Ser pastor é conviver regularmente com dilemas que, na prática, não parecem tão fáceis de serem resolvidos, como pensam muitos membros. Vou dar um exemplo. Há certos pecados que precisam ser combatidos de púlpito, mas quando se prega a respeito, os "ofendidos" movem uma verdadeira campanha contra você, mesmo quando seu nome não é mencionado. Há os que ficam do seu lado e há os que consideram um absurdo que você tenha "mandado recado" do púlpito. O povo se divide, e você fica no meio. Isso já aconteceu comigo.
Confesso que essas brigas são um tanto desgastantes para o coitado que aponta o erro. Um desgaste que já estou meio cansado de ter no mundo real...e que gostaria de evitar na blogosfera, até porque tenho uma briga inacabada com outro blogueiro no Reforma e Carisma. Contudo, os argumentos de uma irmã me levam ao fogo de novo.
No último post que escrevi aqui, falei sobre blogueiros que "evangélicos, que se dizem reformados, atacando os militantes pró-PL 122 sem mostrarem qualquer preocupação evangelística neste ataque." De que tipo de blog estou falando?
Cito, por exemplo, o Internautas Cristãos. Já começa com o título "Sodomitas ofendem e ameaçam reitor de universidade cristã". Sim, porque o título não foi despropositado, já que o autor fala no final: "A verdadeira face violenta do movimento homossexual. Qualquer semelhança com os moradores de Sodoma não é mera coincidência." Fica destacado o versículo que diz que todos os homens de Sodoma cercaram a casa de Ló para estuprar os dois hóspedes que estavam hospedados com ele. O post é republicado pelo blog Reforma Monergista.
Gente, acaso podemos generalizar dizendo que todos os homossexuais são estupradores e violentos, como os homens de Sodoma? Todos os homossexuais da Antiguidade moravam em Sodoma? O homossexualismo era a única explicação para a violência dos sodomitas? Eu não concordo com esse tipo de associação.
Vou além: se a analogia do autor é apropriada, lembro de Abraão intercedendo a Deus pela salvação de Sodoma em Gênesis 18. Lembro que Abraão foi lutar para salvar os sodomitas em Gênesis 14. E nós? Se homossexuais estiverem sendo mortos, seja por qual motivo for, vamos nos calar, ou vamos agir? Vamos só condená-los ou vamos orar, pedindo a Deus pela salvação deles, como fez Abraão, prefigurando Cristo?
O nome do blog, aliás, é muito infeliz. Porque alguém que entra em um site de busca, querendo saber no que pensam os "internautas cristãos", pode se surpreender achando, por exemplo, que os cristãos são favoráveis a uma lei que proíba a conduta homossexual.
Há erros menores, como a caricaturização das posições. Eu não acho nada construtivo textos como o "desabafo de um pai presbiteriano" no Ministério Cristão Apologético, tentando sensibilizar os leitores dizendo coisas como:
Tenho um casal de filhos... (muitos sonham em ter um casal de filhos, mas daqui para frente, pra quê mesmo?)
pelo jeito não poderei mais destacar a diferença deles...
pelo jeito não posso mais falar para eles que um tipo de comportamento é coisa de meninA, ou de meninO...
não poderei mais orar pedindo ao Senhor um marido para minha filha, e uma esposa para meu filho... (capaz de ficarem ouvindo como aconteceu com Daniel)...
Olha, a coisa não está nesse nível! Se ficamos indignados quando caricaturizam as posições cristãs (católica e evangélica) sobre o homossexualismo, por que fazer o mesmo, por que devolver o tapa? Os cristãos não deveriam agir de modo diferente? Mas essa caricaturização não apenas é feita, como é reproduzida, por exemplo, no Blog dos Eleitos. Isso não é amar o inimigo.
Não defendo que fiquemos passivos diante da PL 122 ou mesmo de iniciativas tomadas por militantes homossexuais para que o brasileiro considere esse tipo de prática sexual algo normal. Há denúncias sérias nesse sentido a serem feitas ao cidadão comum. Mas não dá pra generalizar. Não dá pra blogar sobre isso sem estudar o assunto, sem amor pelos homossexuais, sem o desejo sincero de levá-los a Cristo, sem sequer orar por eles! É preciso mais inteligência e mais cristianismo nesse assunto.
Eu gostaria muito que todos os cristãos tivessem pelos homossexuais o mesmo respeito que têm pelos divorciados, pelos fornicadores, pelos adúlteros...todos pecados ligados à sexualidade. Gostaria de ver o mesmo respeito que é dado aos comunistas (sim, comunismo é pecado, meu amigo!), aos espíritas, aos ateus (que formam a cosmovisão que dá base a todo tipo de comportamento sexual pecaminoso) e aos idólatras de uma forma geral (o primeiro mandamento condena idolatria, não sexualidade).
