22 de dezembro de 2009

Ateísmo "paratodos" - a democratização da descrença numa sociedade secularizada

Ainda gozando férias (merecidas!) em Recife, mas já de malas prontas para Santarém-PA, onde ficarei nos próximos dois anos, continuo sem tempo para escrever. E, para não deixar o 5 Calvinistas vazio nesta terça-feira, mais uma vez republico uma postagem antiga, do Optica Reformata. Em breve, voltarei à ativa!
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De uns tempos pra cá o ateísmo tem recebido uma atenção especial por parte da mídia, endossada pelas declarações de algumas celebridades que se autodenominam “ateias” ou “agnósticas” e, mais ainda, reforçada com as campanhas de cientistas e filósofos engajados numa verdadeira guerra contra o teísmo religioso. Munidos com uma argumentação eloquente, os propagadores dessa perspectiva tem feito a cabeça de muitas pessoas, fazendo com que o ateísmo se torne numa alternativa quase que religiosa (por mais irônico e paradoxal que isso possa soar) para o cidadão pós-moderno tão carente de referenciais.

Obviamente, o assunto é vasto, podendo variar desde o manifesto em prol da proibição das manifestações religiosas nos esportes (pois é, Kaká... sua batata está assando!) até às campanhas pró-ateístas mediadas por alguns dos profetas do ateísmo pós-moderno. No início desse ano a British Humanist Association (Associação Humanista Britânica) empreendeu uma campanha de 195 mil dólares para colocar nos ônibus londrinos a seguinte frase: “There’s probably no God. Now stop worrying and enjoy your life” (“Provavelmente, Deus não existe. Agora, pare de se preocupar e aproveite a vida”). Segundo os próprios membros da Associação, a campanha, apoiada por nomes de peso como o biólogo Richard Dawkins (autor de Deus, um delírio), tem por objetivo “promover o ateísmo na Grã-Bretanha, encorajar mais ateístas a assumirem publicamente a sua posição e elevar o moral das pessoas a caminho do trabalho”. Como se pode perceber, esse novo ateísmo (chamado por alguns de neo-ateísmo) não pretende enclausurar seus pressupostos nos livros e nos discursos catedráticos, mas difundir suas ideias num marketing frenético e dinâmico, aproximando-se cada vez mais da população (leitora ou não) e estimulando as pessoas a abandonarem suas crenças. “Tenho certeza que essa campanha será vista como um sopro de ar fresco”, afirmou Hanne Stinson, presidente da referida Associação[1]. Essa militância confere aos novos ateus um status privilegiado perante a sociedade pensante, e os transforma em verdadeiros “sumos sacerdotes” da causa agnóstica. Juntando o que há de melhor no ateísmo evidencial (que é aquele que nega a Deus por “falta de evidências”) e no ateísmo da suspeição (que é aquele que acusa a religião de “manipulação das massas”), o neo-ateísmo (acredito que o termo Neo-Iluminismo também seria bastante apropriado) apresenta essas duas correntes “em um só pacote preparado para a condição pós-moderna”[2].

Essa nova (?) filosofia tem angariado alguns adeptos do mundo das celebridades. Recentemente o ator Brad Pitt, em entrevista a uma importante revista alemã, a Bild, declarou que não acredita em Deus. “Sou provavelmente 20% ateu e 80% agnóstico. Não acho que alguém realmente saiba (se Deus existe). Você só vai descobrir, ou não, quando chegar lá. Até isso acontecer não existe porque ficar pensando no assunto”, disse ele (se Brad sustentar isso até a morte, tenho a leve impressão de que ele vai descobrir essa verdade tarde demais). A atriz Julianne Moore foi mais irônica. Em 2002, perguntada sobre o que diria a Deus se o visse, ela falou: “Uau, eu estava errada, você realmente existe” (mais irônico ainda é que essa mesma atriz estrelou o excelente filme Ensaio sobre a cegueira, no qual toda a população de uma cidade não identificada foi repentinamente atingida por uma epidemia de cegueira, e somente ela ficou imune). Um caso curioso (para não dizer engraçado) foi o do Dr. Dráuzio Varela. O médico disse que virou ateu quando mordeu a hóstia e viu que não saiu sangue dela[3] (quem mandou crer na mentira romana da transubstanciação?). É óbvio que a lista é bem mais exaustiva, mas fiquemos com apenas esses exemplos. Como é evidente nesses casos, os motivos para tanta desilusão variam de um racionalismo científico-filosófico (ateísmo evidencial), com variantes agnósticas, a experiências religiosas frustrantes (ateísmo da suspeição), com desdobramentos psicossociais.

