus pecados ocultos:
Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas. (Salmo 19:12)
A ignorância nunca é boa
Esses textos nos mostram que a ignorância não nos traz nenhuma vantagem diante de Deus. O ditado popular de que "a ignorância é uma bênção", além de errôneo, também se revela maligno, porque leva muitos cristãos a acharem que é melhor não conhecer a Bíblia para serem menos culpados. Pior: há quem ache que se as pessoas não conhecerem o Evangelho e a sua real culpa diante de Deus, então Deus as salvará...porque elas não sabiam que pecavam!

Assim como todos nós devemos conhecer as leis do nosso país para sermos cidadãos honestos e respeitáveis, também temos o dever de conhecermos as ordens e exigências do Deus vivo e verdadeiro. Quanto mais conhecimento de Deus tivermos, menos erros cometeremos e mais próximos estaremos do Senhor. Já quem foge da Bíblia, continuará aumentando seus pecados.

Claro que, como disse antes, ninguém sabe tudo. Por isso, independente do nosso conhecimento bíblico, todos nós devemos nos juntar a Davi e reconhecermos os nossos limites. Que possamos pedir perdão a Deus não apenas pelos nossos pecados inconscientes, mas também por todos aqueles que cometemos na nossa ignorância ou que permanecem ocultos.

Graça e paz do Senhor,

Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro

3 comentários:

  1. Realmente, Helder, erra quem acha que quem não conhece a Palavra "não peca", afinal, "essa pessoa não sabe que está pecando, ela está fazendo isso inocentemente!"

    Mas a Palavra diz:
    "Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti." Salmos 119:11

    Um abraço, Deus abençoe.

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  2. Esse texto me faz pensar o quanto precisamos falar de Deus p quem não o conhece, uma vez que a ignorância não nos redime do pecado...
    Paz do Senhor!!!

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  3. Daniel Nunes Wolf daniel.wolf1991@hotmail.com11 de fevereiro de 2011 às 20:08

    A Bíblia fala para confessarmos nossas falhas uns aos outros. O Filho Pródigo, quando voltou para casa, disse "...Pai, pequei contra o céu e contra ti...", ou seja, a confissão foi feita para os ofendidos. Se um crente peca contra a igreja, deve confessar para o pastor da igreja. Por pecado contra a igreja podemos entender todos aqueles que envergonhariam ou escandalizariam os irmãos. Pecar contra um irmão, também exige uma confissão para esse irmão. Por exemplo, se eu falo mal do irmão A para o irmão B, devo pedir perdão a Deus, porque estou ferindo seu princípio da Santidade, devo pedir perdão ao irmão A, pois foi o ofendido, e devo pedir perdão também para o irmão B, uma vez que tentei o meu irmão, podendo levá-lo a murmurar contra o irmão A. E devemos também, quando somos os ofendidos, cumprir o que disse o apóstolo Paulo: "Antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo."

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