Talvez eu seja mais sensível a questão porque conheço e convivo com homossexuais que respeito e há uma, em especial, por quem nutro um carinho muito grande e que espero não ter perdido o respeito ou a consideração por causa dessa polêmica da PL 122. Até porque não diminuiu em nada o meu desejo de ser amigo dela e o meu amor por ela. Não devo amá-la mais ou menos por causa da sexualidade dela. Assim como não devo amar menos qualquer outro pecador: Jesus me ordenou a amar os meus inimigos! E é isso que eu desejo que todos entendam.
Graça e paz do Senhor,
Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro
Caríssimo Helder!
ResponderExcluirGostei muito de sua ponderação nestes seus dois textos. Eles vem ao encontro do que eu também disse: "nossa fé determina que não devemos considerar estes como dos nossos, mas, por isso mesmo, devemos tratá-los com amor, de forma que o Amor seja reconhecido em nós e eles O queiram".
Só discordaria, talvez, quanto ao "desabafo de um pai". Por certo a coisa não está assim. Mas eu também temo que fique. Temo pelo que meus filhos terão que passar na escola. Temo pela cultura que os cercará. Não faria o desabafo como ele fez, mas entendo seu sentimento.
Quanto ao pesar que transparece no seu texto, não o sinta! Sei bem o que é não querer (ou não poder) enfrentar certas conversas, mas o assunto e suas colocações são necessários. Deus o abençoe por isto!
No Senhor,
Roberto
Helder,
ResponderExcluirTendo participado da "peleja" pelo seu texto (Amor a verdade e ódio aos inimigos?) no Buzz, com o qual concordei sem ressalva, mas entendendo e também concordando com a questão levantada pela amiga (acho que é dela que vc fala), mando meu apoio a esse texto tb.
“Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus.” (de alguém que ousou amar o pior tipo de gente, eu!)
Em Cristo
Esli Soares
Oi, Helder,
ResponderExcluirAlgumas posturas são complicadas mesmo. Acredito que isso acontece quando o cristão perde a perspectiva que manda "pregar a Palavra" e começa a participar da polarização da sociedade que tem caracterizado o politicamente correto - no caso, da oposição entre heterossexuais e homossexuais. Isso é muito perigoso, pois transforma objetos de evangelização em inimigos. Por isso, achei muito acertada a perspectiva do manifesto sobre o Mackenzie, Em defesa da liberdade de expressão religiosa, que foi publicado também no 5Calvinistas. Ali, o que norteia a denúncia do pecado da conduta homossexual não é o dedo apontado contra quem não se rende à santidade divina, mas sim o chamado ao arrependimento para que se rendam à santidade divina. Apontar sem oferecer saída é condenar, e isso não podemos fazer de jeito nenhum.
Por isso, apesar de concordar com vários aspectos do texto de Julio Severo sobre o assunto, por exemplo, não posso deixar de discordar do modo com que é abordado. (Não acho que o Julio odeie os homossexuais, apenas acredito que o amor de Deus deva estar à frente de nossa expressão cristã, em vez da indignação. Já conversamos sobre isso, mas ele pensa diferente em relação a esse tema específico.) O Julio faz um trabalho excelente de divulgação e conscientização, mas nisso não nos afinamos.
Por outro lado, concordo com o Roberto: também não devemos subestimar a sanha dos ativistas gays (eu sempre faço distinção entre gay e ativista gay), que de fato querem que os pais não eduquem os filhos para a diferença de gênero, e isso no mundo inteiro. Há toda uma pressão violenta nesse sentido, e não é de hoje. E quem está sendo levado a fazer essa vigilância? Ora, a escola. Eu já li no Escola sem Partido uma história absurda sobre um pai que questionou o conteúdo das aulas do filho e ouviu do professor a frase indignada: "Mas ele está sendo doutrinado em casa?" Não acho que seja algo tão absurdo assim o que foi postado pelo MCA. Tudo se encaminha para isso, sim: uma oposição cerrada à educação dos pais em casa, um "monitoramento" do filho via escola. E, quando a sociedade estiver pronta para encarar o homossexualismo como uma "opção" tão normal quanto a heterossexualidade, haverá uma nova frente de batalha: a pedofilia. Isso também não é de hoje (pesquise sobre a produção dos relatórios Kinsey), mas hoje é mais facilmente verificável, sobretudo quando líderes do ativismo gay falam abertamente sobre suas preferências por "meninos" e ninguém acha tão estranho assim. Nos EUA, já tem gente discutindo em fóruns abertos e indagando-se por que a pedofilia seria tão ruim assim, caso haja "consentimento mútuo". A coisa está feia demais, e sempre está mais feia do que pensamos!
Agora, quanto a defender que o homossexualismo seja proibido por lei, discordo totalmente. Sei que essa posição é defendida por uma minoria, mas não a vejo com bons olhos. Para mim, isso é secularismo: o cara não peca porque foi regenerado pelo Espírito, mas deixa de pecar para não ser preso. Que valor tem isso para Deus? Porém, não rejeitarei ouvir bons argumentos sobre isso.
Enfim, são muitas questões que seu post levantou. Que sejam para mais diálogo e mais crescimento!
