Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Ef 2:8
Sei que os arminianos não fazem questão de serem chamados de reformados, aliás costumam identificar assim os calvinistas, que por sua vez esforçam-se para fazer jus ao epíteto. A bem da verdade, ser reformado vai bem além de subscrever alguma Confissão de Fé, defender o acróstico TULIP ou reunir-se numa igreja dita confessional. Mas para os fins deste artigo, chamarei de reformado todos aqueles que aceitam sem reservas os Solas da Reforma: Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide, Solus Christus e Soli Deo Gloria. E assim sendo, os arminianos não podem ser considerados reformados, pois embora aceitem o Sola Fide, negam o Sola Gratia.
Antevendo protestos, vou explicar porque entendo que os arminianos não professam o Sola Gratia. Vou recorrer à Declaração de Cambridge para esclarecer o que realmente significa Sola Gratia:
“A graça de Deus em Cristo não só é necessária como é a única causa eficaz da salvação. Confessamos que os seres humanos nascem espiritualmente mortos e nem mesmo são capazes de cooperar com a graça regeneradora”.
Os arminianos pregam a pleno pulmões que a graça é necessária à salvação. Porém não levam isso até às últimas consequências, por exemplo, de afirmar que a graça é a única causa da salvação, porque os homens estão mortos em pecado e são absolutamente incapazes que cooperar com a graça regeneradora. Aliás, explicitamente negam que a regeneração antecede a fé, pois afirmam categoricamente que a fé produz o novo nascimento.
Que os remonstrantes modernos não crêem na salvação pela graça fica ainda mais claro quando se analisa o que se afirma e o que se nega com o Sola Gratia:
“Reafirmamos que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual à vida espiritual.
Negamos que a salvação seja em qualquer sentido obra humana. Os métodos, técnicas ou estratégias humanas por si só não podem realizar essa transformação. A fé não é produzida pela nossa natureza não-regenerada.”
Os arminianos até que gostariam de poder dizer que somos resgatados da ira de Deus unicamente pela Sua graça, que nos dá vida enquanto estamos mortos espiritualmente. Mas dirão que a causa disso é a fé e esta é um presente do pecador a Deus e não o contrário. Assim, em pelo menos algum sentido, a salvação é obra humana (embora afirmem que a fé não é obra).
Seria o caso de que a Declaração de Cambridge estaria definindo o Sola Gratia em termos calvinistas, desfavorável ao arminianismo? Seguramente não é o caso, pois o que a Declaração faz é apenas resgatar o sentido que a expressão tinha para os reformadores. Além disso, a definição de graça é controlada pelo que diz a Palavra de Deus, que não deixa margem para inserção de elemento humano algum.
O texto sagrado diz “pela graça sois salvos” e não “também pela graça sois salvos”. A salvação é monergistica, pois é Deus quem opera exclusivamente o novo nascimento, sem o concurso de nenhuma faculdade humana. A graça é a causa única da salvação. A fé em si não é a causa da salvação, que se dá por meio e não por causa dela. Podemos dizer, no máximo, que a fé é a causa instrumental da salvação. De qualquer forma, a fé como tudo o mais que diz respeito à salvação é dom de Deus, dom este que vem unicamente pela graça.
Mas se os arminianos negam na prática o Sola Gratia, será que não negam também outros Solas?
Soli Deo Gloria
Clóvis Gonçalves é blogueiro do Cinco Solas e escreve no 5 Calvinistas às segundas-feiras.
Clóvis,
ResponderExcluirOs "Solas" estão intimamente ligados entre si de tal forma que a negação de um "sola", compromete todo o resto.
Os arminianos não spodem ser considerados reformados pois não podem abraçar, de fato, os "solas" da reforma.
Heitor,
ResponderExcluirEntão talvez haja outros artigos nesta linha...
Em Cristo,
Clóvis
Olá Clóvis,
ResponderExcluirÉ que para os arminianos (e eu posso dizer, pois já fui um há não muito tempo) a graça não é bem graça - ou, conforme Paulo, "se é pela graça já não é pelas obras, pois caso contrário a graça já não seria graça - já que pretende apenas "dotar o ser humano de escolha. Concordo plenamente com você que a fé é apenas instrumento da graça, ou seu sucedâneo, comprovado pela própria ordem dos versos 8 e 9 de Efésios 2: "Pela graça sois salvos mediante a fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus..."
Logo, não resta dúvida que a fé tem nascedouro por intermédio da graça, sendo esta última a origem da salvação e a primeira o seu acessório.
A conclusão lógica é essa mesmo: Deus o Criador, o homem a criatura. Deus o principal, o homem acessório. Ele o Oleiro, nós a massa.
Bendito seja o nome do Senhor, o Soberano, de cujas obras humanas independe!
NEle,
Ricardo