Diante das poucas evidências acima expostas não seria nenhum exagero dizer que a marcha pela “democratização da descrença” anda em cadência acelerada numa sociedade cada vez mais pluralista, descrente, secularizada e, por conseguinte, doente. Para a opinião pública as opiniões das instituições religiosas pouco importam, pois elas são irrelevantes e inúteis. Deus não está incluso no projeto de vida do cidadão hodierno, e quando está, geralmente é na forma de uma divindade pocket, que caiba perfeitamente no bolso das pretensões humanas. Dentro desse contexto não me surpreende o fato de o Teísmo Bíblico ser o alvo número um dos ataques dessa milícia agnóstica. Se endossamos o Criacionismo como ciência, somos tachados de ignorantes; e se reivindicamos a exclusividade da revelação bíblica como a única Verdade, somos tachados de fundamentalistas intransigentes. Mas não é somente por isso que somos tão rechaçados. Para aumentar mais ainda a cratera, as igrejas fazem o favor de promover escândalos, confirmando suas reminiscências medievais (como as novas “indulgências” impostas pelos teólogos da prosperidade – preciso citar nomes?) e contribuindo mais ainda para que as suspeitas dos agnósticos e críticos de plantão se confirmem. Talvez tenha sido exatamente isso o que tenha motivado Cazuza a dizer que “o banheiro é a igreja de todos os bêbados”, na sua depressiva Down em mim. Se eu estiver equivocado em minhas assertivas, vou deixar para que Freud explique.

Há quem fique surpreendido com toda essa maré de descrença. Particularmente, nada disso me surpreende. Aliás, eu diria que o número de ateus é bem maior do que se imagina e do que as estatísticas apontam. Em minha opinião, ateu não é apenas aquele que declara sua descrença, mas também aquele que vive como se Deus não existisse, a seu bel-prazer. Na sua epístola aos Romanos o apóstolo Paulo fala tanto destes como daqueles (Rm 1.18-32). Tanto a descrença quanto a perversão deliberada são fruto do desprezo pelo conhecimento de Deus (cf. Rm 1.28-32). Paulo coloca os dois grupos num só pacote, e a sua sentença (ou vaticínio) contra eles é fatal: “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça” (Rm 1.18). Aos ateus está dado o aviso: CUIDADO!

Soli Deo Gloria!


Em tempo: O título desta postagem, Ateísmo "paratodos", é uma referência ao caso da campanha ateísta nos ônibus de Londres, já que a palavra ônibus (do latim omnibus) siginifica, literalmente, "paratodos" (para todos).
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[1]Em http://quiosque.aeiou.pt/gen.pl?p=print&op=view&fokey=ae.stories/12483&sid=ae.sections/3

[2]Veja o excelente prefácio do Rev. Dr. Davi Charles Gomes ao livro Ateísmo Remix, de Albert Mohler (Ed. Fiel, 2009, pág. 10).

[3] As referências a Brad Pitt, Julianne Moore e Dráuzio Varela estão em http//br.noticias.yahoo.com/s/20082009/48/entretenimento-famosos-nao-acreditam-deus.html.

4 comentários:

  1. O pior de tudo é que ser ateu hoje em dia é chic. Então as pessoas se dizem agnósticas apenas porque é algo "diferente"(?). Outra coisa é que esses novos ateus irão afirmar que possuem uma espiritualidade, algo mais elevado. É muito comum relacionar esses novos ateus a um padrão elevado de cultura e de educação. Ou seja, se você acredita em Deus conforme as Escrituras é alguém que não leu o suficiente, um bitolado, desconectado da realidade.

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  2. Caríssimo,
    Repito aqui o que disse em seu blog (editado):

    Sabe o que realmente me espanta? Não é que haja ateus. Assim como você, considero ateu qualquer um que viva como se Ele não existisse, e esses são maioria, inclusive com membros muito respeitados nas igrejas... O que me espanta é que seu discurso seja levado a sério, e isso por eles mesmos. Suas crenças raramente encontram justificação (estou a falar de epistemologia) e, quando encontram, quase sempre (e estou sendo muito otimista) são reducionistas, falhando completamente em corresponder com a realidade.
    Eles não percebem a irracionalidade de sua pretensa argumentação racional! Se são assim tão racionais, deveriam, logicamente, perceber seu erro. Cegos como estão, no entanto, eles não têm como perceber seu próprio erro. Assim, continuarão cegos guias de cegos!

    Mas, enfim, o que se esperar dessas mentes tão brilhantes deste século? O que me consola é que, mesmo se estivermos errados, nem Freud explicará, pois perecerá em seu próprio reducionismo! Só encontraremos o significado de tudo nEle mesmo! Por isso: SDG!

    NEle,
    Roberto

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  3. Humm, de férias hein???Tudo de bom!!!Recife então é uma maravilhaaa, mas Alter-do-chão em Santarém é muito melhor!!!A propósito, minha confiança está em Deus, acima de tudo e de todos. Mas respeito a opção das pessoas!!!Mas tb acredito, que qdo nos encontramos em situação difícil, colocamos nossa fé em ação.Isso sim, a Fé!Abçs

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  4. Ótima análise dos nossos tempos. Fico pensando se já houve alguma outra época onde o nome de Deus foi tanto abusado por aqueles que aparentemente são da Igreja quanto tão largamente execrado pelos descrentes. A rebeldia humana, iniciada lá no Éden (sim, acredito na existência histórica de Adão e Eva), onde o ser humano quer viver por si mesmo, sem Deus, parece ser potencializada, chegando ao seu ápice com o desenvolvimento da tecnologia: usamos os meios de comunicação, bem como as técnicas de comunicação, para vender a idéia de uma vida sem Deus.

    Aos crentes resta o rótulo de ignorantes e burros, mas na realidade, é o contrário. A Bíblia afirma que não acreditar em Deus é simplesmente um absurdo, pura insensatez, total falta de razão:

    Diz o insensato no seu coração: Não há Deus. (Sl. 14:1)

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