Abraços!
Tiago,
ResponderExcluirColocar um texto defendendo claramente a criminalização do homossexualismo não é o que eu diria de um Abraão intercedendo. Aliás, se você quer criminalizar, nem devia ter colocado o manifesto de vários blogueiros no seu blog...afinal, vc discorda de um princípio central daquele texto.
Interessante que o segundo texto só veio depois da reprimenda. O que não muda em nada o tom lamentável do seu texto criticado neste post.
Graça e paz do Senhor,
Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro
Oi, Tiago,
ResponderExcluirGostei desse segundo post. Eu ainda faria diferente (colocando-me mais no lugar de quem não é cristão), mas está claro, respeitoso e bíblico.
Minha única ressalva é a mesma do Helder: como você pode dizer com tanta certeza que a Bíblia recomenda tornar ilegais os pecados sexuais assim como o pecado do assassinato? Se puder responder aqui, eu agradeceria!
Abraços!
Roberto,
ResponderExcluirObrigado pelas palavras de ânimo e encorajamento. Sobre o desabafo do pai, talvez exista um exemplo melhor de caricaturização (muitas vezes grosseira) das propostas da militância gay. A minha grande preocupação, na verdade, é evitar que os cristãos caiam no erro de combater um estereótipo, e não o inimigo real. Sem falar na possibilidade dessas caricaturas serem jogadas contra nós em debates.
Obrigado!
Graça e paz do Senhor,
Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro
Esli,
ResponderExcluirGrato pela defesa, rs. Quando estiver em Brasília, preciso marcar de me encontrar com você e com os outros reformados daí.
Mas vem mais um post sobre o assunto, talvez amanhã ou na quarta. Ainda estou articulando com os outros quatro.
Graça e paz do Senhor,
Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro
Oi, Norma,
ResponderExcluirEu diria que é preciso lutarmos com inteligência a respeito deste assunto, usando as melhores estratégias para apontarmos os verdadeiros perigos, sem dar brechas para os adversários. Creio que falta pra nós essa reflexão sobre como debater. Algumas vezes os evangélicos são superficiais (ou bobos) demais, em outras a reação parece desproporcional (acho que algumas vezes é o erro do Severo) e há ainda os que sequer sabem contra o quê estão lutando. A reflexão intra-muros se faz necessária.
Por outro lado, vejo com muita gravidade os evangélicos que querem criminalizar a conduta homossexual. Não acho que essa seja uma divergência menor, especialmente no caso do Tiago, que é o líder da proposta da teocracia cristã no Brasil. Nessas horas, estou meio Reinaldo Azevedo. Há que se combater o erro dos ativistas gays, mas há perigos enormes nesse tipo de conservadorismo extremo (e irracional). Mas este é o assunto de um próximo post, que está pronto e, se o Senhor permitir, sai amanhã ou na quarta.
Graça e paz do Senhor,
Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro
Prezado irmão Helder, paz e graça.
ResponderExcluirVou te responder com uma postagem no meu blog, nada mais justo não é?
Um abraço
mcapologetico.blogspot.com
Luciano
Luciano,
ResponderExcluirÉ muito justo. Por favor, deixe o link aqui.
Graça e paz do Senhor,
Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro
Caro Helder,
ResponderExcluirO meu nome é Fábio e sou o "administrador" do Reforma Monergista.
http://reformamonergista.wordpress.com/2010/11/30/helder-nozima-um-direito-a-replica/
Em Cristo,
Fábio Silva
Helder e demais,
ResponderExcluirEu creio no poder do evangelho. Não creio que leis produzam mais heterossexuais ou mais homossexuais. Portanto, entendo que os que buscam resolver o problema do pecado pela via das leis se frustrarão.
Creio que o homossexual não deve ser isolado dos demais pecadores e tratados como um caso à parte. Aparentemente Paulo hierarquizava suas listas, mas a de pecados traz o homossexualismo entremesclado com pecados banais. Isto deveria nos dizer alguma coisa.
Concordo que devemos nos preocupar com o ativismo gay (gostei da distinção, Norma) e lembrar que leis são feitas para refletir padrões da sociedade, que sabemos, é composta de pecadores inclinados ao pecado. Assim, não esperemos facilidades nessa área. Mas a solução não é, e nãos erá jamais, um ativismo anti-gay.
A solução, creio eu, é a pregação do evangelho ao homossexual como pecador que é, e não como homossexual. Pois ele bem pode, pressionado, deixar a prática homossexual e continuar sendo um mentiroso, e ir para o inferno do mesmo jeito. E não consta que haverá um setor infernal para gays.
Enfim, concordo com o inteiro teor do texto do Helder, apenas ressalvando que dias piores virão. E que o Senhor nos conceda podermos continuar amigos de homossexuais, e de bêbados, e de adúlteros, enfim, de pecadores que precisam ouvir de seus amigos a quem respeitam a pregação do evangelho.
Em Cristo,
Clóvis